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Capítulo 2

CAPÍTULO 2

DAVID REVOREDO

Apesar de tudo o que aconteceu até o momento de hoje, de todas as dores e problemas que cercaram a vida de cada um de nós que está aqui presente nesse lugar, eu ainda posso dizer que meu coração quase chega a transbordar de alegria e também de felicidade ao observar um pouco mais afastado, a alguns metros de distância do grupo, minha irmãzinha Melissa tão contente.

Ela está praticamente saltando sobre os próprios pés no lugar, feito uma alegre garotinha despreocupada, com os dois braços entrelaçados aos de Bruna e de Gabriela de cada lado delas, quando começam a fazer o que qualquer turista faria em um lugar como esse, como as verdadeiras brasileiras que são... Curiosas, bisbilhoteiras e animadas para desvendar cada metro quadrado do local de ponta a cabeça.

E eu não tiro a razão de nenhuma delas de certo modo, afinal de contas, tudo o que os nossos olhos podem ver e contemplar nesse local é vibrante, cheio de brilho, cor, e que exala o cheiro de festa e diversão, um convite praticamente irrecusável para qualquer ser humano normal. E para falar a verdade, eu também mesmo estou cada vez mais sendo contagiado pela atmosfera festiva que o cassino está irradiando sobre os poros das pessoas que estão entrando no mesmo.

É algo bastante diferente do que geralmente estamos acostumados, é uma experiência nova, cativante e que inspira o desejo de se soltar de verdade... e para ser sincero, essa é uma coisa que eu não tenho feito ultimamente, devido as preocupações e receios que sempre tomam o controle da minha mente de repente, sem que eu ao menos perceba. Quando vejo, simplesmente já aconteceu e não tenho mais o domínio sobre a situação, por mais que eu queira relaxar de fato e agir de forma normal.

É mais forte do que eu...

Contudo, hoje é um novo dia, uma noite diferente, em um lugar totalmente distante da realidade que vivo no Brasil com Mel e nossa família. E é por esse mesmo motivo, de estar experimentando várias novidades na companhia dos meus amigos e irmã, que eu me esforço para relaxar mais e permitir com que Melissa se divirta e seja feliz da maneira que quiser com suas amigas, por mais doidinhas e sem juízos que elas possam parecer. Hoje é a noite de liberdade das garotas que por tanto tempo têm andado sob a sombra da proteção de seus irmãos ou namorados, que por certas vezes, podem ser super protetores, pelo próprio bem delas, mas que em alguns momentos deve ser um tanto sufocante segundo a visão das mesmas.

Dessa forma, agora elas estão livres, leves e soltas para circularem por aí como bem entenderem... mas tudo com certa cautela e cuidado moderados, é claro...

Eu só espero sinceramente com todas as forças, que nenhuma delas, no calor da empolgação que estão neste instante, igual a milho de pipoca na panela prestes a estourar, não acabe arranjando algum tipo de confusão por aí ou que se percam do restante do nosso grupo. Pois da mesma maneira que todo mundo chegou junto, também precisar ir embora daqui... inteiros e vivos. E é isso, ou todo mundo toma conta de todo mundo enquanto se diverte, por questão de segurança, ou então eu acredito fortemente que alguém poderá terminar a noite no banco de uma delegacia de um país, que nem é o nosso para começo de conversa, exceto é claro, pelo gringo Mark Sloan.

E por falar no loiro de pouco juízo, por mais incrível que pareça, ele está sendo a última das minhas preocupações nesse instante. No entanto, minha cabeça ainda assim não deixa de se preocupar com as coisas que podem acontecer se a gente não ficar um pouco mais esperto com esse maluco. Mark Sloan é realmente uma figura muito peculiar e estranha, que sempre faz coisas que qualquer um pode duvidar, e isso não é nenhuma novidade para nosso grupo, pois desde que o conhecemos há algum tempo atrás, o homem tem provado dia após dia que realmente falta alguns parafusos a menos dentro de sua cabeça oca.

Entretanto, nem por isso ele deixa de ser um cara legal, na medida do possível. Sloan tem se mostrado um bom amigo para todos e um companheiro sincero e leal, apesar de suas ideias levemente avoadas e às vezes meio sem sentido. Todavia o loiro ainda assim, lá no fundo é uma boa pessoa, autêntico e de coração verdadeiro. A gente gente só não pode dar bobeira e ir nos pensamentos dele, obviamente, mesmo que sejam recheados de boa intenção, pois no fim são apenas grandes roubadas para nos metermos e nos lascarmos. Se não seguirmos suas loucuras, então tudo dará certo no final, é claro. É só ser inteligente para lidar com o gringo oxigenado e todos conseguirão se manter seguros.

-É melhor alguém manter um pouquinho de responsabilidade, bom senso e uma dose de juízo essa noite, e ficar de olho nas garotas de modo disfarçado para não corrermos o risco de que alguma coisa saia errada, você não acha?

Eu comento em um tom de voz um pouco mais baixo do que o ambiente exige, na direção de Guilherme, para que somente ele ouça o que estou dizendo. Afinal de contas, ele é o único que precisa ouvir tal comentário, pois além de mim, Guilherme é a pessoa que mais tem juízo e senso de responsabilidade e segurança entre todos os integrantes do nosso grupo.

Não que eu me considere um anjo ou um tipo de santo, como ele, nada disso, porém igual ao maluco do Mark pelo menos nenhum de nós dois somos, por sorte, né? Ou todos estariam realmente perdidos se todo mundo fosse desajuizado nessa vida. Essa viagem com certeza já teria dado errada há muito tempo, talvez ainda no aeroporto mesmo. É o que penso com certo humor, ao ver o irmão mais velho dos Amaral revirar os olhos, talvez com uma pontada de descaso durante a ação, devido ao meu tom de preocupação o qual ele considera um exagero.

-Tá, tá... você está certo, David. Mas vê se esfria um pouco a cabeça e aproveita a noite de verdade, ok?

Ele responde com uma risadinha divertida ao me acertar um forte tapa no ombro esquerdo. E isso me faz olhá-lo com uma sobrancelha arqueada no alto com certa desconfiança. Por que é que ele está tão calmo num lugar como este? O que está havendo? Então eu me pergunto se é Guilherme que está muito à vontade nesse momento ou se sou eu que estou muito nervoso sem um motivo real e genuíno. Será que eu estou surtando atoa?

-O que deu em você, hein?

Eu o questiono com um cutucão de cotovelo na altura de suas costelas.

-Nada. Não tem nada de errado comigo, meu amigo. Você é quem está bastante tenso, não sem motivos, eu te entendo... por causa das coisas que aconteceram durante o percurso até o hotel. Porém, você precisa se desarmar um pouco, beleza? Olha... toma isso aqui e vai dar umas voltas por aí.

Guilherme aconselha com um sorriso maroto de lado pregado no rosto, e pega uma taça colorida da bandeja do barman que passa ao nosso lado, colocando-a em minha mão de forma que eu não possa recusar.

-Agora vá encontrar algo para fazer e curtir a noite.

Ele diz e me empurra para a frente pelos ombros, como se estivesse louco para se livrar da minha presença. Rolo os olhos em órbita, mas faço como ele manda. Até parece que eu queria ficar perto dele o tempo todo também. É o que pondero comigo mesmo dando um grande gole na minha bebida. Hum... isso é bom, muito bom na verdade. Eu concluo e substituo minha taça vazia por outra cheia assim que vejo um garçom a minha frente.

Já na metade do conteúdo, começo a circular pelo local com calma, um pouco menos tenso, por algum motivo desconhecido, e me sento em uma das máquinas caça níqueis para experimentar o jogo. Me distraio com a dinâmica do aparelho, achando bastante atraente a forma como aquilo funciona, e logo já estou virando a terceira e a quarta taça da bebida doce em minha garganta, já bem animadinho, para alguém que estava até pouco tempo atrás um pouco nervoso e travado.

Agora a história já é outra, eu penso com uma risada leve e divertida, depois de pular para uma mesa de apostas, após ser convidado por um casal de desconhecidos, que parecem ser amigos de longa data, e que estavam sentados ao meu lado a minutos atrás.

-Você tem certeza de que tem uma boa próxima jogada?

A garota pergunta com o braço rodeando o meu pescoço, depois de uns minutos, tentando espiar por cima do meu ombro as cartas que tenho em mãos. Seu rosto está muito próximo do meu ouvido quando ela faz a pergunta em um tom duvidoso e empurra a sétima taça em minha direção, a qual eu bebo com um único e rápido gole.

Meneio a cabeça achando graça do que ela diz, sem nenhuma razão coerente, e de repente, a desconhecida simplesmente se senta no meu colo sem ao menos ter recebido um convite para isso, e me oferece mais outra bebida, com o braço ainda circulando o meu pescoço.

Me sinto um pouco tonto para retirá-la de cima de mim e afastá-la para longe, no intuito de prosseguir com o seu amigo no jogo, ao que ela não percebe meu incômodo com a situação, um tanto estranha e embaraçosa para nós dois, visto que sua saia está expondo bastante de suas pernas longas sob a minha visão meio turva. E acho que é por isso, que ela ainda permanece da mesma maneira, grudada em mim feito um carrapato, sem se importar com nada do que está acontecendo ao seu redor.

-Acho que isso não é da sua conta, não é mesmo?

Ouço uma voz dizer a minhas costas, em resposta a pergunta da garota, e por um breve instante tenho a sensação de que conheço esse tom irritadiço de algum lugar. Mas de onde? E quem é? É o que eu pondero em minha mente, levemente enevoada e entorpecida, por sei lá que motivo.

-E quem é você para se intrometer aonde não foi chamada?

-Eu sou a pessoa que vai meter a mão na sua cara se falar comigo desse jeito de novo!

A outra pessoa rebate, ao mesmo tempo em que retira a garota do meu colo com um forte puxão pelo braço.

-E você, seu tapado, tá querendo morrer por acaso?

Finalmente vejo nitidamente o rosto de quem está esbravejando, como se fosse uma gata raivosa, comigo nessa hora, e é então que meu coração dispara com a visão diante de mim. É como um sonho... Ela é tão linda... parece até um lindo anjo usando um brilhante vestido branco na frente dos meus olhos. Será que eu estou delirando?

-Docinho?

Eu a chamo pelo apelido que somente nós dois compartilhamos, como uma implicância saudável e íntima, para saber se é ela mesma que está aqui agora. Então tenho a total certeza de que não estou sonhando quando seus dedos agarram o colarinho da minha camisa com tamanha força, que a faz ficar tão perto do meu rosto, permitindo assim que eu consiga enxergar perfeitamente alguns pontos verdes que iluminam suas írises de um castanho bem claro.

-Por que você é tão linda, docinho? Por quê?

-Mas é um cara de pau mesmo...

Ela bufa sem muita paciência e a respiração ofegante acertando meu rosto como um soco potente. Bruna parece bastante agitada e com as bochechas vermelhas feito um pimentão ao me encarar com tamanha proximidade. É uma troca mútua, silenciosa e intensa de um milhão de palavras não ditas entre nós.

-Sabe o que vai ser mais lindo ainda, seu paspalho? Se você se levantar agora mesmo e parar de ficar colocando qualquer uma no seu colo!

-Está com ciúmes?

Eu gargalho achando graça, sem medo algum do perigo que posso estar correndo com tal atitude. Talvez eu seja louco, vai saber...

-Pois saiba que você não precisa de nada disso, porque... meus olhos e minha atenção são somente seus, docinho. Só seus...

-Anda... para de dizer bobagens e levanta logo daí, seu idiota.

-Eu... eu estou falando a verdade, docinho. Eu só vejo você na minha frente e mais ninguém.

-Ah pelo amor de Deus, vê se cala a boca, David, e me...

-Eu te quero, docinho. Te desejo tanto que mal pude fixar meu olhar no seu por muito tempo quando nos encontramos no início da noite, porque... porque você me deixou completamente sem fôlego.

Por fim eu confesso toda a verdade a ela.

-Mas agora... agora você está parada aqui na minha frente, com esses lábios vermelhos me pedindo para fazer aquilo que eu estava me segurando a noite toda para não fazer. Porém nesse instante, eu sinto muito, mas não posso mais me conter...

Eu digo e não espero que ela diga nada em protesto ou fuja das minhas provocações, que são bem sérias nesse momento. Eu apenas seguro seu pescoço com ambas as mãos e a puxo em minha direção, capturando seus lábios em um beijo intenso como eu havia sonhado em fazer desde o princípio.

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