Capítulo 05
O domingo já começa ruim quando pego o telefone e realmente não há nenhuma notícia do "meu bem", levanto meio zonza, minha cabeça está dolorida, provavelmente por atropelar a noite e beber um pouco mais do que deveria. Olho as horas e já são quase 11, meu Deus! Preciso deixar tudo separado para amanhã. Ligo para Michelle, tenho que saber se ela está bem.
—Oi amiga, você está bem? Eu acordei com a cabeça explodindo— falo enquanto escuto alguém falar com ela do outro lado da linha.— Estou atrapalhando?
—Oie, estou bem sim! Não, imagina não está atrapalhando não. Estou na casa de um crush mas ele já está indo me levar, que tal eu levar uma lasanha para nós?— Ela fala sorrindo, demonstrando que temos muitas fofocas para a tarde.
—Perfeito! Te aguardo aqui em casa, afinal devo me preparar para amanhã e a senhorita vai me ajudar. Beijos!— Digo, desligando a chamada.
Michelle chegou toda animada, com uma lasanha sabor bolonhesa que estava cheirando maravilhosamente bem. Comemos enquanto ela me atualiza sobre o boy da noite passada.
— Então a senhorita fugiu de casa né safadinha! — brinco, e ela sorri grande.
— Fugi, e digo mais, valeu cada minuto da noite, se eu estivesse querendo me amarrar, o que não é o caso, eu me amarraria nele— ela ri muito, enquanto se levanta tirando a mesa.
Limpamos a cozinha e fomos para o meu quarto, Michelle me ajuda a separar os looks da reunião com os representantes da marca, escolhemos um terninho preto com uma blusa branca, uma bolsa social e um saltinho e também o look para a faculdade que é bem mais confortável, uma calça pantalona creme e uma blusinha rosa chá, acompanhada de uma sapatilha. Ligamos juntas para minha mãe no vídeo e conversamos as três por um longo período, minha mãe especulou a vida da Michelle o máximo que pode, e sobre a noite que passou, fez questão de cada mínimo detalhe.
No meio da tarde fiz um bolo de côco, meu preferido, preparamos um tereré e nos sentamos na sacada, definitivamente fizemos "vários nada" juntas o dia todo. Quando escureceu Michelle foi para seu apê e eu ainda fiquei mais um pouco na sacada. Meu celular vibra, notificação de número desconhecido, abro mais que de pressa.
(Número desconhecido) 18:40
Oi princesa, sou eu! Ontem teve procedimento aqui e levaram todos os aparelhos mas pode ficar tranquila que já está tudo resolvido. E você, como está?
(Eu) 18:41
Oie! Eu agora estou bem, estava muito preocupada com você. Graças a Deus você está bem! Foi só os prejuízo financeiro ou agrediram vocês, houve algum castigo?
Assim que a mensagem foi visualizada ele me liga por vídeo, atendo toda feliz, ele me conta sobre o procedimento que teve, das agressões e antes que eu me preocupe ele me diz que é "normal" que em todo procedimento alguém apanha ou todos, depende da gravidade do que fizeram, fico um pouco chocada com os fatos e com a naturalidade que são narradas mas Puff diz que vou me acostumar também. Estou descobrindo agora como é a rotina do preso, mesmo tendo um ex que está preso e já tendo ido visitá-lo algumas vezes. A realidade é que tudo se tornou novo, primeiro que onde José Felipe está, não tem celular e outra que ele não me contava os detalhes do dia a dia, até então eu não tinha ideia de como era.
Conto ao Puff sobre a faculdade, que as aulas começam amanhã, ele se anima e faz uma ceninha de ciúme, diz que vou trocá-lo por um aspirante a advogado, caio na gargalhada e falo pra ele deixar de exageros.
—Amor, tenho outra novidade! Estou comprando uma franquia de Joalheria, são jóias lindas, e a marca já é renomada no Brasil. Estou animadíssima. Sua namorada agora é empresária, até por que não quero viver de corre a vida inteira.
—Que maravilha! É assim que eu quero ver, você crescendo cada vez mais, construindo seu castelo e garantindo seu futuro. Estou realmente orgulhoso.
Puff me deu alguns conselhos para que eu invista sempre o meu dinheiro garantindo meu futuro. Ele é relativamente jovem, tem apenas 3 anos a mais que eu mas tem uma cabeça centrada em comparação com a maioria da nossa idade e principalmente do meio social em que estamos inseridos.
—Meu bem, ontem fui ao Pub com minha vizinha. Ficamos até madrugada, dancei bastante, bebi um pouco e voltei pra casa— falo e observo a feição dele mudar instantaneamente.
— Você não pode sair sem eu estar de acordo, você quer ficar sem cabelo? Eu não tô aqui pra ser tirado pra otário não, Sol!— ele fala claramente irritado. E eu no primeiro instante fico em choque mas recobro minha postura.
—Olha aqui, se está achando que eu sou essas cunhadas que estão acostumadas a levar xingão, e na visita seguinte tá batendo carteirinha aí na porta, saiba que você está redondamente enganado. Quem está preso é você, eu não faltei com respeito em nenhum momento que estive na rua, se para você não está suficiente pega descendo que subindo é contramão. Eu heim, vou deixar de viver só porque você quer não.
Desligo a chamada e não atendo nenhuma das seguintes, Puff "pulou Corguinho de ré" quando achou que eu vou deixar de sair só porque ele está preso. Não digo nada se eu fosse de ir para os bailes pesadão da vida, raves ou qualquer coisa do estilo, agora vir viajar em mim por eu ter ido num Pub social que ninguém do corre frequenta é ser muito tóxico. Não aceito mesmo.
Deito realmente indignada com as palavras dele, tenho vontade de esmurrar a cara dele de tanto ódio que estou sentindo. Meu estômago dá uma leve roncada, lembro que não comi nada na janta, e definitivamente não vou levantar para fazer. Adormeço com fome e irritada, ingredientes suficientes para uma noite mal dormida.
Despertador toca, marcando 7:30, levanto, me arrumo, tomo um café e vou até o salão para Michelle dar um jeito ao meu cabelo, acordei destruída, com olheiras e cabelo uma farofa, ainda bem que tenho ela para me salvar, a reunião está marcada para às 10:00h, depois de ser transformda de ogra em princesa, me despeço dela, estou confiante que tudo vai dar certo.
—Boa sorte amiga, volta logo que farei o almoço— ela fala e eu sorrio como agradecimento, sou muito abençoada em tê-la como amiga.
Saio da reunião, que de fato é um sucesso, peço um táxi e abro as notificações no celular, tem inúmeras mensagens do Puff e também do Rato.
— Oi Rato, o que tá pegando? Estava numa reunião só vi agora suas ligações.
— Sol precisamos que a senhora dê atenção no corre, parece que a senhora e o Puff estão brigados mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Responsa é responsa! Vamos pra cima que tempo é dinheiro, dá mole não.
— Ok! Dez minutos eu dou atenção lá. Pode ser?
— Dmr! Tô no aguardo.
Volto pra casa, encontro Michelle na portaria ansiosa por saber como foi, esqueci completamente do nosso combinado em almoçar juntas, subimos e eu ainda preciso ver o que tem pra resolver na equipe, deve ser algo urgente se não fosse Rato não teria ligado tantas vezes, sinto muito vão ter que se contentar com mensagens não vai dar pra ligar.
(Eu) 12:45
Rato, pode ir mandando aqui que eu vou passando as coordenadas, não dá para falar em ligação, tem muita gente perto.
(Rato) 12:46
Ok, Sol. Você dá trabalho viu KKK
Tô mandando aí mas responde essas mensagens.
(Eu) 12:47
Tô ntv, pode mandar.
Almoço com Michelle e conto da reunião que foi um sucesso, falo animadíssima que mais tardar em um mês eu já posso inaugurar meu empreendimento, tô vibrando sucesso. Enquanto converso com Mih, vou dando instruções ao Rato sobre o que fazer.
Logo após o almoço Michelle voltou para o salão e eu fico sentada por um bom tempo vislumbrando as fotos da joalheria. Mal acredito que estou recomeçando minha vida adulta com o pé direito, sem contar que estou mais com o pé no lado certo do que no errado. Eu quero uma vida normal, o corre tira a paz, sem contar o risco de perder a liberdade.
Sento na escrivaninha reviso meu contrato, verifico se os pagamentos estão todos certinhos, e antes de tirar meu cochilo da tarde ligo pro Rato pra me certificar que fluiu tudo dentro do esperado, ele me confirma que está, então desligo o celular e deito um pouco, a propósito já fiz mais coisas hoje do que fiz a semana passada toda, essa soneca é mais que merecida.
Quase uma hora depois acordo e meu corpo está mais pesado do que antes de deitar, deve ser a ansiedade, levanto na expectativa de espantar essa moleza, coloco umas roupas na máquina, passo um pano na casa, guardo a louça que Michelle já tinha lavado só então pego o celular, minha psicóloga está tentando mudar meus hábitos, chama isso de "Detox digital". Mal ligo o aparelho, Puff me liga pedindo para conversar, vem com a cara lerda, dizendo que se precipitou, que não quis me dominar e que está arrependido de como falou comigo, e como boa trouxa que sou, perdôo mesmo sentindo que não deveria.
Já é hora de me arrumar para ir pra aula, hoje realmente é um dia de começos, coloco a roupa que já havia separado ontem a tarde, me olho no espelho admirada, estou realmente linda, ou melhor eu sou linda, maravilhosa, uma deusa.
Chego ao campus com um tempinho de folga, caminho com calma para a sala, observando o vai e vem de alunos, e pensando no quanto esse cenário é agradável, eu já cursei uma graduação porém era semi presencial, agora não, agora vou ter uma experiência completamente diferenciada.
A aula flui toda dentro do esperado, os professores são excelentes, converso com algumas colegas que estão próximas. Foi uma conversa curta, porém não senti acolhimento, senti um tanto quanto soberbas mas não me importo eu na minha elas na delas e curso que segue. Após a aula a turma se organiza para comer uma pizza, contudo estou muito cansada, melhor ir para casa.
Encontro Bruna na saída, infelizmente não ficamos na mesma turma, converso um pouco com ela enquanto o táxi chega, trocamos telefone e nos despedimos, gosto dela, meu santo se identificou.
Chego exausta, queria namorar para tirar o stress, nunca mais transei desde que vim embora. Se brocar já está criando teia de aranha, mas também, acho o que de arrumar namorado virtual? Só podia dar nisso. Amanhã eu vou passar no sexshop preciso muito passar por lá.
Puff me liga, conversamos por um bom tempo, contei sobre minha intenção de ir ao sexshop e ele apoiou com sorriso travesso, safadinho, já está criando fantasias. Estou tão cansada que não vejo a hora em que adormeci mas com certeza foi na ligação.