6. Noite de revelações
O dia de sol finalmente se fora, em outras palavras, agora os humanos iriam dormir e os sugadores iriam acordar. A obrigação de Brenda era levantar-se antes de seu senhor, e no momento em que o último resquício de sol sumira ao horizonte seus olhos se abriram, então quando seus dedos estalaram-se ,do mesmo modo que as cortinas haviam se fechado agora elas se abriram dando permissão total para a luz da lua entrar em todos os aposentos. Se sabe, e Julio Cesar adora esse fato, é que ele não precisa ir atrás de sangue, o sangue vem á seu encontro. Como?
-Quando um vampiro tem uma sacerdotisa em seu poder, ela é quem lhe prepara as ‘refeições’, sem trocadilhos.
Na noite anterior Brenda envolvera-se por completo num manto negro bem grosso para proteger-se do sol forte e com a ajudinha de seus poderes, que não eram poucos diga-se de passagem, ela fora ate á cidade sem ser importunada, e para sua sorte não demorara a encontrar a refeição de seu senhor.
Um jovem casal se beijavam avidamente embaixo de uma árvore perto de um lago calmo, e Brenda astuta que só aproximou-se como quem não quer nada com um – olá- então o rapaz fora o primeiro a lhe encarar um pouco constrangido por ter sido pego, e logo a menina vermelha como um tomate também lhe olhou e ai Brenda os envolveu no poder de seus olhos e os levou como dois cordeirinhos ao lobo, oops!!! quis dizer ao sugador. Brenda segurou os dois pelos pulsos e os enganchara em seus braços para quem olhava seria apenas amigos dando um passeio, já que os mandara sorrir, e assim fora ate chegarem num lugar deserto.
Aposto que você pensou que Brenda os levaria ate Julio Cesar e ele os mataria sem dó e nem piedade, certo?
Ledo engano, esse tipo de coisa é demasiadamente antiquado para os padrões ‘morais’ de Julio Cesar-não que vez ou outra ele não gostasse de ver e sentir o sangue rolar literalmente-mais ele prefere apreciar um sangue mais morno, envelhecido num copo-sabe é como dizem: quanto mais velho for o vinho melhor o sabor certo?
–E então ,Julio Cesar, ira compartilhar de sua vida pósmorte conosco?-perguntou Raquel ao apreciar uma boa taça de sangue que á pouco
Brenda entregara a ela e Julio Cesar que estava com sede já que partia para sua segunda dose com alguns filetes do mesmo a escorrer do canto de seus lábios.
–Bem, minha história começou quando meu pai o Conde Vlad Tepes 3 morreu...
Agosto de 1476 Valáquia, região da Romênia
Cemitério local
Chovia e ventava muito, raios e trovões anunciavam uma tempestade ainda mais violenta. De pé, coberto por uma longa capa de capuz de veludo preto, diante de um sepulcro marchetado com joias preciosas encontrava-se Julio Cesar o único presente no velório de seu amado pai o Conde Vlad Tepes 3,que na verdade era o príncipe da Valáquia .Amada Valáquia como dizia. O forte e congelante vento não só fazia sua capa agitarse como também arrancava folhas e galhos das árvores e levava até seus pés e rosto chicoteando-os com fúria.
Fúria que rasgava seu coração por aqueles que não moveram um dedo para acudir seu pai quando este fora preso, torturado e morto pelos inimigos. Lágrimas frias de ódio escorriam por sua face, igual acontecia na do pai, algo que o fez franzir o cenho e sussurrar-tatã?
O desespero o dominou ao falar coisas desconexas como -si ce conteazã alum cã e mort inimic[e o que importa, agora ele já esta morto] enquanto sacudia seu corpo inerte que retrará do paixão ainda as portas do sepulcro-altceva nu conteazã[nada mais importa]tata?![pai?!].
–Nimic altceva nu conteazã![nada mais importa]exbravejava com fúria ao começar a esmurrar com toda a sua força o sepulcro do pai levando-o as ruinas de pó e joias junto com o corpo do pai á seus pés. Sua garganta ardia,seus pulmões já não tinham mas ar para bombear seu coração machucado como suas mãos que sangravam e seus olhos já não tinham mais lágrimas e ali os raios refletiam.
–De cem ã pãrãsiti, tatã meu?[por que me abandonaste,meu pai?!]
Julio Cesar sentiu uma raiva crescer sem precendentes em seu peito, seu coração parecia não mais bater e seus atos se tornaram fundados só pela saudade mortuária e fez o que jamais pensou ter coragem de fazer, agarrouse ao corpo molhado e gélido do pai, expôs seu pescoço e como um lobo ataca um cordeiro ,atacara aquele pescoço endurecido pela morte e sugou com dor, raiva, saudade e desgosto até a última gota de sangue ‘podre’ que havia no corpo daquele pai que tanto amava.
Repulsivo. Nojento. Odioso. Razão?
Somente o coração de Julio Cesar saberia dizer qual era, pois no momento a única coisa que fez foi jogar o corpo seco para o lado e partir em busca da única coisa que aplacaria sua revolta: VINGANÇA.
Julio Cesar a executou com maestria quando adentrou as portas da igreja comandada pelos da Ordem do Dragão, aqueles á quem seu pai serviu com devoção e orgulho.
Assustados os monges que estavam a fazer suas orações se viraram e um destes perguntou:In numele lu Dumnezeu il cauti pe fiul tatãlui tãu?[o quê, em nome de Deus, procuras aqui filho de teu pai?
Julio Cesar rosnou ao tirar das mangas de sua blusa duas estacas de madeira o que fez os monges recuarem de olhos arregalados para trás ,afinal sabiam a fama do pai do menino que era de ‘empalar’ suas vitimas vivas. Este sorriu ao gritar: mor, trãdãtor ai tatãlui meu!(morram, traidores de meu pai).
Os monges bem que tentaram correr ou se defender, mas a fúria do sucessor do filho do dragão era incomensurável. Imparável. Demoníaca .E em poucos minutos chão, bancos, candelabros, cortinas e paredes foram redecoradas e pintadas com o sangue dos monges que foram empalados da forma mais grotesca ,do ânus passando pelo meio do corpo a boca ou vice- versa.
Momento presente
–Depois disso -os sugadores estavam atentos e de olhos arregalados á Julio Cesar que contara tudo com naturalidade-eu dei ás costas aos corpos e sai para a tempestade violenta que me acalmou.
Raquel ficou sem palavras, algo para ela raro de acontecer.
Marcus que já não nutria afeição algum por Julio Cesar agora sentia um ódio fervoroso arder em suas veias.
Brenda manteve suas feições neutras, percebeu Marcus ,e sentiu pena dela, pois imagina tudo o que ela já viveu e ate passou ao lado daquele monstro.
É chegada a hora de retornar a um lugar que por muito tempo ficara adormecido na mente de Raquel, mas jamais esquecido por ela ,e agora ela quer vingança.
Uma vingança que com a ajuda de Julio Cesar vai ter um gosto mais saborosamente mortal.
Ruão cidadezinha no interior francês
O manto da noite cobre toda a cidade, exceto por algumas lamparinas aqui e acolà. E dos becos escuros das casas saem morcegos negros que conforme vão se chegando ao chão vão se transformando em pessoas novamente.
E adivinha quem são?
Raquel ,Julio Cesar, Brenda e Marcus são os primeiros á saírem de um dos becos conforme os demais vão saindo ao encontro destes com seus olhos estreitos e vigilantes ao menor ruído que não for deles.
–Raquel, o que quer que façamos afinal?-perguntou-lhe Julio Cesar á seu lado farejando os vários cheiros de sangue que vinham as suas narinas conforme seus olhos adentravam através das paredes e vendo com cor vermelho sangue como suas íris algumas pessoas caminhando em direção á quartos, outras indo banheiro, fazendo amor em suas camas e algumas já dormindo.
–Transforme a todos - mandou com um sorriso predatório e os olhos a brilharem.
–Não quer vê-los mortos?-retrucou Marcus afinal com tudo o que vira e ouvira nesses dias ao lado de Julio Cesar e percebendo que ela apreciava o que este fazia, sabia que aquelas pessoas sofreriam menos se morressem.
–Não!-disse secamente-eu quero que eles sintam o que eu senti. O medo. A raiva. O desprezo e o amor a morte e o fuzilou com seus olhos demoníacos e ele suspirou desalentado ao ter de cumprir aquela ordem nefasta.
–Mostrem-lhes a dor!-rosnou Julio Cesar sorrindo bem como aqueles que foram cumprir suas ordens, seguidos por ele e Raquel em direção as casas destruindo tudo pelo caminho. A matança estava indo de vento em polpa como se diz. Casas pegando fogo, pessoas desesperadas a correrem e acabarem pisoteadas umas pelas outras, gritos ,risadas diabólicas dos sugadores que se excitavam com o medo e o desespero daquelas pessoas. Porém a mais perversa de todos era Raquel que não se contentava em apenas sugar quase todo o sangue de suas vitímas mas também lhe dilacerar a pele com suas garras só para ter o prazer em si na dor desta já que após o ferimento sumiria.
Numa das últimas casas ainda de pé ao final de uma ruazinha Julio Cesar se dirigia com o rosto e mãos ensanguentados á porta que cedeu como uma pilha de roupas ao menor toque. E a primeira coisa que viu fora uma garota linda e assustada, mas ainda assim segurando um pedaço de madeira firme em suas mãos a parecer uma guerrerira não querendo ceder ao inimigo.Seu cabelo longo e cacheado estava todo desgrenhado e sujo de pó e sangue, e fora ai que Julio Cesar percebeu que a seus pés havia um dos sugadores de Raquel mortos com um pedaço daquela madeira enterrada em seu peito a se desmanchar em cinzas. Algo se agitou no interior de Julio Cesar um sentimento tão forte e poderoso que não sentia desde os tempos em que seu pai ainda estava vivo e tão pouconos dias em que se transformara em sugador. Era amor. Puro e simples e ao encarar os olho negros daquela garota que o desafiava a se aproximar, ele soube que a levaria consigo.
Como um leão se aproxima sorrateiro do antílope ele se aproximou dela, que engoliu em seco ,mas não moveu-se, e então ambos os olhos negros se encontraram em meio ao fogo da destruição que os rodeava e lentamente Julio Cesar levou sua mão aquele rosto pálido, quente e macio e perguntou-como se chama?
Perdida naquele olhar ela se viu incapaz de não responder -Miranda – falou com voz rouca. Julio Cesar rendeu-se ao desejo feroz que o abalou até o âmago e prensou Miranda, que resfôlegou, na parede e devorou aquela boca carnuda enquanto sentia o calor do corpo feminino, algo bom e raro demais a um sugador que vive e sobrevive de alma e corpo gélido. Línguas dançavam e duelavam no interior daquelas bocas até que se separaram, mas os olhos continuavam fixos um no outro.
–Você vai ser minha-Julio Cesar arreganhou seus lábios expondo suas presas e sentiu que Miranda tremeu-para sempre – antes que ela corresse este abocanhou o pescoço alvo com os gritos e protestos dela que o empurrava sem sucesso. Até que uma voz carregada de ódio e ciúmes reverberou no ar tirando-os do transe.
–Julio Cesar!!!
Julio Cesar rosnou ao ter de abandonar aquele sangue quente para deparar-se com as feições nada sutis de Raquel, que trincava os dentes para não fazer uma cena dramática.
–Raquel, o que veio fazer aqui?
–Poderia te fazer a mesma pergunta-devolveu mas, sem lhe encarrar pois seus olhos não se desviavam daquela garota medíocre recostada á parede com uma mão a segurar o sangue que escorria de seu pescoço e a outra espalmada na parede imunda.
–Como ousa falar comigo neste tom?!
–E você,-ela dera alguns passos á frente, e por instinto Julio Cesar posicionou-se bem á frente de Miranda o que só aumentou a raiva de Raquel-como ousa me trair?!
–Controle sua língua!
A raiva explodiu dentro de Raquel que estreitou os olhos arreganhando suas presas e mostrando suas garras a Julio Cesar ao dizer rosnando-você não vai me trair!
Ele riu debochado – eu já o fiz.
E para o quê foi pois Raquel gritou –desgraçado!-e deulhe um tapa violento com as unhas que rasgou a lateral do rosto dele ,que devolveu na mesma moeda esbravejando-cadela! –e a mandou ao chão a pingar sangue, mas com os ferimentos a se fecharem.
Raquel levantou-se do chão om mais fúria ainda, limpou o sangue seco de seu rosto com o dorso de sua mão e afirmou:
–Eu a matarei antes que você a ensine.
De repente duas vozes interromperam aquilo que se transformaria num banho de sangue entre aqueles dois.
–O que está acontecendo aqui?-perguntou Marcus ao adentrar a frente de Brenda que emendou em sua pergunta:
-Esta tudo bem?
Julio Cesar ignorou á todos incluindo Raquel que lhe dava um daqueles seus olhares mortais ao vê-lo pegar Miranda entorpecida, pelo braço e leva-la para a rua e lá sumir do nada, para o nada junto dela.
–Je vais détruire votre diamante bruto ,Julio Cesar prometeu Raquel com raiva ao adotar sua língua materna sem se dar de conta .e por fim, caminhando a passos duros transformou-se em morcego e sumiu no céu.
Brenda e Marcus se entreolharam, mas acabaram por também se transformarem e segui-la.