Flertando
Os dois seguiram conversando até chegarem em frente ao prédio onde ela morava. Foi então que percebeu a hora e resolveu convidá-la para almoçar e ela aceitou. Foram então para o restaurante do outro lado da praça, que também é dele, mas só a família sabe do fato. Miguel sempre achou pouco produtivo que todos saibam de sua vida, principalmente a financeira.
A uma certa distância, oculto por uma árvore, o prefeito observa os dois com um sorrisinho maldoso modificando suas feições. Ele percebeu o olhar de Miguel sobre a professorinha, e quando ela correspondeu, entendeu tudo. Aquele lobo chato, que perturbava sua gestão com tantas reclamações e reivindicações para sua Alcatéia, encontrou sua companheira de alma. Viu no fato a oportunidade que esperava de se ver livre do problema. Saiu de fininho para não ser visto, entrou no carro e foi na direção contrária a da prefeitura.
No restaurante, os dois sentaram em uma mesa próxima a uma das janelas frontais, onde podiam contemplar a praça. Mas se dependesse de Miguel, ele só olharia para ela. Nesse momento e para o restante de suas vidas, ela seria a merecedora de sua principal atenção. Seu olhar de admiração dizia tudo. Para ele, ela é a mais linda fêmea que já conheceu e seu aroma o deixa cada vez mais apaixonado.
Já Bela está cada vez mais encabulada.
– Porque me olha tanto, está me deixando com vergonha.
– É que você é tão linda que não canso de admirá-la.
– Eu, linda? Isso é novidade para mim. Sempre fui muito simples, não gosto de maquiagem ou de me vestir conforme a moda. Nunca fui daquelas moças que chamam a atenção dos rapazes, então é uma surpresa a sua admiração.
– Não sei os outros, mas para mim você é perfeita e quero conhecê-la melhor. Se você concordar, podemos sair, ir ao cinema,ou só dar uma volta, fazer um lanche em algum lugar, o que acha.
– Pra começar, acho que estamos começando bem.
Ela sorriu e surgiu uma covinha em seu rosto, o que fez ele sorrir também, só que de prazer por sua companheira ser tudo o que ele sonhou.
– É, acho que sim.
Foram interrompidos pelo garçom que veio fazer o pedido. Assim se passou duas horas de almoço e conversa agradável. Descobriram várias coisas em comum e que ela preferia floresta a praia e cidade pequena do que metrópoles. Tudo combinava com o modo de vida dele.
O garçom voltou para perguntar se queriam mais alguma coisa.
– Não Alan, obrigado. Nós já vamos.
– Certo Alfa, estamos felizes por você!
– Alan?! Por favor…
O rapaz parece cair em si de que foi inconveniente e fica mais vermelho que tomate.
– Desculpa alf...senhor.
– Tudo bem, Alan e diga aos outros para ficarem quietos.
– Certo, senhor. – Ele se curvou e se foi ainda envergonhado.
– O que foi isso? Ele te chamou de Alfa e disse que estão felizes por você..
– É a minha família, estão doidos pra me ver casado, venha, vamos sair daqui.
– Não vamos pagar a conta? – Ela perguntou preocupada e procurando o garçom.
– Esse restaurante é meu, mas não espalha. – Ele respondeu com um sorriso e pegando em seu braço com delicadeza, a levou para fora do restaurante.
A essa altura, todos já devem estar sabendo que encontrei minha companheira, pensou Miguel. Quando ele chegar na padaria terá que enfrentar todas as brincadeiras que farão com o assunto.
Foram andando devagar até pararem em frente ao prédio dela. Ele parou e puxou-a para ficar de frente para ele.
– Bela, minha Bela. Vou ser bem sincero com você, estou realmente muito interessado em você e creio que nossas vidas vão se unir para sempre. Por isso te pesso que nos dê uma oportunidade e tenha paciência até nos acertarmos.
– Você está me deixando assustada com isso de para sempre. Como pode ter certeza que essa atração entre nós irá crescer e durar desse jeito.
– Porque nunca senti por ninguém o que sinto por você. É algo mágico!
– É, parece mesmo. Também nunca senti nada assim tão forte.
– Só preciso que você confie nesse sentimento e em mim. Existem muitas coisas sobre mim, sobre minha família e esse lugar, que você não sabe.
– Nada ruim espero.
– Não, nada ruim, só diferente e mágico como o amor. Você acredita?
– Sim, eu acredito na magia do amor!
– Ficaremos bem, você verá.
Ele a tomou nos braços em um abraço terno, carinhoso e colocou o rosto em seu pescoço, inalando profundamente seu aroma delicioso. Ela o abraçou pela cintura (ele é bem mais alto que ela), pousou a testa em seu ombro, deixando que ele cheirasse e beijasse seu pescoço como se fosse a coisa mais normal do mundo. Quando se separaram, ouviram murmúrios e quando se viraram, surpreenderam-se.
A volta deles havia um bom grupo de pessoas, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, que aplaudiram e associaram, fazendo algazarra e festejando.
– Parabéns alfa, até que enfim! – Dizia um senhor.
– Ela é linda! – Dizia uma senhora!
– Ela vai ser nossa Luna, Alfa Miguel?
Todos se calaram, o som cessou com a pergunta da criança.
– Provavelmente sim, Karina, mas ela terá que decidir e vocês todos estão adiantando as coisas. Será que posso fazer do meu jeito? Vocês estão parecendo um bando de trólls!
Foi um Oh!, geral e todos negaram.
–Trolls não, senhor, desculpe, nós não vamos mais atrapalhar não. Vamos pessoal, vamos deixar o chefe namorar em paz.
– Sim, desculpa alfa, é que estamos muito felizes e as crianças gostam muito da professora Bela. Nós já estamos indo, viu.
Todos foram saindo, seguindo para seus trabalhos e ocupações, Miguel olhou para Bela preocupado, mas encontrou ela sorrindo.
– Eles todos são sua família e funcionários?
– Quase isso, é um pouco misturado, me conhecem a muito tempo e nunca me viram com uma namorada, por isso estão assim.
– Eles parecem amar muito você. Porque aquela criança perguntou se seria sua luna?
– Um dia te explico isso, é coisa da família, mas por agora preciso voltar para a padaria. Não consigo pensar em ficar longe de você. Faz uma coisa pra mim?
– O quê?
– De vez em quando, dá uma olhada na janela. Lá da padaria, onde fico fazendo os pães, tem uma janelinha onde posso te ver.
– Quer dizer que você já me olhava?
– Confesso que sim e já gostava tanto de te ver, que mandava João te levar pão, só para ver teu sorriso.
– Nossa, – escondeu o rosto nas mãos e depois tirou e deixou cobrindo as bochechas – você que me mandava os pães e eu achando o João tão fofo!
– Agora você já sabe e vai gostar ainda mais, minha professorinha linda! – Se aproximou dele e segurou suas mãos. – Agora preciso ir, vou planejar algo para nos vermos e te falo. – Deu-lhe um selinho, pois queria que seu primeiro beijo fosse só deles e não de todos aqueles que estavam bisbilhotando escondidos. Se despediu e saiu em direção a padaria.
Ela ficou olhando suas costas até que chegou na esquina e virou para trás acenando, só então entrou, achando que andava nas nuvens de tão enlevada que estava com aquele encontro tão inusitado. Foi só um encontro e parecia que já estavam namorando e que se conheciam a tempos.
Abriu a porta de seu apartamento ainda sorrindo e foi até a janela da cozinha, olhou para a janela da padaria, esperou um tempinho e logo viu seu rosto através da pequena janela empoeirada. Ele passou um pano nela e pode ver melhor o sorriso largo de sua amada. Estava feliz e só não sabia como contar para ela que era o Alfa de uma grande Alcatéia a qual ela teria muito trabalho como Luna.