03
Blake olhou ao redor no túnel. “Não estou certo sobre isso.”
“Preciso de ajuda para descobrir se você pode ser salvo ou não,” foi a breve resposta de Elise, enquanto eles continuavam a descer pela passagem. “Manter-te enfiado na minha casa não é uma solução viável.”
“Você não pode simplesmente ligar para alguém?” Blake perguntou, achando que casa era uma palavra generosa para descrever o lugar onde ela vivia. Caixão avantajado seria mais apropriado, já que era pequeno, no subsolo, extremamente escuro, além de uma esparsa iluminação e não tinha cozinha, banheiro, chuveiro ou outros confortos.
Porém, era um lugar perfeito para manter Blake trancado e afastado de pessoas, por isso, sair de lá não o atraia. Quem diria que ele seria incapaz de convencer um vampiro a matá-lo? Onde está a sede de sangue da lenda deles? Blake também não podia entender porque o demônio ainda não tinha assumido. Qualquer outra vez em que Blake tentou se matar, o demônio apareceu e o impediu. Ele podia sentir que o vampiro não iria matá-lo? Será que era por isso que o demônio estava aguardando seu momento?
Ou ele estava esperando por uma oportunidade melhor para aparecer? Tipo agora, enquanto eles estavam indo em direção à estação de metrô e todas aquelas pessoas inocentes.
“Isso não é seguro,” Blake repetiu pela décima segunda vez.
Ela continuou andando, segurando firme em sua mão como um torno frio. “Meu criador vai saber o que fazer. Vou usar o telefone público na estação para ligar para ele. É mais seguro se você vier comigo do que esperar que você ainda esteja em minha casa quando eu voltar.”
“Ele é forte quando se apossa de mim,” Blake disse, quase cuspindo as palavras. Ele odiava o que tinha se tornado – um hospedeiro para o pior tipo de mal. Se a morte era o único jeito de parar o demônio, Blake morreria de boa vontade. Sua vida havia sido arruinada além de qualquer reparo mesmo.
Apenas sete meses atrás, ele era um corretor de ações de sucesso. Tinha uma bela casa, ótimos amigos e estava até numa boa com sua ex esposa. Agora ele perdeu tudo, era procurado por múltiplos assassinatos e o único jeito de ele parar o demônio era se matar. Era uma diferença enorme dos dias onde sua maior preocupação era o mercado oscilante de Wall Street.
“Sou mais forte,” Elise disse.
Blake a olhou com dúvida. Elise media cerca de 1,62 e se chegasse a quarenta quilos não era muito. Além do mais, ela tinha uma qualidade etérea para sua estrutura óssea pequena que indicava fragilidade. Combinado com seu belo e pálido rosto, Elise lembrava Blake de uma daquelas bonecas antigas que sua ex mulher costumava colecionar. Elise era o tipo de mulher que os homens tropeçavam uns nos outros para proteger, não o tipo que podia lutar com um demônio. Afinal, presas só podiam atingir certo ponto.
“Você disse que nunca encontrou um demônio antes. Como sabe que é
mais forte?”
Elise o olhou de soslaio. “Você fala demais,” ela murmurou. “É cansativo.
Não pode parar um pouco?”
Blake reprimiu uma exclamação de espanto. Essa era a mulher que devia impedir o demônio quando ele aparecesse? Alguém que não podia nem manter uma breve conversa sem ficar cansada?
“Acho que devemos voltar,” Blake disse, enquanto eles faziam uma curva e a estação de metrô apareceu à vista. “Isso não é—”
Um zumbido muito alto encheu sua mente imediatamente. Blake só teve um segundo para agarrar a cabeça com força por causa da dor quando sua visão ficou branca. Ele nem ao menos teve chance de avisar Elise antes de o demônio se apoderar dele.
Elise ficou espantada quando Blake agarrou a cabeça como se seu cérebro tivesse simplesmente explodido. Ela ainda segurava sua mão; mas assim que ela sentiu o cheiro de enxofre, ele a soltou. Então correu como se a morte estivesse nos seus calcanhares.
Ela se xingou enquanto o seguia. Com o demônio o controlando, Blake era rápido, seguindo pelo túnel direto para a estação em um piscar de olhos.
Mas Elise também tinha habilidades sobre-humanas, então ela ficou logo atrás dele. O demônio irrompeu pela estação, batendo em qualquer um no seu caminho. As 5:00 da manhã, não havia muitos passageiros, mas o suficiente para que a exposição de sua verdadeira natureza fosse um risco. Elise manteve os olhos e presas sob controle, sabendo que sua velocidade era ruim o suficiente, mas pelo menos aquilo não podia anunciar “vampiro!” para o público em geral. Ela avançou pelas pessoas de forma tão rude quanto o demônio tinha feito, não o deixando ganhar vantagem. Continue correndo, ela pensou friamente. Assim que estivermos livres de todos esses humanos, posso parar de bancar a boazinha.
O demônio saiu da estação de metrô e se lançou pela calçada, fazendo as pernas de Blake como pistões. Elise o manteve a sua frente, o deixando pensar que ela não era rápida o suficiente para alcançá-lo, até que chegaram a uma parte menos movimentada da vizinhança. Então ela se lançou para frente com toda sua velocidade morta-viva, parando o demônio por trás e batendo a cabeça dele na rua.
O corpo de Blake enfraqueceu, o cheiro doce de sangue fresco substituindo o fedor anterior de enxofre. Elise virou Blake, avaliando rapidamente seu ferimento. Nenhuma fratura no crânio. O ferimento superficial em sua testa pode ser curado – e seu nariz já estava mesmo quebrado.
Ela abriu um dos olhos de Blake. Não havia mais aquele vermelho serpenteando. Sua pele perdeu aquela aparência pálida de cera e bom, ele não cheirava nada mais do que sangue e humano sem se lavar. O demônio se foi. Por enquanto.
Elise deixou as presas de for a só o suficiente para passar o dedão sobre uma delas, tirando sangue. Então Elise espalhou seu sangue sobre o corte de mais de 7 centímetros na pele de Blake, observando com satisfação a ferida se fechar lentamente como um zíper mágico tivesse se formado em sua pele.
Não ia dar para alimentar Blake com seu sangue. Isso iria curá-lo mais a fundo, como se livrar da concussão que sem dúvida ele tinha, mas também o deixaria mais forte. O demônio dentro de Blake já estava forçando se corpo a limites que nenhum humano seria capaz de manter. Elise não ia acrescentar isso.
Mas agora, o que fazer com Blake? Ela não podia simplesmente jogá-lo por cima do ombro e andar até o telefone público mais próximo; isso iria chamar muita atenção. E ela não ia deixar ele lá e correr o risco de o demônio voltar enquanto ela estivesse ausente. Se fosse um pouco mais tarde, então ela podia pegar a primeira pessoa passando por ali com um celular e hipnotizá-lo com obediência enquanto ela ligava para Mencheres.
Um rangido chamou a atenção de Elise para o fim da rua. Uma mulher sem teto empurrava lentamente um carrinho de supermercado lotado de vários itens ao longo da calçada. Elise sorriu, então levantou Blake e o enfiou debaixo do braço como uma bola de futebol.
“Bom dia,” ela gritou. “Quanto você quer por esse carrinho?”