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Teodora Pires
Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu observava Edynei se afastar. A dor que senti ao perceber como o tratei de maneira cruel foi avassaladora, penetrando fundo em meu coração. Memórias de nossa infância inundaram minha mente, desde os momentos divertidos até a promessa que fizemos um ao outro de nos casarmos um dia. Nunca imaginei que teria a chance de revê-lo novamente.
A família Guimarães sempre foi uma figura poderosa em nossas vidas. Por causa da nossa aproximação na infância, meus pais foram injustamente demitidos da empresa em que trabalhavam para eles. Essa foi a razão pela qual fomos obrigados a nos mudar, deixando para trás tudo o que conhecíamos. Apesar de saber que Edynei não tinha culpa alguma nessa tragédia, não consegui evitar sentir uma profunda mágoa em relação à sua família, acreditando que eles eram responsáveis pela desgraça que se abateu sobre os meus entes queridos.
Meus pais enfrentaram muitas adversidades quando eram vivos, mesmo antes de serem envenenados pela inalação constante de produtos tóxicos na indústria em que foram obrigados a trabalhar, a fim de garantir o meu sustento. A lembrança desses eventos trágicos pesava sobre mim, alimentando minha tristeza e arrependimento.
Enquanto as lágrimas continuavam a fluir, eu me vi imersa em um misto de emoções. A dor da separação, a culpa por ter sido tão dura com Edynei e a angústia de carregar a amargura em relação à sua família, tudo isso se entrelaçava dentro de mim. Eu ansiava desesperadamente por uma oportunidade para consertar as coisas, para me redimir e para encontrar alguma forma de paz em meio a essa tumultuada história de vida.
Em meio a soluços, prometi a mim mesma que faria o possível para encontrar Edynei novamente, para pedir seu perdão e compartilhar todas as emoções que transbordavam em meu coração. Talvez, só talvez, houvesse uma chance de curar as feridas do passado e buscar uma reconciliação com o destino que nos separou tão cruelmente.
— Teodora, por que você está chorando? O que aconteceu? — questionou Joaquim ao me flagrar em meio ao choro.
— Ah, Joaquim, não é nada... São apenas lembranças do passado que vieram à tona. Não se preocupe.
— Mas você está claramente perturbada, Dora. Você pode me contar o que está te afligindo? Talvez eu possa ajudar de alguma forma.
— Sei que você quer me ajudar, porém, algumas coisas são difíceis de superar. Essas lembranças são parte de quem sou, de tudo que vivi.
— Entendo que o passado tenha suas marcas, mas às vezes é melhor deixar as lembranças dolorosas de lado e seguir em frente. Precisamos focar no presente.
— Eu gostaria que fosse tão simples assim, Joaquim. Mas essas lembranças moldaram quem sou hoje. Não posso simplesmente ignorá-las ou fingir que não existem.
Joaquim olhou para mim com compreensão em seus olhos e, em um gesto reconfortante, envolveu-me em um abraço caloroso. Senti o calor do seu corpo e o pulsar reconfortante do seu coração. Por um momento, senti que tudo ficaria bem. Ele sabia que algo me afligia, mas respeitava minha privacidade o suficiente para me permitir lidar com isso sozinha.
Após o abraço, ele caminhou em direção à porta, saindo do cômodo. Eu o observei enquanto ele se afastava, sentindo um misto de gratidão e medo. Eu não havia encontrado coragem para compartilhar com ele a verdade sobre o meu primeiro amor, que havia batido à minha porta. Naquele momento, eu não sabia nem por onde começar.
Um amor de infância poderia se transformar em uma bela amizade entre dois adultos? Era o que eu queria descobrir em relação a Edynei. Ele merecia minhas desculpas por ter sido grosseira e ter mentindo bem na sua cara de que não lembrava quem ele era.
— Ele se tornou um homem tão gato... — murmurei, me dando um tapinha no rosto para cair na real de que eramos praticamente dois estranhos agora.
A imagem de Edynei adulto permanecia em minha mente, pairando como um pensamento constante após vê-lo na minha porta. Seu cabelo estava impecavelmente alinhado, e a barba perfeitamente aparada realçava seus traços. Ele se vestia com elegância, exibindo um estilo refinado. Além disso, era impossível ignorar seu aroma agradável, que deixava um rastro sutil no ar. Observando seu físico bem musculoso, eu não pude deixar de notar a força e a confiança que emanavam dele.
A beleza exterior de Edynei era inegável, mas o que me intrigava ainda mais era a pessoa que ele se tornara. Será que a doçura e a gentileza que eu lembrava dele na infância haviam se mantido? Ou o tempo havia moldado sua personalidade de forma diferente? Eu ansiava descobrir a resposta enquanto me encontrava imersa em memórias e sentimentos confusos.
Ainda assim, não podia negar que sua presença despertava uma sensação de curiosidade e fascínio dentro de mim. Cada detalhe, desde seu sorriso até a maneira como ele se expressava, reforçava a atração que sentia. No entanto, eu precisava ser cautelosa e lembrar-me das questões não resolvidas que existiam.
Havia um desejo sincero dentro de mim de conhecer a pessoa em que Edynei se tornara, de compartilhar experiências e histórias. A incerteza e a expectativa preenchiam meu coração enquanto me preparava para enfrentar o desconhecido.
Independentemente do resultado, estava disposta a arriscar e abrir meu coração para Edynei. Afinal, a vida é uma jornada de aprendizado, e às vezes o amor de infância pode evoluir para uma amizade duradoura, repleta de compreensão, apoio e cumplicidade.
— É isso! Vou ser amiga de Edynei! — afirmei, certa da minha decisão.
Determinada a seguir em frente e reestabelecer minha amizade com Edynei, decidi que a família Guimarães não teria mais o poder de se intrometer em nossas vidas. Éramos adultos agora, capazes de tomar nossas próprias decisões e enfrentar qualquer obstáculo que surgisse.
O que mais aquela família poderia tirar de mim que já não havia tirado? Acredito que nada! Minha classe social não definia meu caráter e, no passado eu era apenas uma criança que foi julgada pelo posição social dos pais. Meus falecidos pais sofreram muito para me fazer ter uma vida dignada, não desonraria suas memórias.