Boa Ação
Valentim olhou para si mesmo pelo reflexo da janela do quarto do hospital descrente consigo mesmo. Ele já estava ali faziam duas horas a espera da resposta do medico sobre o estado de saúde de uma mulher que ele estava tentando destruir. Sabia que o correto seria sair dali o mais rápido possível, entretanto saber o seu diagnostico seria mais uma arma para usar contra ela. Permaneceu quieto em frente a janela sem dar-se conta do passar do tempo. Um barulho o fez virar-se e se deparar com um homem de meia idade usando um jaleco branco.
–Vejo que é o acompanhante da senhorita – o medico disse após sorrir para Valentin. Caminhou ate o leito dela verificando a sua ficha – qual a sua relação com a senhorita Smiths?
–Nenhuma – respondeu sério – ela desmaiou no saguão de meu hotel.
–Entendo – murmurou decepcionado.
–Como ela esta?
–Não há problemas graves apenas um aparente desgasto emocional, não anda se alimentando corretamente – disse ao folhear a ficha – e apresenta anemia.
–Não anda se alimentando?
–Não. Pelos exames imagino que há dias não ingeri algo saudável. Sabe sobre algum amigo ou parente dela? – ao vê-lo negar suspirou – bem não há muito o que fazer. Logo irá despertar, mas se deixar o seu contato será de grande ajuda.
–Para que? Nesses casos o mais comum é não ter nenhum tipo de vinculo já que ofereci assistência.
–Sim, é verdade, entretanto ela pode querer lhe agradecer depois.
–Agradecer? – indagou-se com um sorriso cruel. Levou a mão ao seu paletó retirando um cartão de visitas, entregando ao medico em seguida – aqui está.
–Valentin Alexander Magno – o medico leu em voz alta sem estar ciente de seu papel na trama do homem a sua frente – entregarei a ela assim que acordar. – saiu do quarto em seguida guardando o cartão de visitas em seu bolso. Valentin olhou uma ultima vez para Jessy sem compreender o motivo do interesse de seu irmão em uma mulher como ela.
–Só poderia estar cego. Não importa como eu a olhe. Ela não é atrativa – falou antes de seguir em direção a porta. Caminhou pelo corredor indo em direção ao balcão onde ficavam as atendentes – onde posso pagar uma internação?
–Aqui mesmo – a mulher falou sorrindo para o homem com cabelos loiros sedosos, olhar frio que contrastava com a cor deles – em dinheiro ou cartão?
–Dinheiro. Do quarto 203. – observou, desinteressado, a mulher, a qual digitava rapidamente e logo lhe entregou uma nota fiscal após ele lhe entregar o dinheiro. Valentin ignorou o cumprimento dela afastando-se o mais rápido do hospital.
O corpo da jovem repousava no hospital, entretanto a sua mente não parava. Seus sonhos estavam tumultuados pela imagem de Victor e de Valentin. Ela não conseguia entender como duas pessoas poderiam ser tão parecidas. Abriu os olhos assustada tempo depois e ao olhar em volta assustou-se por não saber onde estava. Respirou fundo ao perceber estar em um quarto no hospital, mas logo se alarmou.
–Não posso ficar aqui – lembrou-se ao levantar-se com rapidez deixando-a tonta. Apoiou-se na cama, não conseguindo se equilibrar caiu no chão, sentada. – o que esta havendo comigo? – indagou-se com a mão em sua testa.
–O seu corpo esta apenas esgotado – uma voz gentil falou ao caminhar ate ela. –Deixe-me ajudá-la – Jessy ergueu o olhar avistando uma mulher com cabelos ruivos e olhar gentil. Deixou ser ajudada e logo voltara para a cama – não deveria estar acordada.
–Preciso ir embora – disse com a voz fraca.
–Algum compromisso?
–Não..a verdade é que não tenho como pagar a conta do hospital – revelou – “Se eu fizer isso não terei como pagar os custos do tratamento do papai”pensou angustiada – tenho que ir, entende?
–Não precisa se preocupar – sorriu de forma sutil – o seu belo acompanhante já pagou por tudo.
–Acompanhante?
–Sim. Alto, lindos olhos claros, loiro e uma postura fria e misteriosa.
–Parece que esta descrevendo Victor – murmurou ao sentir uma dor em seu coração – esse homem deixou algum bilhete, nome?
–Sim, deixou um cartão de visitas com o medico de plantão. Posso conseguir para você.
–Agradeceria.
–Pronto agora que esta mais calma, deite-se e durma. Amanhã poderá voltar para casa. – ficou parada a espera de Jessy deitar-se e ao sair do quarto, olhou confuso a sua volta – se ela não o conhecia.. porque ele fez tudo isso? Ainda devem existir boas pessoas. – colocou um sorriso em seu rosto começando assim a sua ronda noturna sem escutar o choro que vinha do quarto da jovem que acabara de visitar.
***
O apartamento de Valentin encontrava-se no mais absoluto silencio com exceção dos passos de seu mordomo. O imóvel que acabara de adquirir possuía mais quartos que amigos íntimos que possuía em toda a sua vida. Tudo era organizado de forma que não interferisse em sua vida e em seu trabalho, algo que deveria deixá-lo feliz, mas o entristecia ainda mais por pensar em Victor. Caminhou ate a estante onde repousava inúmeros porta retratos com sua foto e a de Victor.
–Eu lhe juro que irei vingar a sua morte, meu irmão – falou tristemente. Um som de saltos femininos lhe despertou a atenção ao se virar deparou-se com a sua mãe, uma mulher séria com cabelos loiros apresentando algumas mechas brancas, um corpo que não apresentava a idade que possuía – o que faz aqui? E desde quando meu mordomo a deixa entrar sem minha permissão?
–Não seja grosseiro – Grace tornou séria – vim ver como está e parece que não esqueceu esta ideia ridícula de vingança. Nem sabe contra quem brigar.
–Eu me encarrego disso e o que faz aqui afinal? Nunca foi ver Victor e muito menos a mim. O que deseja?
–Que seja Alexander – disse impassível – vim perguntar quando se encontrará com sua noiva.
–Minha noiva.
–Isso.
–Só lembra-se quando lhe é conveniente, certo? – esboçou um leve sorriso amargo – muito bem, basta marcar que aparecerei no local.
–Muito bem, era isso que eu esperava escutar. – deu as costas indo em direção a porta parando ao escutar a voz de seu filho.
–Da próxima vez não se atreva a entrar aqui novamente. Este apartamento pode ter sido comprado com o dinheiro que consegui no hotel, mas não lhe da o direito de entrar e sair quando quiser.
–Depois de velho decidiu rebelar-se?
–Apenas cansei de sua intromissão em minha vida.
–Faça como quiser e não retornarei a entrar sem a permissão do dono, fique tranquilo.
Valentin esperou a sua mãe sair para respirar aliviado. Desde a morte de Victor percebeu o modo com que ela agia com todos na família. Ela gostava de controlá-los como uma marionete. Lembrou-se de como Victor e Grace costumavam discutir para depois ficarem sem se falarem. Meneou a cabeça para espantar as recordações e seguiu para o seu quarto. Deitou-se na cama vestido como estava e ficou olhando para o teto branco.
–Me pergunto o que você viu nela, Victor – murmurou ao lembrar-se do semblante pálido dela e de seu modo impetuoso. – Realmente não lhe entendo – fechou os olhos tentando relaxar e logo adormeceu.