Capítulo 1
DAVID REVOREDO
NOITE ANTERIOR - LAS VEGAS
Sinceramente e sendo franco comigo mesmo, eu me pergunto como qualquer pessoa com o mínimo de juízo que deveria possuir na cabeça, pôde permitir que Mark Sloan, o gringo loiro e um tanto louco, que conhecemos há pouco tempo, pudesse escolher o destino em que "comemoraríamos" as nossas férias fora de época. Pelos céus, que falta de bom senso!
Como a gente, um grupo composto por seis pessoas, eu, Mark, Guilherme, Melissa, Gabriela, e a bonitinha da Bruna, chegou a um consenso único e concordou com a ideia absurda de Sloan? É claro que alguma coisa certamente iria dar errado ou sair do controle nessa viagem. Era mais do que óbvio e previsível que algo catastrófico estava para rolar no meio do caminho... Como ninguém pensou nisso antes, pelo amor de Deus? Mark é impulsivo, desajuizado e gosta de inventar mil e uma ideias mirabolantes naquela cabeça oca e oxigenada dele.
Mas não... todos nós fomos tão loucos quanto ele... e em confiar nas habilidades de planejador de viagens do gringo, que afirmou cheio de convicção que conhecia o lugar ideal no seu país, para nos levar para aproveitar alguns dias, no total de uma semana. Ele ainda teve a audácia de afirmar que "seria uma semana incrível, lotada de emoções e novidades" e agora eu percebo, tarde demais para chorar pelo leite derramado, o que ele queria dizer com isso. Realmente está sendo um início permeado de emoção e adrenalina, chegar na cidade mais caótica e acelerada que já tive a oportunidade de colocar os meus pés até o dia de hoje.
É muita loucura e insanidade...
É o que pondero comigo mesmo, após Gilbert e Stefan terem se despedido do nosso grupo quando chegamos em solo norte americano, no aeroporto, de onde o casalzinho apaixonado seguiu para outro destino, pois ambos estavam indo passar um tempo com a família dele, e também porque Montegomery vai apresentar a noiva para os seus parentes, e contar a grande novidade de que estão esperando um filho e que irão se casar muito em breve.
Desde então, nosso grupo que antes era de oito pessoas, e que agora estava desfalcado para somente seis, só passou perrengue atrás de perrengue. Primeiro, eu estava quase derretendo, assim como os demais, com o calor quase desumano e infernal, a partir do momento que a temperatura desértica da cidade de Las Vegas atingiu minha pele, queimando-me de forma constante e impiedosa, como se o sol estivesse escondido atrás dos grandes e imponentes arranha-céus brilhantes, da cidade do pecado.
Depois disso, as coisas só continuaram indo ladeira abaixo. De mal a pior... como se fosse um terrível filme de comédia de baixo orçamento, onde só acontece tragédia seguida de outra tragédia. Puro caos e confusão...
Então deixamos o aeroporto em um táxi que cabia todos os integrantes do grupo, com direção rumo ao hotel que o gringo havia reservado para nós, o que foi o outro grande erro da nossa parte, eu penso nisso agora... devíamos ter pedido a senhorita Gilbert, que sempre cuidou desses tipos de assuntos a vida toda para o loiro, pois ela possui mais experiência com esses negócios, e certamente escolheria a melhor opção que atendesse as necessidades do grupo como um todo.
Contudo, Sloan para parecer um cara legal e descolado, que estava realmente tentando mudar e ser um bom chefe, emitiu uma ordem... sim, por mais absurdo que isso possa soar aos ouvidos de qualquer um que ouça, ele emitiu uma ordem de férias para a sua funcionária mais leal e companheira com anos de empresa, para que ela pudesse descansar e aproveitar alguns meses junto da família de seu noivo. Dessa forma, o desmiolado oxigenado assumiu sozinho a tarefa de organizar todo o passo a passo de organização da viagem, bem como também, assumiu a responsabilidade de ser o nosso guia turístico nessas mini férias.
Que grande roubada nós fomos nos meter!
É o que eu penso internamente, meio irritado comigo mesmo por ter sido tão idiota a esse ponto, mas não digo nada em voz alta, ao mesmo tempo em que tento conter apenas para mim a vontade de socar com força a cabeça de Mark contra o concreto, no instante em que descemos em um lugar estranho, um pouco longe e fora da rota certa do endereço que ele deveria ter dado do hotel ao motorista.
Qual é o problema desse cara?
Eu pondero um tanto especulativo, enquanto me mantenho por perto da minha irmãzinha Mel a todo momento, como medo de que algo ruim ou repentino lhe aconteça outra vez, em um lugar estranho e totalmente desconhecido por nós, como esse, e isso eu não posso permitir que aconteça novamente. Jamais. Eu havia jurado tanto a ela, como aos nossos pais e para mim mesmo que nunca mais deixarei nada de mal atingir Melissa como aconteceu no passado. Nem mesmo um fio de cabelo da minha irmã poderá ser tocado sem a minha permissão. E qualquer um que quiser lhe fazer algo, terá que passar primeiramente por cima do meu cadáver, antes de chegar até ela.
E por esse motivo é que eu fico perto de Mel, a cercando e a protegendo de tudo e de todos que possam ser potencialmente perigosos para ela. Melissa é o meu tesouro, a minha florzinha e no meu coração sempre continuará sendo apenas uma menininha, a minha florzinha de quem eu preciso cuidar com todo o carinho e atenção, por que eu a amo e também por que tenho que compensar todo o sofrimento que ela suportou firmemente, por longos anos, nas garras daquele diabo, que hoje está queimando no quinto dos infernos e enterrado à sete palmos de terra.
Graças à Deus hoje Mel, que não gosta mais de ser chamada de Lissa, como era seu apelido de infância, mas que a deixou traumatizada pelas coisas que viveu no passado, está muito melhor. Melissa está feliz e bastante contente nessa viagem, apesar dos percalços que temos enfrentado até o momento. Para falar a verdade, ela e a docinho, irmã de Guilherme, estão debochando e até mesmo se divertindo com toda a situação caótica pela qual estamos passando.
Duas loucas...
E é somente por esse motivo que eu nem consigo ficar tão irritado com Mark, pois se minha Mel e docinho não estão chateadas com isso, então não tenho muito o que fazer além de resmungar algumas reclamações com Guilherme, que é um cara meio da paz, porém que também não está muito satisfeito pelo modo como as coisas rolaram até agora, e que concorda comigo. Mas o pior é que não parou por aí...
Não, não... pois logo em seguida, depois de termos desembarcado do veículo e andado por não sei quanto tempo, só me recordo de que foi um longo trajeto de alguns quilômetros, então, quando faltava apenas alguns metros, segundo o GPS, para enfim chegarmos ao hotel, fomos abordados por uma dupla de homens armados em uma moto que tentou nos assaltar. Porém... para nossa sorte ou azar, eu ainda estou tentando descobrir sobre isso, a dupla teve que fugir cantando pneus ao avistar uma viatura da polícia que passava pelo local justamente naquele momento.
-Caramba, a gente sair do Brasil para ser assaltado nos Estados Unidos é brincadeira, viu? Parece até uma piada de mal gosto!
Eu reclamo ao me jogar de costas sobre a cama no quarto de hotel, quando finalmente conseguimos chegar são e salvos, e milagrosamente sem mais nenhum obstáculo. Agora estamos em três, eu, Guilherme e Mark dividindo o mesmo quarto, enquanto as garotas estão ocupando o outro ao lado do nosso, perto das nossas vistas e dos nossos cuidados.
-Essa foi por pouco, mas e da próxima vez? Onde Mark vai nos fazer parar? No hospital ou na cadeia?
-Também não precisa exagerar, David.
Mark revira os olhos e estala a língua no céu da boca com descaso. É maluco mesmo!
-Eu não conheço nada por aqui e nem estou a fim de pesquisar também, por isso é você quem vai decidir a rota do passeio esta noite, Guilherme. Porque eu não confio nas habilidades desse loiro oxigenado em guiar a gente nem até a recepção do hotel.
Eu digo fazendo com que Guilherme ria das minhas queixas sem fim, e Mark vire as costas indignado com o comentário, seguindo em direção ao banheiro.
-Tudo bem, por mim não há problema. Posso resolver isso em alguns minutos. Vou olhar algumas opções de pontos turísticos recomendadas no site do hotel e aviso quando achar alguma coisa interessante.
-Ótimo, enquanto isso vou tirar um cochilo e você me acorda só quando escurecer porque eu estou quebrado de cansaço.
Eu peço bastante exausto, e mal escuto o que ele diz em resposta antes de cair em um profundo sono. do mesmo jeito que havia caído na cama.
* * *
-Tem certeza que essa é uma boa ideia, Guilherme? Isso não parece muito... muito... com a sua cara, você não acha?
Gabriela pergunta ao meio irmão, olhando o local ao nosso redor com certa desconfiança, porém sem conseguir esconder a evidente animação por estar em um lugar bastante incomum para todos nós, que somos brasileiros, exceto por Mark é claro, que já deve estar acostumado com isso pois, em seu país é permitido. Eu também acho a escolha um tanto diferente do estilo de Guilherme, contudo, não posso negar que é algo promissor e parece prometer uma noite bem divertida para todos nós, se soubermos aproveitar de verdade.
-O cassino do hotel foi a primeira indicação do site e a mais votada com boas recomendações dos hóspedes.
Ele responde e de longe já vejo a docinho saltitando de um lado para o outro feito uma criança em um parque de diversões, louca para começar a explorar cada pedacinho do lugar. É verdade que o recinto chama mesmo a atenção com todo essa áurea pulsante... uma mistura de sons energizantes, entre música, pessoas falando, barulho das máquinas de jogos, e das pessoas nos barzinhos bebendo e se divertindo em pequenos e grandes grupos de conhecidos.
É como se a gente estivesse dentro daqueles programas de TV, só que agora é ao vivo e a cores. É presencialmente...
Entretanto, nada é mais chamativo, atraente ou bonito aos meus olhos, do que a linda garota que está usando um vestido sem alças de um branco brilhoso, que combina muito bem com a atmosfera do ambiente, e de longos cabelos escuros que estão soltos por cima de seus ombros desnudos. Seus lábios pintados de um vermelho sangue me deixam em alerta e louco de vontade de borrá-los com os meus. Todavia, eu me contenho e tento fingir que a ignoro para que não acabe caindo em tentação, e cometa uma loucura, quando na verdade tudo o que eu mais quero nesse exato instante é beijá-la até a deixar sem fôlego e derretida em meus braços.
Sossega David, você está do lado do irmão dela cara! Eu me repreendo mentalmente e respiro fundo, olhando para qualquer parte em que ela não esteja.
-Eu acho essa uma boa ideia, porque aí a gente nem precisa sair do hotel, e fica mais fácil voltar para o quarto quando estivermos cansados e quisermos ir embora.
-É verdade.
Melissa diz apontando um detalhe importante, mas que eu nem havia pensado nisso até agora, e Gabriela concorda com a amiga ao colocar um braço sobre o ombro da mesma e assentir positivamente com a cabeça para cima e para baixo. Bem... pensado por esse lado ela tem toda razão mesmo.
-Ótimo, então vamos nos divertir, pessoal!
Mark Sloan, o gringo oxigenado, grita totalmente empolgado para dar início a noite, e garotas se juntam a ele com vários gritinhos animados, todas batendo palmas ao mesmo tempo, e comemorando a ideia. Bom... a noite é uma criança, e estamos apenas começando! É o que eu penso ao abrir um pequeno sorriso de lado, imaginando que nada mais pode dar errado do que já deu até a algumas horas atrás.
É hora de esquecer os problemas e me divertir com meus amigos!