Capítulo 3 - Foto
Eu sentei de volta na minha mesa, no meu pequeno escritório, e recuperei o fôlego, tentando me concentrar nos textos que revisava. Ainda estava com a imagem do senhor Walker em minha mente, pois não imaginava que ele era um homem tão marcante. Sua postura era rígida, ele usava um terno que o deixava com uma aparência de magnata, fora o perfume marcante dele, que me envolvia. Um homem marcante, de fato. Agora eu entendi o porquê de sua secretária não deixar ninguém se aproximar.
Eu fiquei rindo sozinha com esse comentário, até que voltei a lembrar do meu maldito ex, e não descansei até digitar o nome dele na página de pesquisa do Facebo*k.
Eu fiquei olhando algumas bobagens que ele compartilhou, até me deparar com uma foto dele acariciando a barriga de sua noiva. Eu fiquei em choque. Na legenda ele se declarava para ela, alegando estar muito feliz com a chegada do seu primeiro FILHO. ELE VAI TER UM FILHO COM ELA! Não acredito que Abi não me contou essa bomba!
Peguei meu celular, e liguei para a minha irmã malvada.
— Abi! – quase gritei, sentindo meu sangue ferver. — Por que não me contou que aquela vaca da namorada do Travis está grávida?
— Quem te contou? – ela perguntou de volta, me deixando ainda mais irada.
— Acabei de ver no Facebo*k, valeu mesmo por ter contado!
— Não te contei porque não queria chatiar você, não queria te dar uma razão para não vir – ela bufou, e eu também. — Falou com o seu chefe?
Eu abri a boca, mas nenhum som saiu. Eu pensei na possibilidade de não ir, eu não queria dar de cara com a amante do Travis e principalmente não queria ver a sua barriga de grávida. Por causa dela nós terminamos, se não fosse por ela, talvez estaríamos juntos ainda. Eu não queria vê-lo desde o começo, e agora com essa notícia, aí é que eu não quero mesmo.
— Ainda não... – menti.
— Não demora! – ela reclamou, e com isso eu encerrei a ligação.
Estava me sentindo péssima, percebendo a minha situação só piorar. Deus, o que faço? Será que se eu me recusasse a ir ao casamento, a minha consciência me deixaria dormir bem a noite? E se eu decidir ir, será que eu conseguiria não pirar assim que visse Travis com a sua namorada grávida na minha frente? Que dúvida cruel!
No dia seguinte, estava uma pilha. Era quinta-feira, o último dia que teria para decidir de uma vez o que faria sobre o maldito casamento. Teria que pegar um avião hoje a noite ou amanhã cedo.
Quando cheguei no trabalho, fui comunicada que George estava doente, e precisou faltar, o que me deixou surpresa, já que ele quase nunca falta. Assim que virei o corredor para ir até a minha mesa, vi Steve passando, e corri até ele.
— Uau, sua cara tá horrível – ele disse, assim que me viu.
— Muito obrigada, me sinto bem melhor agora – bufei, me encostando na sua mesa.
— Ainda com a história do casamento? – acenei positivo. — Já comprou o vestido?
— Comprei, e odiei, ele é muito ousado, não devia ter seguido seu conselho – ele gargalhou com a minha resposta. — Preciso da sua ajuda...
— George não veio hoje, podemos sair mais cedo escondidos e ir ao shopping...
— Não é sobre o vestido... – suspirei. — Preciso que venha comigo para ir ao casamento!
— Ficou maluca? George não queria liberar você, quem dirá liberar nós dois de uma vez – ele riu. — Fora que eu não seria um bom acompanhante, já que sou gay! Eu iria querer entrar na fila para pegar o buquê, e com certeza iria te deixar de graça para procurar um bom pretendente na festa.
— Eu não quero ir sozinha, então prefiro não ir. Topa gravar um áudio para mandar para a Abi, se passando pelo o meu chefe, e dizendo que não vai poder me liberar porque estamos com a agenda comprometida?
— Você enlouqueceu de vez? – ele reclamou. — Abi é paranóica, e você é a madrinha dela, do jeito que ela é, ela ligaria diretamente para a empresa e exigiria falar com o chefe, para tirar satisfação.
— Então eu não sei mais o que fazer... – me sentia trêmula. — Por favor, me ajuda a pensar em algo, eu não não quero ver o Travis, aliás, não quero que ele me veja sozinha. Todos vão estar acompanhados! E ele estará com a sua namorada grávida!
— Ela tá grávida? Nossa... – ele suspirou. — Bom, só consigo pensar que você teria que pedir a outra pessoa para ir com você, de preferência alguém que não trabalhe aqui, sabe como é complicado...
— Sabe que não tenho muitos amigos, e não vou levar um estranho...
— Então você poderia falar com o seu chefe, pra ele mesmo enviar esse áudio para a sua irmã. – Deu de ombros.
— Tá brincando? Depois do trabalho que tive para conseguir a autorização? Sem chance! Além disso, com que cara eu pediria isso à ele?
— Então, engole o choro, e pega logo o voou para a Inglaterra – e com isso, eu voltei para a minha mesa, sentindo-me derrotada.
Quem disse que consegui me concentrar no trabalho? Eu não conseguia desgrudar os olhos do elevador no fim do corredor, me perguntando o que era pior: enfrentar o Travis e sua namorada grávida, ou enfrentar o meu chefe e meu pedido constrangedor para ele.
E no meio da tarde, eu não estava suportando mais a minha ansiedade, e pulei da cadeira, me enfiando no bendito elevador que me levaria para o topo do prédio. Enquanto subia os andares, tentei formular na minha cabeça a melhor forma de falar com ele, e por um momento quase desisti. Isso é ridículo, eu vou incomodá-lo outra vez por um motivo tão fútil? E mais uma vez me imaginei sozinha naquele casamento, dando de cara com o Travis. Seria mais um motivo para as pessoas me olharem com pena, como da última vez. E eu odeio isso.
E com isso, eu saí do elevador, recebendo os olhos de águia de sua secretária. Eu sorri para ela, enquanto a mesma revirou os olhos.
— Você de novo, querida? – ela disse, passando a língua nos dentes.
— Meu supervisor está doente, por isso preciso resolver essa questão com o chefe, senão eu não teria vindo – dei de ombros.
Ela não sabe como lamento estar aqui.
— Tá, tá... vai logo – ela acenou com as mãos.
Eu agradeci, e caminhei calmamente até a porta, e me perguntei mil vezes se era exatamente isso que eu queria fazer.