CAP. 2 - ANTECIPANDO A VINDA DO NOVO REGENTE DE ÁREA
**Filipi Laviolette**
Me levanto da cadeira, quase a derrubando, e começo a andar de um lado para o outro, totalmente emputecido.
— Todos os boatos, eram verdadeiros! Esse infeliz vinha desviando o patrimônio líquido da organização há dois anos, segundo o que me reportaram! Começou com pouco, mas nesses últimos meses, cada vez que fazia, eram milhões!
— Filipi! - Emma se aproxima de mim, me advertindo suavemente, enquanto as outras se encolhem na piscina.
— Agora não, Emma! - tento suavizar a voz, ao falar com ela, mas ainda sai bastante ríspida.
— Agora sim, Filipi. - ela fala brandamente. - Você sabe muito bem o que o médico disse, então respira, por favor.
— Eu disse agora não, Emma! - avanço para cima dela, minha mão a milímetros de seu pescoço.
— Pode me espancar, querido. - ela não recua. - Desde que isso te acalme. - seu olhar sereno penetra o meu. - Você ficar nervoso, só vai atacar a úlcera em seu estômago, além de aumentar a sua pressão, e não vai devolver o dinheiro que o verme te roubou.
Fecho as duas mãos em torno de seu pescoço, sem pressionar demais, e a puxo para mim. Encosto sua testa na minha e respiro fundo algumas vezes, de olhos fechados, enquanto ela massageia meus braços com vigor. Sei que seus olhos também estão fechados, e que ela tenta passar calma para mim.
— Obrigado, Emma! - sussurro depois de algum tempo e a beijo.
Emma é a mais astuta das minhas quatro companheiras. Ela não tem medo do que eu possa fazer com ela, segundo o que ela diz. Sua intenção é a de me manter vivo e bem. Por ela, ela daria a vida para que eu tenha minha Paz Interior. Seria capaz de se transformar na Anne, se isso fosse possível, só para me fazer feliz. Sinto que ela realmente me ama, assim como Anne me amou.
Ela é a mais velha das quatro, com seus trinta e nove anos. Chegou em minha vida há apenas um ano e dois meses, enquanto Mila, agora com trinta e cinco anos, fez de tudo para entrar na minha vida, mesmo antes de minha amada falecer, e eu só comecei a sair com ela, um ano depois da morte de Anne. Seis meses depois, chegou Lea, agora com trinta e sete. E passaram mais três meses, então foi a vez de Inês, que completou trinta e quatro há poucos dias, chegar em minha vida.
As outras três juntas, não formam metade de tudo que Emma é. Mas eu gosto de mantê-las, para que nenhuma pense que poderá se casar comigo. Que nada! A farra sempre foi ótima! Essa é a desculpa que dou para elas, mas não posso mentir para mim mesmo. E sei também que sou mais apegado à Emma que às outras.
Sei qual é o sonho de cada uma. Banalidades! Um iate, um jatinho, dinheiro… menos o de Emma! Emma quer ser mama. Já tentou várias vezes, mas nunca conseguiu engravidar. Eu mando meu médico particular aplicar as injeções anticoncepcionais em todas sempre, menos em Emma, que toma contraceptivos orais, há oito meses.
— Tenho um presente para você, querida. - falo olhando em seus olhos.
— Não precisa me encher de presentes, Filipi. Tudo o que eu quero é te ver bem.
— Nem mesmo um tratamento para ter um filho? - sorrio acariciando seu pescoço e mandíbula.
— Filipi! - ela sussurra e seus olhos se enchem de lágrimas. - Mas... você sempre diz que não quer mais filhos, que Pierre sempre seria o único e… - eu a beijo novamente, a silenciando.
— Mudei de ideia, Emma. Quero que você me dê uma criança. Não é pelo que aconteceu agora, mas pelo que você sempre faz. - ela assente, emocionada, enquanto eu continuo sorrindo para ela. - Diga às meninas que vou realizar os sonhos delas também.
— Mas isso significa… - ela franze as sobrancelhas.
— Apenas elas, Emma. - ela me encara boquiaberta. - Volte para a piscina, querida. Já estou mais calmo. - eu a beijo mais uma vez e a deixo ir.
Emma não aceita que eu fique lhe dando presentes então, sempre faço surpresa, em vez de levá-la para escolher alguma coisa. Lea tem bom gosto, e sempre pedi para ela escolher os presentes que, dessa forma, Emma aceita, mesmo com relutância.
— Vai mesmo fazer isso? - Étienne pergunta com um sorriso, quando me sento ao seu lado. - Vai fazer o que disse para Emma?
— Já passou da hora, não acha? - sorrio de volta.
— Estou feliz por você, amigo! Se eu soubesse, teria matado o inseto há meses! - gargalhamos juntos.
— Adam, ligue para a viúva.
— Já liguei, mon seigneur.
— E…?
— Ela não atende.
— Já vi isso antes. - Étienne sorri sarcástico. - Onde está o corpo?
— No subsolo do seu galpão local, monsieur Durant. Eu mesmo o levei para lá, e deixei alguns homens cuidando do local.
— Para quem ele ligou antes de morrer?
— O celular está com um de nossos especialistas. Ele apagou as chamadas e as mensagens. Aliás, resetou o aparelho.
— Está ficando interessante… - falo baixinho. - Adam, quero a esposa e filhos localizados, assim como a amante e o bastardo.
— Amantes e bastardos. - Étienne me corrige, franzo as sobrancelhas para ele. - Parece que ele queria te copiar. Fazia autopropaganda, e conseguiu atrair duas mulheres.
— Duas idiotas, você quer dizer! Mulheres de verdade não sairiam com aquele verme!
— Providencie, Adam. Por favor. - Étienne o instrui. Adam assente e se retira.
— Acha mesmo que ele faria isso? - olho para ele.
— Ele é covarde demais para se matar, Fil. Nós sabemos disso.
— Tudo bem! Refazendo a pergunta: você acha mesmo que ele teria a capacidade de elaborar e executar um plano desses?
— Depende de com quem ele se aliou.
— Voltamos à primícia de imbecis se aliando a um verme imprestável. É um looping infinito, Étie.
— Sabemos que existem loucos para tudo, Fil. Só depende do que ele prometeu fazer. Não sabemos se ele conheceu alguém que quer o controle da França e, se for esse o caso, tudo o que ele teve que fazer, foi colocar em prática a sua total incompetência.
Apesar de rirmos com a observação, a ideia de uma outra organização querendo tomar o controle sobre a França, faz todo o sentido. Afinal, seria exatamente o que Étienne disse: a total incompetência de Chaput viria a calhar. Durante esses últimos quase dez anos, ele sempre precisou de ajuda para recolocar alguma coisa de volta nos eixos. Na verdade, há quase um ano, quando perguntado, ele sempre dizia que estava tudo bem, sendo que antes disso, ele solicitava ajuda a cada três ou quatro meses.
Há sete meses, percebendo um tempo bem superior aos costumeiros pedidos de ajuda, resolvi infiltrar um espião, dentro do gabinete do governo, como “ponte” para os acordos com Chaput. O que descobri, foram alguns desvios de dinheiro, já que o infiltrado tinha acesso direto ao computador de Claude Chaput, e seus arquivos pessoais. Pelo visto, ele deve ter mais de um computador, ou algum dispositivo que bloqueia algumas pastas. A não ser que certos relatórios não estivessem no computador dele.
De qualquer forma, acabei descobrindo algumas coisas, outras, o infiltrado apenas desconfia, mas não teve como comprovar. Portanto, resolvi chamar tudo de boato, e agora as investigações irão continuar e, se o verme ainda estiver vivo realmente, terei pessoalmente que extrair dele as informações. Eu tenho o método de extração perfeito!
— Vamos ligar para Pierre. Ele precisa ir buscar Markus na Alemanha. - suspiro enraivecido. - Mais um incômodo por causa da incompetência daquele filho da puta! - bato na mesa, extravasando a raiva, sentindo o olhar de Emma.
— Markus já estava se preparando para ter, no mínimo, as rédeas do pequeno império do papa. Claro que não se compara ao que estamos oferecendo a ele, mas se ele realmente tem essa mão de ferro, será um desperdício deixá-lo na Alemanha, com tão pouco poder. Também tem o fato de não termos mais tempo de conversar com ele, tentar persuadi-lo, se por acaso ele pensar em recusar e, principalmente, não temos outra opção no momento.
— Acha que eu deveria ir com Pierre, ou até mesmo no lugar dele?
— Todos conhecem ou sabem que Pierre é seu filho, e que é ele quem cuida das reposições e faxinas. Acho que só deve ir, se Markus recusar. Mas seria uma boa ideia fazer uma videoconferência com ele. Talvez com ele e o papa.
— Faremos depois do almoço. Vamos conferir o corpo.
— Vou me arrumar.
Ele se levanta, vira o que restou do conhaque, pega seu roupão e vai em direção aos elevadores. Eu me aproximo da piscina e falo às minhas companheiras que estou de saída, mas que elas continuem aproveitando.
Vou para o meu quarto, tomo um banho e visto uma camisa polo branca, calça social branca, mocassins pretos, combinando com o cinto e óculos escuros. Me recuso a usar terno nesse calor. Principalmente para me certificar se um verme está morto ou não. Por precaução, coloco minha arma na cintura.
Me encontro com Étienne, que está vestido como eu, mas com cores diferentes, perto de seu carro. Entramos no banco de trás, e seu motorista nos leva até o seu galpão local.
À primeira vista, parece que um tornado passou por aqui. Tiro minha arma da cintura, mas Jean, motorista e segurança de Étienne, pede que nós fiquemos no carro. Ele abre o porta-luvas, retira uma mini-metralhadora e uma pistola. Passa a pistola para Étienne e sai do carro. Ele corre para dentro do galpão, mas não demora muito para voltar.
— Está vazio. Todos sumiram. Incluindo o corpo.
— Isto está ficando cada vez melhor! - falo tirando o celular do bolso. Disco para George, meu sub-chefe de segurança, que ficou no hotel.
— Sim, mon seigneur? - ele atende no primeiro toque.
— Leve-as para o quarto. Agora.
— Sim, mon seigneur. - ele desliga e eu disco para Adam.
— Sim, mon seigneur. - também no primeiro toque.
— Todos sumiram do galpão.
— Acabei de receber uma mensagem.
— O que diz?
— Vou abri-la agora. - alguns segundos se passam, antes que ele volte a falar. - Não tem texto. Me mandaram uma foto dos homens que deixei aí. Eles estão amarrados e mantidos sob armas.
— Me envie o número que te enviou a foto.
— Acabei de enviar, mon seigneur.
— Obrigado. - desligo e disco para o número que recebi de Adam e aciono o viva-voz. Jean aciona seu dispositivo rastreador.
— Quer seus homens de volta? - pergunta uma voz modificada eletronicamente, dando a ela um aspecto de voz robótica.
— Você sabe que não é o Adam quem está falando, não sabe? - pergunto sem qualquer cortesia.
— Esses homens são tão importantes assim, Laviolette?
— São meus homens! E o corpo do verme me pertence!
— Nunca imaginei que você gostasse de necrofilia! - a pessoa ri do outro lado.
— Então você é piadista?
— Escolha rápido, Laviolette! Você não terá as duas coisas! Ou os seus homens, ou o corpo.
— Onde eu pego os meus homens?
— Boa tentativa! Eu os enviarei para o seu hotel amanhã. E, Jean? Mais sorte da próxima vez.
O telefone fica mudo em seguida. Olho para Jean.
— Sinto muito, mon seigneur. Não consegui rastrear. Deve haver algum tipo de programa anti-rastreio no aparelho que ele está usando.
— Pelo visto, o verme realmente tem alguém o ajudando. - falo olhando para Étienne.
— O importante agora, é mantermos nossas famílias a salvo.
— Vamos voltar para o hotel e adiantar a videoconferência. Ligue para sua esposa, Étie. Vou ligar para Pierre.
Aparentemente, nossos familiares estão bem e fora de perigo. Voltamos para o hotel discutindo a situação, e decidimos que vamos deixar Markus bem a par de tudo. Colocaremos para ele o que aconteceu e nossas suspeitas. Sua decisão deve ser tomada às claras, ele deve saber tudo o que vai enfrentar, caso aceite o posto.
No hotel, entramos no quarto de Étienne e fazemos a ligação.