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5

DANTE

Suspiro ao encerrar a chamada e olho para o visor do celular com certo desânimo. Eu não gostaria de incomodar Aghata neste horário, sei que estou agindo de forma inconveniente e talvez até precipitada, porém ela é a única pessoa no mundo em quem confio e que acredito que poderá me ajudar nesse momento. Aghata, além dos meus pais, conhece minha irmã como ninguém e saberá lidar como já fez e algumas ocasiões no passado, com estado emocional descontrolado de Luna.

Amo minhas duas irmãs com todo o meu coração, Alice e Luna, estou terrivelmente preocupado com as condições em que Ali deve estar no hospital, assim como meu amigo Lorenzo também, entretanto Luna é a pessoa que mais me deixa apreensivo por hora. Sua reação acerca da notícia sobre o acidente não foi nada boa. Ela mal ouviu tudo até o final, antes de começar a chorar de forma descontrolada e correr para o quarto onde se encontra isolada até agora.

E isso já faz bastante tempo...

Já bati em sua porta por diversas vezes, tentei conversar e acalmá-la um pouco, porque estou ficando realmente assustado sem saber como agir, porém de nada adiantou. Luna está inconsolável dizendo um monte de coisas sem sentido, chorando ao ponto de soluçar, e culpando a si mesma por algo que ela sequer tinha controle, que na verdade nenhum de nós tinha, pois se tivéssemos, com certeza teríamos evitado que essa tragédia acontecesse com as pessoas que mais amamos.

Foi um acidente, simples assim, e ninguém era culpado por isso. Mas algo parecia estar errado, e de alguma maneira Luna estava assumindo toda a responsabilidade sobre si. Eu já não tinha mais ideia do que fazer para convence-la do contrário.

Meu coração já estava apertado por receber tantas notícias ruins de uma única vez, e presenciar o sofrimento de Luna de perto, estava a ponto de destruir o que ainda restava da minha sanidade.

E o pior é que não havia ninguém por perto em quem me apoiar...

Minha cabeça a qualquer segundo poderia explodir, eu estava um caos por dentro, e minhas vistas ardendo eram o prenúncio de que ao menor estímulo eu desabaria em um choro convulsivo.

Como um sonâmbulo entorpecido pela dor que esmagava tudo dentro de mim, levanto-me da porta do quarto de Luna fungando, com um nó preso na garganta, e sigo em direção a porta quando a campainha de casa toca por duas vezes seguidas.

É ela.

Aghata chegou, constato com o ritmo cardíaco acelerado ao abrir a porta, e vê-la diante de mim com semblante alerta e o rosto pálido, porém ainda assim delicado como sempre. Como de um anjo.

-Dante! -Aghata caminha para o lado dentro e eu dou um passo para o lado dando-lhe passagem para que possa entrar. -Como e onde Luna está? -ela pergunta com gestos agitados enquanto fecho a porta logo atrás de mim.

-Ela está lá em cima no quarto. -respondo e pigarreio para disfarçar a voz embargada, contendo as emoções. -Luna... -começo a dizer, e viro-me de costas para que ela não veja o quanto estou abalado, e me dirijo rumo as escadas guiando-a para o segundo andar onde se encontram os quartos.

-Ela já está chorando há muitas horas, e se recusa a abrir a porta do quarto para mim. -completo quando paramos lado a lado em frente a porta de Luna.

Evito manter contato visual com Aghata enquanto falo, ela não precisa saber o que se passa comigo, a prioridade nesse instante é Luna. Então dou duas batidas fortes para chamar a atenção de minha irmã que está do outro lado da porta.

-Luna, Aghata está aqui. Por favor irmã, abra para ela. -peço calmamente desejando que ela finalmente me ouça, e destranque a porta para sua melhor amiga.

Faz-se um silêncio por alguns segundos que quase me faz perder as esperanças de que algo mude, porém surpreendo-me ao ouvir o barulho da tranca girando e a porta se abrir um tempo depois. A visão que tenho de minha irmã destruída com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, me impactam de tal modo, que é como se eu levasse um murro direto no queixo. O nítido sofrimento marcado em sua pele acaba comigo. Me destrói. Me derruba.

-Cuide de minha irmã por mim, por favor... -é a única coisa que consigo proferir coerentemente em tom de voz baixa, antes de deixar Luna aos cuidados de Aghata, sabendo que agora minha irmã está em boas mãos.

*

Não sei quanto tempo se passou desde que deixei as meninas no segundo andar, e vim me esconder na cozinha com o objetivo de espairecer a cabeça e clarear os pensamentos.

Preciso estar recomposto e emocionalmente estável para cuidar de minha irmã para quando Aghata se for. Pois mesmo que eu queira que ela fique por mais tempo, sei que uma hora ela terá que ir, e tenho que estar preparado para esse momento quando ele chegar. Mas como eu farei isso, se sinto como se houvesse algo exercendo uma forte pressão sobre meu peito e roubando-me o fôlego? Como...

-Dante? -assusto-me quando o toque sutil de duas mãos delicadas em meus ombros, despertam-me do transe, e me fazem levantar a cabeça que estava apoiada sobre a mesa da cozinha, em direção ao chamado do meu nome.

-Ah Aghata, é você... -estico um canto dos lábios esboçando um meio sorriso constrangido. -Como Luna...

-Ela está bem agora, não se preocupe.

Ela interrompe antes que eu conclua a pergunta e puxa uma cadeira para se sentar ao meu lado.

-Conversamos um pouco, mas Luna se acalmou razoavelmente, e até aceitou tomar um dos seus remédios. Quando deixei o quarto ela já estava dormindo tranquilamente, e deve acordar mais ou menos lá pelas duas horas da tarde.

-Graças a Deus. -respiro menos preocupado com a boa notícia. -Eu realmente agradeço por tudo o que fez por nós, Aghata. Você não ajudou apenas minha irmã num momento difícil, mas também a mim. Eu...

-Dante, você não tem que me agradecer por nada.

Aghata segura minhas mãos entre as suas, e eu desvio o olhar para longe quando seus olhos queimam minha pele diante de seu olhar atencioso sobre mim.

-Eu sempre estarei aqui por qualquer um de vocês quando me chamarem, você não entende?

Aghata diz e uma de suas mãos prende meu queixo na ponta de seus dedos, e gira meu rosto para ficar de frente para o seu. É como um solavanco em minha caixa torácica o choque entre nossos olhos. Verde no verde.

Real, sincero e verdadeiro.

-Não se esconda de mim, Dante. Eu te conheço há muito tempo... Diga-me como está sentindo aqui dentro, por favor.

Ela pede com tamanha ternura ao colocar uma mão sobre meu peito, na altura do coração, que eu estremeço. Meus lábios se crispam imediatamente na tentativa de conter o choro preso em minha garganta.

-Compartilhe comigo sua dor, querido. Eu estou bem aqui... na sua frente... com você para o que precisar.

Sua voz suave feito uma pluma é como o gatilho perfeito para me desarmar. Então não consigo mais fingir forças de onde não tenho. Eu me rendo... Caio no conforto verde, escuro, e profundo que seu olhar sincero me oferece. E eu pego tudo para mim como um desesperado.

-Só... só me abrace, Aghata. -não preciso dizer duas vezes antes de ser envolvido pelo calor de seus braços acolhedores, que me envolvem em um casulo de proteção.

Então eu ponho tudo para fora. Liberto o choro que há muitas horas estava guardando sozinho dentro de mim.

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