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Capítulo 3

Alexander pousou a mão entre o pescoço e o ombro depois de se levantar, tirou os óculos e respirou fundo. Por mais que se sentisse frustrado com a situação, não pretendia descarregar a fúria em cima da mãe de seus filhos.

― Eu queria poupar você. ― O tom de voz suavizou enquanto ele explicava. ― Escondi todas aquelas coisas para te proteger.

― Proteger? ― indagou Nicole ao erguer os olhos amendoados. ― Alexander, você mentiu para mim!

― Eu omiti! ― Escorregou os dedos esguios pelo cabelo.

― Os segredos e as omissões sempre machucam alguém ― murmurou Nicole. ― Eu confiei em você. Estou decepcionada!

― Não era a minha intenção!

Ele sentou próximo a Nicole, segurou a mão direita, por alguns segundos não houve nenhum som.

― Eu só queria cuidar de você. ― ​Sentiu a energia do calor da mão atravessar os ossos. ― Tudo o que fiz foi para te proteger, tente me compreender!

― O que você quer que eu entenda? ― Puxou a mão. ― Eu compreendi o seu antigo relacionamento com a Josephiné e a filha dela, mas aquela mulher está magoada.

Nicole manteve o olhar contrito enquanto desabafava.

― Ela me chamou de puta na frente dos seus sócios. Agora todos pensam que eu sou uma vadia e se aquilo que o doutor Albuquerque gritou lá na mesa for verdade, ― engoliu em seco ― todos devem estar pensando que eu tive um relacionamento estranho com meu suposto irmão.

― Não! ― A voz grave estava desesperada ― Ninguém tem que achar nada. A opinião daquelas pessoas não importa.

― Não posso, Alexander! Eu sinto muito!

Ele ficou de frente para Nicole e levantou-lhe o queixo forçando-a a olhar em seus olhos.

― Eu sinto falta de como você depositava o seu amor e alguma fé em mim. Por favor, me diga o que eu tenho que fazer para você não me deixar?

― Alexander, eu não quero voltar para aquela mansão fria, não consigo subir aquelas malditas escadas sem lembrar do acidente ― confessou a voz baixa. ― Preciso colocar a minha mente no lugar para proteger os meus filhos. ― Alisou a barriga. 

― Vem cá! ― Ele puxou Nicole para mais perto. ― Ninguém vai machucar você e nem os nossos filhos. Eu prometo!

― Você não estava aqui da última vez, não sabe a dor que eu sinto por não ter o meu pequeno Rodolpho aqui. Meu filho faria seis anos se estivesse vivo.

A dor da perda era imensurável. Aquela data era uma lembrança que não tinha como apagar da memória.

― Eu prometo que eu vou ficar do seu lado e cuidar da nossa família.

Ela olhou de esguelha para Alexander que tocava o queixo proeminente com barba por fazer.

― Comprei a nossa casa. ― Segurou a mão direita de Nicole que não parava de mexer sobre o colo. Alexander aproximou os lábios contra o dorso da mão e deu um beijo leve na esperança de acalmá-la. ― A reforma termina essa semana. Podemos ficar aqui por alguns dias.

Havia uma sombra de medo e dúvida no rosto dela. Nicole sacudiu a cabeça de forma negativa.

― Nicky, não faça isso! ― O muro de músculos se inclinou sobre ela. ― Quer que me ajoelhe e implore? Eu faço!

― NÃO, Alexander! ― As mãos macias seguraram o braço dele e o impediram.

Alexander arrumou os óculos sobre a narina dilatada. Os olhos claros estavam aflitos.

― Então, fale o que eu preciso fazer para não te perder?

― Nada! ― Levantou do sofá e se afastou. ― Só me deixe em paz, eu preciso de um tempo. ― Caminhou até a enorme janela, a brisa jogava os cabelos castanhos para trás.

Jenny adentrou a sala e sentiu o clima pesado no ar. Mesmo que tentasse ajudar, não podia se intrometer; no entanto, torcia para que os amigos se entendessem pelo bem-estar do afilhado.

― Vocês estão bem?

― Sim! ― Alexander passou os dedos esguios na testa ao mirar em Jenny. ― Estávamos conversando.

― Deixem o resto da conversa para depois. ― Jenny piscou para o casal. ― O Alex está vindo!

― Papai!

A criança apareceu na sala com um desenho do Homem-Morcego e uma revista em quadrinho nas mãos.

― Eu estava com saudades! ― Pulou no colo do pai.

― Eu também senti a sua falta, meu filho. Feliz aniversário!

Ele segurou a criança no colo e deu um abraço apertado.

― Você foi viajar? ― indagou a voz infantil.

― Eu estive muito ocupado com o trabalho e eu também estava cuidando da reforma da nossa casa. ― Beijou o topo da cabeça de Alex. ― Trouxe um presente.

A boca de Alexander curvou-se em um sorriso exibindo os dentes brilhantes ao entregar a caixa com um embrulho colorido para o filho.

― Em breve, nós vamos para a casinha nova. ― O sorriso de Alexander aumentou.

Nicole franziu o cenho, saiu da sala e foi direto para a cozinha. Se aproximou da ilha de madeira rústica que ficava no meio do ambiente amplo com paredes revestidas de cerâmicas brancas brilhantes e bufou.

― Oi, amiga! ― Jenny tocou-a no ombro e seguiu até a geladeira inox. ― O que houve?

― O Alexander está fazendo isso de novo ― reclamou, com uma voz baixa. ― Ele fala de casa nova, faz promessas vazias e nos leva de volta para aquela mansão. Odeio quando ele faz isso.

Jenny pegou uma jarra de suco de manga e despejou em alguns copos descartáveis vermelhos que estavam sobre o balcão.

― Dê tempo ao tempo, Nicky! Ele estava desesperado atrás de notícias. Não parava de perguntar sobre vocês.

― Nicky, ela é péssima para guardar segredos. ― O tom animado na voz grave de Alexander implicou com Jenny ao entrar de surpresa na cozinha. ― Ela parece o Alex argumentando, sem querer ela revelou o seu esconderijo.

― Você é um chato! Eu não aguentava mais o seu mau humor. ― A voz de Jenny estava cheia de ironia. 

― Deixa a Lana saber que você não sabe guardar segredo. ― Estreitou o olhar ao fitar a amiga.

― Silêncio! ― Jenny levou o indicador aos lábios e pegou o smartphone que vibrava no bolso da calça azul. ― É a Lana! ― Saiu em direção à sala de jantar para atender a ligação.

Alexander chegou mais perto do balcão de modo que os corpos ficaram próximos, esticou o braço direito e pegou um copo. O aroma que exalava das mechas do cabelo castanho remetia às doces noites de amor. Não podia ficar nem mais um segundo longe dela e seria capaz de qualquer coisa para mantê-la por perto.

― Posso tocar?

Nicole assentiu com a cabeça e colocou a mão esquerda nas costas.

Ele tomou um gole do suco e colocou o copo sobre o balcão, acarinhou a barriga que dava um formato oval ao vestido dela.

― Já escolheu o nome? ― A expressão no rosto quadrado suavizou.

― Não! Aconteceram tantas coisas que eu ainda não pensei sobre isso.

― Que tal colocarmos o nome da sua mãe se for uma menina?

― Eu gosto! ― Esboçou um sorriso alegre ao focar nos olhos azuis de Alexander.

Embora tivesse algum cansaço e dores nas costas, a gravidez trazia um brilho diferente ao rosto de Nicole, pois em seu coração ardia a chama do amor incondicional pelos filhos.

Alexander chegou mais perto e tocou-lhe o rosto. Sentiu-se mais atraído ao contemplar o corpo de Nicole, a gestação a deixava mais bonita. Os ombros largos a envolveram em um abraço, pegou os lábios dela entreabertos. Um beijo quente e sensual causou-lhe um arrepio enquanto puxava o cabelo da nuca e inclinava a sua cabeça para trás.

― Não! ― Afastou-o com as mãos e recuou. ― Você precisa respeitar a minha decisão.

Nicole deu as costas e foi até a pia. Abriu a torneira e encheu um copo com água. Bebeu todo o líquido transparente ao tentar se recompor, não permitiria que ele a seduzisse mais uma vez.

― Você ainda é minha! ― afirmou Alexander, com uma voz aveludada de barítono.

― Não! ― retrucou Nicole ao se virar. ― Eu já disse, acabou!

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva

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