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Capítulo 3

CAPÍTULO 3

DAVID REVOREDO

Minha cabeça gira com a sensação de estar nas nuvens quando na verdade eu estou apenas mergulhando... mergulhando firme de cabeça em um incrível mar de intensidade e desejo no qual sempre ansiei estar: nos lábios do meu docinho. E é maravilhoso, inigualável e... me faz querer cada vez mais estar ali. Então eu apenas me deixo ser guiado por minhas vontades mais ocultas, enquanto desço as mãos pela lateral de seu corpo curvilíneo a procura de sua cintura, onde ali, pouso meus dedos com firmeza, com a intenção de trazê-la para mais perto de mim.

Eu estou inebriado com tudo o que diz a respeito dessa garota espetacular a qual deixa meu cérebro e coração totalmente confusos e perdidos em sua presença. Seu perfume entorpece meus sentidos e deixa meu coração batendo feito um louco, como se fosse um cavalo de corrida disparando na pista em alta velocidade. Não sei o que está acontecendo comigo neste instante, eu só sei que não estou em meu juízo perfeito e nem quero estar, pelo menos pelas próximas horas, quero me perder e me perder de novo nessa loucura. Porém, de repente eu acordo para a realidade com um estalo ardido.

-Você está louco por acaso, cara?

Com um gritinho alto e agudo, Bruna interrompe de repente o momento do beijo dando-me um forte tapa no rosto, o que me faz dar um sobressalto de susto e afastar para longe o meu rosto de sua perigosa mão pesada e certeira.

-MAS O QUE? Caramba docinho, por que você fez isso comigo?

Eu exclamo alarmado e os olhos quase saltando do rosto.

-Perdeu a merda do juízo, David? Ou tem titica de galinha dentro da cabeça? Eu é quem deveria estar fazendo essa pergunta a você, seu abusado!

-Docinho, eu só...

-Você só o que, David? Você só pode ter perdido o cérebro nessa mesa de jogo ou afundado a droga do seu juízo no mesmo buraco que sugou o seu cérebro desmiolado, né? Ou você simplesmente está querendo morrer de graça num país diferente? O que foi que deu em você, hein cara? Está tão doidão ao ponto de desejar que eu quebre o seu pescoço com um taco de golfe aqui mesmo? Seu... seu... patife sem vergonha e cara de pau!

Ela se rebela e grita comigo, apontando o dedo indicador praticamente dentro da minha cara, ao mesmo tempo em que dá um passo para trás para colocar certa distância entre nós dois. Engulo a saliva com dificuldade na garganta, atingido por um pouco de lucidez momentânea, ao perceber a furada em que eu acabo de me meter nesse instante. Droga, a docinho realmente está furiosa comigo e eu preciso tentar consertar a situação agora antes que as coisas fiquem bem piores depois .

-Bruna, eu...

-Nem vem que não tem, seu doido!

Ela me corta antes mesmo que eu possa me desculpar pelo que fiz, e continua com os olhos estreitos em duas fendas na minha direção.

-Eu vou meter a mão na sua cara de novo se tentar mais uma gracinha, está me ouvindo? Só que dessa vez vai ser do outro lado da bochecha para marcar as duas de vermelho por igual.

Pelos céus! Eu realmente serei carne morta se essa mulher vier para cima de mim de verdade. Mas o que eu posso fazer para tentar remediar a situação sem acabar apanhando outra vez? O que...

-Olha só, é melhor você tirar as suas mãozinhas trapaceiras daí antes que eu as arranque com uma tesoura, sua biscate cara de pau!

Eu mal consigo registrar o que está havendo, só tenho tempo de ver Bruna voando por cima do meu colo, e partindo para cima da garota e do rapaz que estavam até pouco tempo ao meu lado jogando juntamente com as demais pessoas da mesa. Eu não entendo o motivo de seu escândalo em um primeiro momento, contudo, a confusão se inicia como uma bomba. O cenário caótico se instala, fazendo com que o tumulto, que não se sabe como começou, se espalhe bagunçando toda a ordem do lugar.

O companheiro da moça grita alguma coisa para o cara sentado do lado oposto, que sobe sobre a mesa e o agarra pelo colarinho com bastante violência. Fichas de jogos e algumas taças de bebidas vão ao chão e então, as pessoas ao redor começam a correr em várias direções, quando se inicia uma troca de socos entre os homens, e uma briga ferrenha entre as garotas.

Será que Bruna ficou maluca somente por causa de um beijo inocente? É o que eu me pergunto enquanto vejo como a confusão está crescendo e se alastrando a cada segundo que se passa. E por essa razão, com medo de que ela acabe se ferindo gravemente ou se machuque com os golpes que estão rolando à solta, decido tirar Docinho do meio do inferno caótico que esse lugar se tornou de uma hora para a outra. Eu a agarro pelo pulso numa ação rápida, e a puxo por debaixo da mesa. Desviando de várias pessoas no caminho, nós corremos como dois loucos para fora dali.

-O que foi aquilo lá trás, hein sua briguenta? Está caçando confusão e ir parar na cadeia a essa hora da noite, depois de tudo o que passamos para chegarmos até aqui?

Eu lhe pergunto depois de alguns minutos de corrida, longe o suficiente da bagunça que deixamos as nossas costas, ao que ela puxa seu braço do meu agarre.

-Aquele casal estava simplesmente tentando arrancar mais dinheiro de você, do que já tinham feito, seu otário! Não sei se percebeu no momento em que gritei, mas aquela pilantra estava colocando as mãozinhas sujas dela no bolso da sua calça para roubar a sua carteira, na maior cara de pau.

Docinho diz cheia de raiva enquanto vira uma taça contendo um líquido colorido garganta abaixo e em seguida repete a ação por mais duas vezes consecutivas, como se aquilo fosse aplacar a ira que está sentindo por dentro. Eu pisco os olhos totalmente surpreendido ao vê-la tão brava ao tentar me defender de golpistas, por mais distraído que eu estivesse há momentos atrás.

-Me desculpe, Bruna. Sobre o que aconteceu antes, você sabe, eu não... eu não quis te ofender. Eu sinto muito de verdade. Sei que você me odeia desde que nos conhecemos e que...

-Na verdade eu não te odeio, David.

Ela me interrompe no meio da frase e toma um novo gole, ao que eu também a acompanho na ação. Viramos uma, duas, três, quatro, cinco... Talvez para criar coragem para enfim enfrentarmos este assunto de uma vez por todas.

-Não precisa mentir para mim, eu sei a verdade. Você deixou isso muito claro quando...

-Você é completo idiota, David!

Ela bate a taça com força sobre o balcão do bar e me encara com seriedade, como se quisesse arrancar meu pescoço de cima dos ombros.

-Você já disse isso muitas vezes.

Eu rolo os olhos para a sua alfinetada e ela continua.

-Eu não te odeio David, é serio.

-Não?

Eu questiono com uma sobrancelha arqueada no alto e a fito atentamente quando ela faz um momento de pausa, para em seguida prosseguir com uma explicação.

-Não. Eu só... só não me dou muito bem com esse seu jeito muito falador, que se acha e...

-E?

-Na realidade, eu até gosto um pouquinho de você.

Ela confessa ao sorver com pressa mais uma taça e eu a acompanho como se estivéssemos conectados por um fio invisível e poderoso que nos une nesse exato segundo.

-Você não é apenas um rostinho bonito e um cara tagarela.

-É mesmo?

-É. Você também é bem inteligente e gentil quando quer ser. E... eu não tenho tanta coragem como você tem, e talvez seja por isso que eu tenha um pouco de inveja, sabe? Você...

Coragem? Meu Docinho vai ver o tipo de coragem que eu tenho é agora mesmo!

Não perco mais um minuto e ajo: Eu a beijo profundamente mais uma vez. Nossas taças são deixadas de lado por um instante, ao mesmo tempo em que estamos rindo de um minuto para o outro sem nenhum motivo razoável, e ela correspondendo ao beijo na mesma intensidade. Nossos pés se embaraçam uns nos outros enquanto saímos do local e seguimos para onde nem nós mesmo sabemos. Seguimos sem destino pelos corredores do cassino, em meio a risadas e beijos escandalosos, feito dois loucos.

Estamos alegres e com nossas mentes meio nebulosas demais para saber o destino que nossos passos trôpegos nos levam. Mas nós simplesmente vamos. Embaralhamos nossos braços, nossas bocas se fundem e nossas mãos se perdem numa viagem louca sobre o outro, até pararmos diante de um local diferente de tudo o que já vimos até o momento. É colorido, brilhante e cheio de cores vibrantes, como se fosse uma capela típica desses cenários de filmes de Hollywood. O Elvis Presley está na porta e nos convida a entrar. Nós rimos de seu topete preto brilhoso sob a luz caricata, entretanto fazemos como ele indica.

É tudo muito engraçado diante das nossas cabeças levemente tontas e por isso em nenhum minuto paramos de rir, feito dois bobos, eu e a docinho. Após retirar minha carteira do bolso da calça e fazer algo que eu não entendo, o senhor Elvis a devolve depois de alguns minutos para o mesmo lugar de onde a retirou, e coloca o braço de Bruna sobre o meu, para em seguida nos ordenar a caminhar sobre um estreito tapete vermelho. Como duas crianças fazendo arte, nós rimos e corremos pelo pequeno corredor, até pararmos de frente para o senhor Elvis novamente. Ele nos diz algumas palavras brevemente que eu sequer recordo, e em seguida nos manda assinar uma folha de papel retangular que está sobre a sua mesa.

Eu assino e Bruna também faz o mesmo logo depois de mim, e então ele diz que podemos nos beijar. Eu não nego meu desejo e o faço na mesma hora. Elvis balança a cabeça de um lado para o outro com uma gargalhada divertida e nos deseja boa sorte, mesmo que eu não saiba o porquê. Talvez seja para o nosso curto período de férias aqui, certo? Então eu e a docinho, nos juntamos a risada dele, também achando muita graça, ainda de braços dados, e saímos correndo dali feito dois malucos entre risos e beijos pelos corredores do cassino, para aproveitarmos o restante da noite mais louca das nossas vidas.

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