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Capítulo 1 - Casamento

Eu estava hipnotizada pela tela do meu computador, encarando a bela caligrafia computadorizada que formava o nome dos noivos felizardos, enquanto fazia uma lista mental sobre os prós e contras de aceitar ir ao bendito casamento.

Óbvio que a prioridade da lista de prós era o fato de eu ser a irmã da noiva e madrinha dela, mas isso não era nada comparada a enorme lista dos contras, e o que liderava essa lista era o fato do padrinho do noivo ser o meu ex, simples assim.

Tudo poderia ter terminado bem entre a gente, se ele não tivesse me traído com a sua atual namorada. Todo mundo caiu no papo dele de que "não teve culpa por ter encontrado o seu amor verdadeiro enquanto estava apenas se divertindo comigo". Poxa, eu virei a coitada da história, a pobre garota que foi trocada por uma mulher que usa um número maior de sutiã. Me senti um lixo, um patinho feio e excluído.

Após virar uma piada, acabei me mudando a fim de respirar novos ares, e tudo estava indo bem, até descobrir que ele seria o padrinho do casamento, e o pior é que ele levaria sua namorada idi0ta, enquanto eu não levarei ninguém, porque sou solteira e sozinha, sem ter ninguém para levar como par. Deprimente.

Será tão vergonhoso e constrangedor, não sei o que fazer sobre isso. Uma parte de mim diz que eu devia relevar, ser madura e seguir com o que tenho que fazer, sem me importar com os fantasmas do passado, mas outra parte de mim diz que eu não sou obrigada a passar por isso, mesmo que tenha que machucar a minha irmã me negando à ir nesse casamento de merda.

E com isso, eu decidi fechar de vez a tela do meu notebook, e me aprontar para ir ao trabalho. Estava cheia de tarefas para a semana, e o meu chefe é bastante detalhista e incrivelmente motivado. Ele é daqueles caras que só sai do trabalho depois das oito da noite e isso é irritante, porque alguns dos funcionários, como eu, tinha que ficar junto com ele para caso ele precisasse dos nossos serviços.

Tenho vinte e seis anos, e trabalho numa editora. Eu amo o meu trabalho, e fiz literatura inglesa na força do amor mesmo, porque consegui uma bolsa e trabalhei duro como garçonete em Nova Iorque para pagar o aluguel. Então eu sei o que é ralar para ter o meu espaço.

Vesti um jeans normal e coloquei um cardigã para me proteger do frio que tem sido nesses últimos dias, e corri para pegar o metrô. Acabei chegando mais cedo no trabalho, e consegui adiantar uma boa parte das tarefas que teria pela a manhã. Estava revisando alguns textos, quando voltei a pensar no maldit0 casamento. E como obra do destino, recebo uma ligação da minha irmã.

— Tô trabalhando, Abi – falei baixo, de olho no corredor.

— Você demora um século para responder mensagens, mas enfim, já está tudo certo para você vir amanhã? – ela perguntou, me fazendo revirar os olhos.

— Então, ainda não acertei as coisas com o meu supervisor – ela bufou alto do outro lado da linha, ao ouvir minha resposta nada animadora.

— Fala logo com ele, não seja frouxa, você merece férias, e é o meu casamento! – reclamou.

— Relaxa, amanhã eu te ligo – falei, para finalizar aquela conversa.

— Espero que seja para dar boas notícias, beijo!

— Beijo, maninha – suspirei, desligando o celular.

Eu sei que sou um ser humano horrível por sequer pensar em deixar a minha irmãzinha na mão. Ela é a minha irmã mais nova, e por ela estar se casando primeiro era até irônico, já que minha mãe achava que eu e o idi0ta do Travis iríamos nos casar. E eu me odeio por também ter pensado nessa possibilidade.

Eu me ergui da maldita cadeira, e respirei fundo, caminhando até o fim do corredor. Eu bati na porta da sala do meu supervisor e esperei ele me liberar para entrar.

— Algum problema? O pessoal do T.I. tá enlouquecendo com tantas falhas nos sistemas operacionais ao mesmo tempo... – ele balbuciou, sem tirar sua atenção do computador.

— Não, problema nenhum, só queria discutir uma questão importante com você – ele coçou a barba grisalha e finalmente me olhou.

George era o supervisor mais velho e mais babaca da firma. Ele adora pensar que é o melhor de todos nessa empresa, e o coitado jura que o chefe sabe qual é o nome dele.

— Fala, tenho cinco minutos – ele bufou, se afastando do computador. Ele me deu um olhar cheio de deboche. Velho maldit0.

— Queria saber como anda a ideia das minhas férias, você mencionou que poderia ver isso pra mim depois do ano novo, e já estamos em março...

— Elise – ele me cortou. —, eu tô cheio de serviço, e não posso me desfazer de nenhum funcionário pelo menos até o segundo semestre – ele respondeu, voltando a encarar a tela de seu computador.

Eu sabia que ele faria isso.

— Tudo bem, posso esperar, mas é que eu preciso de pelo menos dois dias de folga nessa semana – ele me encarou espantado, como se eu tivesse dito um palavrão.

— Dois dias? Essa semana? Não vai dar, temos duas reuniões importantes, está esquecida do lançamento? – bufou.

— É o casamento da minha irmã, e eu sou a madrinha... – me expliquei, tentando transparecer meu desespero. Ele estalou a língua, me olhando de cima a baixo.

— Entendo – ele disse, cruzando os dedos, seriamente. — Bom, nesse caso, acho melhor você falar diretamente com o chefe.

— Mas, George...

— Não posso lhe dar a folga, o chefe precisa de todos, e você é uma das melhores que tenho. Preciso que ele diga que está tudo bem te liberar, não quero prejudicar o que já está programado, e menos um funcionário pode acabar atrasando algumas tarefas, o que me faria mexer no cronograma dos outros e...

— Tudo bem, eu falo com ele – bufei.

— Ótimo, se era apenas isso, já pode ir – ele volta a dar atenção para a droga do seu computador.

Filho da mãe. Ele sabia que ninguém tinha coragem de falar qualquer coisa com o chefe, muito menos pedir algo. Ele fez isso justamente imaginando que eu não teria coragem. Mas eu preciso ao menos tentar, ou eu não me perdoaria por deixar a minha irmã na mão. E por isso, eu respirei fundo, e tomei o caminho contrário, indo para o elevador.

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