Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo V

Robert fitava o espelho do seu quarto, com alguns pensamentos vagando por toda a sua mente. Ele poderia estar em qualquer lugar, menos ali, já que ele não conseguia focar nos acontecimentos que haveria naquela noite, que deveria ser para ele, uma das mais importantes.

Seu lacaio havia terminado os últimos ajustes em seu traje, que realçava seu tão cobiçado status de filho herdeiro e bem cuidado, junto com eles, seu primo e amigo de infância observava os longínquos campos e o caminho sinuoso que os cortava.

— No que está pensando? — perguntou Robert ao primo, após dispensar o lacaio, ele precisava de um momento para acreditar que tudo aquilo estava acontecendo, em seu íntimo, ele não queria que aquele dia chegasse.

— Em você… no que você deve está sentindo — falou e voltou sua atenção para o moreno alto que o fitava.

— Ora, eu estou bem! — respondeu com um pequeno sorriso — Olivia é uma moça gentil e de boa família, além disso, gosto dela.

— Sei que gosta, mas não da forma que está tentando me convencer ou melhor… está tentando si convencer. — ele voltou a observar o caminho, por onde começava a aparecer inúmeras carruagens, todas extremamente elegantes e com brasões elaborados indicando a qual família nobre pertenciam, ele esperava por uma em especial, mas até aquele momento ela não havia chegado.

— Ah… de novo com esse assunto, Thomas? Por que insiste tanto nisso? Você mais do que ninguém sabia que esse dia chegaria, passei a vida toda o esperando. — falou bagunçando o cabelo que já estava penteado perfeitamente, em seu íntimo toda aquela situação estava lhe incomodando e muito, ele não parava de pensar na moça de olhos azuis perspicazes que ele tanto amou.

— Esperando, não… temendo. E sim, insistirei nesse assunto, porque nesse mesmo caminho que você começou a percorrer, eu já andei e não foi uma experiência muito boa, quando se tem alguém dentro do coração as coisas tendem a se tornar mais difíceis. — o rapaz lembrou-se de momentos bons que vivera com a mulher que amava, mas que não voltariam mais e seu peito apertou, conviver com todo aquele sentimento trancafiado no fundo do seu coração o estava matando.

— Meu coração está livre. — o rapaz loiro sorriu ao olhar para o primo mais uma vez. — Por que está sorrindo assim?

— Repita isso pelo menos umas mil vezes, quem sabe assim você não acredita? — ele sorriu da cara emburrada que o primo fez.

— Não acredito que você saiu de Cambridge para torrar minha paciência. Maldita hora que eu te convidei. — murmurou enquanto ajeitava o seu penteado.

— Não se preocupe, não irei sair deste quarto. Só vim te dar um apoio, abrir seus olhos… não pretendo participar da festa.

— Gostaria de saber qual apoio você está me dando tentando me convencer a desistir desse noivado… — murmurou, enquanto andava de um lado para o outro — E qual é o sentido de ficar aqui dentro quando uma festa está acontecendo?

— Não soa verdadeiro.  — disse simplesmente — Todo mundo sabe que não há sentimentos, apenas interesse de âmbas as partes e ninguém se importa com isso… você não acha isso triste? Casamento deveria significar sobre tudo, a união de duas pessoas que se amam… e não um negócio.

— Bom, às coisas são assim, não é todo mundo que tem a sorte de casar por amor.

— Você fala como se isso não fosse possível para você. — falou o rapaz com os olhos pregados nas carruagens que chegavam.

— Quando Olivia e eu nos casarmos, acredito que o amor virá, não tem como não se apaixonar por ela. — ele gostaria de acreditar nas suas palavras.

Olivia era uma moça amável e meiga, mas por mais que ele tentasse transferir seus pensamentos e sentimentos para ela, era impossível esquecer Ivone, apesar do pouco tempo que passaram juntos, os sentimentos que desenvolvera por ela, eram fortes e intensos.

— Por que esperar algo que você nem sabe se irá realmente acontecer, quando você já tem alguém em seu coração?

— Não é tão simples, não adianta acreditar em um futuro com alguém que não te ama. — ele precisava beber algo, pensou Robert, só assim aqueles pensamentos fugiriam para longe. Rapidamente ele abriu a porta do seu quarto, em uma tentativa de abordar algum empregado que passava pelo local.

— O que está fazendo? — perguntou após ver o primo entrar com uma garrafa de uísque e dois copos, para dentro do quarto — Eu aconselho ficar sóbrio em uma noite como essa…

— Eu só vou beber um pouco. — disse e bebeu o líquido que transbordava do copo em um único gole. — Você não quer?

— Melhor não. — observou o primo encher mais um copo — Não beba tanto, você tem uma noiva que ficará magoada ao vê-lo bêbado em seu próprio baile de noivado. Mas se não quer se casar, por que não encerra tudo isso e vai atrás de quem você realmente gosta? — seu primo observava espantado com a rapidez em que a bebida sumia do recipiente.

— Ela me disse com todas as palavras que não me amava, nunca me amou e nem me amaria. Você quer que eu faça mais o quê? Além do mais, eu não poderia ter nada mais sério com ela, de qualquer forma.

— Onde está escrito que é proibido se casar com alguém só porque ela não possuí títulos nem fortuna?

— Você sabe o que ocorre quando algo assim acontece.

— Você está é com medo de encarar os fatos de assumir seus sentimentos. Vá atrás dela e pergunte mais uma vez se ela o ama ou não, tente mais uma vez.

Robert bufou.

— Não, deixe as coisas como está… eu quero vê-la bem, mas ela não é a mulher da minha vida. — disse com tamanha intensidade e tristeza que seu amigo pôde perceber o quanto ele sofria ao dizer aquilo.

— Eu acho que já chega de bebida para você. — falou tomando a garrafa de suas mãos, mas Robert estava longe de estar bêbado, na verdade o rapaz possuía uma grande tolerância ao álcool, ele se encontrava mais lúcido do que gostaria.

– Não vai mesmo descer? — perguntou ao primo após um momento de silêncio.

— Não quero que ela me veja. — confessou.

— Mas não foi você mesmo que disse que ela não viria?

— Ela é sua amiga, é claro que ela virá, mas deve ser difícil para ela também, a Ivone deve está arrasada.

— Claro que não está, ela mesmo disse que não sentia nada por mim, além de pena. — falou desgostoso.

— Você realmente não entende as mulheres, não é?

— Ela eu não entendo.  — ele sorriu deixando as lembranças que ele tanto queria esquecer, dominar os seus pensamentos — Ela é maravilhosa, inteligente, gentil e engraçada, mas quando está brava é melhor sair de perto… mas da última vez que eu a vi, era como se eu não estivesse no mesmo ambiente que ela, era como se eu não existisse, aquilo doeu bastante, a indiferença dela dói mais do que sua revolta. Acho que ela só quer que eu a deixe em paz e é isso que irei fazer.

— Você é tão medroso, Robert… — murmurou seu primo, mas logo sua expressão mudou de preocupado para feliz quando reconheceu a carruagem que se aproximava.

— Olha quem fala… é tão medroso que nem quer sair do quarto, com medo de encontrá-la. — nesse momento, foi a vez de Robert rir da expressão que o primo fez.

— Isso não é verdade, só não quero assustá-la, tenho certeza que ela acredita que nunca mais me verá, talvez seja melhor assim... não quero ser repentino, não quero abrir antigas feridas.

— Melhor pra quem? Essa é sua oportunidade, você a ama e pode reconquistá-la, nada te impede agora. — falou, mas logo depois se sentiu culpado, mas não arrependido, ele queria ver seus dois melhores amigos sendo felizes.

— Isso soa tão horrível. — mas a verdade era que sua falecida esposa conhecia o seu coração, ela o havia incentivado a procurar o seu antigo amor quando ela o deixasse.

— Se depender do pai dela, ela estará casada no próximo semestre e você não terá chance nenhuma — falou Robert ao aprumar a postura, pois logo ele desceria para o salão de bailes e teria todas as atenções voltada para ele. — Então deixe esse momento de luto passar e vá atrás da mulher que você ama, não perca mais tempo.

— É isso que eu irei fazer.

A carruagem sacolejava sobre os buracos que moldava a estrada de terra, ao longe nuvens cinzentas eram clareadas pelos raios que cruzavam o céu. Valentina se sentia triste com a situação da prima, já que havia passado por algo parecido, gostaria de voltar logo. Ivone estava lá e precisava do seu consolo, mesmo dizendo que não. Ela olhou pela portinhola da carruagem, o palacete do duque de Price já estava a vista, tão bonito quanto ela se lembrava. Ela suspirou, tentando se sentir bem com toda aquela situação.

— É o noivado do meu amigo, apesar de tudo. — murmurou, chamando a atenção de sua mãe que estava sentada na sua frente, junto com o seu irmão mais velho.

— O que disse, querida? — Valentina saiu do seu torpor e fitou o rosto delicado da mãe.

— Oh, não foi nada, mamãe.

— Sei que está preocupada com a sua amiga, mas você não pode ficar com essa expressão, querida. Estamos indo para um noivado.

— Que expressão? — ela perguntou sem entender.

— Essa de enterro que você está fazendo — completou Charles, com um sorriso no rosto — Estou com medo de ao invés de desejar felicidades aos noivos, você os dê suas mais sinceras condolências.

— Está tão ruim assim? — indagou tentando ver o seu reflexo na pequena janela de vidro.

— Anime-se! Apesar de tudo é o noivado de seu amigo de infância, ele ficará magoado ao ver essa expressão em seu rosto. — disse a marquesa buscando as mãos da filha para lhe transmitir um pouco de conforto, ela entendia a preocupação da caçula e gostaria de ter tido uma amiga como ela na sua juventude.

— Talvez nossas expressões se assemelhem… não é como se o Robert estivesse feliz com tudo isso.

— Bom, as coisas são assim, nem todos podem se casar com quem quer… mas eu e o seu pai queremos que nossos filhos se casem por amor.

Valentina não acreditava em todo naquilo, então por que não deixaram ela se casar com o seu primeiro amor? O que havia acontecido no passado para que suas famílias não se suportassem?

— E eu vou fazer um bom aproveito disso — disse Charles pescando de um dos seus bolsos, uma pequena caixa.

— Oh! Você já comprou? — arquejou sua mãe animada.

— Sim, mamãe… esse é o anel que darei a Nicole quando a pedir em casamento. — falou e sorriu largamente para o pequeno objeto.

Valentina não se contendo de curiosidade, tomou a pequena caixa de suas mãos e a abriu, se deparando com um lindo anel, que possuía uma delicada pedra azul em seu centro, o azul era da mesma intensidade do azul dos olhos de Nicole.

— É um lindo anel, meu irmão… quando pretende pedí-la em casamento? — perguntou encantada pela joia.

— É surpresa, mas digo que será muito em breve.

— Ela ficará muito feliz com o seu pedido.  — ele sorriu e guardou a caixa em seu bolso.

— E eu ficarei ainda mais feliz quando ela aceitá-lo.

— Tem dúvidas? A Nicole te ama, ela praticamente já aceitou o seu pedido. Não vejo a hora de ter netinhos — falou a baronesa feliz por toda aquela situação e pela mudança na expressão da filha que parecia animada.

— A Bethany já está grávida, mamãe — Valentina observou — Em alguns meses a senhora terá um netinho gordinho para chamar de seu.

— Ah, mas quanto mais, melhor… tenho certeza que os filhinhos de Charles e Nicole serão lindos. — falou a mulher pensando na possibilidade de ter muitos netos.

— Nossa, mamãe que conversa, eles nem se casaram ainda e a senhora já quer que eles tenham filhos. — reclamou.

— Não se preocupe, a senhora terá muitos netos para mimar e estragar — disse Charles — Valentina com certeza lhe dará muitos netos também.

— Estou contando com isso.

— Mamãe! — protestou Valentina — Não dê ouvidos ao Charles, nem sequer tenho um pretendente.

— Não foi por falta de esforços do papai. — comentou Charles entre risos, acompanhado pela mãe.

— Nem me lembre disso. — Valentina bufou irritada ao pensar naquilo. Se perguntou o que o seu pai estaria planejando naquele momento.

— O Richard só está pensando no melhor para você, querida. Dê um desconto a ele. Enfim, já estamos chegando, se comportem!

— Não é como se fossemos duas crianças — murmurou Valentina revirando os olhos.

— Já somos bem grandinhos — concordou Charles, achando graça nas palavras da mãe.

— Não me interrompam! Sem comentários ácidos, mocinha… e você não faça nenhuma idiotice e fique longe da Srta. McGregor.

— Por que eu faria algo assim? — os irmãos chiaram em uníssono, fazendo a baronesa sorrir.

— O que tem a Srta. McGregor? Só nos falamos de vez em quando, em eventos como esse. Até a senhora, mamãe…

— Ela gosta de você e pode deixá-lo em uma situação difícil com a Nicole. — falou Valentina, que não gostava da moça por muitos motivos. — A mamãe está certa, em ambas os casos. Serei uma adorável dama está noite.

— É apenas um alerta, querido e lembrem-se, eu estarei de olho em vocês. — a marquesa falou com seu costumeiro sorriso pregado nos lábios.

— Não precisa ficar de olho em nós — protestou Valentina, mas sua mãe a ignorou.

Assim que Valentina adentrou no grande salão de bailes, ela ficou impressionada com o tanto de convidados presente no local, o lugar estava transbordando de pessoas da alta sociedade ávidas por algum entretenimento.

A primeira pessoa conhecida que ela conseguiu avistar fora Edward que andava em sua direção, com um refresco em cada mão. Ele entregou a bebida a amiga que bebeu um gole agradecida.

— Onde está a sua irmã? — perguntou, olhando aos arredores em busca de uma cabeleira ruiva que ele muito conhecia, mas que para sua tristeza, não estava ali.

— Margaret? — perguntou Valentina, se fingindo de desentendida.

— Sim. — respondeu ainda com esperança de encontrá-la, se Margaret estivesse ali, ela não lhe escaparia, os dois teriam a conversa que ele tanto queria.

— Ela não veio.

— Por que não? — Valentina lembrou-se de algo que sua irmã pedira quando ela estava saindo de casa, imediatamente inventou uma desculpa.

— Ela está… está naqueles dias… — disse em tom baixo e sério ao se aproximar um pouco mais do rapaz.

Valentina tentou segurar o riso, sua irmã com certeza a mataria quando soubesse daquela desculpa e ficaria ainda mais vermelha que o próprio cabelo.

— Naqueles… dias…? — repetiu Edward confuso, antes de arregalar os olhos em compreensão. — Oh! Eu… hum… desejo melhoras para ela… se é que eu posso desejar isso.

Valentina queria rir do rosto vermelho e constrangido do rapaz, mas manteve a expressão seria com muito esforço.

— Claro, direi isso para ela. — resolveu mudar de assunto porque o pobre Edward parecia ficar ainda mais vermelho com o passar do tempo — Onde está o nosso futuro noivo?

— Ele está no quarto.

— Ainda? Ele não vai descer? — seu olhar passeou pelo cômodo, parando em Olivia Marxfild, que conversava com Crystal McGregor alegremente. A futura noiva parecia feliz, mas Valentina queria mesmo era saber como o seu amigo estava se sentindo.

— Fui até lá e ele me disse que logo desceria.

— Quando foi isso? — indagou curiosa.

— Foi… — Edward pescou seu relógio de bolso e o fitou — Há exatamente meia hora.

— O que ele ainda está fazendo… eu irei até lá, você vem comigo? — perguntou já deixando o salão de bailes.

— Não, irei procurar a Grace, eu ainda não a vi. — disse, também já se afastando.

— Está bem, então estou indo. — Valentina rapidamente deixou o salão e subiu com pressa as escadas que dava para o quarto do seu amigo, em sua mente o pensamento da possiblidade dele desistir daquele noivado e ouvir seus próprios sentimentos se fazia presente.

Ela parou em frente a porta do quarto do amigo, e ao girar a maçaneta, algo lhe chamou a atenção.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.