Capítulo 04
Junto o máximo de cacos que restaram da minha dignidade, ligo o aparelho e começam a cair inúmeras notificações. Respondo por prioridade, assim a primeira pessoa pra quem eu ligo é minha mãe, escuto um bom sermão para que nunca mais suma assim, ela ainda me faz passar contato da Michelle para deixá-la mais tranquila. Conto superficialmente o que houve e o porquê de eu ter sumido do telefone desde ontem, não quero preocupá-la com coisas atoa. Mudo o foco da conversa para evitar questionamentos, falamos da família, dos dias, fofocamos, enquanto converso na ligação, abro alguns e-mails e já vejo que fui aprovada no vestibular, saio pulando de alegria pela casa enquanto comemoro ao telefone com minha mãe, agora sou oficialmente acadêmica de Direito. Depois de mais de uma hora falando com minha mãezinha desligo a chamada para ver as demais notificações.
Converso com meu advogado que me manda providenciar uma vida social rapidamente pois ainda há investigações em cima do meu nome, e garanto que farei o mais rápido possível. Pronto! Agora preciso responder ou bloquear ou tomar alguma posição sobre Puff, não dá para ignorar por mais tempo.
A caixa postal está cheia de ligação, vários torpedos, inúmeras mensagens no app de conversas e até e-mail, realmente Puff tentou mesmo falar comigo, sorrio pequeno. Abro o app e ele já manda um "oi,me perdoa." Ligo para ele, deixo-o argumentar sobre tudo que o levou a mentir para mim, relembro que odeio mentiras, digo que seria mais digno se tivesse contado a verdade no começo e me deixasse decidir se eu queria ou não continuar.
Não sei se de fato é assim que eles me vêem ou se é só lábia de preso, acho que eles recebem uma cartilha assim que chegam na cadeia, os argumentos dele são os mesmos de José Felipe, de que eu não sou mulher de porta de cadeia e que ele não quer me ver sofrendo igual as cunhadas e blá blá blá bla, diz que está previsto para sair em pouco mais de 40 dias e queria chegar como se de fato estivesse viajando.
Acho fofas as justificativas, e meu coração de trouxa se amolece todo. Tento me fazer de difícil mas Puff já percebeu que me venceu no argumento. Ficamos conversando sobre nós e estabelecendo as novas "regras" da nossa relação. Findo o assunto com o coração feliz porém levemente preocupado, algo me diz que não devo entrar de cabeça assim nesse relacionamento.
Ligamos por vídeo chamada e ficamos conversando, já está tarde preciso começar meu almoço, arrumo o telefone na bancada da pia enquanto vou colocando as panelas no fogão, estou com fome, e com preguiça de cozinhar, não vou fazer nada elaborado. Passo um bife, preparo uma salada, gratino uma batata e está ótimo. Fico falando no vídeo até terminar de comer e arrumar a cozinha, assim como Puff também fala comigo e direciona sua equipe enquanto está na ligação. Depois de arrumar tudo, me despeço de Puff preciso ir à faculdade levar a documentação da matrícula.
Desligo a chamada, tomo um banho frio para despertar qualquer indisposição que esteja sentindo, visto uma roupa confortável porém formal e vou ao campus, peço o mesmo táxi que me levou as outras vezes pois preciso criar vínculos, montar uma vida aceitável em sociedade e ter pessoas com credibilidade para validar tudo. No trajeto, vou especulando o taxista sobre os pontos importantes da cidade, pegando referências de locais e contando a versão de tudo que eu quero que ele saiba.
Na faculdade, assino todos os papéis, a mão chega dói com tanto visto, dou uma volta para conhecer o campus, converso com pessoal da cantina e conheço a Bruna que também está fazendo matrícula e vai cursar Direito. Tomamos um café e depois nos despedimos.
—Até semana que vem! Tomara que sejamos da mesma turma— Bruna fala enquanto me dá um beijo nos dois lados da bochecha.
— Até! Foi muito bom te conhecer, começar já tendo uma amiga facilita muito— sorrio e me despeço entrando no táxi.
Vou direto para casa, como esperado, já tenho uma amizade com o taxista, que pergunta durante todo o trajeto como foi no campus e se estou ansiosa. Respondo, enquanto mando mensagem para Puff dizendo que já estou chegando em casa.
Assim que entro, Puff me liga na chamada por vídeo, atendo e ficamos conversando até alta madrugada, não falamos só de nós mas também dos trabalhos.
—Meu bem, vou dormir! Já estou cansada— Falo, bocejando de sono.
— Mas já? — Ele contesta em tom de brincadeira —Tudo bem, descansa essa beleza toda aí pra nós. Dorme com Deus, até amanhã.
—Beijo, até amanhã!
Os dias parecem repetições identificas, acordo e durmo falando com Puff, quando não é namoro é "corre". Começo a ficar entediada com isso, essa monotonia me deixa irritada. Mesmo que o "corre" tenha suas emoções e os stress é sempre falando com as mesmas pessoas, o dinheiro entra e sai da mesma forma geralmente nos mesmos horários. Tudo muito igual! Segunda já começam as aulas, espero que mude um pouco.
Aproveito o final de semana, pesquiso alguns negócios na internet, quero mudar a rotina, aumentar meu círculo, e ter uma profissão na sociedade enquanto faço faculdade, dentre todas as opções que analisei opto por uma franquia de jóias. Perfeito para o momento, investimento moderado, alto padrão, aos olhos das pessoas muito lucrativo. Exatamente o que preciso.
Conto a novidade para minha mãe, afinal ela também precisa saber que estou conseguindo me virar nos trinta e arcar com minhas despesas, e principalmente que trabalho honestamente e estou estudando certinho. Segunda-feira será completamente atípico, vou finalizar a aquisição do meu novo empreendimento, iniciar as aulas e isso deixa minha mãe feliz e orgulhosa de mim. Até sinto uma dor no coração por estar omitindo uma parte da verdade mas é melhor, ela não ficaria tranquila se souber de tudo.
Michelle está de volta, estou considerando convidá-la pra sair e dar uma espairecida na mente. Ligo para Puff, agora tenho um namorado preciso deixá-lo a par das minhas intenções. Não atendeu, mais tarde eu falo, vou falar com Michelle.
—Mih, Michelle? Falo já entrando, a porta está apenas encostada— encontro ela na lavanderia colocando roupas no sol.
— Oi amiga, nem te ouvi chamar! Ia lá te ver, mas decidi por as roupas pra lavar antes de ir, que bom que se antecipou— Ela fala sorrindo e secando as mãos para me abraçar.
—Amiga, você está muito cansada? Está afim de um barzinho hoje? Quero dar uma espairecida não aguento mais ficar em casa!—sorrio enquanto falo.
—Vamos sim, eu também preciso. Aliás você tem que me atualizar das fofocas, como assim eu viajo te deixo sofrendo por um término volto e encontro uma adolescente apaixonada e namorando— Ela fala gargalhando e zombando de mim.
—Hahaha! Agora faz um café pra gente só pra não zoar as amigas mais— falo rebatendo o deboche. Ela vai para cozinha e eu vou logo atrás. Enquanto ela coa o café eu coloco as xícaras na mesa e pego um pote de biscoitos, tô me sentindo em casa ela me deu essa liberdade e lá no meu apê ela tem a mesma.
Ficamos conversando, contei sobre o namoro mas não contei que ele está preso, mantive a história original de que ele está viajando a trabalho e volta mês que vem.
—Amiga, cuidado! Relacionar por mensagem já é complicado, principalmente sem nunca ter visto a pessoa ao vivo e a cores— Ela alerta realmente preocupada.
—Eu sei amiga, estou tomando todas as precauções— Falo séria, mas obviamente não estou— mudo foco da conversa, não quero continuar falando do namoro — Tenho outra novidade, estou comprando uma franquia de uma marca famosa no mercado de jóias, sua amiga tá virando empresária— Digo, sorrindo e feliz de verdade.
— Que notícia maravilhosa, realmente temos o que comemorar! Que tal irmos ao Pub hoje? A reforma terminou, precisamos ver como ficou e comemorar em alto estilo. Tem de ser chic assim como sua empresa.
Fico mais um pouco e volto pro meu apê, marcamos de sair 21:00h, já está tarde e até agora Puff não me ligou, pessoal já começou mandar mensagem perguntando por ele, os negócios estão parados por falta de comando.
(Rato) - 14:10
Precisamos saber o que fazer! A senhora sabe onde colocar a arrecadação de hoje? Ontem Puff deixou ordens de que se ele estivesse desativado poderíamos chegar na senhora para resolver.
(Eu) - 14:12
Sei sim, mas por qual razão ele está desativado? Ele não me avisou nada!
(Rato) - 14:13
Dona eu não posso falar muito não, até mesmo para não me complicar depois mas havia uma responsa em andamento e provavelmente não deu certo, a ala deve tá em procedimento.
(Eu) -14:14
Tudo bem, mandei as instruções aí, olha e se tiver alguma dúvida pode perguntar. Obrigada pelo esclarecimento, espero que ele apareça logo. Tmj!
O dia foi angustiante, sem nenhuma notícia. Olho as notificações de minuto em minuto esperando que ele apareça. Assisto alguns tutoriais da marca da franquia, organizo a documentação que vou precisar, felizmente já vem tudo quase pronto, só assinar a documentação, conferir o estoque, e dar um toque pessoal no espaço.
A noite me arrumo para sair com Michelle, minha alma está levemente angustiada nada do Puff aparecer, decido não comentar com ela para que não me coloque ideias na cabeça até porque não farão sentido já que ela não sabe o que de fato está acontecendo e nem quer ele realmente é.
Michelle está linda, um vestido tubinho preto de alcinha com um salto em tom de cobre combinando com sua bolsa, o cabelo e a maquiagem estão impecáveis.
— Vestida para matar!— Falo enquanto admiro a beleza dela.
— Obrigada amiga! Você também está um verdadeiro espetáculo— Ela fala destravando o carro para irmos.
— Certeza que não quer ir de táxi? Se bebermos não voltaremos dirigindo! Eu ainda tenho um curso para concluir, uma empresa para administrar e um futuro para brilhar— falo provocando.
— Pode ficar tranquila, vou te devolver inteira!— Ela fala sorrindo.
A noite foi muito agradável, jantamos e depois fomos para a área de dança, nos divertimos bastante, realmente esqueci todos os pensamentos que me rodeavam. Já está tarde chamo Michelle para ir embora, e a contragosto ela aceita, o dia já está amanhecendo e Puff não apareceu. Deito preocupada, mas sei que ele vai aparecer e que está bem.