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Capítulo 4 - Favor

Eu ergui a minha mão, e pensei que devia dar a meia volta, e deixar de ser covarde. Mas como poderia? Eu não iria suportar os olhares de pena, os comentários, e muito menos teria coragem para abrir o jogo para Abi e me recusar à ir ao seu casamento.

Eu a amo, mas também tenho limites. Sei que depois disso eu terei a chance de compensar por ter a deixado na mão. E com isso, bati algumas vezes na madeira da porta, e após ouvir um "entre" baixo, eu puxei a maçaneta.

Eu coloquei a cabeça na porta, espiando o interior da sala, e lá estava ele sentado, segurando alguns papéis.

— Com licença, senhor Walker... – eu falei baixo, e ele levantou o rosto para me notar ali. Ele franziu o cenho, provavelmente se perguntando o que eu queria falar com ele outra vez.

— Senhorita Clarke? Pode entrar – ele lembrava do meu nome!

— Eu realmente sinto muito, não queria incomodá-lo outra vez... – choraminguei, fechando a porta e me encostando nela.

— Não está me incomodando – ele olhou mais uma vez para a mesa e suspirou. —, eu já terminei com isso, estava organizando para finalmente ir embora. Hoje foi um dia cheio... – ele bufou.

— Então acho melhor eu ir... – segurei na maçaneta, ainda encostada na porta.

— Não seja boba, fique a vontade – ele apontou para a cadeira a sua frente.

Eu respirei fundo, e juntei as mãos, seguindo até a cadeira, sob seu olhar avaliador.

— Aconteceu mais alguma coisa para eu merecer a sua visita mais uma vez essa semana? – ele perguntou, com um sorriso frouxo nos lábios.

— Nem sei como pedir o que tenho em mente, e nem sei como me explicar... – lambi os lábios, sentindo-os secos.

— É sobre o casamento da sua irmã? – ele estreitou os olhos.

— Sim, acontece que eu mudei de ideia, e não desejo mais ir. – Ele acenou positivo, e juntou os papéis na mesa, guardando numa pasta. Após isso, ele me deu toda a sua atenção.

— Pensei que você fosse a madrinha – acenei positivo. — Não fui a muitos casamentos, mas pelo o pouco que sei, a madrinha precisa estar na cerimônia.

— Isso é constrangedor... – murmurei, limpando minhas mãos suadas na roupa. Ele percebeu, e sorriu.

— Agora eu fiquei curioso, me conte o que aconteceu, senhorita Clarck, é uma ordem – ele ainda estava sorrindo quando disse isso, o que me fez rir também.

— O meu ex é o padrinho do noivo, quando estávamos juntos ele me traiu, e agora ele namora com a amante, que está grávida. Não quero ir sozinha, e não consegui arranjar outra pessoa ou outra desculpa para desmarcar. Então eu tive uma ideia... – ele parecia interessado na história.

— Que ideia? – ele quis saber.

— Vim pedir ao senhor que gravasse um áudio para mandar para a minha irmã, relatando que não poderá me liberar no fim de semana para ir ao casamento.

Houve um tempo de silêncio na sala, e pareceu uma eternidade. Ele estava concentrado no meu rosto, me olhando com curiosidade, e então de repente ele soltou uma gargalhada.

— Você é inacreditável, senhorita Clarke – ele se levantou da cadeira, e foi até uma licoreira, se servindo de uma bebida.

— Sei que estou sendo inconveniente tomando o seu tempo ontem e agora, por puro capricho meu, mas eu realmente estou incomodada com a situação, não quero reencontrar o Travis e muito menos a mulher com quem ele me traiu. Minha irmã nem me contou que ela estava grávida, eu que descobri por acaso ontem, depois de vir aqui. Eu não teria cogitado de ir se tivesse descoberto antes...

— Senhorita Clarke, é o casamento da sua irmã, deveria ser madura e relevar a situação – ele disse, voltando para perto da mesa.

— Não consigo... – suspirei, sentindo minha visão embaçada. Droga, não vou chorar na frente do meu chefe. — Por favor, o senhor poderá ou não gravar o áudio para a minha irmã? Eu teria pedido ao meu supervisor, mas ele faltou hoje...

— Calma, respire fundo – ele disse, quando falei tudo rápido demais. — Está realmente certa sobre isso?

— Sim, acredite, eu pensei bastante. Aliás não quero tomar muito do seu tempo. – Me ergui da cadeira. Ele acenou negativo, e sorriu.

— Me dê o seu celular – ele ergueu sua mão, tomando outro gole de sua bebida.

Eu puxei o aparelho do meu bolso, desbloqueie e abri o meu chat com a Abi. Eu entreguei a ele, e assim que ele segurou o meu celular, ele ficou me olhando como da outra vez.

— Já tinha feito planos? – ele perguntou, olhando para a tela do meu celular.

— Comprei alguns vestidos, economizei o ano inteiro para comprar as passagens, mas isso eu vou superar fácil – eu forcei um sorriso, e ele bufou, balançando a cabeça. — Está me julgando nesse momento... – advinhei em voz alta.

— Talvez eu esteja – ele brincou. — Não está sendo nada corajosa...

— Eu sei, mas é inevitável o que estou sentindo nesse momento – de repente eu fiquei envergonhada por estar falando tanto da minha vida pessoal para o meu chefe, mas ele fez menção para eu continuar falando. — Não sei se você sabe o que é isso, mas ser traída trás um sentimento de vergonhoso, minha família me tratou como uma coitada, e eu estava bem até agora, vivendo a minha vida, até me deparar com essa situação. Não consigo pensar em outra coisa, parece que a minha versão abandonada e deprimida do passado voltou à tona. Então, não conseguiria passar por isso sozinha.

— Não tem realmente ninguém que você possa levar? Um namorado ou um amigo?

— Não... – sorri. — E então? – apontei para o meu celular em suas mãos, e ele fez uma expressão pensativa, me olhando de cima a baixo outra vez.

— Tenho uma ideia melhor em mente, senhorita Clarke... – ele assumiu uma feição séria.

— Como assim? – franzi o cenho, e ele sorriu.

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