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Capítulo III

Valentina e Margaret, olhavam o movimento nas ruas, enquanto esperavam suas amigas, para suas costumeiras reuniões, que geralmente ocorriam em alguma casa de chá. A preferida delas para a fofoca correr solta, era a da família Clark, que possuíam casas de chá em toda Inglaterra.

— Edward chegará hoje, não é? — perguntou Valentina fitando a expressão atenta da irmã, que não tirava os olhos da janela de vidro. — Como você tem tanta certeza que ele passará por aqui?

— Ele sempre passa — a moça de intensos cabelos ruivos, sorriu — Sempre compra alguma guloseima para mim, é um hábito que ele possuí.

Valentina bebeu seu chá demoradamente, enquanto observava às feições da irmã quando falava sobre o melhor amigo.

As bochechas rosadas, os olhos brilhantes, o semblante feliz, eram sinais – para ela óbvios – de uma paixão que começava a transparecer.

Valentina tomou coragem e resolveu externar suas suspeitas.

— Você está apaixonada por ele, Margaret? Por Edward? — questionou, fazendo a moça virar o pescoço tão rapidamente, que Valentina temeu ela quebrá-lo.

— O-o quê? — gaguejou com as bochechas em brasa. — De onde você tirou isso…?

— Dos seus olhos — murmurou e sorriu — Não se faça de desentendida, mocinha. Sei que nutre sentimentos além da amizade por ele. Deveria confessar seus sentimentos…

— Não! Você está engananda! Ele é meu melhor amigo — falou — Eu o amo, mas como o bom amigo que ele é e nada mais!

— Parece que alguém não quer admitir, ou melhor, está se enganando…

— Valentina! Pare! Não é nada disso — Margaret se exaltou, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor. Seu rosto estava muito vermelho e seus olhos brilhavam com às lágrimas que se acumulavam. — Não é nada disso — disse baixinho, assim que conseguiu sua compostura de volta, envergonhada demais por chamar tanta atenção.

Valentina se condenou por ter abordado tal assunto tão repentinamente. Sabia que tudo aquilo mexia muito com a irmã, afinal os dois sempre foram amigos e para completar, Edward estava noivo, há poucos meses de se casar.

— Desculpe, minha irmã. Fui tão indelicada — sussurrou, profundamente arrependida —, não sabia que esse assunto te perturbava tanto — ela segurou as mãos da irmã sobre a mesa — Não comentarei mais nada. Mas você sabe que cedo ou tarde precisa contá-lo, não sabe?

— Não há nada para contar a ninguém, Valentina — Margaret reprimiu um sorriso amargo — Esqueca isso.

— Margaret, você não me engana… — Valentina sabia que se sua irmã não contasse ao amigo o que sentia, provavelmente seria tragada por aquele sentimento e poderia perder sua amizade com o rapaz.

— Você promete não falar nada disso com o Edward?— ela suplicou.

— Eu prometo — falou, fitando os olhos tristes da irmã.

Elas encerraram o assunto e logo trataram de esquecê-lo, começaram a conversar sobre o baile de aniversário que o marquês daria para presentear Valentina, que logo faria 21 anos.

A partir dali, Valentina fez de tudo para animar a irmã e minutos depois, Margaret ria abertamente com as imitações que sua irmã fazia de alguns membros da alta sociedade.

— Vejo que estão empolgadas — falou Ivone, surpreendendo-as.

— Conseguíamos ouvir suas vozes lá de fora — comentou Bernice, sentado-se ao lado de Valentina.

— Sim, seguimos suas vozes animadas já que não conseguíamos vê-las, a casa de chá está cheia hoje — completou Nicole, sentando-se de frente para a janela, ela olhou para o céu e fitou as nuvens escuras que se moldavam o horizonte — Parece que está vindo uma tempestade.

— Há dias o céu está assim, mas as nuvens acabam sempre se dissipando, não se preocupe. — falou Ivone também observando o céu pela janela — Não acho que prejudicará ninguém que deseja dar uma festa por esses dias, infelizmente — ela sussurrou essa última palavra. — Sobre o que vocês estavam conversando?

— Estávamos comentando sobre como o tempo passou rápido e daqui duas semanas será o meu baile de aniversário. Estou ansiosa! — disse Valentina.

— Tenho certeza que será um baile maravilhoso, sua mãe sabe fazer um baile como ninguém. — falou Bernice, pegando um biscoito no potinho que estava no centro da mesa.

Ivone sorriu, ela estava ansiosa para o baile e para contar a melhor amiga que havia encontrado algumas cartas antigas no sótão de sua casa. Ela ainda não havia lido nenhuma por falta de tempo, mas quem sabe não tivesse alguma história interessante para lhe inspirar a escrever seu tão sonhado romance?

— Provavelmente sua festa será melhor do que o baile de noivado do Robert, a duquesa Price não sabe organizar bailes… — Valentina lançou um olhar ameaçador a Bernice, que de repente se dera conta do erro que cometera.

Robert e toda família Price, era um assunto proibido nas conversas enquanto Ivone estivesse presente, igualmente como acontecia com Thomas, e ao que parecia, Edward também – apesar que dessa parte só Valentina sabia, daria um trabalho desviar de todos os assuntos que envolvessem o rapaz. Tudo isso porque Ivone havia tido um namorico com Robert no verão passado e o término não fora um dos melhores, principalmente por Robert estar comprometido desde criança com Olivia Maxfield e não romper o compromisso para ficar com ela.

Mas aparentemente os esforços de Valentina para parar as palavras de Bernice foram em vão, Ivone havia se inclinado sobre a mesa para ver melhor algo que passava na rua.

— Eu nunca vi um homem tão bonito… — murmurou a moça, com os olhos azuis brilhando. — Esse deus com certeza não é daqui!

— Tão belo! — completou Nicole corada, o sorriso que estampava seu rosto ao ver o rapaz de repente sumiu e ela balançou a cabeça — Mas eu amo o Charles, meu Charles não fica atrás. Ele também é muito lindo!

— Quando eu for escrever sobre o meu corsário, com certeza irei por as características deste homem em meu personagem! — divagou Ivone, ainda fitando o belo homem, que não fazia ideia de que estava sendo observado.

— Ele é tão másculo… — sussurrou Margaret reprimindo um sorriso.

Valentina riu não entendendo aquelas reações.

— O que vocês estão olhando? — perguntou.

— Um deus ou diabo, que subiu ou desceu para atormentar meus pensamentos durante muitas noites — murmurou Ivone, nem um pouco parecida com a mulher que chorara horrores quando soubera que seu amado e odiado Robert, iria finalmente oficializar seu noivado.

Valentina vencida pela curiosidade levantou da sua cadeira e foi até janela.

— Até você Valentina? — indagou Bernice, que achava mais importante comer os deliciosos biscoitos, do que observar um estranho passando na rua.

— Ah! Estou realmente curiosa, até a Margaret gostou do que viu — sua irmã corou com o seu comentário.

Chegando na janela o único rapaz bonito que ela viu foi Edward, que atravessa a rua com uma mala na mão.

— Ele já foi — comentou Ivone — Naquela carruagem — apontou para uma carruagem de aluguel que dobrava uma esquina.

Valentina deu de ombros e voltou para o seu lugar.

             

 

Os raios do sol da manhã, atingia os seus longos cabelos negros como a noite, que dançavam com o balanço do vento. A moça galopava em seu cavalo cada vez mais rápido.

Logo atrás dela estava seus amigos, Edward e Robert que tentavam inútilmente alcançá-la. Valentina ria, ou melhor gargalhava da cara dos dois, que – como sempre – haviam perdido suas libras para ela, que sempre que os via possuía um sorriso convencido nos pequenos lábios.

— Da próxima vez irei ganhar. — garantiu Edward confiante, meia hora depois da corrida.

— Todos os dias, desde que você retornou você diz isso, meu amigo.

— Sim, não facilitaremos mais para você, Tina. — completou Robert.

— Não sei não… estão cada corrida mais lentos... — disse pegando sua pequena fortuna das mãos dos dois cavalheiros emburrados e pondo em sua bolsinha, presa a sua cintura.

— A deixamos ganhar, como sempre. — retrucou Robert ajeitando a cartola na cabeça. — Somos ótimos amigos e incuráveis cavalheiros, por isso, você venceu todas essas vezes.

— Concordo plenamente com você, meu amigo! — o rapaz moreno que observava os dois, falou, batendo em suas costas.

Robert pediu para que um lacaio trouxesse o seu cavalo – que estava descansando e sendo alimentado – e fez uma mesura aos dois.

— Preciso ir. — depositou um beijo no dorso da mão de sua amiga.

— Mas já? Pensei que ficaria para o almoço no jardim, a mesa está tão linda e o dia tão agradável, nem parece final de outono, devemos aproveitar... — falou perdendo um pouco da sua animação. Robert era um amigo querido e apesar das burradas que cometia, ela o amava com todo o coração.

— Desculpe, mas preciso resolver alguns problemas urgentes, palavras do meu pai. Nos veremos no baile, não é? Guarde uma dança para mim, sim? — bateu levemente nas costas do amigo em despedida e soprou um beijo para Valentina, fazendo uma vênia exagerada para moça, que riu. 

— Claro que guardarei, será a primeira, não se esqueça!

— Assim você me deixa com problemas, minha doce amiga. Talvez Olivia não goste. — comentou com uma expressão risonha.

— Oh, claro… como havia me esquecido que a sua primeira dança é destinada a sua digníssima prometida? Que romântico. — ironizou fazendo uma careta.

— Não faça essa cara. Sei que está enlouquecida para dançar comigo! Mas não se preocupe, dançarei com todas as damas dessa cidade, inclusive você! — piscou sedutor para ela que revirou os olhos. Ele aproximou-se do seu ouvido e sussurrou. — Você viu sua prima esses dias?

— Você é inacreditável! — exclamou Valentina um pouco alto demais. — Seus pais darão um baile para oficializar seu noivado com lady Maxfield dentro de poucos dias, e você está me perguntando pela moça que partiu o coração? Inacreditável!

— Não foi bem assim... e  eu só queria saber como ela está… não é nada demais. — murmurou.

— Isso não é da sua conta. — ele lhe lançou um olhar ferido que amoleceu seu coração. — Olha, ela está muito bem e não quer te ver nem pintado de ouro.

— Eu sei… é só que ela sumiu e não responde meus bilhetes. — Valentina suspirou e olhou para Edward pedindo ajuda.

— Amigo, ela está magoada! Você escolheu casar com outra ao invés de ficar com ela, como acha que Ivone está se sentindo? — o futuro duque abaixou a cabeça cabisbaixo e envergonhado pela sua covardia.

— Olha quem fala… — murmurou quando conseguiu recuperar um pouco da compostura.

— Não seja infantil, Robert! — ela o fuzilou com olhar.

— A culpa não é minha se ele não enxerga o que está bem a sua frente! — Valentina lhe deu um beliscão discretamente no braço, para que ele calasse a boca.

— Ai! — guinchou massageando o lugar e olhando para ela com uma expressão magoada.

— E do que exatamente você está falando, Robert? —Edward franziu o cenho confuso.

— Nada! — ela voltou sua atenção para o rapaz muito alto que estava prestes a respondê-lo, mas antes de abrir a boca, foi cortado por Valentina. — Você fez sua escolha e ela fez a dela. A deixe em paz. — concluiu Valentina.

— Eu não posso simplesmente romper um compromisso de anos… meus pais ficariam extremamente decepcionados, há muita coisa em jogo.

E ela sequer gosta de mim, pensou.

— Se não quisesse decepcioná-los não teria feito isso. — apesar da discussão acirrada, os dois andavam de braços dados.

— Eu só estou preocupado com ela, só quero saber se ela está bem! Nada demais.

— Devia ter se preocupado antes e não feito a minha prima sofrer. Sua mãe não a deixa em paz por causa disso. E você foi a primeira pessoa que ela... que ela...  — Valentina parou abruptamente. — Deixa para lá.

— Bem, não foi minha intensão, já falei para a minha mãe parar de incomodá-la.

— Sei que não quer ir contra a sua família, ainda mais com seu pai tão doente. Mas sempre existirá uma parte que sairá machucada, Robert. Nós todos estamos dando apoio a ela, não se preocupe, Ivone ficará bem. Até conseguiu um trabalho! 

— Ela está… trabalhando? — perguntou preocupado com a situação financeira da família da moça, que não era das melhores havia muito tempo e graças a sua mãe se tornava cada vez pior.

— Sim. E não vá oferecer dinheiro a ela. — Robert suspirou como uma criança teimosa ao ouvir aquilo. — Sei que quer ajudá-la, mas fará isso ficando longe! Ela se sentirá ofendida, minha prima é muito orgulhosa, e acredita que você só está fazendo isso para se exibir.

— Não precisa ser grosseira! Só queria ajudá-la de verdade. Sem segundas intenções. — adotou uma postura mais séria. — E eu jamais faria isso com alguém, principalmente com ela. Pode até não parecer, mas a considero muito.

— Eu sei, mas Ivone pensa essas coisas ruins de você, infelizmente. Não se preocupe com ela amigo, ela ficará bem! Prometo.

— Tudo bem, agora tenho que ir! Espero vocês no baile. — disse beijando os cabelos da amiga e andando apressado até o seu cavalo.

— Será que os dois irão reatar? Eles claramente se amam, apesar de nenhum dos dois admitir. — indagou Edward que ofereceu o braço para a amiga. Os dois começaram a andar em direção ao jardim, onde os demais amigos estavam.

— Eu ainda tenho uma pequena, mas bem pequena mesmo, esperança. — suspirou triste pelo dois amigos. — Sei que o Robert é um idiota, mas ele fazia a minha prima feliz.

— É uma pena, ainda bem que Grace e eu estamos indo muito bem, ela é um doce e muito gentil. Acho que estou me apaixonado. — Valentina ao ouvir aquilo bufou e teve que se conter para não revirar os olhos.

Grace Harrison, doce?

Grace Harrison, a bela morena de pele dourada e olhos de um azul intenso e hipnotizantes, conquistara a antipatia de Valentina, desde que as duas arrancavam os cabelos das suas pobres bonecas. Para ela, Grace era uma manipuladora e interesseira de primeira, esperava que seu amigo enxergasse realmente quem era a moça com quem pretendia se casar.

— Oh, olhe... lá estão elas e o Marcus também. — falou Edward assim que avistou o grupo que conversava animadamente, sob a proteção de uma tenda que se localizava no centro do jardim. O dia estava agradável, algo que Valentina apreciava muito, por isso ela resolveu organizar aquele almoço naquele local. — Tina, é… eu… queria te perguntar uma coisa.

Valentina deixou seu olhar escorregar do grupo de moças que riam de alguma coisa que Marcus dizia, para o rosto confuso do amigo.

— O que foi, Edward?

— É sobre sua irmã… desde que eu voltei ela está agindo estranho comigo. — confessou demostrando uma certa angústia, ele fitava a moça de cabelos vermelhos que pouco sorria. E parecia não se divertir tanto quanto as outras. — Ela passa o tempo todo me evitando… fala pouco comigo e mal olha em meus olhos! Meu Deus, não sei se fiz alguma coisa antes de ir para Edimburgo que a magoou, eu… eu só quero a minha amiga de volta. Ela comentou alguma coisa com você? Que eu possa ter feito algo para a ter magoado?

— Não, eu não sei de nada… talvez seja impressão sua. — ela mordeu a bochecha pensativa, a caçula tinha certeza, apesar da irmã negar, que a ruiva sentia algo além de amizade pelo rapaz que era seu melhor amigo. Parecia que todos que amava, possuía problemas com relacionamentos, inclusive ela, que sentia um corrosivo medo de ter seu coração partido novamente. Fugia de prováveis pretendentes como o diabo fugia da cruz. Apesar daquele dia na casa de chá, quando sua irmã havia tratado o amigo normalmente, desde então, ela havia percebido que Margaret havia mudado com o rapaz, mas pensou que ele não havia notado essa mudança, porém estava enganada. — Por que vocês não conversam?

– Quero muito ter uma conversa de verdade com ela, mas como já disse, a sua irmã está me evitando. — Edward soltou um suspiro derrotado. — Ela inventa mil e uma desculpas para não ter uma interação mais significativa comigo. Eu sinto que ela está me afastando… queria tanto que ela fosse a minha madrinha.

Valentina engasgou com a própria saliva ao ouvir aquilo, Edward a olhou preocupado sem saber o que fazer.

— Ma-madrinha? — perguntou com dificuldade.

— Erga os braços… isso, assim mesmo! Está melhor? — perguntou observando a amiga que voltava ao normal, ela assentiu e os dois voltaram a andar. — Sim, quero que Maggie seja a minha madrinha, não vejo ninguém melhor que ela. Oh, você não está chateada, está?

— Não… claro que não!

— Sabia que você entenderia! Só espero que ela aceite.

— Não se preocupe, irei falar com ela. — garantiu. Ela só não sabia se sua irmã receberia essa notícia tão bem. Seus olhos foram atraídos até seu irmão Charles que se aproximava das moças. — Pensei que ele só chegaria mais tarde.

— Seu irmão faz de tudo para ficar perto da Nicole. — falou simplesmente, tirando os olhos da futura cunhada para fitar a noiva.

— Meu irmão é um bobo apaixonado.

— Não sabia que era uma irmã ciumenta. — comentou, achando graça da careta de Valentina. — Além do mais, vocês não são amigas?

— Isso não é ciumes, é zelo. E sim, somos amigas, mas a Nicole me parece diferente últimamente. — fitou o casal.

— Ora, não vejo diferença nenhuma nela. — Edward observou a moça atentamente.

— Você é um lesado, Edward. Não vê o que está a um palmo do seu nariz! — soltou sem pensar.

— Nossa! — fingiu que estava ofendido, levando a mão livre ao peito. — Por que profere palavras tão cruéis? Não sou o Robert!

— Não seja bobo! — ela lhe deu uma cotovelada de leve. Edward riu da sua cara carrancuda enquanto se aproximavam do grupo.

— Olá! — saudaram.

— Olá — murmuraram em uníssono.

— Edward! — Grace berrou, levantando-se e pulando nos braços do noivo, roubando-lhe um beijo em seguida.

Valentina trocou olhares significativos com Bernice, que bufou. E logo depois fitou Margaret que, quando viu a cena, abaixou a cabeça.

Valentina sentou-se entre as duas e pousou sua mão sobre a dela e apertou. Margaret ergueu a cabeça e a fitou, seus olhos entristecidos cortou o coração da caçula.

— Olá, flozinha. — sussurrou lhe oferecendo um sorriso acolhedor.

— Olá, pimentinha. — respondeu a ruiva com um pequenino sorriso.

— Você está bem? — perguntou não só pela cena que as duas presenciaram, mas também pelo fato que sua irmã estava um pouco pálida.

— Eu estou bem, não se preocupe. — Valentina não acreditou nem um pouco naquilo. 

— Oi, irmãzinha… — murmurou Charles que possuía a mão entrelaçada na da moça morena ao seu lado. Ele ofereceu um sorriso torto a irmã que o ignorou.

— Está tudo bem, Nicole? — perguntou Valentina, voltando sua atenção para a versão mais nova de Grace. — Você me parece um pouco verde.

— Ah, não é nada, querida. Só estou um pouco enjoada essa manhã. Tenho certeza que não é nada demais. — falou a moça com sua costumeira doçura. — Obrigada por perguntar.

Marcus a olhou por longos segundos, mas não disse nada.

— Se quiser posso levar você para casa, monamour. — se ofereceu Charles, que passou a analisar seu rosto com cuidado.

— Você pode ir para o meu quarto, descansar um pouco. — completou Valentina. — Posso pedir a Anne que preparare alguma coisa para você.

— Ou para o meu… — disse seu irmão em um sussurro alto, fazendo Nicole corar envergonhada, o mesmo recebeu uma olhadela atravessada da irmã.

— Pare de constranger Srta. Harrison e a nós. Seu devasso! — repreendeu Edward, tentando conter um sorriso quando Marcus olhou para ele.

— Não seja impróprio, Charles — sussurrou uma muito constrangida Nicole.

Marcus olhou para o amigo com um olhar assassino.

— Você não ousaria… — sibilou.

 

— Claro que ele não faria nada disso, não é, meu irmão? — falou Margaret, saindo do seu torpor.

Charles riu do rubor da irmã, seu rosto estava mais vermelho que seu cabelo.

— Er… claro que não, irmãzinha — murmurou, deixando a brincadeira de lado e olhando com atenção o rosto abatido da amada.

— Homens… — murmurou Bernice, se abanando com o seu leque rendado e revirando os olhos.

— Onde está Harry, Bernice? — perguntou Valentina fitando a amiga, que estava estranhamente calada.

— Ele está com um amigo dos tempos da faculdade hospedado em sua casa... eles são inseparáveis. Os dois estão resolvendo algumas coisas sobre a sociedade que eles possuem no ramo de tecidos. São tão próximos e amigos, temo ser trocada — falou enciumada, de repente ela arregalou os olhos com se tivesse pensado em algo incrível e fitou a amiga com entusiasmo — Gostaria que o conhecesse, Tina… ele é um rapaz muito gentil e respei…

— É melhor parar por aí, mocinha. — cortou Venlentina. — Até você? Parem de tentar arranjar pretendentes para mim, por favor?

— Nossa, você é tão chata…

— Bernice, estou bem como estou e falo sério. Já não basta o papai com essas ideias?

— Desculpe, é que eu achei que seria algo interessante… — murmurou nem um pouco arrependida. — Ele é lindo, alto, forte e tem os olhos ver…

— Bernice… — advertiu.

— Está bem, não tocarei mais no assunto. — por hoje, pensou e sorriu escondendo seu sorriso malicioso atrás do leque.

— O almoço já está sendo trazido, senhorita. — comunicou Anne, parando ao lado de Valentina.

— Obrigada, Anne. Por que não se senta conosco? — ela sorriu para a amiga e apontou um dos lugares vagos do outro lado da mesa.

— O quê? — ginchou Grace com os olhos arregalados, não escondendo sua aversão.

Anne ao ver sua reação torceu o avental em suas mãos e abaixou a cabeça constrangida.

— Grace… — censurou Nicole, baixinho, tentando controlar a ânsia de vomito ao sentir o cheiro da comida, que estava sendo servida. — Pare com isso. Não seja indelicada!

— Indelicada? — repetiu as palavras da irmã.

— Sim, você está sendo — comentou Edward, que  detestava aquele lado da noiva — A Anne é uma amiga nossa, não a trate assim.  

— Por que ela tem que se sentar conosco? É uma simples cria…

— Vê algum problema nisso, Grace? — perguntou uma voz muito conhecida por todos.

— Levi… — sussurrou Grace em um fiapo de voz, seu rosto ficara pálido, sua garganta secara e seu coração passara a bater descontrolado.

Logo Levi se materializou perto da mesa, ao seu lado estava Ivone.

— Levi! Ivone! — berrou Valentina, levantando-se e indo de encontro aos primos, abraçando-os. — Pensei que estava em Oxford!

— Oi, Tina! — ele abraçou a prima apertado. — Senti sua falta.

— Também senti a sua. — murmurou contra o seu peito. — É uma surpresa muito boa! Veio para o meu baile?

— Sim, não o perderia por nada. — disse lançando um rápido olhar para a moça que os observava.

Apesar da animação de Valentina, o clima havia ficado pesado no jardim da marquesa. Desde que Levi McGowan chegarara roubando a atenção de todos, porém sua  atenção estava voltada para a moça de olhos azuis, que tentava fugir do seu olhar.

Edward não entendia porque sua noiva calara perante a presença do jovem rapaz, mas logo sua atenção fora desviada para a moça ruiva que estava sentada na sua frente – do outro lado da mesa – sempre que ele buscava seus olhos verdes, ela os desviava para longe.

— Está tudo bem? — sussurrou, tentando esconder o sentimento de rejeição que crescia cada vez mais em seu peito.

— Sim. — respondeu, lançando-lhe um sorriso forçado e voltando a prestar atenção em um jarro de camélias bem vistosas, localizado no centro da mesa.

— Sente-se aqui, Srta. Silver. — falou Levi puxando cordialmente a cadeira para Anne que sorriu e corou, tentando ignorar a expressão assassina de Grace.

Aquela moça lhe dava arrepios.

— Obrigada. — murmurou e Valentina sorriu para amiga, fechando a cara para Grace. Ela havia percebido as trocas de olhares do seu primo com a moça. Sua curiosidade estava enlouquecida querendo saber o que aquilo significava.

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