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Capítulo 8

Ainda agora estou com uma careta no rosto e fecho novamente o caderno enquanto ao fundo ouço as vozes que aos poucos vão desaparecendo: aparentemente o almoço acabou.

Pego meu celular, desço as escadas, ansiosa para estourar o saco da minha avó, e faço uma nota mental para perguntar o que meus colegas de quarto de verão dizem que move o universo.

A vila da vovó é grande, mais ou menos aconchegante e muito iluminada.

A única falha que encontro nesta casa vintage são as paredes de papel machê.

Ouço cada palavra vinda da sala, mesmo que haja uma parede que parece ser mais ou menos grossa, e juro que estou tentando ignorar o que ouço com cada fibra do meu ser.

—É tão fofo, Giuditta, tão fofo. -

Clarissa, uma das duas gêmeas Gori, está ocupada conversando com minha tia sobre quem sabe por qual nova celebridade ela se apaixonou e o fato de minha tia pela primeira vez não comentar sobre o abdômen da celebridade mencionada me deixa atordoado.

Tia Giuditta é, como dizem, uma solteirona. É uma palavra que ele odeia, e quem a diz deve estar disposto a sofrer uma reprimenda ao estilo de Giuditta Garcia.

Justamente por estar solteira há muito tempo, tia Giuditta está sempre atenta às estrelas de cinema e seus lindos rostos, mas desta vez está silenciosa como um peixe.

Continuo ignorando as conversas deles, pego duas colheres, a caixa de sorvete de caramelo que tirei do freezer (mereço uma salva de palmas só por essa piada lendária) e abro a porta da cozinha com um chute. Admito que esperava que Dario estivesse atrás desta porta para que eu pudesse quebrar a cara dele, mas o tiro saiu pela culatra.

Dario e eu não nos falamos desde o acidente do outro dia e talvez seja melhor assim, porque há um ar de tensão entre ele e Giulio e por mais que eu queira que Dario se machuque, não quero agravar a situação . pior ainda.

Somos inimigos até certo ponto.

Eu não me envolvo nos assuntos pessoais dele, ele não se envolve nos meus.

Tento me misturar quando atravesso a sala, mas claramente não sou tão sorrateiro quanto gosto de acreditar.

— Olá Nineta. — Congelo ao ver minha tia me cumprimentar com um aceno de mão.

Minha tia é linda e talvez a única pessoa aqui em Sassatero que não me odeia tanto assim.

- Olá, tia. — digo piscando para ele e saindo da villa, ignorando seu gesto de desaprovação.

Ouço a risada de Clarissa, mas nem presto atenção, decidida demais a fugir de suas conversas que não me interessam nem um pouco.

Saio de casa e fico na porta, fechando os olhos e aproveitando a leve brisa de verão que passa pela minha camiseta branca enorme. Sinto o ar queimando minha pele e por um momento sorrio. Embora só por um momento, porque o grito de Mattia rompe meus tímpanos e me traz de volta à realidade.

—Então, esse sorvete? — Reviro os olhos, indo em direção aos balanços que papai construiu quando éramos pequenos.

Este é um lugar especial para todos.

Tenho mil lembranças daqui, boas e ruins, e embora já tenha dezessete anos e o balanço seja pequeno demais para mim, venho aqui quase todos os dias, balançando como se ainda tivesse três anos.

- Triturador de bolas. — digo para Mattia, jogando-lhe a colher, que ele pega sem nem tirar os olhos do Nintendo. Aparentemente, todos os talentos da minha família passaram por cima de Alberto e de mim e foram direto para Mattia.

Não que isso me surpreenda, Alberto é conhecido por ser um idiota estúpido, enquanto eu sou simplesmente desajeitado.

Abro a caixa de sorvete, pego uma colherada e entrego para Mattia, que faz o mesmo.

É 18 de junho e não aguento mais Sassatero.

Continuo tomando sorvete, com os sons de Mario Kart ao fundo, e tento em vão conversar com meu irmão. Pobre garoto, ele acabou de atingir a puberdade.

- Como vai? — pergunto inocentemente, mas devo ter apertado o botão errado, pois Mattia foca seus olhos azuis nos meus.

- Não é seu problema. — Ele responde, antes de se levantar do balanço e pegar a caixa de sorvete.

- Ei! Matias! Bastardo- — Começo a perseguir meu irmão, pulando lugares do jardim que sei que são escorregadios e estou prestes a pegá-lo, justamente quando ele passa pela entrada da villa, mas um braço é colocado na minha frente e eu quase cair, novamente, em alguns dias.

—Eu estava perseguindo Mattia! — reclamo, olhando com doçura para Clarissa, que balança seu sorriso de modelo e as chaves do carro de Giulio diante dos meus olhos.

— Vai se trocar, Nina, vou levar você e Agne para fazer compras. -

         

                     

Meu guarda-roupa consiste em jeans, moletons e camisetas grandes e algumas jaquetas de couro. Ver. Não uso vestido desde o dia da confirmação da neta da velha amiga da minha avó, que foi há cerca de dez verões, e digamos apenas que não tenho muita vontade de fazer compras.

Costumo ir comprar roupas com o papai, que, embora não pareça, tem um verdadeiro gosto pelo estilo streetwear.

A única vez que fui fazer compras com Bebe e Dade, Bebe me fez comprar um sutiã de renda vermelha enquanto Dade esperava por nós do lado de fora da loja Victoria's Secret: ele se recusou a entrar.

Agora, porém, estou prestes a entrar no Range Rover de Giulio Gori, com suas duas filhas que certamente têm muito mais estilo do que eu.

—Não podemos ir... sei lá, comer alguma coisa? — Eu jogo isso aí, porque se quisermos mesmo ir para a cidade podemos pelo menos parar em um McDonald's, já que em Sassatero o único restaurante que existe é uma trattoria que vende leite do fazendeiro de Giorgio.

Clarissa nem me responde, apenas me lança um olhar de reprovação enquanto esperamos Agnese amarrar seus sapatos.

Olho para os pés de Clarissa: ela vai mesmo dirigir de salto?

Estou muito imerso em pensamentos (como sempre, afinal) para perceber que uma figura que não é muito amigável comigo se aproximou do nosso pequeno grupo com um olhar confuso.

- Onde você está indo? —Ah, o próprio diabo sempre tem que vir e estragar tudo.

Evidentemente, essa figura é Dario Gori, que está com o rosto atordoado.

-provavelmente acabou de sair da cama-, está vestindo uma camiseta preta (se estiver morrendo de calor vou aproveitar) e como sempre um tênis de basquete. calça. Banal.

Depois estou usando meu short jeans de sempre e a camiseta oversized que eu tinha antes, mas combinei tudo com um tênis Converse branco e um par de óculos escuros que só preciso para manter o cabelo longe dos olhos.

Sim, sou uma verdadeira fashionista, Chiara Ferragni me dá um joinha.

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