Capítulo 2
Por kevin Lacerda
_ Senhorita Karla, pode por favor ligar para os irmãos Maskovits e avisar que chegarei atrasado para o almoço? Uns vinte minutos no máximo e estarei lá _peço para minha secretária por telefone, enquanto termino de ler alguns contratos que estão em minha mesa.
_ Claro, senhor! Farei isso agora mesmo. _ Desligo o telefone e termino de ler para logo enviar alguns e-mails. Desde que me formei em administração, em uma das melhores universidades aqui do Brasil, meu pai resolveu afastar-se da presidência, me deixando em seu lugar. Ser um CEO da rede de tecnologia me deixa em um corre-corre extremo. Quase não tenho vida social, escapulindo ocasionalmente em alguns finais de semana, com Ricardo Rosa, meu melhor amigo desde sempre. A verdade é que esse cara, é mais que um amigo para mim, ele é como um irmão, que segurou uma barra tremenda comigo, em um dos piores momentos da minha vida, quando eu quase fiz uma loucura com a minha própria vida. Desde que... droga! Prefiro não comentar esse maldito episódio, se quer pensar no que aquela mulher me fez.
Arrumo alguns papéis dentro da minha pasta e saio do escritório, para ir a um restaurante italiano, que fica na avenida principal do Rio de Janeiro. Se fecho esse contrato com os irmãos Maskovits, nossa! A empresa vai para um patamar ainda mais alto no ranking internacional de tecnologia. Estou super entusiasmado com as novas expectativas que esse contrato pode nos trazer.
Entro no carro negro da empresa, que tem os vidros blindados, e Joás, meu motorista e segurança pessoal dirige, enquanto me concentro nos papéis referentes a reunião que acontecerá em alguns minutos.
Ao chegar no restaurante, sou recebido pela brisa suave que vem do mar, que fica a poucas quadras da avenida. O sol quente me aquece, renovando as minhas energias e um meitre, vestido com elegância, me guia até a mesa onde, os homens me aguardam. Yuri Maskovits é um homem alto, muito alto e careca, e Romão Maskovits é tão alto quanto seu irmão, porém não se parece em nada com seu irmão mais velho. Assim que me aproximo, nos cumprimentamos com apertos firmes de mãos e logo nos acomodamos, Romão beberica o uísque que está em sua mão e Yuri apaga seu charuto. Ele me sorri e acena com dois dedos para o garçom.
_ Bom te ver de novo, Kevin Lacerda! Fiquei feliz em saber que você viria pessoalmente a esse almoço! _ Yuri disse satisfeito. Somos grandes amigos desde o intercâmbio que fiz na Rússia a alguns anos. Desde então mantivemos contato, e agora ele será um dos meus melhores clientes, representando a empresa em seu país.
_ Não podia mandar um assessor para atendê-los meu amigo. Assim podemos falar de negócios e ainda matarmos a saudade dos velhos tempos _ comento e sorrio, dando tapinhas cordiais em seu ombro.
_ Claro que sim. Será um prazer relembrar nossas facetas na Rússia. _ Ele riu satisfeito. Durante o almoço falamos sobre a mais nova tecnologia da nossa empresa; um micro chip, usado para rastreamento e localizar pessoas sequestradas ou desaparecidas, ou coisa do tipo. Os Maskovits trabalham com uma rede de empresas de segurança internacional. Eles são responsáveis pela segurança de pessoas muito importantes como, alguns artistas renomados, presidentes e senadores e entre outros e estão bastante empolgados com o avanço dessa nova tecnologia, que com certeza, facilitará o trabalho de ambos e os ajudará a avançar no quesito segurança de sua empresa.
Após mostrar-lhes como funciona o micro-chip, e todos os seus pontos mais do que positivos, fechamos negócio com a estimativa de bilhões de dólares em um contrato anual. E logo estávamos conversando descontraidamente sobre os tempos do intercâmbio, onde fiquei alojado na casa dos seus pais e curtimos muitas noitadas juntos, azarando muitas garotas gostosas, e na maioria das vezes sempre terminávamos com elas em uma cama de motel. Duas horas depois, encerram o almoço de negócios com um abraço apertado e os irmãos seguiram direto para o aeroporto e eu para a empresa.
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Na empresa, sigo tarde a dentro entre uma reunião e outra, e perto das dezoito horas, vou para o meu apartamento
Na empresa, sigo tarde a dentro entre uma reunião e outra, e perto das dezoito horas, vou para o meu apartamento. Depois de um dia corrido e exaustivo, tomo banho demorado e saio para casa dos meus pais, pois, todas as sextas costumemos jantar juntos. E como sempre, aproveito para deixar meu pai informado dos últimos acontecimentos da empresa.
_ Filho, demorou muito hoje! Pensei que não vinha mais. _ Minha mãe, Célia Lacerda, me recebe com um abraço carinhoso e me dá espaço para entrar na casa, onde passei dias felizes da minha infância e adolescência. É uma casa de campo enorme, composta de três andares, com um jardim imenso, onde corri e brinquei muito com minha irmã e com alguns amigos. Meu pai Gabriel Lacerda, se levanta do sofá assim que me ver e me abraça apertado.
_ Descupe a demora, tive um dia cheio na empresa hoje. Mas, tenho muitas novidades para lhe contar. O senhor vai gostar de saber dos novos contratos que conseguimos para empresa.
_ Depois do jantar, filho. Agora quero saber como você está ? _ Ele pede com um tom sério.
_ Estou bem, pai, vivendo a vida como sempre.
_ E a vida social? _ Minha irmã, Karina, pergunta descendo as escadas e me abraçando em seguida. Reviro os olhos pra ela. É incrível como ela tem pego no meu pé em relação a minha vida pessoal!
_ O que tem a minha vida, Karina? _ inquiro em tom seco.
_ Quero saber se você tem saído, se tem namorado. Essas coisas, ou tem se afundado em trabalhos como sempre?
_ Minha vida social vai muito bem, obrigada! _ Beijo sua testa e me afasto. _ Você não precisa se preocupar com isso. _ Abraço minha mãe com muito carinho. Ela sorri e ela retribue o meu gesto. Eu amo a minha irmã, nós sempre fomos muito unidos e sempre cuidamos um do outro. Ela sempre me dá a maior força. Até parece que ela é a irmã mais velha dessa relação e não eu.
_ Sabe que eu me importo com você, meu querido, sempre! _ ralha e beija a minha bochecha, voltando a me abraçar.
_ Mas não precisa, karina, é sério, eu estou bem! _ Maria surge na sala, avisando que o jantar está servido, o que me anima bastante, porque adoro sua comida e estou faminto.
Maria trabalha com minha mãe desde que somos pequenos, ou seja , desde sempre. Ela é uma senhora de cabelos grisalhos, que vivem sempre presos em um coque severo e aparenta ter pelo menos uns cinquenta anos. Vamos todos para a sala de jantar conversando animadamente e durante a conversa, minha mãe soltou que Lilian Alcântara estava vindo ao Brasil para o aniversário de casamento dos seus pais. Meu coração acelerou só de ouvir a notícia. Não devia, mas esse traiçoeiro ainda se anima só de ouvir falar esse nome. Um desconforto começa a tomar conta de mim e logo sinto o olhar de Karina em cima de mim, mas eu procuro não olha-la nos olhos não quero que ela perceba que essa mulher de alguma forma ainda mexe comigo.
Deixe-me eu explicar um pouco dessa situação pra vocês entenderem melhor. Eu, Karina, Luís e Lilian somos amigos de infância, estudamos juntos durante todo o colegial e eu sempre nutri uma paixonite por ela. Mas foi quando eu e Lilian fomos para a faculdade juntos que acabamos nos envolvendo intimamente. Sim, fomos para a mesma universidade, ela estudava psicologia e eu administração. Na época eu dividia um apartamento com um amigo e ela dividia um quarto no dormitório da faculdade com outra garota. Durante três anos namoramos firme, foi um namoro quente, envolvente e eu me apaixonei ainda mais por ela. No último ano da faculdade quis fazer uma surpresa e resolvi comprar uma aliança de compromisso, queria noivar com ela, mas penso que os meus planos não eram os planos dela.
_ Você ficou calado de repente, filho. _ Minha mãe me trouxe de volta ao presente.
_ Só estou... pensando em uns negócios que deixei pendentes... para próxima semana _ menti descaradamente. Não gosto de mentir para minha família, mas não quero falar sobre esse assunto, não na hora do jantar, e com a minha família. Tão pouco falar do meu passado. Sinto raiva só de pensar nele. Todos em minha família sabiam sobre nosso namoro, sobre meus planos de noivar e tudo mais, porém o que ninguém sabe até hoje, é como tudo acabou ou o porquê de ter acabado. A única pessoa que sabe de toda essa história sórdida é o meu amigo Ricardo Rosa, porque ele foi o único que viu como eu fiquei transtornado naquela maldita noite e o quão desesperado eu fiquei.
_ Na hora do jantar não querido, por favor! _ Minha mãe pediu carinhosamente.
_ Desculpe, mãe, não voltará a acontecer. Prometo. _ Então toquei no assunto da viagem de Karina para Marrocos e todos entram no embalo do assunto, e eu agradeci a Deus. O jantar fluiu tranquilamente, com assuntos variados e descontraidos, e depois de uma boa xícara de café, eu e meu pai fomos para o escritório e lhe deixei a par de tudo sobre a empresa.
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_ Você ficou diferente quando sua mãe mencionou a vinda de Lilian ao Brasil
_ Você ficou diferente quando sua mãe mencionou a vinda de Lilian ao Brasil. _ Papai comentou em meio ao assunto do escritório e eu fiquei rígido na mesma hora. _ Ainda gosta dela, filho? _ inquiriu, seus olhos curiosos estavam nos meus.
_ Impressão sua, papai. Não me incomoda a sua vinda ao Brasil, eu só fiquei surpreso. E não, não sinto mais nada por ela. _ Minto, porque só eu sei como estou por dentro, só de pensar em vê-la outra vez.
_ Eu nunca entendi. Vocês se amavam tanto, e de um dia pra o outro não existia mais nada entre vocês. Como um sentimento tão lindo desapareceu assim, do nada?
_ Porque esse assunto agora, papai?_ pergunto me sentindo irritado. Sério, não gosto de pensar nessa mulher, quanto mais falar dela _ As coisas não deram certo entre nós, só isso. Não era amor e pronto, cada um seguiu com a sua vida! _ falei um tanto alterado.
_ Tudo bem! _ Ele ergueu suas mãos. _Não está mais aqui quem falou! _ Respiro fundo quando noto que quase perdi o controle.
_ Ótimo! Eu tenho que ir, tenho alguns compromissos amanhã cedo e vou ter que madrugar pra não perder a hora. _ disse levantanado da cadeira e abraço o meu pai, que não parece nada convencido com as explicações que lhe dei. Dou de ombros, e saio do escritório, para me despedir de minha mãe e de minha irmã, e saio logo em seguida.
Trancado em meu apartamento penso na melhor maneira de não ir nesse aniversário de casamento. Não quero ter que bater de frente com a mulher que me enganou da forma mais traiçoeira possível. Eu a odeio e não sei do que serei capaz de vê-la na minha frente mais uma vez. Não vejo Lilian desde... porra, dois anos se passaram e a raiva que sinto ainda é tão intensa quanto no dia em que peguei os dois juntos. Como pude me iludir tanto com uma pessoa?
Transtornado, pego uma garrafa de uísque no bar de canto e me jogo no sofá, levando o gargalo direto na boca, e enquanto me alimento da raiva, me embebedo até cair como morto ali mesmo.
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