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Prólogo

GABRIELA PAIXÃO

UMA SEMANA DEPOIS.

LAS VEGAS

Acordo com a sensação de que meu cérebro está sendo massacrado e um gosto terrível na boca. Há uma perna atravessada sobre minha barriga pesando sobre meu estômago que não parece nada bem no momento.

Que droga está havendo?

Livro-me da perna de seja lá quem for empurrando-a para longe de mim e uma cabeça rola para o meu lado fazendo com que uma cabeleira acabe caindo em meu rosto e boca.

-Eca, sai pra lá! -me esquivo cuspindo os fios castanhos com os quais me deparo logo que abro os olhos.

-Gabi? -mesmo sonolenta reconheço a voz de Melissa me chamando de algum lugar.

-Mel? -eu respondo com a voz em uma mistura de rouca e pastosa.

-Cala boca vocês duas. Minha cabeça parece que vai explodir. -Bruna resmunga de algum canto. -Ai meu nariz, sua louca.

-Desculpa, eu não tinha te visto aí embaixo. -Mel murmura culpada.

-Mas o seu pé certamente viu o meu belo rosto e resolveu ter um encontro com meu nariz. -ela rosna e eu rio, mas me arrependo no mesmo segundo ao sentir uma pontada na cabeça.

-Gente, onde é que nós estamos? -eu pergunto sentando no que percebo ser o chão, onde muito provavelmente eu e as meninas passamos a noite, e me afasto do emaranhado confuso de pernas e braços que elas formam.

Eu estou um caco. Mas a pergunta que não quer calar... Porque?

Melissa é a primeira a se colocar de pé enquanto Bruna continua deitada há alguns metros de distância.

-Eu não me lembro de absolutamente nada e vocês? -Mel questiona vagueando pelo quarto de hotel em busca de respostas. -Apenas algumas vagas memórias do início da noite.

Ela estreita os olhos como se estivesse tentando se recordar.

-Estávamos fazendo turismo em um cassino e...

-Sério? -indago levemente confusa e com a boca seca.

-E então? -Bruna a incentiva a prosseguir.

-Mais nada, eu acho. -sua voz soa desanimada. -Aaaaaah! -ela grita em pânico e tanto eu quanto Bruna nos desesperamos com seu escândalo.

-Que foi criatura? Por que...

-Olha isso aqui e veja se é o que eu estou pensando! -Melissa atinge um tom agudo e estridente enquanto esfrega uma folha de papel praticamente na cara de Bruna.

-AI. MEU. DEUS. -Bruna diz pausadamente com os olhos do tamanho de pratos. -O que foi que aconteceu ontem a noite?

-O que é isso, gente? -pergunto com a curiosidade aguçada diante de tanto alvoroço.

-Deixe-me ver. -digo arrancando o papel das mãos de ambas e lendo-o em seguida.

-Caramba, isso aqui é... UMA CERTIDÃO DE CASAMENTO! -grito cobrindo a boca com uma mão.

-Meu Deus do céu, quem aqui foi a louca que se casou?

***

BRUNA AMARAL

MENTIRA.

ISSO NÃO PODE SER VERDADE. ESSA... DROGA NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO COMIGO! É o que digo mentalmente a mim mesma.

-Eu não acredito nisso! -Gabriela Paixão guincha empoleirada em meu pescoço fazendo meus ouvidos tinirem com o grito.

-Fale mais baixo, caramba! E de preferência longe da minha orelha. -eu ralho com os dentes cerrados e a cabeça latejando de dor.

Fecho os olhos por alguns segundos e respiro fundo ao sentir meu estômago se revirando dentro de mim.

-Desculpa Bruna, mas é meio que impossível se conter diante da novidade que a gente acaba de ler. -Melissa diz tentando de modo esconder uma risadinha ao abafar a boca com as costas da mão, porém eu percebo!

Percebo nitidamente que as duas cretinas estão morrendo de rir ao se divertirem as minhas custas. Essas safadas irão me pagar caro se isso for algum tipo de pegadinha de mal gosto. Ah, como irão!

-Isso só pode ser mentira. E das mais deslavadas ainda por cima! -grito enfurecida ao marchar em direção a uma das malas perdidas e espalhadas no canto do quarto de hotel, que mais se parece com uma zona de guerra.

-Eu vou matar o babaca do seu irmão, Melissa Revoredo! -eu ameaço enquanto reviro meus pertences em busca de um par de roupas decentes para vestir.

-Eu não sei que tipo de brincadeira idiota ele pensa que está fazendo comigo, mas já adianto que irei trucida-lo das mais diversas e cruéis maneiras possíveis que conheço.

Bufo nervosa e jogo a primeira peça que encontro sobre a cama, um vestidinho fresco tomara que caia que trouxe para enfrentar o calor infernal dessa cidade.

-Irmãzinha querida, não quero bancar a chatonilda do grupo, mas acho que devo alertá-la que se você, assim como eu e sua... sua...

Gabi reprime uma gargalhada quando lhe lanço um olhar cortante e continua.

-Como eu e a Melzinha, foi alfabetizada quando criança e sabe ler, então entende perfeitamente o que está escrito nesse papelzinho aqui.

Ela debocha balançando no ar a maldita certidão que declara o óbito de minha pessoa.

-E que também não há nada de errado nele.

Gabriela diz jogando-se sobre os lençóis da cama fazendo uma bagunça ainda maior, e consequentemente amassando parte da roupa que eu havia separado para enfrentar o dia de hoje, que promete ser um verdadeiro caos.

-É um documento legítimo ao que parece. -ela prossegue sem se abalar e eu dou um puxão brusco em meu vestido, arrancando-o de debaixo de sua bunda ossuda.

-Sai de cima das minhas coisas, sua vara de cutucar lua. -digo com raiva e pego a toalha de banho seguindo em direção ao banheiro com passos furiosos.

-As coisas são o que são, irmãzinha. Resta apenas você aceitar os fatos.

Gabi alfineta ao que a traiçoeira da Mel se ajunta a ela na zombaria.

-Seja muito bem-vinda a família, Bruna!

Melissa provoca caindo na risada juntamente com minha irmã, as duas gargalhando feito duas hienas enlouquecidas.

-Eu odeio vocês duas!

Bato a porta do banheiro e me desfaço da roupa que visto.

-Odeio muito, com todas as minhas forças. Estão me ouvindo, suas mocréias?

Berro uma série de impropérios enquanto abro o chuveiro, e me enfio debaixo do jato d'água, pensando em mil e uma formas de me vingar de um certo indivíduo.

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