Capítulo 4
- Você gosta da primavera, senhorita? - ele pergunta enquanto caminhamos pelas ruas movimentadas.
Eu também diria que basta.
Chega de toda essa formalidade.
- Por favor Yuri, você pode me chamar pelo meu nome e me chamar pelo meu nome? -
- Ah... tudo bem, Amelíe – ele responde sem jeito, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Porém não, na verdade prefiro o frio e a chuva -
Desde pequeno nunca gostei de estações quentes porque enquanto todos iam à praia, à piscina ou brincavam ao ar livre, eu preferia ficar e escrever no meu quarto.
E quando minha mãe adoeceu, eu passei muito tempo cuidando da casa e, portanto, dela também.
- Você gosta? -
- Muito! É minha estação favorita e mal posso esperar para ver as cerejeiras florescerem. -
- Oh sim? Eles são tão bonitos quanto dizem? - e talvez, de fato, certamente minha pergunta seja mais que estúpida, visto que se aquelas árvores eram lindas nas fotos, muito menos pessoalmente.
- Sim! Quando chegar a hora, que tal irmos assisti-los juntos? - pergunta, ou melhor, implora.
- Estou dentro. O que você gostaria de comer? -
- Mh, você gosta de nigiri? Porque conheço um bom restaurante e está logo atrás de nós! - ele me sugere com água na boca.
- Ah, aqui atrás você diz? - sussurro, olhando em volta.
E pouco antes de terminar a frase, sinto uma sensação ruim, muito ruim.
Reflito melhor sobre a área em que fomos parar e meus olhos se arregalam assim que me encontro em frente ao restaurante da noite anterior.
Merda.
- Absolutamente não! - Começo a andar na direção oposta.
Yuri não consegue me seguir e ouço ela me chamando o tempo todo, mas não há nada que eu possa fazer.
Quero sair de lá a todo custo porque não suportaria aquele olhar novamente.
- Pelo menos me diga qual é o problema? - ele se aproxima de mim, sem fôlego.
- Ok, agora...está melhor - coloco as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego.
Lembrete: frequentar a academia se tornou uma das primeiras prioridades.
- Por favor, não me leve mais para aquela área. - Cruzo as mãos, em sinal de oração.
- Ah... claro, desculpe. Mas posso saber o que é tão alarmante? - ele coça a nuca, franzindo o nariz.
Eu sorrio porque ela é tão engraçada com suas bochechas vermelhas e cabelos bagunçados.
- Não, me desculpe - balanço a cabeça.
- Eu não queria fugir daquele jeito, só não quero mais passar por aquele restaurante porque, - mordo o lábio, hesitando.
Não quero mentir para você, mas nem quero te contar o verdadeiro motivo.
- Ontem à noite, passando por lá, vi um... sim, um rato! Um rato enorme e eu fugi assustado! -
Que merda.
Eu nem desprezo esses bichinhos, mas a ideia de ter aquele filho comparado a um rato é no mínimo gratificante.
Ele sorri por baixo do bigode.
- Um rato você diz?! Então agradeço por me fazer correr porque eles me assustam demais! – empalidece me fazendo rir mas ao mesmo tempo me sinto culpada.
- Então, o que você acha do sushi bar localizado em frente ao seu restaurante? - ele sugere.
Tem um sushi bar do outro lado da rua e eu não percebi nada?
Conheça-o primeiro.
- OK vamos - .
E aqui está.
Do lado de fora parece que está desmoronando, mas o baque se tornou quase doloroso, então entramos.
As aparências enganam, e muito.
É simplesmente incrível.
Quase todo em madeira, repleto de lustres.
São algumas mesas, um enorme balcão cheio de bebidas alcoólicas e um amplo espaço no meio da sala.
Franzo a testa, sem entender o que duas caixas enormes nas laterais da pista têm a ver com isso.
Yuri, percebendo minha confusão, sorri - Lá no centro a gente dança e canta karaokê, se você está se perguntando -
- Ah... - bem, algo que nunca farei.
Estamos sentados perto da janela da frente do meu restaurante.
De vez em quando passam pequenos grupos de meninas com quimonos fabulosos e imediatamente imagino como ficariam em mim.
Pouco depois chegam finalmente os nossos pratos e para minha imensa alegria posso dizer que experimentei sushi.
Meu Deus, que prazer.
O salmão está derretendo na minha boca e meus olhos estão quase revirando de prazer.
Yuri começa a me contar sobre sua coleção de mangás e logo após espetar o último uramaki, tento levá-lo à boca, mas... ele permanece aberto enquanto estreito o olhar.
O pãozinho escorrega dos meus pauzinhos e cai na mesa.
Estou tendo alucinações ou na frente do panfleto de “procurado” que tenho pendurado do lado de fora da porta, tem um cara muito alto escrevendo meu maldito número em um pedaço de papel?
Não presto atenção no que Yuri me diz mas continuo examinando aquela figura- - Meu Deus... -
Pânico.
- Não, não é possível! - exclamou ele, levantando as mãos acima da cabeça.
- Como desculpa? O-o que acontece agora? - e justamente quando Yuri tenta entender alguma coisa, o jovem se vira.
- Putain de merde! - amaldiçoo, deixando-a completamente atordoada.
- V-você não viu outro rato, viu? - empalidece.
O menino olha para nós, mas sou mais rápido e me escondo atrás de uma coluna na sala.
Assim que o vejo caminhando em direção à entrada, pulo e corro para trás de outra coluna perto dos banheiros.
As colunas mais sacrossantas!
Vejo vários clientes olhando para mim como se eu tivesse duas cabeças e sete olhos, mas não dou a mínima.
Eu não quero que ele me veja.
Enquanto aquele idiota está no balcão, calmo e feliz, Yuri está agachada sobre a cadeira, segurando os joelhos contra o peito e não fazendo nada além de olhar embaixo da mesa.
Deus, que desastre, coitado.
Felizmente, logo depois ele se acalma e começa a tirar da bolsa o contrato que lhe havia entregue há algumas horas.
Me aproximo do pilar quando o vejo se aproximando de Yuri.
Que porra você quer?
Eles começam a conversar.
Ou pelo menos é o que parece, pois ele não faz nada além de apontar para os vários papéis espalhados sobre a mesa.
Mas o que diabos você quer?
Depois de torturar as cutículas dos meus dedos, o orador anuncia uma ordem.
- Sr. Kyoru pode retirar comida no caixa, obrigado. - e imediatamente após vê-lo cumprimentar Yuri com um aceno de cabeça, pegue a sacola e saia da sala.
- Kyoru... - sussurro, estreitando as pálpebras.
Em dois passos ele chegou até a mesa, batendo nela com as mãos - O que diabos aquele cara queria?! -
- Ah, aí está você! Não muito, só estava perguntando sobre você, mas é mais sobre... o que aconteceu antes? Está bem? -
- Sim, estou bem, só tive que ir ao banheiro! O que ele queria de mim, afinal? Te incomodo? -
Estamos brincando? Ele estava perguntando sobre mim?
- Mas não, pelo contrário! Ele foi bastante educado. - cora.
Sim.
Muito educado, imagino.
Aí eu vejo ela franzir a testa - Mas na França quando tem que ir ao banheiro é costume fazer toda aquela bagunça primeiro? -
Uma risada me escapa - Não Yuri, vamos esquecer isso - Me sento novamente, balançando a cabeça.
- Você se importaria de me contar o que vocês disseram um ao outro? -
Depois de me explicar brevemente sua palestra, a taquicardia começou a atingir meu peito novamente.
- Então aquele cara vem para uma entrevista? - repito pela trigésima vez com a testa apoiada na mesa.
- Acho que sim, por que todo esse desespero? Quer dizer, se eu fosse você, ficaria feliz! Você tem visto? – levanta e abaixa as sobrancelhas, até me empurrando.
Bom.
Coloco as mãos nos cabelos e decido encerrar a conversa ali.
Claro que ele tinha visto.
Durante toda a tarde tentei me concentrar na concepção da obra, mas tudo que consegui foi pensar nas palavras de Yuri.
Cerro a mandíbula ao pensar em encontrá-lo na frente da porta do escritório.
A maneira como eu receberia isso estava me provocando, colocando um sorriso assustador no meu rosto.
- Amelíe... acabei de ler e reorganizar os capítulos do primeiro livro, posso fazer mais alguma coisa? - Yuri pergunta, tirando a linda imagem minha enquanto cravo minhas unhas em seus olhos.
Olho para o relógio e já é tarde.
- Oh Deus, são quase oito! Vá para casa, até amanhã! -
- Ok, até amanhã então. Boa noite! -
Fecho o local e sigo em direção ao metrô também.
Assim que chego em casa, tomo uma taça de vinho tinto e relaxo no sofá.
Não sou amante do álcool, só bebo vinho e acima de tudo nunca ultrapassei o limite de dois drinks por dia.