Capítulo 6 - Viagem e termos
Estávamos no aeroporto, e eu agarrava o meu passaporte com firmeza nas mãos assim que chegamos ao portão de embarque. Compramos duas poltronas juntas, na primeira classe.
Quando chegamos no interior do nosso avião, ele me conduziu para as nossas poltronas com uma mão em minha cintura. A fila estava enorme, talvez ele quisesse apenas agilizar os meus passos. Eu só estava nervosa demais e temia por tropeçar em meus próprios pés se andasse rápido demais.
Quando sentamos um ao lado do outro, eu me permitir respirar.
— Tudo bem? – ele perguntou, me olhando com atenção, enquanto se acomodava melhor na poltrona.
— Sim, só estou um pouco ansiosa para chegarmos...
— Avisou para a sua família que estava indo acompanhada? – ele quis saber.
— Não, na verdade, eu nem confirmei que estava indo – suspirei frustrada.
— Pelo menos vai ser uma surpresa boa, já que decidiu vir...
— Infelizmente, não foi graças à minha força de vontade – ele riu de mim. — Obrigada pelo o que está fazendo, você nem me conhece e já está me ajudando muito – eu sorri para ele.
— Talvez você não me agradeça quando conhecer a minha família – ele respondeu, com uma expressão engraçada.
— Por que diz isso? – perguntei, mas ele desviou o olhar. — Olha, poderíamos usar esse momento do voo para nos conhecermos melhor, assim não seremos mais dois estranhos para apresentar às nossas famílias...
Ele olhou de novo para mim, como se estivesse pensando no que eu disse, e pareceu concordar.
— Não é nada demais, a minha família só é um pouco controladora, mas isso eu já sou acostumado e sei como contornar a situação. Não se preocupe – ele sorriu.
— Tudo bem... – aceitei sua resposta vaga, não queria insistir no assunto, por mais que me sentisse no escuro.
Eu contei quase tudo sobre a minha vida e a situação inusitada que nos uniu, e eu não sabia nada sobre ele ou sua família, muito menos o porquê de ele querer que eu o acompanhe.
Estávamos em silêncio desde que o avião decolou e iniciou o trajeto. Eu me servi do jantar que serviram, e ainda assim continuamos sem conversar sobre qualquer assunto.
Quando a maioria das pessoas começaram a puxar a cortina que separava as poltronas duplas, a fim de terem privacidade para dormir, eu pensei em fazer o mesmo. O tempo passaria mais rápido se eu dormisse, pelo menos um pouco.
— Está cansada? – ele perguntou, quando me viu deitando um pouco a poltrona.
— Não, mas talvez o tempo passe mais rápido se eu conseguir dormir um pouco – eu sorri.
— Sabe... – começou. —, eu sou filho único.
— Sério?
— É, e isso é péssimo, não tenho com quem dividir a atenção dos meus pais, e isso acaba sufocando um pouco. – Ele desabadou, me deixando boquiaberta.
— Por isso foi trabalhar em outro país? – arrisquei dizer, e ele sorriu.
— Você é a irmã mais nova? – ele quis saber.
— Sou a mais velha – ele piscou surpreso.
— Interessante – ele disse desviando o olhar. — Você deve ter ficado curiosa sobre eu te pedir para me acompanhar na visita com os meus pais – ele falou mais baixo, notando algumas pessoas desligarem as luzes e ir dormir. Eu fiquei olhando pra ele, desconfiada, afinal parecia que ele tinha lido os meus pensamentos.
— Eu entendo se você não quiser me explicar sobre o assunto – disse, sinceramente.
— Eles vão darem uma festa no sábado, é aniversário do meu pai, e eu estava procurando desculpas para não ir, igual você fez. – Ele volta a me encarar.
— Uau, sério? – perguntei, visivelmente espantada.
— Pois é, quando você me falou da sua situação, eu nem consegui acreditar na coincidência – ele riu, desviando o olhar outra vez.
Talvez ele estivesse envergonhado por estar admitindo suas razões para mim.
— Você não gosta do seu pai? Por isso não queria ir ao aniversário dele?
— Não, eu amo os meus pais – ele retratou. — É complicado...
Eu me aconcheguei melhor na poltrona assim como ele. Encolhi minhas pernas e me cobri com uma manta. Fiquei olhando para ele de forma curiosa, e ele parece ter percebido o meu interesse, pois ele sorriu, e também se virou para mim.
— Eles não me levam muito à sério – bufou, ainda falando baixo. — Eles querem casamento e netos – sorriu, como se achasse graça. — Eu não quero isso, pelo menos não agora. Quero continuar trabalhando e me divertindo. Eu até tentei noivar uma vez, mas não demos certo. Enfim, toda vez que me encontro com os meus pais eles me cobram e me enchem de perguntas, e me constrange na frente de toda a família. Imaginei que se levasse alguém comigo, eles me dariam uma trégua.
— Entendi... – suspirei, depois que ele terminou de falar. Ele ficou olhando para o meu rosto, como se estivesse analisando as minhas expressões. — É horrível esse tipo de cobrança, eu sei como é.
— Sabe? – ele franziu o cenho.
— Quando o Travis me traiu, e eu comprei uma passagem só de ida para Nova Iorque, meus pais e a minha irmã me ligavam constantemente. Eles queriam que eu superasse de uma vez, simplesmente namorasse qualquer pessoa, apenas pra passar o tempo, e ter alguém para levar na ceia de Natal. Para eles, é algo triste estar sozinha, se eu não estou com alguém, estou sofrendo. Enfim, não tem como mudar esse pensamento deles, já tentei muito e não consegui. Por isso eu não queria ir ao casamento, eu não suporto os comentários.
— Então estamos contando com o fato de nossos pais deduzirem que estamos juntos e felizes? – ele disse rindo, me fazendo rir também.
— Eu pretendia te apresentar como um amigo, na verdade... – confessei.
— Mas não faz sentido – ele deu de ombros, e alguém reclamou pedindo silêncio. Ele chegou mais perto e cochichou para mim. — Temos que planejar isso direito para dar certo.
— Vamos dizer que estamos namorando? – ele sorriu. — E se eles descobrirem que é mentira? Eu nunca falei que estava saindo com alguém para eles...
— Vamos ser convincentes, afinal não vamos ficar lá pra sempre, vai ser rápido, semana que vem já estaremos de volta as nossas rotinas e tudo isso terá passado.
— Tem certeza? – estreitei os olhos.
— Por mim sim, agora depende de você, senhorita Clarke – ele sorriu, se virando para o outro lado.
E com isso eu suspirei nervosa e fechei os meus olhos. Era muita informação para um dia só.