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Para minha surpresa, no dia seguinte após Joaquim sair do meu apartamento, recebi novamente a visita de Edynei. Sentindo a urgência de esclarecer as coisas entre nós, convidei-o a entrar, explicando que precisávamos conversar. Com um gesto amistoso, ele concordou e adentrou meu apartamento, seguindo em direção ao sofá da sala.
O ambiente estava carregado de tensão e expectativa enquanto nos acomodávamos lado a lado. Eu podia sentir meu coração acelerado, ansiosa por abrir meu coração para Edynei e compartilhar minhas verdades. Olhei para ele, encontrando seus olhos repletos de curiosidade e uma mistura de apreensão e esperança.
— Edynei, eu sinto muito pelo meu comportamento grosseiro e por ter mentido sobre não me lembrar de você. Eu queria te pedir desculpas sinceramente.
— Teodora, confesso que fiquei magoado e confuso com suas atitudes. Por que você mentiu? Por que agiu daquela maneira?
— Eu menti devido à mágoa que eu carregava em relação à sua família. Eles foram os responsáveis por tantas desgraças em minha vida, e eu me sentia traída e ferida. Eu sabia que você fazia parte dessa família, então, em um impulso de proteção, eu menti para me afastar e evitar mais dor.
— Por que nunca soube de nada disso? Eu merecia saber a verdade desde o início. - comentou desapontado.
— Você tem toda razão, Edynei. Você merecia saber a verdade, e eu lamento profundamente por não ter sido honesta desde o começo. Eu estava com medo de enfrentar tudo isso, de reabrir feridas antigas.
— O que minha família fez para a sua? E por que eles nos separaram na infância? Estou confuso e bastante surpreso.
— A verdade é que quando éramos crianças, nossa amizade era muito forte, mas a família Guimarães, em especial seu pai, não aceitava nossa amizade, principalmente quando souberam que pensávamos em nos casar quando crescêssemos. Eles acreditavam que eu não era digna de estar ao seu lado devido às diferenças sociais. Fizeram de tudo para nos separar, até mesmo me afastando de você. Fui forçada a deixar nossa amizade de lado, e isso me machucou profundamente.
— Não consigo acreditar que minha família tenha feito algo assim. Sinto muito por todas as consequências que você teve que enfrentar por causa deles. Éramos apenas crianças, e eles nos separaram injustamente. — disse ele, tentando tocar minha mão, no entanto, me esquivei.
— Edynei, eu não queria que você soubesse dessa forma, mas você merece conhecer a verdade. Eu não quero que essas circunstâncias do passado afetem uma possível amizade entre nós no presente. Estou disposta a superar isso e construir algo verdadeiro entre nós.
— Teodora, agradeço por compartilhar a verdade comigo, por mais difícil que seja. Eu não deixarei que o passado defina nosso futuro. Nossa amizade é importante para mim, e estou disposto a deixar tudo isso para trás. Vamos construir uma nova história, baseada na confiança e no respeito mútuo.
— Obrigada, Edynei. Significa muito para mim ouvir essas palavras. Estou determinada a seguir em frente e fortalecer nossa amizade.
Eu não queria despejar todas as minhas desgraças em cima de Edynei, mas decidi compartilhar algumas coisas com ele. Sentados no meu sofá, comecei a contar minha história.
Olhando para ele, respirei fundo antes de continuar nossa conversa. Com cuidado, comecei a descrever os eventos que me marcaram profundamente.
Falei sobre a perda devastadora dos meus pais, o vazio que ficou em meu coração quando eles partiram. Expliquei como a dor parecia insuperável, como se o mundo tivesse desabado ao meu redor. Mas também enfatizei como, mesmo nesse momento de profunda tristeza, encontrei forças para continuar.
Então, compartilhei sobre os anos que passei vivendo com Lucilene, uma mulher manipuladora que sempre conseguia me deixar mal com suas atitudes. Ela me tratou pior do que um vira-lata e sempre falava pra mim ter gratidão por ela, o que era frustrante.
Enquanto eu narrava cada experiência dolorosa, vi os sentimentos de choque e admiração se misturando no rosto de Edynei. Seus olhos se encheram de compreensão e sua expressão refletia uma mistura de tristeza e respeito. Percebi que ele estava genuinamente tocado pela minha história e pela resiliência que eu havia encontrado dentro de mim.
À medida que terminava de falar, uma sensação de alívio e vulnerabilidade me envolveu. Saber que eu tinha dividido essas partes tão íntimas da minha vida com alguém me trouxe uma sensação de conexão e apoio. Edynei me abraçou, não com palavras, mas com a maneira como seus olhos falaram volumes sobre sua compreensão e solidariedade.
Naquele momento, percebi que, apesar de tudo o que passei, encontrei força dentro de mim para seguir em frente. E ter Edynei ao meu lado, admirando essa resiliência, me deu um novo ânimo.
— Quem é esse? E por que estão abraçados?
Fiquei surpresa com a volta repentina de Joaquim sem avisar. Afastei-me de Edynei e olhei fixamente para meu outro amigo.
— Joaquim, que maneira é essa de me questionar? Edynei, pode pensar errado sobre mim por sua causa.
— Não quero causar problemas. - protestou Edynei, levantando-se do sofá.
— Desculpe, Dora! É que fiquei surpreso de vê-la com um estranho abraçada.
— Ele não é um estranho, Joaquim. Edynei, é um amigo de infância que reencontrei agora. - expliquei, mesmo sabendo que não era da conta dele.
Depois de explicar tudo para Edynei que Joaquim era um amigo, Joaquim tentou cumprimentá-lo, estendendo a mão num gesto amigável. No entanto, para a surpresa dele e minha, Edynei não correspondeu ao cumprimento e, com um olhar constrangido, declarou que a situação toda era embaraçosa demais para ele lidar.
O ar ficou tenso e um silêncio desconfortável tomou conta do apartamento. Sentindo-me envergonhada e incerta sobre o que fazer, observei Joaquim saindo rapidamente do apartamento, deixando-me a sós com Edynei.
Os segundos que se seguiram pareciam uma eternidade. Eu estava presa entre a confusão da reação de Edynei e a falta de palavras para dissipar o constrangimento que pairava no ar. O que antes era um ambiente acolhedor e cheio de expectativas positivas, transformou-se em uma situação delicada e desconfortável.
Buscando desesperadamente por algo a dizer, as palavras pareciam fugir da minha mente. Ouvia apenas o som abafado do meu próprio coração, enquanto tentava encontrar uma maneira de aliviar a tensão que se instalara entre nós.
— Você deve ter pensando que Joaquim era meu namorado. — comentei.
— Ele realmente pareceu algo muito mais íntimo que um amigo. Teodora, ele pareceu ficar com ciúmes.
— Não é nada disso. Somos apenas amigos e ele é muito protetor...
— Protetor? Ele foi inconivente! Sinto te dizer, mas, não gostei dele.
Não esperava que Edynei fosse tão sincero. Joaquim era um bom homem, quando ele o conhecesse melhor concordaria comigo. Meus dois amigos tinham que se entender para que pudéssemos ter uma ótima convivência juntos.