Capítulo I
Sabe aquelas decisões que marcam nossas vidas para sempre? Eu tinha tomado uma dessas, precisei largar meu marido e ir morar com minha melhor amiga em uma cidadezinha perdida no mapa.
Estava começando a acreditar que o amor não era para mim, meu segundo casamento e estava acabado assim como o primeiro.
Bruno foi meu primeiro amor, namoramos na escola, ele foi meu primeiro homem e nos casamos assim que acabei o ensino médio. Mas as coisas ficaram ruins, rápido de mais.
Depois de alguns anos eu conheci Paulo, mais novo que eu e me fez cair de amores por ele rapidamente, não nos desgrudávamos, o homem era maravilhoso em todas as áreas da vida. Mas quando descobri a gravidez alguns meses atrás ele surtou, disse que não estava pronto para ser pai e que tinha outros planos para nós dois, me implorou que eu fizesse um aborto e quando me neguei ele alertou que não estaria lá para cumprir seu papel.
Eu tinha deixado meu emprego como paisagista, entrado na merda da ideia dele de ficar em casa e deixar que ele cuidasse de mim, também vendi minha casa. Eu não tinha nada, precisei até mesmo vender meu carro para ter algum dinheiro para me manter, afinal ninguém queria contratar uma mulher grávida.
Quando Julia ficou sabendo do que estava acontecendo não hesitou em me chamar para morar com ela, minha amiga era veterinária nas fazendas dessa cidade pequena, tão pequena que mal aparecia no mapa: Santa Maria.
— Nem acredito que você chegou! — ouvi seu grito ecoando na rodoviária vazia.
— Nem eu acredito que consegui achar esse lugar!
Nossos corpos se chocaram e nos agarramos em um abraço apertado, matando a saudade, não nos víamos há seis meses.
— Você vai adorar essa cidade, é pequena sim, mas as pessoas aqui são maravilhosas. — ela se afastou por um momento e encarou minha barriga. — Como está nossa princesinha ou principezinho?
— Crescendo a cada dia e me deixando faminta.
Minha barriga ainda estava plana, ninguém que me olhasse diria que eu estava grávida, mas ainda sim ali estava eu.
— Vem, eu vou te mostrar tudo. — ela pegou meu braço e saiu me puxando pela rua, até seu carro. — Eu vou precisar trabalhar amanhã, mas prometo que final de semana vou te mostrar a cidade toda.
— Você não tem que ficar comigo o tempo todo, já fez muito me ajudando nesse momento, nem sei o que seria de nós dois sem você.
— Não tem que me agradecer por isso, você faria o mesmo por mim.
Ela me levou até sua casa, aquela de tipo perfeito de filme americano, com cercas brancas em volta do quintal, a casinha amarela e as janelas brancas. Era perfeito, o que eu teria sonhado para minha família.
Bem agora seria uma família, família de dois, mas ainda sim era uma família.
Entramos em casa e Julia não parava de tagarelar sobre o que faríamos no dia, ela tinha planos de almoçarmos e ir até o centro, dar uma volta nas lojas e a noite ela me levaria para conhecer o point mais badalado da cidade.
— Inferno! Eu ainda vou matar esse infeliz. — Julia gritou olhando o celular e por um segundo pensei que ela iria jogar o aparelho no chão.
— Tudo bem ai?
— Meu chefe é um pé no saco, tirei o dia de folga para te receber e ele decidiu agora que precisa de mim. — ela rosnou.
— Está tudo bem, pode ir eu vou ficar bem.
— Amiga, eu tirei hoje pra ficar com você, era o seu dia...
— Julia. — a interrompi, ela parecia um trem desgovernado, falando sem parar. — Eu vou ficar bem, consigo me virar. — me aproximei dela e segurei seus ombros. — Vai até lá e trabalha tranquila, quando você chegar vamos nos enturmar. Vou aproveitar para descansar um pouco.
Ela suspirou sabendo que não tinha escolhas e pegou a bolsa que tinha largado no sofá.
— Tem comida na geladeira, o almoço está pronto e eu volto assim que aquele pé no saco me liberar.
Eu sai com ela, a acompanhando até o portão, Julia cruzou o a cerca e entrou no carro acenando para mim. Eu assisti ela ir embora e fiquei aproveitando um pouco mais os raios de sol.
— Ei querida, pronta pra botar pra quebrar essa noite? — ouvi a voz masculina gritando do lado direito e me virei a tempo de ver um homem, fechando a porta da casa ao lado. — Não vejo a hora de ver esse quadril balançando.
Eu era a única pessoa ali na rua, ainda olhei em volta, me certificando que não tinha alguém na rua, ou o idiota poderia estar falando no telefone.
— O que você disse? — respondi e ele rapidamente se virou.
O homem alto e loiro, me encarava do primeiro degrau da sua varanda, seus olhos azuis se arregalaram e ele deu um sorriso nervoso.
— Perdão, olhei de relance e jurei que era a Julia. Não sabia que ela tinha visita em casa.
— Entendi. — me virei dando a volta, em direção a casa.
Julia tinha que ter um vizinho tarado assim? Ia conversar com ela sobre isso, porque aquela safada não tinha dito que estava pegando o vizinho?
— Sou o Jack! — ouvi a voz ainda mais perto e quando olhei ele estava debruçado sobre a cerca. — E você?
Semicerrei os olhos encarando o homem enxerido, ele estava vestido com uma jaqueta preta e, apesar do calor, ele parecia não se importar de estar vestido todo de preto.
Ele esticou a mão e ficou esperando que eu voltasse o caminho para apertar sua mão. Não pude deixar de notar as pontas dos dedos escuras, algo como graxa entre as unhas.
O ousado sacudiu a mão, lembrando que estava ali pendurado esperando que eu fosse até ele.
— Sou Alicia. — murmurei desviando o olhar da sua mão, para seus olhos.
O sorriso estampado em seu rosto, me dizia que ele estava se divertindo as minhas custas.
Subi os degraus e entrei em casa, antes que pudesse fechar a porta ele gritou:
— Foi um prazer conhecê-la! — esse Jack não tinha noção mesmo.
Peguei meu celular no mesmo instante e enviei uma mensagem para Julia, perguntando desde quando ela estava ficando com o tal de Jack e porque eu não estava sabendo de nada.
Ouvi o ronco do motor alta e não me segurei, me curvei contra a janela e vi ele sair em uma moto potente. Ele tinha acabado de despertar toda a vizinhança silenciosa.
— Maluco. — resmunguei ainda grudada no vidro, antes de voltar a realidade.