Capítulo IV
Eu deveria me afastar, deveria ter feito o que falei para Julia e me manter distante, apenas cuidando dela de longe. Mas ali estava eu, com a mão estendida esperando que ela aceitasse meu convite para almoçar.
Alicia parecia relutar, um briga interna acontecia, dava para notar pelo seu olhar. Mas o lado perverso dela deve ter ganhado, porque ela deslizou a mão delicada e macia sobre a minha e eu senti uma corrente atingir meu corpo.
Seus olhos se arregalaram levemente e isso me deu a confirmação de que não fui o único a sentir, ela começou a recuar com a mão, mas fui mais rápido e segurei firme em seus dedos. Ela não ia escapar tão fácil assim.
— Vem, vamos almoçar. — fiz minha melhor expressão de quem não sabia o que estava acontecendo e a puxei comigo.
O restaurante Casa di Nonna era o melhor daqui, eu torcia para que Alicia gostasse de comida italiana.
Andamos em silêncio até o fim da rua e eu apontei o lugar para que ela entrasse na frente, depois que escolhemos uma mesa eu puxei a cadeira ajudando ela a se sentar, mesmo que parecesse estar travada perto de mim e não como costumava ser briguenta e afrontosa.
Eu deveria agradecer por isso, porque seu lado altivo só me deixava ainda mais excitado, com ela em silêncio, parecendo envergonhada, eu podia ao menos observá-la melhor.
— Boa tarde. — Erick, o garçom e meu amigo nos cumprimentou entregando o cardápio.
— E ai cara, qual o prato do dia? Ouvi que tem aquela lasanha maravilhosa hoje.
— Tem e não é porque é minha chefe, mas Nonna caprichou. — Nonna não era o nome verdadeiro da cozinheira de mão cheia, mas começamos a chamá-la assim e acabou pegando.
— A lasanha daqui é maravilhosa, precisa provar. — Alicia parecia indecisa com o que pedir, olhando o cardápio de um lado ao outro. — Se não gostar de massa eles tem outros pratos. — ela acenou concordando e suspirou ao fechar o cardápio.
— Pode ser a lasanha, está ótimo. — ela disso, mas não parecia muito animada com isso.
— Duas lasanhas então. — Erick se afastou com nossos pedidos e eu me dei mais tempo para encarar a mulher a minha frente.
Ela não queria a lasanha, mesmo assim aceitou minha sugestão por quê? Será que estava de dieta? Ou era algum desejo de grávida?
— Você está com cara de quem queria comer outra coisa. — murmurei tentando puxar assunto. — Se quiser podemos cancelar e pedir outra coisa.
— Não, não é isso.
— Queria uma salada? Ou algum desejo esquisito? — perguntei e ela deu um sorriso fofo pela primeira vez desde que a conheci.
— Sabe que eu não sou o tipo que vive de salada, não é? Meu corpo já fala por si só. E não tive nenhum desejo de grávida ainda. — então ela suspirou deixando os ombros caírem e encarou seus dedos antes de sussurrar. — Eu não deveria esta gastando, ao menos enquanto não arrumar um emprego.
Ahh era esse o motivo então, ela estava achando que eu a deixaria pagar.
— Mesmo que você tivesse um milhão, eu não te deixaria pagar, afinal fui eu quem chamou — ela me olhou por entre os cílios, parecendo sem graça por ter de assumir isso. — Pensando bem se você fosse milionária teria que pagar sim.
Seu sorriso tímido apareceu e eu já fiquei mais aliviado.
— Você parece ser uma pessoa legal, dá pra ver porque a Julia gosta de você.
— Ela não gosta de mim, só me tolera porque sou o único vizinho legal que ela tem. — Menti, pois todos ali na nossa vizinhança eram ótimos, mas isso arrancou uma risadinha dela, então valeu a pena.
— Deve achar ridículo, uma mulher na minha idade, sem casa, carro, emprego ou qualquer dinheiro para se manter...
— Deixe eu interrompe-la bem ai, não acho ridículo e se achasse você deveria me mandar se foder, pois ninguém tem que dar opiniões sobre a vida do outro.
Essa era a verdade, eu já tinha estado ruim na vida, mal a ponto de não ter nada para comer e se aprendi uma coisa com tudo isso é que não devemos julgar ninguém.
Alicia mordeu os lábios e seus olhos ficaram marejados, caramba não queria que ela chorasse, eu era péssimo para lidar com isso, muito menos antes de comer.
— Eu tive um mau casamento... na verdade dois, mas o que me ferrou mesmo foi esse último, que me fez abrir mão de tudo o que me dava independência, apenas para me abandonar quando me recusei a fazer um aborto.
Fiquei calado, tentando assimilar o que ela tinha dito, só tentando mesmo, porque nem se o inferno congelasse eu conseguiria assimilar. Então fui salvo pelo gongo quando nossa comida chegou, graças aos céus porque se eu abrisse a boca agora sairia uma enxurrada de xingamentos.
Julia devia ter me avisado sobre isso, sobre tudo o que a amiga estava passando, além de dizer que uma amiga estava vindo morar com ela, ela só falou que Alicia estava grávida e que estava fugindo de homens.
Comecei a devorar minha comida, Nonna como sempre não decepcionava, a lasanha estava dos deuses. Mas um som me fez calar meus pensamentos e me forçou a olhar para a mulher a minha frente.
Alicia tinha os olhos fechados, enquanto mastigava a garfada que deu, soltando pequenos sons de prazer que me fizeram ter uma porção de pensamentos indecentes.
— Vejo que sua amiga também adorou. — me virei para o lado, notando Erick ainda parado, babando nela.
Era difícil resistir, eu sabia disso, não fazia nem uma semana e já era um verdadeiro martírio ter que olhar para ela sem poder tocá-la e fazê-la gritar de prazer.
— Vaza Erick. — resmunguei e ele saiu, não antes de se tocar que estava encarando-a por tempo de mais.
— Isso aqui sem duvida é a melhor lasanha que eu já comi, sem brincadeira nenhuma isso tá uma delícia! — ela finalmente abriu os olhos e voltou a comer. Enquanto eu? Eu estava sem saber o que falar sobre ela e todas as sensações que ela estava me causando.
— Eu avisei. — foi tudo o que murmurei antes de atacar a minha.
Nosso almoço seguiu assim, não conversamos mais sobre os problemas da vida, apenas falamos da comida e de como a vida ali era pacata. E eu agradeci por isso, não sabia se conseguiria me manter calmo se ela voltasse a falar do ex de merda.
Me ofereci para levá-la em casa, mas ela insistiu que andar era bom para ela e para o bebê e eu até fiquei aliviado que ela tivesse escolhido ir de pé, pois tinha certeza que seria uma viagem de pau duro, enquanto suas pernas estivessem em volta do meu quadril e eu sentindo seus seios apertados contra minhas costas.
— Obrigada de verdade pelo almoço. — agradeceu pelo que deveria ser a decima vez, enquanto caminhávamos para fora do restaurante. — Se eu puder agradecer de alguma forma é só me dizer.
— Você pode me agradecer indo pra minha casa e me esperando nua na cama, porque eu pretendo fazer você gemer meu nome várias vezes essa noite.
Isso era o que eu queria ter dito, mas tudo o que respondi foi.
— Não tem nada que agradecer, foi um prazer. — acenei pra ela me afastando, querendo colocar uma certa distância entre nossos corpos. — Nos vemos a noite.
Ela acenou um tchauzinho e seguiu na direção oposta, eu tentei não ser um cafajeste, mas foi mais forte do que eu e precisei me virar para ver o rebolado daquele quadril naquele vestido florido.
Alicia, alicia... se você fosse minha, mesmo que por uma noite, ia deixar esse traseiro dolorido com minhas estocadas e tapas.