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Retrospectiva

Anos atrás...

O sol brilhava forte em contraste com o clima frio que fazia na cidade. Inúmeras pessoas se amontoavam pelas cafeterias da cidade dentre elas um jovem charmoso que atraia olhares das mulheres por onde passava. Ele adentrou em uma cafeteria e sorriu diante da fila formada no caixa. Retirou o aparelho celular de seu bolso, colocou os fones em seu ouvido não demorando para apreciar cada minuto em pé. Estava tão distraído que não percebeu ter chegado a sua vez que só percebeu quando avistou uma jovem de longos cabelos castanhos o olhando com curiosidade.

–Me desculpe – Victor falou retirando os fones e sorrindo para ela – quero... – olhou para a tabela colocada na parede com o menu – não sei. Tem alguma sugestão?

A jovem olhou para ele incrédula. Segurou o sorriso ao perceber estar sendo observada pelo gerente.

–Se gosta de coisas doces temos o Coffee Sweet, é o mais doce da casa, mas se gosta de café mais amargo..

–Fico com o doce – a interrompeu sorridente – se tem algo que não resisto é a mulher bonita e a café doce. Sou o Victor – estendeu a mão – e você é..

–Jessy.

–É um enorme prazer – a olhou demoradamente sorrindo em seguida com a reclamação da pessoa atrás de si. Cedeu o seu lugar, a contragosto, ao próximo da fila ficando do lado, olhando para Jessy com admiração. Aquele era o começo de seu amor e de seu tormento.

Aquela era a primeira vez que um homem como Victor demonstrava interesse em Jessy. Ela possuía apenas dezessete anos, havia mudado de cidade com a sua família, a qual agora era apenas ela e seu pai. Desde a adolescência nunca demonstrou interesse no sexo oposto ate aquela tarde ao ver o sorriso gentil de Victor para com ela. Tentou manter a sua atenção nos pedidos dos clientes, sem sucesso, pois seus olhos iam em direção ao homem sentado na mesa mais próxima do balcão, era como se ele estivesse a esperando.

–O que estou pensando? – se perguntou inquieta ao fechar a caixa registradora. Após o horário do café da manha tudo se tornava mais calmo. Ela suspirou ao olhar para a entrada e sorrir pela quietude, esquecendo-se do homem que a fizera ficar tão nervosa por alguns instantes, mas ao olhar para onde ele estava sentado, o encontrou no mesmo lugar. – Estranho – murmurou ao fazer uma careta ao olhar para ele.

Victor estava se divertindo ao ver a jovem ficar tão desconcertada com ele, algo que tornara-se normal, entretanto era a primeira vez que gostava daquela sensação.

–Isso pode ficar interessante – disse a si mesmo ao se levantar da cadeira e ir ate onde ela estava com um sorriso travesso no rosto. O coração de Jessy bateu descompassado ao vê-lo se aproximar dela e sem perceber levou a mão aos seus cabelos com o intuito de arrumá-los.

–Estava ali sentado pensando se alguém tão bonita estaria disponível para um encontro – Victor falou a olhando.

–I..Isso é.. um convite?

–Sim, e o que me diz?

–Eu aceito – falou sem pensar com medo de desistir.

***

Victor fechou a porta de seu apartamento com força. Em seus lábios repousava um sorriso vitorioso e convidativo, o que não passou despercebido para o seu irmão, Valentim, o qual estava na cidade apenas para visitá-lo durante um final de semana.

–Vejo que se apaixonou pela quinta vez essa semana – Valentim brincou ao ver o seu irmão. Apesar de serem idênticos na aparência cada um possuía suas características que os diferenciava, Victor era o mais sonhador e brincalhão, enquanto Valentim era o mais observador e sério. Todos os conhecidos eram favoráveis a Valentim assumir os negócios da família que resumia-se a um conglomerado de rede de hotéis pelo mundo, ninguém acreditava na capacidade de Victor em gerenciá-los apesar de ter feito a mesma faculdade que o seu irmão.

–Talvez, mas sinto que ela é diferente – Victor confidenciou ao sentar-se no sofá encarando o seu gêmeo – como podemos ser tão iguais e tão diferentes?

–Como assim?

–Vivo me apaixonando e você nunca teve uma paixão de verdade.

–Paixão, amor e sentimentos como estes são apenas para os tolos.

–Ainda acha isso?

–Continuarei achando a minha vida toda – sorriu levemente ao ver o seu irmão bufar em resposta.

–Imagino que esteja pensando na proposta que nossos pais nos fizeram.

–Sim – assentiu seriamente – não sou de me apaixonar e acredito que seja uma boa oportunidade para os hotéis Magno.

–Irá se casar com uma desconhecida por dinheiro? Não sei como somos irmãos.

–Não faça drama Victor, isto é o melhor para todos.

–E quando será?

–Não sei ainda. Verei os detalhes e será o padrinho.

–Não sei se estarei disponível – gracejou – pois posso estar saindo de férias com o meu novo amor.

–E qual o nome dela?

–Jessy. Lindo, não?

–Um pouco simples.

–Não seja sem graça. Vamos sair para jantar ou irá cozinhar?

–É a primeira vez que nos vemos em anos e já quer me escravizar?

–O que posso fazer se você pegou todos os genes bons da mamãe? – sorriu – mas sorte a minha que fiquei com a beleza da família.

–Somos idênticos.

–Não aos olhos das mulheres.

Valentim não conseguiu evitar que uma risada escapasse. Por mais que falassem mal de Victor, ele tinha inveja dele por ele não sofrer com as pressões familiares e por ser ele mesmo sem importar-se com nada.

–Muito bem, você venceu. – Valentim falou ao ir em direção a cozinha – já sabe o que quer?

–Algo que tenha massa – Victor gritou da sala com o entusiasmo.

Apesar de seu jeito alegre, Victor tinha consciência do que diziam sobre ele e sua família, entretanto não conseguia se ver tão serio quanto Valentim, doía ver o seu irmão ser consumido por algo que não desejava e sim que lhe foi imposto.

–Seria bom que ficássemos livres disso tudo um dia – murmurou pensativo ao lembrar-se da infância deles. Desde pequenos foram educados para serem donos de um negocio e não para viver, algo que Victor percebeu quando encontrava-se com treze anos. Observou seus amigos do colégio e a vida que vivia e logo tornara-se a ovelha negra da família Magno. Ficou tão entretido em suas memórias que só percebeu a voz de Valentim quando sentiu algo bater em sua cabeça. Olhou para cima e fez uma careta ao ver o seu irmão – Não precisava me bater.

–Não? Estou lhe chamando há dez minutos. Sabe como sou. Odeio esperar.

–És um velho em um corpo de novo – reclamou ao se levantar – fez tudo?

–É claro. Sou perfeito em tudo que faço.

–Hum rum, incluindo na modéstia – sorriu – vamos comer porque estou morrendo de fome. Só tomei café essa manhã. Quem disse que conquistar mulheres era fácil foi porque não conheceu Jessy.

***

Um ano depois...

Toda a família Magno encontrava-se reunida em volta do caixão do filho mais novo do casal Magno. Valentim mantinha o seu rosto impassível e postura impecável apesar de estar sentindo metade de si ser enterrado com o seu irmão naquele momento. Victor havia sido encontrado morto dentro de seu apartamento, havia se matado tomando todos os remédios que possuía. Seu corpo fora encontrado um dia após a sua morte pela sua, suposta, namorada Jessy Smiths. Um homem desconhecido adentrou no funeral a procura de Valentim, ao vê-lo nada disse, apenas lhe entregou um envelope com um papel em seu interior. Assim que ele saiu, Valentim se afastou de todos, abriu o envelope e leu a carta com uma expressão fria em sua face.

Não aguento mais, eu tentei viver sem ela, mas não consigo. Quero acabar com a dor que estou sentindo ao vê-la com outro todos os dias. Viver sem você não é viver.

Sempre te amarei,

Victor.

–Então foi a culpada por tudo – Valentim murmurou com os olhos marejados – muito bem, Jessy irá pagar por todo que sofrimento que fez o meu irmão passar. Irá implorar pela morte após se encontrar comigo.

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