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Capítulo 4

O rosto másculo tinha uma feição estranha ao vasculhar os olhos de Nicole.

― Sim, você é minha! Ainda somos casados.

― Meu advogado entrará em contato para assinarmos os papéis do divórcio. Eu não quero nenhum centavo do seu bolso ou da sua família. Logo eu vou para a minha casa e você poderá visitar os nossos filhos.

― Nicky, você não vai levar os meus filhos para aquela casa caindo aos pedaços. ― Alexander se aprumou ao falar um pouco mais alto. ― Nós vamos para a nossa casa.

― Eu não vou, Alexander! ― Ergueu o queixo.

― Muito bem! Eu vou tomar as providências cabíveis para reaver a guarda dos meus filhos. ― Pegou o copo e terminou de beber o suco. ― Eu sou tutor do Alex. Já que você se recusou a receber a herança dele, fui incumbido legalmente de cuidar dos bens do meu filho.

As lágrimas nos olhos amendoados cortavam-lhe o coração, entretanto, Alexander não viu outra alternativa a não ser contra-atacar. Não queria ficar mais um minuto longe da família.

― Você está sem trabalho e, além disso, aquele lugar que você chama de casa não é habitável para os meus filhos e muito menos para você.

O sangue fugiu do rosto de Nicole, não esperava aquela atitude desesperada de Alexander. Olhou para o filho que atravessou correndo a porta da cozinha e o abraçou forte.

― Vocês estão brigando? ― Alex empurrou os óculos sobre o nariz curvo para cima.

― Não, meu filho! ― disse Nicole com uma voz chorosa.

Aquela ameaça desarmou toda a sua defesa, Nicole não podia aceitar a ideia de ficar longe do filho. Passou anos cuidando, amando e protegendo o pequeno Alex. Mesmo que não tivesse comodidade, nunca faltou amor, carinho e alimentação na humilde casa.

― Nós vamos voltar para casa com o meu pai?

As palavras pareciam ter fugido de Nicole. Os lábios mexeram, ela não sabia mais o que dizer.

― Venha, Alex! ― Jenny chamou da porta. ― Seus amigos da escola chegaram.

O menino beijou a barriga da mãe. Correu apressado para falar com os colegas.

― Nicky, não fica assim! ― Alexander se aproximou.

― Sai! ― Quebrou o silêncio. ― Não chegue perto de mim!

― Pensa no nosso bebê. ― Apontou para a barriga. ― Você não pode ficar nervosa.

― Se eu for para essa tal casa, vou dormir em outro quarto ― ciciou Nicole.

― Não! Você é minha!

― Procure a Isabella ou a Josephiné para satisfazer as suas vontades. Elas são capazes de tudo para ficar com você! Além disso, tem muitas mulheres que desejariam um homem da sua posição. Um médico renomado, que agora é um CEO com um futuro promissor, pode ter a mulher que quiser. ― Sacudiu as mãos ao caçoar de Alexander. ― Você não vai querer uma desempregada que mora em um casebre.

― Você é minha esposa e eu quero você!

Nicole negou com a cabeça.

― Você precisa falar com um psicólogo sobre esse desejo de dominar.

Deu alguns passos comedidos até Alexander e o afrontou.

― Foi esse teu ciúme ridículo e essa possessividade que destruiu o nosso relacionamento.

― Não faça isso, Nicole!

― Você não vai mais tocar em mim. ― Tocou o peitoral com indicador. ― Esse casamento acabou. Entendeu!?

Ele segurou a mão esquerda dela. Inclinou o torso e levou o dedo anelar com um anel abaulado de ouro até a boca. Beijou-lhe os nós dos dedos e a encarou.

― Enquanto essa aliança estiver aqui ― O calor dos lábios aqueceu a pele macia na articulação do dedo, ― você será minha mulher e eu serei teu homem. ― Beijou-lhe as costas da mão. ― Só teu!

Jenny limpou a garganta ao abrir o freezer, pegou algumas caixas de suco.

― Por que vocês sempre fazem isso quando estou por perto? ― Pegou um pacote com alguns copos descartáveis.

― É você que sempre chega na hora errada ― disse, o tom de voz mais grave.

― E por falar em hora errada, a Lana acabou de chegar e quer conversar comigo.

― Eu ajudo. ― Nicole puxou a mão. Deu alguns passos para o outro lado, separou alguns copos e organizou em uma bandeja de plástico preta. ― Eu vou servir os amiguinhos do Alex. ― Saiu às pressas.

Embora Alexander estivesse certo que a comoção e o amor pelos filhos manteria Nicole por perto, ele não imaginava que aquela decisão impensada a deixaria infeliz. O sorriso no rosto com um queixo marcado aumentou, em sua mente, tinha certeza que Nicole ainda o amava, era só uma questão de tempo até reconquistá-la.

Alexander foi para a sala, meneou a cabeça ao ver a expressão sisuda de Lana que falava entre dentes com Jenny. Virou a cabeça para o outro lado onde Nicole se agachou em frente ao filho. Os olhos claros seguiam Nicole, admirava a forma como ela cuidava da criança enquanto ajeitava a capa e a máscara do super-herói favorito de Alex.

― Olha, papai. ― Correu em direção a Alexander. ― A tia Lana me deu a fantasia do Homem-Morcego!

― Que maravilha! ― Um sorriso de íntima alegria apareceu no rosto de Alexander. ― Você está feliz? ― Pegou o filho no colo.

― Estou muito feliz porque você está aqui! ― O menino ajeitou a máscara preta no rosto.

Nos últimos aniversários, Alex assoprava a vela sobre o bolo e mesmo sem conhecer o pai, ele desejava que Alexander voltasse para casa e ficasse para sempre.

― Quero ir para casa!

― Em breve nós vamos para a nossa casa. ― Os olhos claros miravam na cara fechada de Nicole. ― Agora vamos aproveitar a sua festa.

Naquela tarde Alexander sentiu-se renovado, ver a expressão de alegria no rosto do filho não tinha preço. Aquele era o primeiro de muitos aniversários de Alex que ele participava e jamais abriria mão desses momentos, não dessa vez!

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva

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