Capítulo 2 - Pedido
Quando as portas do elevador se abriram no último andar, eu fiquei dentro da caixa, esperando que ela me levasse de volta para onde eu não devia ter saído. Mas a secretária do sr. Walker ficou me encarando estranho, então tive que sair e andar até sua mesa.
— Precisa de alguma coisa, querida? – ela me perguntou, com bastante pompa e uma pitada significativa de desprezo.
— O meu supervisor me mandou vir falar com o chefe... – eu respondi devagar, tentando não gaguejar.
— Sobre o que seria o assunto? É que o senhor Walker está no meio de uma ligação muito importante. – Ela me olhou de cima a baixo.
Certamente ela devia estar pensando que devia ser muita ousadia minha querer estar na mesma presença que o homem dos sonhos dela.
— É pessoal, e não tenho outra opção – disse, fazendo crescer outra ruga em sua testa.
— Quando ele tiver um tempo eu te aviso – ela sibilou, digitando qualquer coisa no teclado.
Eu olhei sugestiva para ela, e sentei na cadeira a sua frente, lhe fazendo entortar a cara ainda mais. Ela brincou com a língua entre os dentes, e se levantou preguiçosa da cadeira, indo até a porta do outro lado do salão, e batendo. Ela entrou rapidamente e isso me deu um tempo de respirar fundo outra vez, tentando sugar qualquer força de vontade que ainda exista em mim para ir à esse bendito casamento. Quando a mulher resolve aparecer outra vez, deixando a porta aberta.
— Ele tem um minuto, seja rápida – ela não olhou na minha cara para dizer isso.
— Obrigada, foi muito útil – eu respondi, pulando da cadeira e indo apressada até a porta.
Eu segurei na maçaneta, e entrei de uma vez, não me dando tempo para pensar. A sala tinha um perfume forte de colônia masculina, o cheiro amadeirado e reconfortante. Também tinha cheiro de café fresco, uma delícia. Eu fiquei bestificada com o luxo da sala, tinha espelho em todas as partes, e ver o meu reflexo me lembrou de me policiar com minhas expressões idi0tas. Eu ouvi um pigarro, e lembrei de me pronunciar.
— Com licença, senhor Walker – eu disse, procurando o homem com os olhos.
Eu vi a sua silhueta de longe, em pé do outro lado da mesa. Eu fiquei olhando boquiaberta para ele, já que não estava lembrada de sua feição. Eu só tinha visto ele duas vezes, e de longe. Não sabia que ele era tão lindo e jovem quanto diziam.
— Pode entrar, senhorita...? – ele perguntou.
— Elisee Clarke – respondi, sentindo minhas mãos geladas. Eu dei alguns passos para me aproximar de sua mesa. E já estava terrivelmente arrependida de ter vindo à esse andar.
— Eu não recebo muitas visitas dos meus funcionários, imagino que tenha uma questão realmente muito importante para falar comigo – ele disse, sério.
Eu esqueci de respirar, e por isso estava ofegante.
— Eu lamento interromper o seu trabalho, eu realmente não imaginei que seria necessário. Mas o meu supervisor insistiu em ter a sua aprovação.
Ele balançou a cabeça positivamente, e depois acenou para a cadeira em frente a sua mesa, insinuando que eu devia sentar.
— Aceita um café? – ele disse, levando uma caneca que segurava até a sua boca.
Ele me olhou de cima a baixo, como se estivesse curioso a meu respeito. Eu estava tão constrangida que não sabia pôr em palavras.
— Não, senhor, obrigada – eu umideci meus lábios secos e ele acenou, se sentando também em sua cadeira.
— Então me diga qual é o problema, senhorita Clarke.
Ele comprimiu os lábios e se apoiou na mesa.
— Bom, eu pedi uma folga de dois dias ao meu supervisor, para ir ao casamento da minha irmã, já que eu sou madrinha. E ele disse que não poderia me conceder sem a sua aprovação, por causa do cronograma da semana... – suspirei, um pouco nervosa. Um pouco.
— Qual a sua função mesmo? – ele franziu o cenho.
— Atualmente trabalho na revisão... – ele acenou positivo.
— Não vejo problema em liberar você, provavelmente o seu supervisor deve ter alguma razão especial para querer manter você por perto. Aliás, quem é o seu supervisor, senhorita Clarke?
O jeito que ele pronunciava o meu nome era sensacional. Eu estava bestificada com esse homem de quase dois metros de altura.
— George... – respondi insegura.
— Ah – ele fez, estalando a língua. — Bom, mas não se preocupe, por mim não há motivos para te impedir de ir para o casamento da sua irmã – ele deu de ombros.
— Que bom, obrigada, senhor – eu quase pulei da cadeira, para ir embora de vez, mas ele resolveu estender a conversa.
— Desde quando trabalha aqui? Não lembro de já ter te visto antes – ele franziu o cenho mais uma vez.
— Dois anos, mais ou menos... – respondi, ainda um pouco ofegante.
— Interessante – ele disse, olhando para o meu corpo. — Parece nervosa – ele observou em voz alta, me deixando ainda mais dura na cadeira.
— Sim, fiquei preocupada de não poder ir ao casamento – menti, é óbvio que eu nunca admitiria que ele me intimida.
— Entendo, será essa semana? – ele quis saber.
Por que ele estava prolongando esse papo? Eu mal estava respirando direito.
— Sim, começará na sexta e terminará no domingo – contei.
— Então no caso você irá precisar da sexta e do sábado de folga?
— Sim...
— Será aqui em Nova Iorque? – ele olhou mais uma vez para o meu corpo.
Talvez fosse pelo o jeito que estava sentada, como se tivesse segurando uma bomba relógio no colo, e estivesse pronta para correr a qualquer segundo.
— Na verdade, será na Inglaterra – ele pareceu surpreso.
— Interessante – ele disse mais uma vez. — Bom, senhorita Clarke, se era apenas isso que tinha que tratar comigo...
— Sim, era apenas isso – confirmei. — Obrigada, com licença – falei me levantando e indo apressada até a porta.
— Fique à vontade – eu ouvi ele responder baixo atrás de mim.
Eu nem olhei para o lado, para ver se a secretária ainda estava lá de guarda, apenas fechei a porta e andei apressada até o elevador, querendo sumir daquele andar.