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Capítulo 2. Perseguidor X Amigo

Meu nome é Rafael, mas aqueles que conhecem minha ocupação noturna, me chamam de Gatuno. Sou de família abastada, moro em um condomínio fechado, na mansão da família, mas fico mais tempo na cobertura do nosso hotel cinco estrelas, que fica na zona sul da cidade, próximo a praia.

Fico sempre sozinho, não gosto de muita gente grudada em mim, mas tenho um concierge que me atende em tudo que preciso. A maioria das pessoas que me rodeiam, são carrapatos atrás do meu dinheiro. 

Eu administro os negócios da família, um conglomerado de hotéis cinco estrelas, onde também funcionam mini shoppings para atendimento aos hóspedes e outros clientes que querem maior privacidade e atendimento diferenciado. 

Controlo tudo daqui da cobertura. Meu escritório, com todo esquema de computadores e telas que transmitem ao vivo o que acontece nos hotéis, permite que eu fiscalize e administre tudo em tempo real. Claro que tenho uma equipe boa de gerentes, que tomam as decisões rotineiras , isso facilita muito e o que for mais importante, me comunicam. 

Mas o que ninguém sabe mesmo, é o que faço nas sombras da noite. 

Quando eu era adolescente, saía pela cidade pintando toda parede que  estava abandonada, suja, com a pintura velha ou que eu achava que estava. Fiquei muito conhecido pela assinatura: Gatuno. 

Com o tempo, fui observando muitas coisas acontecendo durante a noite, além de roubos, invasões e tráfico, também tinham eventos clandestinos de luta, jogos e prostituição. Notei também, alguns grupos fazendo obras sociais, auxiliando os moradores de rua e sem nenhum subsídio de órgãos públicos. 

Vi a polícia quebrar a cabeça para deter a bandidagem e tentar descobrir o local das lutas clandestinas. Controlar a quantidade, cada vez maior, de crianças nas ruas sem qualquer responsável junto, era outro problema, pois os pedófilos estavam sempre à espreita. 

Foi nessas andanças que mudei meu foco, depois que pintei a maioria dos muros e paredes da cidade, resolvi ser olheiro da polícia. Frequentei uma escola de luta e também aprendi a atirar com arma de fogo. Hoje tenho carteira de detetive particular e vigilante. Me protegi legalmente de todos os lados, para justificar minhas andanças pelas ruas e pesquisas indiscretas. 

Já ajudei a fechar vários lugares de luta clandestina, pegamos alguns traficantes, prostitutas e seus cafetões. 

Passo umas quatro horas nessa tarefa de olhar a Cidade, depois volto para a casa de meus pais e só de manhã retorno à cobertura/ escritório. E então começo tudo de novo, até surgir algo que me chame a atenção e precise agir.

Tenho um BMW e uma motocicleta Kawasaki ninja 300, é nela que me locomovo pra todo lado, é mais rápida no trânsito pesado do Rio de Janeiro.

Vasculho sempre as ruas através dos telhados e becos, sempre observando as sombras, procurando rastros de qualquer coisa diferente, que me leve a solucionar mais um crime.

No momento estou atrás de um lutador, apelidado Soco da Noite, que sempre consegue fugir quando há as batidas nos locais de luta clandestina. Parece que ele é o responsável pela morte de um conhecido pedófilo, mas as digitais encontradas, não estavam no colds. Mas já consegui descobrir algumas coisas que me levarão direto ao seu caminho.

Agora é só esperar as sombras da noite se moverem...

Ninguém consegue fugir do Gatuno.

Infelizmente chega a hora que o sol nasce e brilha, fazendo as sombras desaparecem.

Rui

Me tornei adulto, mas a criança que viveu nas ruas, não sai de mim. Talvez seja a presença constante de Mina em minha vida. Como, uma linda garotinha desmemoriada, se tornou aquele ser tão estranho? Ela nunca me contou o que a quebrou e mudou tanto, mas consigo imaginar. Nunca deveria ter deixado ela sozinha, mas eu também era uma criança sobrevivendo nas ruas. 

Não tem um dia que não me preocupe com ela, pelo simples fato dela ser uma marginal. Não por ser bandida, mas por realmente não fazer parte dos cidadãos legalizados. Parece que ela caiu do céu uma noite, já tendo seis anos. Havia algo estranho nela, como se ela não fosse totalmente humana, ou tivessem feito ela num laboratório, como um clone.

Hoje sou um policial, delegado de polícia para ser mais exato. Isso me dá a chance de protegê-la, ou pelo menos avisá-la onde a estão procurando. O delegado da 17 DP, está na cola de todos que fazem ou participam de lutas clandestinas. 

Agora ele conta com uma ajuda extra do tal Gatuno, aquele delator que anda invisível pelas sombras da noite, procurando criminosos.

Só que o único crime, que não é um crime, que ela cometeu, é não existir legalmente. 

Por isso ela participa de tudo que é clandestino, porque ELA é uma clandestina. Não sei o que ela faz durante o dia, já tentei lhe dar um celular, mas ela não quer. Tentei levar ela pra meu apartamento, mas também não aceita, tudo que tento fazer por ela, ela rejeita. Realmente, não sei como ela consegue.

Neste momento, preciso avisá-la sobre o Gatuno e só posso deixar um bilhete no buraco da parede de um beco. Faço um x com giz, que sempre trago comigo por causa dela e vou embora. Ela só vai ver o recado a noite, mas seria bom que ela visse de dia. As noites agora são perigosas, não convém ficar passeando, mesmo nas sombras.

Mina

Essa noite foi pancada, me distraí e levei um soco no queixo, que me deixou o maxilar deslocado.

Droga!

Já coloquei no lugar, agora terei que ficar com essa faixa de compressão por uns dois dias e nada de comida sólida. Ainda bem que me curo rápido. Não posso me dar ao luxo de não lutar, preciso do dinheiro pra concluir meus planos. Tantos anos nessas lutas e agora falta tão pouco, não dá pra parar.

Mas, isso dói!!!

Terei que ficar bebendo de canudinho. Vou dar um pulo no Edu pra comer alguma coisa, digo, beber alguma coisa. Edu é um dos poucos em quem posso confiar. Quando comecei minhas incursões pelo mundo das lutas clandestinas, ele que cuidava de mim, me alimentava com suas vitaminas levanta defunto e nunca perguntou nada, me deixando à vontade pra contar o que eu quisesse ou precisasse falar. 

Desabafar é bom, mas traz consequências. Por isso não costumo falar de mim pra ninguém, nem pro Rui, agora que é da polícia, qualquer ligação dele comigo, pode prejudicá-lo.

Cheguei à lanchonete e Edu me olha preocupado, faz sinal com a cabeça pra eu ir pros fundos, passo pela porta indo em direção ao quartinho, onde ele me deixa dormir, às vezes.

Tenho vários lugares de escape onde durmo, dependendo da situação nas ruas. Minha preocupação é não ser pega pela polícia, pois não sei o que acontecerá comigo quando descobrirem que não existo legalmente. Mas não tenho medo, dizem que o pior está por vir, mas, o pior que poderia me acontecer, já aconteceu. Então só preciso ficar atenta e me entocar onde for mais distante daqueles que me caçam

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