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Caçada

Délia, ao ouvir que aquela jovem franzina e frágil era a companheira de seu Alfa e sua futura Luna, compreendeu a besteira que fizera. Não tinha desculpas para sua atitude impensada. O Alfa pediu que ela cuidasse da fêmea e não que a expulsasse como uma invasora, como ela fez. Julgou pela aparência da jovem e pode ter causado um imenso mal àquela fêmea. 

Do lado de fora, Gael prganizava os seus batedores e caçadores, para iniciar a busca. Acreditava que por ela estar muito fraca e abatida, não estaria longe, mas alguém falou:

— Alfa, eu vi a cena e a jovenzinha se transformou em uma loba Alfa, imensa, muito magra, mas mesmo assim, cheia de poder.

— Então talvez seja mais difícil, pois essa loba é bem arisca. Se algum de vocês a encontrar, não se aproximem, ela é perigosa.

Nádia olhava de longe, resolveu ir junto, pois também era uma caçadora e não perderia a chance de acabar com a concorrência. Sem que percebesse, Timóteo se aproximou e falou bem baixo em seu ouvido:

— Nem se atreva…

— Não me enche, Timóteo.

— Não se esqueça que estou de olho em você — se afastou, depois de falar.

Saíram todos em perseguição a fugitiva, que na verdade, não estava fugindo, fora expulsa e estava indo embora.

***

Já bem distante da Alcateia de Gael, a loba solitária, encontrou uma cabana e enquanto pensava no que fazer, a porta se abriu e de lá saiu um homem muito grande e corpulento, que a olhou e perguntou:

— O que você faz aqui  loba? Pelo seu cheiro, acho que está muito longe de casa. Venha, não tenha medo…

Ela fitou o homem e sentiu sua aura de poder, bem maior que a do Alfa e o seu próprio. A única coisa que sabia, era que os cientistas falavam com ela assim e no final, era só enganação e ela sofria torturas horríveis. Com esse pensamento, em um salto, ela saiu disparada, provocando a fúria do homem que se transformou em um enorme lobisomem e correu atrás dela, para caçá-la.  

Ele abriu a comunicação mental com os outros lobos e se dirigiu a Gael.

— " Perdeu sua metade, Gael? Estou caçando ela agora, se eu conseguir pegá-la, marcarei ela para mim, já que você foi estúpido de não faze-lo. É uma Alfa negra, linda!" — Fechou a ligação, sabendo que o outro ficaria furioso e chegaria alí rapidamente.

Como ele era muito maior, logo alcançou-a e se jogou sobre ela, a subjugando. Não perdeu tempo, cheirou seu pescoço e percebeu que ela estava entrando no cio e entrou com seu membro dentro dela, a possuindo sem dó, nem piedade. A loba gemia, sem conseguir sair da prisão do corpo do lobo crinus.

Como sempre que algo assim lhe acontecia, ficou quieta e esperou, sabia que ele logo acabaria e a deixaria em paz. Sabia que estava entrando no cio e isso atraía os machos, mas também sabia que não daria fruto, como em todas as vezes que tentaram no laboratório.

Só que antes que o crinu acabasse com sua incursão, foi jogado longe por outro lobisomem. Era Gael, que se colocou de pé à frente se sua fêmea, desafiando o outro, que não se mecheu, apenas se levantou e saiu, voltando para sua cabana.

— " Que pena que você foi rápido, Gael. Eu estava quase lá, aliás, ela é deliciosa." — Depois de falar na mente de Gael, fechou a ligação novamente.

A loba se levantou com dificuldade e começou a andar, voltando à sua trajetória de fuga. Mas o Alfa a parou e mordeu-lhe o mesmo lugar que já tinha mordido antes, fazendo ela uivar de dor. Ficou parada, esperando a dor passar e voltando à forma humana, desmaiou novamente diante do Alfa.

Ele viu que seus homens chegaram e seu Beta estava junto, olhou para ele e ordenou através da ligação que a levassem. Voltou a forma lúpus e foi embora correndo, deixando a fêmea largada lá, nua, à disposição de seus homens.

Chegando em sua casa, Gael foi para o seu quarto e se trancou lá. Não queria falar com ninguém. Não entendia como sua vida tinha entrado naquele turbilhão de acontecimentos ruins. Não sabia o que fazer com aquela fêmea, que até seu irmão, com o qual vivia disputando Território,  tinha possuído. 

— Maldita!

Ele imputou a ela todos os seus problemas e dores e quando ouviu baterem à porta, trazendo ela, disse que a levassem para a casa de Délia, que a partir daquele dia, seria responsabilidade dela, cuidar da fêmea. 

Délia ficou sem palavras, mas obedeceu e foi com eles até sua casa e pediu que a levassem para o banheiro do quarto e colocassem na banheira, para lhe dar um banho. Era a segunda pessoa em dois dias que lhe dava banho e via as marcas em seu corpo e também viu o sangue escorrendo por suas partes íntimas, tal a violência do lobisomem ao possuir a loba dela. 

Délia limpava e chorava. Se arrependia pelo que tinha feito, por não ter notado a fragilidade da jovem que já fora tão massacrada. Cuidou dela com carinho, como se fosse a filha que nunca teve. E quando já a estava tirando da banheira, ela acordou.

— Onde estou? — Perguntou, falando pela primeira vez, desde que fugiu e olhando à sua volta, reconheceu a mulher que a expulsou.

— Está na minha casa, querida. Me perdoe pelo que eu lhe fiz, não entendi a ordem do Alfa. Mas agora, eu cuidarei de você e ninguém mais lhe fará mal. — Falou Délia, enrolando o corpo frágil, em uma toalha felpuda.

— E o Alfa? — Perguntou a jovem.

— Ele está muito contrariado com o que lhe aconteceu e pediu que eu cuidasse de você. Como é seu nome, querida? — Perguntou Délia.

— Catorze.

Délia olhou para ela com a testa franzida, sentindo dó da jovem, que pelo visto era tratada como apenas mais uma, seja lá onde estava e nem saber falar direito, sabia.

— Quatorze é apenas um número, que tal escolhermos um nome de verdade? — Sugeriu, tentando não magoar a menina.

— Sim.

— Que tal Ilhía, seria o nome que daria a minha filha.

— Ilhía, gostei. Você não tem filhos?

— Nunca encontrei meu companheiro. Nossa espécie so pode procriar com os próprios companheiros.

— Então foi isso…— falou Ilhía, pensativa — o que é um companheiro? O Alfa disse que somos companheiros, mas não sei o que é.

Délia olhou para ela sem acreditar no que ouvia. Pelo visto ela não sabia nada sobre a própria espécie, vivera dentro de um lugar, sendo tratada como um animal.

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