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Edynei Guimarães
Com o coração acelerado, após muitas buscas e incertezas, finalmente cheguei ao prédio onde supostamente Teodora estava morando. Sentimentos mistos de esperança e apreensão preenchiam meu peito enquanto subia as escadas em direção ao seu apartamento. Cada degrau parecia uma eternidade, e eu me questionava se seria bem-vindo ou se ela ficaria feliz em me ver.
Finalmente, cheguei ao andar correspondente. Olhei para os números nas portas, tentando encontrar o apartamento certo. Meus batimentos cardíacos aumentaram ainda mais quando identifiquei o número correspondente ao seu apartamento. Respirei fundo e, com um misto de coragem e nervosismo, ergui minha mão e bati à porta.
O som ecoou pelo corredor, e meus pensamentos pareciam encher o espaço ao redor. A ansiedade tomou conta de mim, e eu me perguntava se teria feito a escolha certa em procurá-la. Minutos que pareciam uma eternidade se passaram antes de ouvir passos se aproximando da porta.
O som da fechadura girando ecoou em meus ouvidos, e a porta se abriu lentamente. Lá estava ela, Teodora, parada à minha frente. Seus olhos refletiam uma mistura de surpresa e cautela, como se estivesse tentando decifrar a razão pela qual eu estava ali.
Um silêncio tenso pairou entre nós por um breve instante, até que eu finalmente encontrei a voz para falar.
— Teodora, sou eu, Edynei. — disse com um sorriso tímido.
— Desculpe, mas acho que você está enganado. Eu não conheço nenhum Edynei.
— Não pode ser... Você não é Teodora Pires?
— Sim, sou eu, Teodora Pires, mas não me lembro de ter um amigo chamado Edynei. Desculpe se estou esquecendo algo importante.
Decepcionante ela não lembrar de mim, no entanto, era compreensível, então, tentei não desanimar.
— Entendo. É compreensível que você não se lembre de mim, afinal, faz muitos anos. Mas éramos amigos na infância, Teodora. A última vez que nos vimos, você tinha oito anos de idade.
— Oito anos de idade? Realmente, é muito tempo atrás. Me desculpe, mas minha memória não alcança tão longe. Mas fico feliz em saber que fomos amigos.
— Não se preocupe, não é culpa sua. Eu também não esperava que você se lembrasse. Só queria te encontrar e saber como você estava, relembrar um pouco do passado.
— Relembrar o passado? Devo ter mesmo marcado sua vida. Sinto-me até mal por não lembrar de você. Edynei, você parece ter vindo de muito longe para me reencontrar. Sua atitude é bonitinha, porém, não sei suas verdadeiras intenções. Não me leve a mal, mas não me sinto a vontade de convidá-lo para entrar no meu apartamento. Você para mim é um estranho, entende?
— Eu entendo. Podemos recomeçar do zero? Você me conhecendo melhor talvez lembre de algo.
— Edynei, estou passando por muitas coisas e tentar lembrar o passado de quando eu era criança não vai me ajudar em nada. Olha pra nos dois, somos adultos agora e o destino nos distanciou. Por que não deixar tudo como estar?
— Não posso, Teodora. Por favor, não me peça uma coisa dessas. Meu coração até fica apertado. Pensei em muitas coisas que poderiam acontecer nesse reencontro, menos que você fosse me rejeitar desta maneira.
— Isso é um tanto quanto dramático da sua parte! Você poderia ter me procurado antes se acreditasse que sou tão importante assim. Por que agora? Algo não parece certo e eu estou errada em ser desconfiada?
— Sei que demorei muito para te procurar. Eu queria seguir em frente sem olhar para trás, contudo, sua lembrança sempre esteve presente no meu dia-a-dia. Você foi meu primeiro amor e nem sequer lembra de mim, imagina da promessa que fizemos na infância...
— Que promessa? Por acaso estou te devendo alguma figurinha de álbum de coleção? — desdenhou e continuou. — Cara, eu não lembro de porra nenhuma e não quero que fique enchendo meu saco. Tentei ser educada e tudo, porém, agora me sinto incomodada com sua presença. O que esperava de mim? Por acaso acreditou que eu fosse cair nos seus braços e dizer que te amo? Amadurece e cai na real que não estamos em um conto de fadas!
Meu coração estava cheio de expectativas ao reencontrar Teodora, meu primeiro amor. No entanto, a cena que se desenrolava à minha frente era completamente diferente do que eu imaginava. Suas palavras insensíveis perfuraram minha esperança e fizeram minha alegria desmoronar.
Enquanto eu compartilhava minha emoção e o significado que ela tinha para mim, Teodora parecia desprezar meus sentimentos. Suas palavras cortantes ecoavam em meus ouvidos, deixando-me perplexo e desamparado.
A dor atravessou meu peito como uma flecha, deixando-me sem palavras por um momento. Tudo o que eu queria era que esse reencontro fosse especial, que pudéssemos compartilhar o sentimento de nostalgia e reconexão. Mas, em vez disso, sentia-me desprezado e incompreendido.
As lágrimas ameaçaram encher meus olhos, mas tentei me manter firme. Eu tinha colocado minhas esperanças nesse momento, e agora tudo parecia desmoronar diante de mim.
— Tudo bem... — murmurei com a voz trêmula. — Desculpe por incomodá-la.
Eu senti uma mistura de raiva e tristeza pulsando dentro de mim. Como algo que era tão especial para mim poderia ser tão insignificante para ela? Era difícil aceitar que as lembranças e sentimentos que nutri ao longo dos anos fossem apenas meus, enquanto ela os tratava com tamanha indiferença.
Sem dizer mais nada, dei um passo para trás e me afastei lentamente da porta. Cada passo parecia pesado e carregado de decepção. Aquele reencontro que eu tanto ansiava havia se transformado em um verdadeiro desastre, uma lembrança amarga que eu preferia esquecer.
Enquanto caminhava em direção à saída, senti-me derrotado e vazio. Tudo o que eu queria era a oportunidade de reviver um pouco da nossa história compartilhada, entretanto, agora parecia que esses momentos estavam perdidos para sempre.
Era hora de desistir? Eu não podia ainda desistir assim. Fui embora deixando as lagrimas rolarem pelo meu rosto. Fazia muitos anos que não chorava assim, ela tinha conseguido me deixar muito mal. Quando a vi abrir a porta criei muitas expectativas e ter ido embora daquele jeito me despedaçou.
O que o tempo havia feito com aquela menina doce que conhecia? Precisava descobrir.