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Capítulo 3

Por Lilian Alcântara.

Acordo com os primeiros raios de sol invadindo o meu quarto, através das persianas da janela do meu quarto. Abro meus olhos com dificuldade e tento me adaptar a claridade. Uma dor de cabeça infernal me faz lembrar da noite anterior no barzinho, na companhia dos meus amigos de trabalho, Cris acompanhada do doutor Antony, eu, claro de Peter, que passou boa parte da noite esbarrando, ou tocando minha mão sobre a mesa, sempre que precisava pegar algo. Logo minha amiga e seu par foram para a pista de dança, e claro, que Peter não perdeu a oportunidade. Ele me puxou pela mão e nós fomos dançar. Enquanto as músicas eram dançantes estava tudo bem, mas aí veio uma música lenta, e nem deu tempo dispensa-lo, Peter logo colocou uma mão em minha cintura, me puxando para mais perto do seu corpo. A dança até que estava indo bem, eu estava curtindo ficar em seus braços. Fazia tempo que não me divertia tanto assim, porém, ele estragou tudo, quando se inclinou em direção a minha boca e seus lábios finos tocaram os meus, em um beijo que começou tímido, e foi ganhando uma proporção que eu não esperava. Logo a imagem do Kevin invadiu a minha mente, e eu parei o beijo no ato. Ele me olhou confuso e eu respirei fundo.

_ Lilian, eu gosto de você!_ Se declarou com um tom meigo. _ Estou a fim de você desde a primeira vez que te vi no hospital, quando George te apresentou para a equipe.

_ Para Peter, por favor! _ pedi, ele pareceu desapontado, mas ainda assim insistiu.

_ Qual é, Lilian, me dá uma chance pô! Deixa eu te mostrar, o quanto eu gosto de você!

_ Primeiro; _Falo ríspida. Eu sei que ele não merece, mas eu não consigo evitar minha atitude grosseira. _ Eu nunca disse para você que estava aberta a um relacionamento, e segundo: eu nunca te dei liberdade para me beijar. Agora, me dê licença. _ Deixo Peter na pista de dança e sigo para o bar e peço uma bebida forte. Peter não se aproximou mais durante o resto da noite, e eu passei minha noitada entre um copo e outro. No fim de tudo, pedi um táxi pelo aplicativo e fui para casa. Lembro-me de pagar meu celular, para olhar as horas. Eram duas da madrugada, quando entrei em casa e caí como uma morta em cima da cama com roupa e tudo. Bufo audível, sentando-me na cama, e levo as mãos a cabeça, sentindo-a latejar como o inferno.

_ Droga! _ resmungo sozinha. _ Por que ele tinha que fazer aquilo? Eu não devia ter sido grossa com ele daquele jeito _ lamento e solto uma respiração alta pela boca. _ Acho que acabei de perder um bom amigo! Melhor assim, eu acho. _ Saio da cama e vou direto para o banheiro, todo uma ducha quente e demorada, depois faço minha higiene pessoal, ponho uma roupa leve e vou para cozinha, muito bem equipada. Abro o armário na parte de cima e pego um remédio e na geladeira, pego uma garrafinha de suco, e tomo uma aspirina, acompanhada do suco gelado e refrescante. Caminho até a ampla janela do meu apartamento e observo o céu nublado de NY. A manhã está fria, com algumas nuvens cinzentas, anunciando chuvas para o dia. Meu telefone começa a tocar e eu o atendo rápido e abrindo um sorriso em seguida.

_ Filha!? _ Ouço a voz da minha mãe do outro lado da linha e logo a saudade aperta meu coração. _ Como você está, querida? _ pergunta animada. Minha mãe tem o hábito de ligar para mim diariamente, e hoje ela me parece particularmente mais feliz.

_ Oi, mãe! Estou bem e morrendo de saudades de todos vocês!

_ Também estamos com muitas saudades de você, querida! Você precisa ver como a Cristal e Jonathan cresceram e o Caio está mais esperto. _ Sorrio quando a escuto falar dos meus sobrinhos. Eles são mesmo umas graças, sinto muita falta de brincar com eles.

_ Estou entrando de férias na próxima semana mãe, talvez eu vá até o Brasil, para passar uma semana com vocês. Só para matar a saudade deles.

_ Então, na verdade, eu já ia mesmo te pedir isso. Você sabe, que é nosso aniversário de casamento e gostaria muito que você estivesse aqui conosco para comemorar. Vou fazer um jantar para receber nossos familiares e uns poucos amigos. E como você já vai está de férias... que tal se você passasse pelo menos uns quinze dias aqui conosco? _ Fico em silêncio constrangedor por um tempo e sem saber o que responder. Quinze dias no Brasil significa esbarrar com Kevin em algum momento.

_ Lilian?_ Ela me desperta dos meus devaneios.

_ Oi, estou aqui. _ Puxo uma respiração baixinha. _ Tudo bem, mãe, eu vou para o aniversário de casamento de vocês, mas não posso dizer nada quanto aos quinze dias.

_ Vamos fazer assim, querida, você vem para o Brasil, curte o nosso aniversário, e depois você vê quanto tempo pretende ficar. Tudo bem? _ sugere alegre.

_ Claro, mãe, vamos fazer assim então. _ Sorrio do seu jeito moleque, de tentar me manipular. Eu amo minha família! Amo de paixão o meu país e sinto muito falta de estar perto deles. Quando estava na faculdade, sonhava em me formar e montar meu próprio consultório e depois disso, me casar com o grande amor da minha vida. Mas tudo mudou do dia para noite e até hoje eu ainda não entendi como tudo aconteceu. As imagens são como um borrão em minha cabeça e minha família até hoje, não sabe nada sobre nosso rompimento. Depois que ele me deu as costas, o idiota que causou todo esse rebuliço, simplesmente saiu correndo do quarto. Passei dias tentando me aproximar do meu namorado outra vez, queria explicar lhe o que havia realmente acontecido, mas Kevin se negou a me ouvir e me desprezou. Desnorteada, inventei um intercâmbio aqui em Nova York, e aqui eu fiquei até hoje. Dois anos se passaram, dois longos anos que não o vejo, sequer nos falamos. Não sei como será essa volta para o Brasil após tanto tempo. Respiro fundo mais uma vez. Talvez ele nem esteja mais lá Lilian. Falo para mim mesma. Talvez ele até já tenha se casado, e talvez... Não concluo meus pensamentos, pois só de pensar em Kevin com outra mulher e formando uma família com ela, me machuca muito.

_ Tudo bem, mãe! Na segunda começo a resolver essa questão das minhas férias por aqui, na terça compro minhas passagens, e te ligo para avisar o dia e a hora do voo. Tá bom assim?

_ Está ótimo, filha! _ Ela festeja e isso me faz rir. _ Vou avisar para o Luís e para Ana, eles vão ficar felizes de saber que você vem para casa _ fala com muita empolgação na voz e isso me deixa feliz. Minutos depois me despeço dela, deixando beijos para todos e em seguida saio para fazer umas compras. Pretendo levar presentes para todos, inclusive para a criançada. De certa forma estou muito feliz por voltar ao meu país e rever a minha família, e alguns amigos. Poder abraça- los outra vez e falar com eles, ver como os meus sobrinhos que com certeza, cresceram durante esse tempo, me deixa radiante e triste ao mesmo tempo. Eu sou louca por crianças e apaixonada por meus sobrinhos. Sempre planeei acompanhá-los e estar sempre por perto. O fato de ter perdido parte da infância deles, me deixa desgostosa. No final da tarde, chego em casa, com as mãos cheias de sacolas e de caixas, e muito feliz, mas, não vou mentir, estou apreensiva com essa viagem. Penso em como serão esses dias no Brasil? Espero não encontrar com uma certa pessoa... e se encontrá-lo, espero ter forças para erguer minha cabeça e encarar essa situação de uma vez por todas, a final de contas, tenho minha consciência limpa, e sei que não sou culpada de nada. Em meu quarto, pego uma de minhas malas e começo a arrumar alguns presentes dentro dela. Estou muito empolgada e feliz. Depois de um banho rápido, me sento na frente do computador, com uma caixinha de comida chinesa e começo a ler algumas notícias locais, para me distrair. Algumas horas depois, estou na cama, cheia de ansiedade e sorrindo a toa. E que venham minhas férias e com elas, o Brasil, a minha família e todo o amor que eles têm para me dá. O resto eu vejo depois.

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