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Anne
— Bom dia, pessoas! — falo assim que entro na Pekin, uma agência de publicidade onde trabalho há algum tempo. A minha alegria é a de sempre, mas os olhares curiosos em cima de mim não. Quer dizer, eles estão acostumados com essa minha espontaneidade, então por que toda essa surpresa?
— Menina, que babado foi esse? — Eva questiona, enlaçando o seu braço no meu e ela praticamente me arrasta na direção da minha sala.
— Do que você está falando? — indago completamente perdida. Contudo, a garota abre a porta do meu escritório e aponta a entrada para mim.
— Veja com seus próprios olhos, Senhorita Summer. — Ela cantarola sorridente e ao entrar paro estancada bem no meio da sala, olhando para os incontáveis buquês de lindos girassóis espalhados por cada canto desse lugar.
Sorrio completamente maravilhada.
— Vai me contar quem é esse homem? — Ela indaga, mexendo com curiosidade nas flores. No entanto, vou para a minha mesa e paro diante do buquê maior onde tem um pequeno cartão entre elas.
“Dizem que os girassóis procuram sempre a direção da luz. Talvez seja por isso que não consigo parar de pensar em você. Anne, você foi com um feixe de luz invadindo a minha escuridão e agora que eu te vi, não quero mais deixar de vê-la.
V.
Respiro fundo, mas não consigo conter um pequeno sorriso maravilhado.
— E então, quem é ele? — Dou de ombros guardando o bilhete de volta no pequeno envelope.
— Ninguém em especial — resmungo o guardando dentro do bolso da minha calça social.
— Sei. Como alguém que nem é tão especial faz algo assim para uma garota? Eu queria alguém não muito especial assim na minha vida. — Rio do seu comentário. — Vai por mim, Anne, esse homem está apaixonado por você. — Não digo nada, apenas volto a admirar as flores e quando ela sai do meu escritório, o meu telefone começa a tocar. Contudo, estranho o fato de o número ser desconhecido.
— Alô?
— Recebeu as minhas flores? — O som grave da sua voz do outro lado da linha faz o meu coração errar o compasso. No entanto, mordo meu lábio inferior para reprimir mais um sorriso.
— Por que está fazendo isso, Senhor Mazza? — Tento ser firme com ele, mas é praticamente impossível porque estou muito mexida com essa sua atitude.
— Digamos que você mexeu comigo, Anne Summer. — Meu pobre coração dispara e as palavras simplesmente desaparecem da minha boca. — Anne, eu... quero muito te conhecer melhor.
— Não faz isso, Vladmir. Você sabe que não podemos...
— Por quê? — Ele me interrompe. — É por causa dos meus irmãos?
— Vladmir eu não quero que eles fiquem chateados comigo. Eles são meus amigos e são muito importantes para mim. — Escuto o som da sua respiração alta.
— Talvez você seja o caminho para me mostrar que estou errado em relação a eles, não acha? — Ele insiste e eu fecho os olhos.
— Não, você precisa encontrar o seu caminho sozinho.
— Então, você pode ajudar o meu irmão, mas não pode me ajudar. É isso? — Uno as sobrancelhas.
Como ele sabe tanto sobre mim? Me pergunto intrigada.
— É melhor eu desligar...
— Espere, Anne não desligue ainda! — Ele irrompe. — Eu estava falando sério quando disse que você não sai dos meus pensamentos.
Droga, eu não devia gostar de ouvir isso!
— Vladmir, por favor...
— Só um jantar é tudo que eu te peço. — Ele insiste me interrompendo outra vez. — Vamos conversar, nos conhecer e se depois disso você ainda disser que não quer, eu prometo que vou me afastar.
Diga que não, Anne!
Diga que não!
— Um jantar. — Me pego aceitando.
— Ótimo, eu te pego às oito.
— Não! Quer dizer, me passa o endereço que eu te encontro lá.
— Como você quiser. Tenha um ótimo dia de trabalho e espero que essas flores alegrem o seu dia como você acabou de alegrar o meu.
Ah meu Deus, por que ele precisa ser tão galanteador assim?
Apenas encerro a ligação sem lhe dizer nada e volto a fitar as flores, abrindo mais um sorriso bobo.
***
À noite...
— Por aqui, Senhorita. — Um homem com um terno elegante diz assim que ponho os meus pés no elegante hall do restaurante. As suas luzes amareladas, as mesas redondas e o requinte com que elas estão arrumadas me diz muito sobre esse lugar.
Hu, deve ser caríssimo!
Céus, o que eu estou fazendo aqui?
Mas, para a minha surpresa não vamos para nenhuma mesa daquele enorme e sofisticado salão e sim para dentro de um elevador. Incomodada, apenas olho para os números verdes na tela bem na minha frente e quando a porta se abre, sinto que estou entrando dentro de uma caixa de vidro onde tem apenas uma mesa preparada para duas pessoas. Daqui consigo ver a cidade inteira com todas as suas luzes minúsculas acesas bem debaixo dos meus pés. Um movimento em um canto de uma das paredes de vidro me revela um homem imponente usando um conjunto de terno caro, vestido de um jeito que é difícil não cobiçar. Vladmir Mazza faz um gesto de cabeça para o funcionário se retirar e ele faz sem hesitar.
— Seja bem-vinda, Senhorita Summer! — Ele sibila com uma voz grossa e rígida se aproximando devagar, e quando chega perto fica difícil não se inebriar com o seu perfume. — Essa é para você. — Embora ele mantenha um olhar firme e indecifrável em cima de mim, me estende uma rosa vermelha e eu a seguro aspirando o seu cheiro no mesmo instante.
— Ela é linda, Senhor Mazza!
— Não tão linda quanto você. — Vlad transpira sensualidade, ele é muito bonito e envolvente. Confesso que esse seu ar misterioso é de incendiar, embora eu esteja lutando comigo mesma para não desvanecer. — Espero que goste de uma boa massa.
Esse é mais um ponto positivo para ele. Eu amo uma boa massa!
— Eu adoro massas! — confesso e percebo um sorriso pequeno, quase sutil surgir no canto da sua boca e inesperadamente ele leva uma mão para a base da minha coluna. Esse gesto me faz suspirar, porém, não permito que ele perceba isso. Logo ele me guia para a mesa e se afasta um pouco para puxar uma cadeira onde eu me acomodo sem hesitar.