O Passeio
As duas semanas passaram depressa, graças a Deus o tempo está firme e o passeio à reserva será muito proveitoso, pensa a diretora do colégio. Bela e Miguel têm se encontrado e estão se dando muito bem, conversam muito, vão ao cinema, ao restaurante, e até na praça sentam para conversar. A alcateia em fica vigiando tudo e saboreando esse começo de namoro. Bela ainda não se sentiu à vontade para aprofundar o relacionamento, por enquanto está se sentindo bem do jeito que está. Prefere fazer as coisas mais devagar para desfrutar melhor o início desse romance que parece tão promissor.
Miguel ao contrário de Bela, preferia já estar com ela em sua casa como sua companheira, porém espera ela amadurecer e aceitar o romance, pois ela ainda não sabe que ele é um homem/lobo. Não sabe como ela irá receber a notícia, pois ninguém fala sobre o assunto na cidade e a alcateia se mantém quieta e aguardando o desfecho desse namoro.
Enquanto a escola se prepara para sair no dia seguinte cedo, o prefeito está em uma reunião secreta numa sala escondida no subsolo da prefeitura. Com ele estão três homens fortes e estranhos que não são da cidade. O prefeito tem-se esmerado para realizar um grande projeto, mas necessita do espaço onde está a alcateia. Já discutiu muitas vezes com o alfa Miguel, mas ele está irredutível quanto a saída deles de lá. O prefeito não consegue fazer nada naquele território pois as terras pertencem a eles. Infelizmente para o prefeito e seu projeto, o terreno da alcateia é exatamente ao lado da reserva florestal. Ele não pode mexer na reserva, mas se a alcateia saísse dali, ele conseguiria apropriar-se daquelas terras e iniciar seus planos.
Os três homens saíram dali pela porta secreta que dava nos fundos da prefeitura olharam para os lados para ver se haviam pessoas ao redor e entraram numa van preta. Dirigiram-se para um local dentro da reserva, onde passa o rio bem ao lado da estrada que leva ao centro da reserva. Ali eles pararam a Van e ficaram de Tocaia.
Bela está muito feliz, as crianças já chegaram e já estão se posicionando para a entrada no ônibus, cada uma com sua autorização assinada por seus pais em suas mãos. A diretora está conferindo todos que estão entrando, com uma lista de chamadas na mão. Quando finalmente todos adentraram a diretora fez a chamada final e partiram para o passeio. Bella ia conversando com os alunos sobre o que fariam durante aquele dia. Distribuiu kits com biscoito, uma caixinha de suco, um saquinho de balas, e um caderno com lápis para cada um poder anotar o que visse de interessante.
Miguel ficou atento a tudo o que estava acontecendo. Algumas crianças da Alcateia estão no ônibus escolar. Ele não poderia acompanhá-los pois recebeu alguns afazeres na alcateia, porém enviou batedores à frente para assegurar que o caminho estava livre de intrusos. Aconteceram alguns ataques de caçadores na mata e chegaram até a Alcatéia, querendo invadir o local. Se fez necessária a presença dele, pois alguns jovens foram feridos e os vigias estavam cansados. Necessitava saber como eram os caçadores que estiveram lá e reorganizar a vigilância. Já tinha uma ideia de quem provocou o ataque.
As crianças cantavam animadas no ônibus, estavam felizes e a diretora com as professoras, estavam atentas. A estrada de terra estava bem irregular por causa das chuvas de inverno, fazendo o ônibus balançar e as crianças aproveitavam para gritar e enlouquecer os adultos. Até que finalmente chegaram e as crianças já estavam doidas para entrar na mata, mas não poderiam se afastar uns dos outros e a excursão foi toda organizada para ficarem todos juntos andando pelas trilhas.
Durante todo tempo, Bela tinha a impressão de estar sendo vigiada, mas olhando à sua volta, não via ninguém. Foi assim durante toda a excursão, quando chegaram no prédio central, seguiram direto para o refeitório onde almoçaram e as crianças ficaram mais à vontade. Durante as duas horas depois do almoço, as crianças ficaram no centro pesquisando as diversas plantas cultivadas e animais que eram tratados no local. Instruídos por Bela, anotaram tudo para posterior trabalho em classe. Quando terminaram, tomaram um lanche e seguiram por um caminho diferente, direto para o ônibus.
Já chegando aos portões onde o ônibus esperava, uma chuva fina começou a cair, todos correram para fugir da chuva e dentro do ônibus, a diretora fez a chamada e logo iniciaram o retorno a cidade. A chuva engrossou e a estrada ficou escorregadia, fazendo o veículo escorregar, deslizando para o lado. O motorista fazia força para controlar com o volante, as rodas, mas cada vez escorregava mais para perto do rio. O barranco do outro lado escorria água enlameada e foi assim que o ônibus foi deslizando para a beira do rio que encheu rapidamente. O motorista parou o ônibus e de repente apareceram homens estranhos e também alguns conhecidos de algumas crianças.
O motorista abriu a porta e os homens foram tirando as crianças, sendo que Bela e a diretora saíram primeiro para ajudar as crianças e prestarem atenção para que nenhuma se perdesse. Quando o último saiu, o veículo escorregou mais, caindo no rio, o motorista correu e conseguiu sair por uma janela lateral e pulou na beirada, afundando na lama, um dos homens o agarrou e puxou para a estrada. Todos juntos iniciaram uma caminhada voltando na estrada, para saírem do trecho de barranco, a chuva diminuiu e já podiam suspirar aliviados, tendo chegado num lugar menos perigoso.
Foi então que a diretora procurou a professora Bela, para ajudá-la a contar as crianças e não a encontrou. Todos a chamaram, mas ela não respondeu. Os homens desconhecidos que auxiliaram antes, também não estavam mais presentes. Um veículo da reserva chegou, chamado por um dos outros homens e as crianças foram socorridas assim como o motorista e as outras professoras. A diretora ficou com os homens, esperando por outro veículo e procurando por algum sinal de Bela.
Por outro caminho, do outro lado do rio, três homens desciam do bote que usaram para escapar da presença dos outros e levar Bela, desacordada por inalar clorofórmio. Andaram pelo meio do mato até chegarem a uma Van preta. Abriram a porta traseira e um deles entrou e outro passou o corpo desacordado para ele e entrou também. O terceiro já estava ligando e saindo pela estrada a caminho da cidade. Entraram pelos fundos da prefeitura, tomando cuidado para não serem vistos. Desceram para o subsolo e colocaram o corpo numa cela suja e fétida, onde já devem ter passado outros presos. Trancaram e saíram do prédio. Seu trabalho estava concluído.