Capítulo 9
Eles estavam ao ar livre, à tarde, no final de outubro. Ronaldo estava usando uma camiseta leve e Ember ainda estava completamente molhada, coberta apenas pelo casaco, que era decididamente grande demais para ela. - Muito bem, precisamos sair daqui", disse ele, olhando em volta e certificando-se de que ninguém os tinha visto.
- Eles devem ter encontrado as roupas de vocês e devem estar procurando alguém que tenha entrado na piscina depois do horário de fechamento. Além disso, está muito frio aqui fora", ele argumentou em voz alta, falando mais para si mesmo do que para ela. - Não posso deixar você voltar para os dormitórios sozinha, mas também não posso andar por aí com um dos meus alunos que não está usando nada por baixo da jaqueta que dei a ele - Ember estava gostando de vê-lo com aquela expressão pensativa no rosto e estava curiosa para entender onde ele iria parar com aquele discurso.
A garota olhou na mesma direção que Damien, que havia se afastado um pouco mais. Na beira da estrada, a poucos metros deles, um táxi tinha acabado de parar.
O destino, mais uma vez, parecia estar do lado de Ember. As leis da natureza não pareciam mais funcionar corretamente, o que sempre facilitava a escolha dos caminhos errados.
Será que eles sofreriam as consequências de toda essa maldita sorte?
Era provável, mas nenhum deles parecia se importar no momento.
- Vamos para a minha casa, para que você possa se secar, encontrar algo para vestir e depois voltar para cá sem nos colocar em mais nenhuma situação que possa comprometer seriamente nossas carreiras - dessa vez ele se dirigiu diretamente a ela, forçando-a a olhar para ele e suprimir a expressão maliciosa que estava prestes a tomar conta de seu rosto.
Ela não conseguia entender como esse homem finalmente havia tornado sua vida tão fácil. Ela tinha um plano em mente e ele, sem nem mesmo perceber, abriu a porta de sua casa.
- Mas prometa-me que você será boa e nunca mais se aproveitará da minha hospitalidade", ele apontou o dedo para ela, olhando-a com severidade.
- Professor, eu sempre sou boazinha", respondeu ela, começando a caminhar em direção ao táxi, enquanto ajeitava o casaco e o cabelo molhado para não levantar suspeitas.
- Ember", ele a chamou, virando-se para ela. Ele estava olhando para ela com uma expressão séria, com os braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha levantada.
- Eu prometo", disse ele, revirando os olhos e fingindo desapontamento com o que acabara de dizer.
O que Ronaldo não podia ver, entretanto, eram os dedos cruzados da mão direita dela, que ela segurava atrás das costas.
O tempo parecia ter dado um passo atrás, mais uma vez aquela garota estava na sala de estar de sua casa.
Alguns detalhes haviam mudado, como o fato de que ela estava nua sob o casaco que ele havia lhe emprestado. Ou o motivo que os havia levado até ali naquele exato momento.
Mas, fora isso, parecia que ela estava revivendo algum tipo de flashback.
Ember se virou rapidamente para ele, que estava ocupado servindo um copo de água para si mesmo, atrás da ilha da cozinha. - Se vou me comportar bem, mereço pelo menos algo para comer. Já que estou deixando de comer meu hambúrguer por sua causa", disse ela, fazendo beicinho como uma criança.
- Por minha culpa? repetiu ela com os olhos arregalados. - Foi você quem me seguiu até a sala de aula e depois me arrastou para a piscina da universidade, arriscando perder meu emprego", ele a lembrou, colocando o copo na superfície plana da ilha.
- Ah, é ruim quando você é acusado de algo que você sabe que não é o único defensor, não é? - perguntou ela retoricamente, referindo-se àquele momento na biblioteca em que ele apontara o dedo para ela, eximindo-se de qualquer responsabilidade.
Ronaldo desviou o olhar, evitando responder.
- E, a propósito, por favor, por tornar a noite de vocês mais divertida", ela comentou, sorrindo de forma provocante e testando a paciência dele. O fato de ele sempre ter uma resposta pronta para tudo era perturbador e, às vezes, até irritante, porque significava que ele tinha de deixar a última palavra em qualquer discussão para ela.
- Ember, por favor, vá tomar um banho, arrume-se e depois veremos se podemos levar você de volta aos dormitórios", ordenou ele, apontando para a porta do quarto, que dava para o banheiro.
- Tudo bem", concordou ela, levantando os braços para o céu. - Nesse meio tempo, pelo menos peça uma pizza", insistiu ele, depois desapareceu pela porta de madeira.
Damien ficou parado por alguns segundos, com a boca ligeiramente aberta e as sobrancelhas franzidas.
Isso o deixou completamente fora de si.
Isso o deixou louco.
E o que mais o incomodava era o fato de que ele também gostava de acompanhá-lo e fazer certas loucuras.
Ainda sozinho, ele apoiou os cotovelos naquela ilha de superfície escura, levando as mãos às têmporas e massageando-as lentamente.
Como na primeira vez em que se encontraram sozinhos, assim, foi ele quem se meteu em problemas com as próprias mãos.
Foi tudo por causa de sua consideração e bondade.
Porque ele nunca a deixaria voltar para seu quarto sozinha, à noite e vestida apenas com um casaco. Embora as chances de algo acontecer a ela fossem muito pequenas.
Mas naquele momento, olhando para trás, talvez não tivesse sido uma boa ideia ela ir com ele.
Porque como ele voltaria para o campus?
Ele não poderia acompanhá-la. Se alguém os visse, àquela hora da noite, sozinhos, indo em direção aos dormitórios, com certeza teria interpretado mal a situação.
Eles estavam de volta ao topo.
Então, como ele faria isso?
Ele pensou que sempre poderia ligar para o Uber dela e se certificar de que ela não corria nenhum perigo, nem ela nem ele.
- Professor! - a exclamação da garota interrompeu o fluxo de seu raciocínio, fazendo-o olhar para cima e para a porta da sala.
- Está tudo bem? perguntou ela, levantando a voz para que ele pudesse ouvi-la.
- Hum... Não", ela respondeu, o que inevitavelmente o deixou alarmado. Ele deu alguns passos para dentro do quarto, tentando ouvir qualquer barulho. Mas tudo o que ele conseguia ouvir era a água correndo.
-Ascua? - ele chamou de volta, passando pela porta e parando em frente à porta entreaberta do banheiro. Sem ouvir resposta, ele decidiu entrar.
- Ah, demorou menos tempo do que eu pensava", disse ela, virando-se na direção dele como se tivesse sido pega de surpresa. Ela ainda estava usando o casaco e tinha os braços cruzados sobre o peito.
- Não entendo por que, mas a água só sai do chuveiro", revelou ela com um encolher de ombros.
Isso o deixou preocupado em vão, mas ele decidiu ignorar esse detalhe, para continuar paciente. -Quando cheguei, também demorei um pouco para entender como funcionava", respondeu ele, aludindo à excessiva modernidade com que haviam construído aquele chuveiro. Damián tirou os sapatos e as meias e entrou no cubículo retangular, cercado por um vidro totalmente transparente.
Ele mexeu nos botões por alguns segundos, depois abriu a torneira de água e molhou parte da manga daquela camisa branca. Quando ele se virou, o casaco que Ember usava estava caído no chão e ela estava nua novamente, diante de seus olhos.
- Obrigada, professor", disse ela, dando alguns passos em direção a ele, que estava parado na entrada do chuveiro. Ela passou por ele, ainda mantendo o olhar fixo no dele e mal deixando seus corpos se tocarem.
E foi nesse momento que todo o autocontrole de Ronaldo desapareceu.
Ele havia resistido o máximo que pôde, mas a garota havia puxado com muita força e o fio se rompeu, deixando-o à mercê de seus desejos mais primitivos.
Ele agarrou o braço dela, virou-a para ele e a empurrou contra a parede do chuveiro. O corpo de Ronaldo se elevava sobre o dela, enquanto os arrepios causados pelo contato de sua pele nua com o azulejo cinza se espalhavam pelo corpo de Ember.