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Cap 3 - Por Ser Amor, Invade e Fim

Meu pai havia chegado e não sei se ficava feliz ou triste. Feliz porque tenho certeza que ele iria atrás da verdade e triste porque quando souber o que eu fiz, vai me deixar de castigo até a seleção brasileira ganhar o hexa.

Minha dúvida de sentimentos acabou, quando o Sargento Grimaldi deixou o pai Bruno de lado e estava pondo a diretora maléfica no bolso. Só me restava assistir pela abertura da porta.

— Bom Diretora, ouvi a senhora, ouvi minha filha e o amiguinho dela. Ouvi o coordenador, mas ainda não ouvi os outros três meninos, que são o eixo de toda essa confusão. Cadê eles?

— Os pais deles vieram buscá-los, já que estavam muito traumatizados com o acontecimento violento, pelo qual passaram. O senhor há de entender. — A bruxa enfatiza. — Jamais vi algo parecido em anos neste colégio.  

Meu pai jamais engoliria essa, estava vendo sua feição fechada e quando ele tamborila os dedos sobre a boca, busca entender algo estranho.

— Traumatizados! Até entendo o rapazinho que teve a mão perfurada, mas os outros dois não sofreram nada. Não vejo por que não estão aqui. Diretora, não há como ter uma visão justa, se não ouço todas as partes.

— Senhor Bruno, o quê passa pela sua cabeça? Que por um acaso estou mentindo? Eu chamei o senhor aqui, porque sua filha é uma boa menina. Por mais que tenha alguns problemas familiares, a aluna nunca havia se comportado de forma agressiva, até começar a andar com certas amizades.

— Problemas familiares!? Minha filha não tem qualquer problema familiar, pelo contrário, ela é feliz e amada pelos pais. 

 — O senhor está me interpretando mal. Não foi bem isso que eu quis dizer.

— Mas foi justamente o que a senhora disse. Problemas familiares, tem criança que tem pais figurativos. Geralmente se enchem de raiva gratuita, por não receber nem amor, nem educação. Se quando se refere a certas amizades, você está falando desse menino que está lá fora, tímido e acanhado... Pelo o que eu sei, Anttone é o melhor aluno desta escola, ou não?

— Na verdade, ele é o que tira as melhores notas, e eu nem sei como, mas só vive metido em confusão. É que o senhor só sabe uma parte da história.

— Então me explique toda a história Diretora. Sou todo ouvidos.

— O pior cego é aquele que não quer ver Senhor Bruno. — Argumento fraco bruxa. Não vai doma-lo.

— Ah! A senhora acha que não vejo? Mostrarei quem não enxerga com clareza por aqui, a senhora ou eu. A Diretora me permitiria trazer um dos seus alunos, da sala da minha filha, que pudesse vir aqui falar comigo?

— Para quê?

A bruxa sabia que as coisas iriam sair mal para ela. E tentava por barreiras. Enquanto eu espionava tudo da salinha. Anttone tentava enxugar as lágrimas escondido.

—  Para conversar apenas. Qualquer aluno da turma da minha filha, da escolha da senhora, e de preferência uma menina.

Mesmo encafifada atendeu o pedido do meu pai. Pediu que Abigail trouxesse a aluna, a mesma voltou com a Clarice, uma dessas meninas que o Anttone ajudava com a lição. Nessa ele deu sorte. Minutos depois, meu pai pediu que o Anttone entrasse na sala e falou com a Clarice a frente de todos. Eu fiquei de fora, acho que meu jeito um pouco elétrico, pode ter colaborado minha exclusão.

— Fique tranquila. Só irei fazer umas perguntinhas, e se você responder com a verdade, logo acaba ok?

“Ah! Não é mais o meu pai Bruno quem está aqui. Agora quem vai comandar esse interrogatório é o sargento Grimaldi."

Conversar bastante com meu pai, ajudou muito a ele construir nossa defesa.

E para mim eu estava em um tribunal. No corredor da morte.

Sargento Grimaldi fez as perguntas certas e Clarice acabou soltando todas as maldades que os meninos praticavam com facilidade. Ana Célia tentou rebater de todas as maneiras, passando muita vergonha. Quando percebeu que a "casa caiu", teve de aceitar sua derrota.

O melhor da noite, foi meu pai dizer que iria relatar todo episódio na secretaria de educação. Confesso que ri por dentro.

“Meu pai e f… não eu não posso nem pensar nesse palavrão, senão senhor sargento aumenta o castigo que sei que vou ganhar. Mas meu pai é o melhor, deixou essa bruxa da diretora de cara no chão.”

Eu peguei três dias de suspensão, João e sua turma também. E o Anttone que iria ser expulso, nada sofreu. Era o correto, meu amigo não tinha feito nada. 

Meu pai ofereceu carona para o Anttone até a estrada da Gávea e ele aceitou, essa estrada dava acesso para comunidade no qual ele morava.

[•••]

Anttone e eu estávamos sentados atrás. Meu pai reclamou disse que não era taxista, a gente achou engraçado, mesmo assim o deixamos sozinho na frente. No caminho, senhor Bruno pega uma fita no porta luvas e põe no rádio. A música era boa, pétala do Djavan, mas queria algo mais agitado.

— Ah pai! Eu até que gosto dessa suas músicas aí. Mas agora quero algo mais pesado, põe um Nirvana pra gente. Não é Anttone?

Dentro do carro, com os vidros abertos, o vento estava embaralhando meus cabelos. Que mal conseguia tirar os fios esvoaçantes da minha cara. E o Anttone estava me olhando com cara de lesado. Tive que gritar, para ver se ele saia do transe.

—  Anttone… acorda! Você está dormindo? Responde. Não é melhor Nirvana?

—  Não. Prefiro essa música. É linda —  falou suspirando me olhando de forma esquisita.

—  Cruzes você está estranho! O que deu em você?

— Bruna o que você pretende ser quando for adulta? 

Ele ainda estava estranho e me fez essa pergunta do nada, mas não custava responder.

— Policial. — respondi sem pensar. Depois lembrei que meu pai não quer que eu siga os passos dele.—  Quero dizer, eu quero ser policial, mas meu pai quer que eu faça uma boa faculdade e irei fazer.

—  Eu já sei o que vou ser quando for adulto.

— O quê?— pergunto curiosa.

— Médico pra te curar, todas as vezes que você necessitar.

Confesso que achei bem esquisito o que ele disse, mas também achei fofo. Meu pai avisa que é a hora de Anttone descer. Também desci para sentar no banco da frente. Anttone agradeceu a carona e a ajuda com o problema na escola. 

Me despedi dele, lhe dando um beijo estalado na bochecha. Meu amigo pôs a mão no rosto, como se estivesse segurando para o meu beijo não cair. E assim ele seguiu, rumo a entrada da favela.

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