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Capítulo 3

Fui boa parte do caminho rezando.

Depois de dizer para Alexander por onde eu morava, eu só conseguia sentir que a qualquer momento eu ia ser levada para um local obscuro e seria violentada. Claro, minha mente completamente insana. Estava tremendo, ainda que eu imaginasse que fosse por conta do frio que a chuva tinha me deixado e não do medo.

Por algum tempo, ele não disse nada e eu só conseguia olhar fixamente o caminho, percebendo que ele realmente seguia o caminho fielmente até a minha casa. Mesmo assim, ainda havia alguma coisa dentro de mim que gritava para que eu abrisse a porta e saísse correndo.

Mas eu só faria isso se não estivesse chovendo, o que era o caso.

Maldito Dobby. Obrigada por ter me abandonado com esse homem muito bonito e famoso, que aparentemente eu não conhecia.

– Está com frio? – Perguntou Alexander começando uma conversa. Balancei a cabeça negativamente, mais para me fazer de forte, muito embora eu soubesse que se falasse alguma coisa, ia demonstrar o frio que sentia com o bater de dentes.

– Sei. – Disse Alexander aparentemente se divertindo com a minha coragem tola, já que mal falou isso e aumentou o ar para vinte e cinco graus. Me senti mais aliviada de que finalmente ia ficar quentinha.

– Me desculpe por estar molhando o seu banco. – Disse um pouco envergonhada, porque, na verdade, essa era a realidade.

– Não se preocupe. – Ele disse virando o rosto rapidamente na minha direção e piscando. Voltei minha direção para a estrada, mais para não corar, do que, de fato, estar prestando atenção por onde íamos.

– Então.... Você me conhece? – Ele pergunta ainda sorrindo, parecendo se divertir às minhas custas. Eu não acho graça.

– Não. Não assisto televisão. Em que canal você costuma passar? – Pergunto fazendo Alexander soltar uma longa gargalhada, achando graça da minha tontura. – O que foi? – Pergunto ainda um pouco ofendida. Ele balança a cabeça negativamente.

– Não é nada, não se preocupe. – Riu mais um pouco para finalizar. – Mas é que eu nunca conheci alguém que não me conhecesse. – Ele disse risonho. Revirei os olhos.

– Bem-vindo ao meu mundo. – Brinquei o fazendo sorrir sugestivamente.

– Também é famosa e eu não te conheço? – Ele pergunta e eu nego.

– Não sou famosa e ninguém me conhece, mas cozinho muito bem por sinal. – Faço-o rir enquanto ele balança a cabeça concordando, antes de me perguntar:

– Trabalhas em algum restaurante? – Não sei se é o certo eu falar onde trabalho, mas diante das circunstancias de que ele está me levando para minha casa – algo mais íntimo do que isso eu não sei se existe – eu acho que não há nada demais de eu falar onde eu trabalho.

– Sim, nas redes Falcão. – Comento e pareço ter a atenção dele. Não é por menos. É uma das redes mais conhecidas da região, todo mundo um dia pelo menos, quer comer nelas.

– Ah, é? Chefe? – Ele pergunta interessado e eu me sinto humilhada ao falar a verdade.

– Mais ou menos. Vou fazer o teste amanhã. Se eu conseguir... – Comunico e ele parece concordar com um pequeno sorriso no rosto.

– Tenho certeza de que quem vai te julgar vai gostar do prato com linguado. – Ele diz e eu dou de ombros, já que não fiz o teste para saber se vai realmente ficar assim tão bom, então não posso concordar com ele antes disso. Mas tento ser simpática, dando alguma esperança para ele:

– Tomara que sim. – Voltamos ao silêncio que havia antes.

Eu não moro muito longe, mas, aparentemente, por conta da chuva, muitos locais estão com transito parado, fora os semáforos, que estão aqui e acolá transformando tudo num inferno.

– Você é daqui de São Paulo mesmo? – Ele pergunta e eu nego, um pouco desconfortada com as perguntas.

– De onde você é? – Ele pergunta, enxerido.

– Do interior. – Respondo ainda um pouco sem jeito.

– Sempre fui daqui de São Paulo. – Ele diz tentando amenizar as perguntas.

– Ah... E és um famoso que gosta de cozinhar? – Pergunto também sendo enxerida.

– Sim. – Ele dá uma leve risada – Sou formado em duas faculdades. Uma delas é gastronomia. Mas não exerço, ainda que goste dela. – Concordo balançando a cabeça.

– Um famoso que sabe cozinhar e é formado na mesma coisa que eu. Interessante. – Brinco e o faço sorrir enquanto dá seta para entrar numa rua.

– Um famoso que sabe cozinhar. Isso aí. – Ele diz brincalhão e percebo que mais a frente logo chegaremos no meu prédio. Já estamos na minha rua.

– Não imaginei que você realmente ia levar a sério e me deixar em casa, mas agradeço a benevolência, mesmo que isso tenha lhe gerado ibope. – Brinco e ele desliga o carro ainda risonho.

– Nada disso. Meu ibope só estará completo quando eu levar as compras para você também até o elevador. – Ele diz e eu não concordo com isso, balançando a cabeça veementemente que não. Olho o relógio. Faltam quinze minutos para minha mãe e minha avó chegarem. De jeito nenhum posso deixa-lo entrar.

– Não, isso já é demais. Muito obrigada, mas não. – Nego e ele mesmo assim tranca o carro com alarme pegando algumas compras da minha mão, para meu alarde.

– Por favor. Você já percebeu que não vou te atacar. – Ele brinca, mas eu levo isso muito a sério, já que não posso dizer por uma simples carona que ele não é uma pessoa mal-intencionada.

– Não sei. Acho melhor não.

– Avise o seu porteiro então, que eu desço em cinco minutos. Pronto. – Olho novamente para o relógio. Pode ser que de tempo. Elas não aparentam ter chegado, pelo menos não vejo ninguém com o porteiro. Acabo cedendo.

– Tudo bem. – E até penso em avisar o porteiro, mas acabo não fazendo. Não sei se por vergonha, ou pelo olhar do porteiro que, aparentemente conhece o homem também. Céus! Não é possível que eu seja a única que não conhece esse homem?

Entramos no elevador. Realmente eu comprei muitas coisas e estou me arrependendo disso. Mas não ligo. Ainda preciso receber minha mãe e minha avó e agradecer ao moço desconhecido, mas conhecido, aparentemente famoso.

–Muito obrigado por estar fazendo parte do meu ibope, senhorita. – Brinca Alexander.

– Não há de que, homem que não conheço. – Ele dá uma longa gargalhada.

– É incrível saber disso, pois assim não sou julgado. – Ele murmura, mas eu finjo que não ouço. Afinal, vai saber o que esse homem já fez. Seria ele um libertino?

O meu apartamento fica no terceiro andar, logo, não ficamos muito tempo no elevador. As portas se abrem e eu procuro o molho de chaves para enfim abrir o apartamento 302, vulgo, meu apartamento.

– Obrigada, Alexander. – Digo enquanto abro a porta do apartamento. – Já que você está sendo gentil, se puder colocar as compras ali na minha bancada, por favor. – Por que sou dessas. Vou abusando da boa vontade dos outros, já que não gosto de carregar peso. Ao menos, olhe pelo lado bom, ele realmente está carregando as compras até a bancada a qual apontei.

– Querida, é você? – Ouço, para meu completo alarde. A sensação de estar caindo dentro de um sonho é tão similar a essa. Não consigo esconder a minha cara de espanto ao perceber que, aparentemente, minha mãe e minha vó chegaram mais cedo do que o previsto. E, pior, estão aqui, bem na minha frente, dentro do meu apartamento, esperando sorrateiramente a minha chegada.

Acho que a única coisa que tem a piorar ainda mais, é o fato de eu estar entrando com um homem. E, novamente, não consigo esconder a minha cara de espanto. Olho para Alexander, que parece estar alheio a tudo e depois olho para minha mãe e minha vó, sentadas confortavelmente na sala da minha casa. E então, como se espera de imaginar, eu não sei o que fazer.

Só sei que estou extremamente ferrada. E isso é pior que tudo.

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