Encontro
Valentin suspirou frustrado ao caminhar pelo seu hotel. Apesar de estar naquela cidade em busca de vingança tinha que admitir que o clima era muito propicio para o relaxamento e isso o estava deixando-o louco. Por onde passava os funcionários o cumprimentava com elegância. A rede de hotéis Magno era conhecida em todo o mundo como uma das melhores do mundo tendo conceito A em todas as pesquisas. Tudo devido ao seu empenho durante anos. Olhou para os lados observando as pessoas que entravam e saiam sem dar-se conta do quanto era difícil administrar um lugar como aquele. Ajeitou o seu terno ao parar em frente ao elevador. Seus pensamentos estavam repletos pelas imagens de seu irmão desde novos ate o dia em que o vira morto sentiu a amargura tomar conta de seu coração e culpou, mais uma vez, Jessy Smiths pelo o que havia passado durante todos estes anos. A culpou pelo seu sofrimento e dos seus pais. A culpava pela morte de seu irmão.
“Não irá demorar para pagar por tudo” pensou ao entrar no elevador e apertar o ultimo botão.
***
Emilio olhou com desalento para Jessy, fechou os olhos por alguns segundos antes de falar o veredito comprado pelo misterioso homem. Desde o momento em que ela havia entrado naquela sala de RH, ele havia simpatizado com o seu jeito gentil e carismático, entretanto não poderia fazer nada para ela naquele momento, pois dependia do dinheiro para terminar de pagar a sua casa.
–Sente-se – Emilio disse sério ao vê-la ajeitar a sua saia preta de pregas antes de sentar-se em sua frente – trabalha conosco há um bom tempo, não é? – ao vê-la assentir prosseguiu – seu serviço é próximo do perfeito de tão impecável. Tanto que virou nossa sub gerente em tempo recorde, eu lhe entregarei uma carta de referencia exemplar e..
–Um momento – ela o interrompeu séria – esta me despedindo?
–Infelizmente temos que cortar pessoal devido ao orçamento.
–E esta colocando uma pessoa que tanto elogiou para fora sem ao menos um motivo justo? – indagou ultrajada ao vê-lo ficar sem graça e em silencio – é isso mesmo?
–Infelizmente sim.
Jessy nada mais disse, apenas se levantou saindo da sala com a indignação presa em sua garganta. Caminhou séria ate a área dos funcionários onde pegou as suas coisas, guardando-as de qualquer jeito em sua mochila que deixava guardada no armário. Ao perceber o que tinha acontecido que encontrava-se sem trabalho e sem dinheiro, deixou as lagrimas caírem pelo seu rosto em sinal desespero ajoelhou-se no chão.
–Papai... o que será de nós agora? – indagou-se em meio as lagrimas.
Há dois anos o seu pai encontrava-se internado em um hospital a renda de seu trabalho era a única que possuía para se manter e para pagar o tratamento dele.
–Oh Victor.. o que será de nós agora?
***
Um sorriso perverso surgiu nos lábios de Valentin ao receber a ligação de Emilio. Ao escutar que Jessy havia sido enfim despedida sentiu uma alegria invadir o seu ser. Apesar de ter sua vingança planejada ainda não a tinha visto desde que chegara.
–Está na hora de nos conhecermos – murmurou assim que desligou o telefone.
***
Jessy abriu a porta de seu, pequeno, apartamento e ao entrar deixou a sua mochila no chão sem importar-se com nada. Ela estava desolada demais para ter alguma reação que não fosse chorar e rogar aos céus por uma solução. Caminhou ate a mesinha de centro, segurou a foto que encontrava-se nela e chorou abraçada a ela. Continuou chorando ate as lagrimas secarem e não restar mais nada. Olhou para o homem com quem estava abraçada na fotografia e sorriu.
–Sinto a sua falta. Se estivesse aqui, iria me ajudar, não é? – murmurou ao passar o dedo onde tinha a imagem dele. –Já faz um tempo que não vou lhe ver, acho que chegou a hora.
A vida de Jessy resumia-se em cuidar de seu pai doente e de trabalhar. Para ela, não havia alegrias ou tristezas tudo se resumia a sua vida. Levantou-se do sofá deixando o porta-retratos em cima do sofá. Ao chegar em seu quarto, despiu-se seguindo em direção ao banheiro onde tomou um longo e demorado banho. Saiu com os olhos avermelhados e decidida a fazer algo de sua vida. Colocou uma calça jeans e uma blusa simples branca juntamente com um casaco e saiu de casa com um envelope em mãos.
“Ficar aqui me lamentando não me trará nada de bom.” Pensou ao lembrar-se do que Victor costumava lhe dizer.
A cidade encontrava-se tumultuada pelo horário do fim de tarde, uma mulher de estatura media e cabelos castanhos parecia não se importar em passar por elas decidida. Entrou em todos os hotéis que encontrava afim de colocar currículos. Ela não havia desistido de viver e nem de lutar. Horas depois parou em frente ao grande hotel Magno e suspirou admirada ao ver a estrutura tão formosa. Ficou sem jeito de entrar, mas logo consertou a sua postura e seguiu em frente. Andou pelo saguão que ostentava riqueza e poder, parou em frente a recepção tentando sorrir.
–Boa noite – cumprimentou solicita – vim colocar um currículo, deixo aqui ou devo entregar no RH?
–Poderá deixar aqui conosco – a atendente falou séria ao pegar o envelope que Jessy lhe estendia – tenha uma ótima noite, senhorita.
–Igualmente – disse ao olhar para o envelope mais uma vez com a sensação de que nunca seria chamada para uma entrevista sequer ali. Deu as costas e ao caminhar pelo saguão estancou ao ver um homem caminhar próximo a ela. O seu coração começou a bater de forma acelerada sem conseguir conter-se foi em sua direção. Segurou em seu braço, fazendo com que ele parasse e a olhasse com estranheza.
Jessy olhou para o homem a sua frente com emoção. Seus olhos estavam cheios d’agua. As lagrimas caiam e ela não tentava segurar, pois havia sonhado com aquele momento. Seu sonho mais secreto havia sido realizado. Aproximou-se do homem, levou a mão a sua face e ao lhe tocar reprimiu um grito. O abraçou abruptamente, agarrando-se a ele o máximo que conseguiu. Não se importou com os murmúrios e muito menos com a frieza dele, apenas agarrou-se o máximo que conseguiu, pois temia que algo acontecesse.
–Victor.. como é possível? É você mesmo, certo? – murmurou emocionada.
–Victor? A algum tempo não escuto esse nome – falou friamente ao sentir as lagrimas da mulher em sua roupa. Ficou inerte por um tempo ate esboçar um sorriso cruel – ate quando pretende ficar assim comigo, senhorita?
–C..como?
–Se continuar desta forma irei pensar que esta se insinuando para mim e não sou homem de meias palavras.
–Quem.. é você? – perguntou ao se afastar do homem que lhe lembrava o doce Victor.
–Valentin Alexander Magnos, sou o dono da rede de hotéis Magno – falou com altivez.
A voz de Valentin conseguiu fazer com que um tremor surgisse no corpo de Jessy, algo nele lhe dava medo. Ela cambaleou para trás sentindo as suas faces ficarem rubras de vergonha, mas ao encará-lo por alguns segundos ficou atônita.
–És idêntico a ele – murmurou impressionada – como isso é possível?
Valentin a olhou por alguns antes de sorrir ironicamente.
–Pretende tomar a minha atenção por quanto tempo? Sou um homem onde cada segundo é muito precioso. Se estava pretendendo me seduzir ou sabe-se lá o que tente vestida apropriadamente para isso.
O primeiro impulso de Jessy seria desculpar-se, limpar as lagrimas e afastar-se o mais rápido possível, entretanto não conseguiu conter-se como estava habituada a fazer. Ao olhar para o rosto a sua frente, o mesmo rosto que pertencera ao homem que amava, sentiu uma dor invadir o seu coração. Com a força que não sabia existir, ergueu a mão e proferindo um tapa na face do homem arrogante deixando a todos perplexos. Ninguém acreditava no que estava vendo a sua frente. Valentin ao sentir o tapa em sua face não conseguiu pensar em nada que não fosse rir, pois estava divertindo-se em ver alguém como ela. A olhou com o olhar impassível.
–Imagino que isto seria uma forma de demonstrar o seu descontentamento com o meu comentário.
–Não. Nunca me importei com o que falavam sobre mim – disse enfrentando-o sem importar-se com as lagrimas em seu rosto – mas não suportei ver o mesmo rosto que me fez.. amar desta forma. Isso é..
–Ultraje? – indagou ao prestar atenção as palavras dela com cuidado – sou parecido com algum amor seu? Algum que lhe abandonou ou..que fizestes sofrer?
–Isso não é... é algo particular – murmurou com a voz fraca diante das recordações.
–Que seja, senhorita?
–Smiths. Jessy Smiths – respondeu sem perceber o olhar diabólico que lhe fora lançado. Ela murmurou algo inaudível, deu as costas a Valentin e saiu caminhando confusa com seu corpo tremulo. Suas mãos tremiam, seus lábios igualmente e sua vista encontrava-se embaçada. Antes de passar pela porta sentiu uma vertigem assolar o seu corpo e logo tudo escureceu. Ao tentar se apoiar na parede mais próxima caiu no chão atraindo a atenção de algumas pessoas. Valentin não conseguira retirar os olhos da mulher que o abraçara imaginando ser o seu irmão e ao vê-la cair no chão imaginou ser mais um artifício feminino, entretanto ao passar do tempo percebeu estar enganado. Foi ate onde ela estava, ajoelhou-se ao seu lado, pegou em seu pulso consultando a sua pulsação.
–CHAMEM UMA AMBULÂNCIA – gritou para os seus funcionários. Ficou parado observando-a cuidadosamente indagando-se o motivo daquilo tudo estar acontecendo –“Talvez seja Victor. Ele deve estar querendo que eu me vingue por ele” pensou.