NA MESA DO ALMOÇO
Na hora do almoço já na mesa, a senhora Fidelis fala:
—Juliano, filho, a filha da Bebel voltou do exterior, e a Bebel disse que ela quer trabalhar, então ver um cargo lá na empresa pra ela, qualquer coisa pra ela fazer, só pra ela não ir embora, a Bebel está desesperada porque a filha chegou ontem e já está falando em ir embora trabalhar em outro cidade!
—O que! — Juliano fala surpreso.
—O pai lhe olhou e fez sinal de calma! É quando ele percebeu que se exaltou, respirou e falou mais calmo.
—Mamãe, ela não vai querer qualquer coisa, afinal ela estudou no exterior e se formou, mamãe, porque você despreza tanto os outros assim, qual é o seu problema?
—O que está acontecendo com você? —Você precisa se tratar! Essa sua amargura está arruinando a nossa família!
Ele fala e se levanta, joga o guardanapo na mesa com muita fúria, sai da mesa e dessa vez sem comer quase nada, ele sai da sala sem nem mesmo olhar pra traz. Depois de sair, ele vai lá pra fora se senta no banco do jardim da frente da casa e fica pensando.
—Não posso deixar a Laudy, ir embora, pois se ela for, dessa vez eu temo nunca mais vê-la, e se isso acontecer eu não vou aguentar, então eu não posso permitir que isso aconteça. Vou precisar colocá-la na empresa, mas tem que ser na areia que ela quiser, mas ir embora eu não vou deixá-la ir, não mesmo!
—Depois de alguns minutos, ele vê o motorista limpando o carro, ele vai até ele e fala: Oi, boa tarde senhor Poubel, minha mãe acabou de me falar que sua filha quer trabalhar, fala pra ela me dar o currículo dela, eu arrumarei emprego pra ela lá na empresa!
—Tá bom, senhor, eu falarei com ela, obrigado, senhor Juliano.
—De nada, vocês merecem!
—Depois que Poubel terminou de passar a flanela no automóvel, ele entrou e disse:
—Bebel, você pediu pra senhora Fidellis arrumar emprego pra Laudy?
—Pedi, pedi, eu não fiz, mas comentei com ela, que Laudy tinha voltado e queria trabalhar!
—Você tá doida mulher, você não pensa, quanto mais a Laudy longe dessa gente, melhor pra ela! Eu não vou permitir que minha filha fique presa a essa família como nós dois ficamos a nossa vida toda.
—Poubel, do que você está falando?
—Eu estou falando, que prefiro que minha filha fique bem longe de nós, do que sendo humilhada por essa mulher! Assim como eu e você! Você não vê que se a Laudy ir trabalhar lá na empresa, ela nunca vai ser vista como ela realmente merece, que sempre vai ser a filha dos empregados da família Fidellis, eu ao contrário
de você não quero isso pra minha menina não mesmo.
—Nesse momento, Laudy, entra na cozinha e ouve o finalzinho da conversa dos pais e diz:
— O que o senhor não quer pra mim papai?
—Filha, vamos lá pra casa, eu preciso conversar com você!
—Tá vamos!
—Os dois saíram da cozinha e seguiram para área dos empregados onde cada empregado tem seu próprio kitnet. Já lá dentro Laudy fala:
—Fala papai, o que está acontecendo?
—Filha, senta aqui!
—Depois que ela se sentou, ele também se sentou ao seu lado, pegou na mão dela e disse: —Filha, sua mãe disse para a madame, que você quer arrumar um emprego, então o senhor Juliano, veio falar comigo pra você dar o seu currículo pra ele, que ele vai colocá-la na empresa. Mas minha filha, o que eu quero te pedir e pra você pensar bem, se é isso mesmo que você quer, pois naquela empresa você sempre vai ser vista como a filha dos empregados da família dele, e não como você realmente merece, e se esforçou pra ser.
Você estudou muito pra conseguir se formar com os seus próprios méritos, então, o que eu quero é que você seja reconhecida por quem você é, Laudy, você é muito inteligente e vai ser capaz de tomar a decisão certa pro seu bem, eu confio totalmente em você!
—Papai, o que você realmente está querendo me dizer?
—O que eu realmente quero é que você não dependa dessa família, que só sabe humilhar os seus subordinados. Eu prefiro que você vá pra bem longe dessa gente. E arrumar serviço em outro lugar, onde ninguém vai lhe ver como a filha dos empregados da família Fidellis, entendeu meu amor!
—Sim! Papai, agora eu entendi o que o senhor quer! E o que a mamãe pensa disso?
—Minha, filha, sua mãe, não vai gostar que eu falei isso, mas ela é muito submissa a essa família, eu só estou aqui por causa dela que diz que não vai sair daqui, me obrigando a ficar também! Mas eu não aguento mais essa senhora arrogante, que vê os empregados como um pano de chão! Então meu amor, não aceita esse favor que eles vão te oferecer, vai atrás de um futuro melhor pra você, em outra cidade, ou onde você quiser. Prometo te ajudar no que eu puder!
—Tá bom, papai, eu prometo pensar em tudo que o senhor me falou!
Com isso ela se levanta e vai pro seu lugar preferido naquela mansão, que é o jardim dos fundos. Lá ela se senta no banco e fica pensando em tudo que seu pai lhe falou, e não demorou muito pra ela ver que realmente ele tem razão, a senhora Fidellis, nunca tratou nenhum empregado daquela casa bem, a única que se salvava era sua mãe, por está com ela desde que a senhora era solteira.
Enquanto Laudy, estava distraída com seus pensamentos, não percebeu que alguém estava se aproximando por detrás dela, quando ela sentiu uma presença atrás de si, no que se virou, ficou totalmente surpresa com a presença de Juliano, que assim que viu que ela se virou vendo-o que ela se assustou, pediu desculpas dizendo:
—Eu, não queria te assustar.
—O que você faz aqui deste lado do jardim?
—Ele então disse:
—Eu gosto, daqui!
—Como assim! Eu nunca te vi aqui?
—Eu, sempre vim aqui! Quando você saia eu vinha. Sempre gostei de vir aqui para sentir o cheiro das rosas, parece que desse lado e mais cheirosas!
—Pode ficar à vontade, afinal tudo aqui lhe pertence! —Ela fala e sai.
—Mas antes que ela se afaste, ele segura no seu pulso e diz:
—Espere, fique mais um pouco comigo!
—Não posso, você saber disso, se sua mãe nos ver, não sei o que ela é capaz de fazer!
—Seu pai falou com você sobre o emprego? —Sim! —Ela fala olhando pra mão dele que está segurando seu pulso, e ele acompanhando o olhar dela, vê que ainda está segurando-a, então ele antes de largá-la, passa o polegar na costa da sua mão e fala:
—Desculpe-me. Mas então, você tem um currículo?
—Não! Mas não vou precisar no momento!
— Por que não quer o emprego?
—Não, quer fazer parte da família Righetto? Não, não quero! Eu nem mesmo quero ficar nessa cidade. Eu já me decidi, eu vou embora pra outra cidade, já combinei com uma amiga!
—Mais Laudy, A sua mãe está muito triste, afinal você acabou de voltar depois de muitos anos afastada deles.
—É, eu sei, mas sinto muito, mas ficar aqui não vai rolar.
—O que eu posso fazer pra você mudar de ideia?
—Você, nada! Mesmo porque pelo que eu sei, já, já você vai se casar, e vai embora, então para de fingir que se preocupa com os empregados, ou até mesmo os filhos deles —ela fala e sai sem dar tempo dele falar qualquer coisa, ela anda depressa e entra na sua casa.
—Já lá dentro ela se tranca no banheiro chorando muito, pois ele é o amor da sua vida, mesmo não tendo nem um contato com ele antes, ela o ama desde sempre! Ela adorava quando ele e o irmão ficava brincando no jardim da frente, ela se escondia na cerca viva de azaléias pra ficar observando-os brincar e o admirando de longe, já que ela nem em sonho poderia passar pro lado de lá do jardim que era dividido por uma cerca viva, ela foi criada longe e ao mesmo tempo tão perto do garoto que sempre amou.
Enquanto ela estava trancada no banheiro chorando, ele voltou pra dentro de sua casa e foi direto pro seu quarto se trancando, ele se joga no chão com as costas encostado na sua cama os joelhos dobrados e as mãos na cabeça pensando o que ele podia fazer pra não deixá-la ir embora.
—Quem foi que falou pra ela que eu vou me casar?
Aquela semana passou, Juliano, não viu mais a Laudy, ele saia cedo e só voltava a noite na hora do jantar, apesar dele a procurar no jardim dos fundos pela janela da ante sala, ele não conseguiu vê-la nenhuma noite.
Já ela, o via sempre de manhã quando ele saia pro trabalho, e a noite quando voltava, ela tinha um lugar secreto onde podia ficar escondida sem que ninguém a visse, e assim ela podia vigiá-lo.
Em uma noite quando Juliano chegou, Laudy, o viu chegar e com lágrimas nos olhos ela o admirava de longe pois ela sabia que aquele homem lindo nunca seria dela. Depois que ele entrou em casa ela saiu do seu esconderijo e foi pro jardim dos fundos, sentou-se no banco e ficou olhando pro céu, apreciando as estrelas e conversando com Deus, ela dizia: Senhor eu sei que é pedir muito, mas por favor me dá uma solução, ou um sinal, o que eu devo fazer?
Já dentro da mansão, depois de passar no escritório do seu pai e o cumprimentar, Juliano, vai mas uma vez pra janela da ante sala, ver se ver a sua amada no jardim, e dessa vez ele a ver lá sentada, ele fica muito feliz de vê-la, seu coração bate muito forte, ele corre para o jardim dos fundos, mas quando chegar lá, não encontra ninguém, ele fica em dúvida se realmente a viu, ou ele está com tanta vontade de vê-la a ponto de já está vendo-a nos lugares, frustrado ele se senta no banco e fica por uns minutos antes de retornar para dentro da mansão, e seguiu direto pro seu quarto.
Já Laudy, na hora que ela estava no jardim conversando com Deus, sua mãe lhe chamou dizendo:
—Laudy, onde você está?
—Vem aqui eu estou precisando da sua ajuda.Ao ouvir a mãe chamar com tanto desespero ela foi imediatamente ver oque estava acontecendo, e ao chegar sua mãe disse:
—Oi, minha filha, me ajuda aqui um instante, eu preciso ir até a dispensa mais esse molho está no fogo e não pode ferver a ponto de entornar você pode vigiar pra mamãe, só um instante? —Sim mãe, pode ir tranquila!
Depois que sua mãe saiu, a senhora Fidellis entrou na cozinha chamando:
—Bebel, Bebel —ao entrar na cozinha a senhora dá de cara com uma moça que ela não sabia quem era.
Laudy, logo fala:
—Boa noite senhora, a minha mãe foi na dispensa e já volta, eu posso ajudá-la?
—Sua mãe, então você e a filha da Bebel? Sim senhora, sou sim! Posso ajudá-la? Não, não, só com a Bebel mesmo.
A senhora vai embora da cozinha, mas antes de atravessar a porta ela vira pra Laudy e fala:
—Nossa, você se tornou uma linda mulher! Quem diria que aquela menininha magricela iria ficar tão linda assim! —A senhora está saindo mas se vira de novo pra Laudy, e fala:
—Ah, eu falei pro meu filho Juliano, pra arrumar um emprego lá na empresa pra você, parece que a moça que serve café, se demitiu, então a vaga está aberta sendo assim você pode ocupá-la.
—Laudy fica surpresa de boca aberta!
Bebel, que saia da dispensa, ouviu aquilo e sem ninguém a ver ela aperta o pacote de macarrão que está segurando com muita força, ela não esperava que a senhora humilhasse a sua preciosa filha desse jeito.
Laudy, apaga o fogo e sai da cozinha chorando e vai pra casa. sua mãe, por outro lado respira fundo e volta pra cozinha com lágrimas nos olhos, ela termina o jantar e pede pra empregada que voltou lá de dentro da sala, para servir o jantar dizendo:
—Já está pronto, você servirá porque eu não estou me sentindo bem, então, eu vou me recolher mais cedo. Obrigada — e assim ela saiu da cozinha.
Ao chegar em casa ela vê a filha com os olhos vermelhos e pergunta o que aconteceu —você andou chorando?
—O marido que estava saindo do banho naquele momento perguntou:
—O que está acontecendo?
—Laudy o que aconteceu por que você chorou? —Nada papai, não foi nada, eu estou bem! —Não, minha filha, a mamãe ouviu tudo! —Ouviu o que? —Perguntou o marido.
—A senhora humilhou a Laudy! Ela disse que tem uma vaga na empresa para servir cafezinho.
—O que! Eu não acredito nisso, tá vendo, eu falei que isso ia acontecer! Eles nunca vão vê-la com respeito! Filha, você não precisa passar por isso! Viu Bebel, eu te falo, agora você acredita em mim! Todos os nossos esforços e dedicação com essa família esses anos todos, o esforço com a nossa filha, gastando cada centavo pra dar estudo e educação, pra essa gente, não tem valor! Quando se trata dos filhos de outras pessoas, pra eles não tem valor. Bebel não tem! Ele fala indignado. Minha filha, lembra da nossa conversa, e o que te falei aqui nesse lugar você não vai passar da filha dos empregados. Todo o seu esforço de estudar para tirar notas boas! Os cincos anos que passou longe da gente pra essa gente, não tem valor. Agora calha, você toma a sua decisão.
—Eu já tomei papai, e quero que o senhor me leva agora mesmo pro aeroporto, eu não fico nem mais um minuto nessa casa! Então vocês vem ou não comigo?
—Vocês vão mesmo terminar os seus últimos dias servindo essa família, que os ver como capachos?
A mãe então diz:
—Filha, não é assim, nós não podemos sair assim sem ter pra onde ir. Eu reconheço que é o melhor pra você ir pra bem longe daqui, mas eu e seu pai precisamos ficar até você se estabelecer, então eu prometo que nós vamos ao seu encontro, e ficaremos todos juntos, como tem que ser.
—Os três se abraçam, e depois de alguns minutos, Bebel se despede da filha chorando muito, mas agora ela entende que é o melhor pra sua filha, a distância é muito doloroso, mas ver a sua única filha, ser humilhada é mais doloroso.
E naquele momento, Bebel, abriu os seus olhos que a anos estava fechado.
Laudy e seu pai seguem, pro carro dele que fica estacionado nos fundos da mansão, onde ninguém da casa vê e nem ouve o motor sendo ligado, mesmo porque a família Fidellis, estão sentados na mesa jantando.