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02

O primeiro pensamento de Blake ao acordar e ver fita adesiva ao redor

de suas mãos ao invés de sangue fresco foi, Graças a Deus. Um ano atrás, a mesma visão o teria chocado e aterrorizado. Agora era um começo melhor do que a maioria dos dias.

Então ocorreu a ele se perguntar onde estava. Ou quem era a loira o olhando com uma expressão indecifrável.

Blake olhou ao redor, notando, com alívio, que o cômodo estava sem sangue ou corpos. Também não tinha janelas e estava tremendo com uma poderosa vibração.

Ele ainda estava no Distrito? Quanto tempo o episódio mais recente durou?

“Você precisa se afastar de mim,” foram as primeiras palavras de Blake. Ele olhou suas mãos e pés atados. Ele se sentiria ameaçado assim que isso fosse registrado. Blake ficou tenso, esperando aquele zumbido em sua cabeça começar, mas até agora, havia silêncio. Ainda havia tempo para a mulher se afastar.

“Por que você tentou pular na frente do trem?” ela perguntou.

Blake fechou os olhos. Isso, a última coisa que ele lembrava era o trem.

“Você me impediu?” ele perguntou de forma incrédula. “Maldição, por quê?”

Ela ergueu uma sobrancelha. “Você podia dizer obrigado.”

Blake queria estapeá-la. Tão perto de ser livre e ela arruinou. “Você não sabe o que fez, mas você estará cometendo um erro maior se não sair agora mesmo.”

Ela olhou de forma aguçada para seus pulsos e tornozelos. “Você acha que pode me ferir?”

A lembrança de ser empurrado para dentro de um carro de polícia, algemado, passou pela mente de Blake. Ele vinha lutando contra o barulho em sua cabeça e esperando desesperadamente que as algemas e o assento traseiro reforçado pudessem segurá-lo.

A próxima lembrança seguiu sem dó. O carro de polícia estraçalhado, a barreira entre os assentos da frente e o de trás arrancada com chutes e os restos mutilados dos dois oficiais.

“Eu vou te matar.” A voz de Blake era rouca, com auto aversão. “Saia agora, antes que seja tarde demais!”

“Você não pode me matar,” ela disse, com certo divertimento em sua voz.

“Já estou morta.”

Enquanto Blake observava, os olhos dela mudaram. Tornaram-se impossivelmente verdes e começaram a brilhar, brilhantes como luzes de semáforo. Seu sorriso se alargou para mostrar mais de seus dentes, onde seus dois incisivos frontais se estenderam para formar pontas afiadas.

Blake se viu sorrindo. Uma vampira o tinha sequestrado. Hoje deve ser um bom dia afinal de contas.

Elise observou a reação do homem com interesse enquanto ela revelava sua natureza não humana. Surpreendentemente, ele não pareceu com medo. De fato, a mais estranha expressão de alívio cruzou seu rosto.

Ele inclinou a cabeça para trás. “Certo, então. Mate-me.”

Ela franziu o nariz. “Você acha que vou tem morder? Não do jeito que você cheira.”

Ele emitiu um som impaciente. “Então tampe o nariz enquanto bebe meu sangue. Mas rápido. Não sei quanto tempo antes que ele tome conta de mim.”

Elise o analisou. Ela tinha conhecido pessoas suicidas antes, mas nenhuma que exalava o tipo de vibração que esse homem tinha. Considerando o que ela tinha visto depois de agarrá-lo, desviando do trem que estava vindo, Elise tinha uma boa ideia sobre o que o estava levando a se matar. Pessoalmente ela nunca tinha cruzado com alguém na condição dele antes, mas em sua longa vida, ela conhecia pessoas que tinham.

“Você está possuído, não está?”

Elise perguntou com naturalidade. Os olhos dele se arregalaram como se ele tivesse levado um soco.

“Sim,” ele sussurrou. Um espasmo passou por seu rosto, muito cru para ser intitulado de dor. “Faz seis meses.”

Ele não parecia ser o tipo que brincava com tábuas Ouija. Talvez ele fosse um daqueles humanos todos que brincavam com espíritos, procurando conseguir o poder maligno do outro lado. “Como aconteceu?”

“Um acidente de carro.” As sobrancelhas dela se levantaram, mas ele apenas suspirou. “Eu estava dirigindo para casa do trabalho quando uma mulher pulou na frente do meu carro. Liguei para o 911, tentei ajudá-la, mas ela morreu em meus braços. Testemunhas me isentaram da culpa e eu achei que fosse somente um terrível acidente. Cerca de três semanas depois, os apagões começaram. Eu ouvia esse zumbido na minha cabeça, então acordava em lugares que não lembrava ter ido, sem ideia do que tinha feito. Achei que estava louco. Então—”

Ele parou e engoliu seco, parecendo estar prestes a vomitar.

“O demônio começou a me provocar. Deixando recados com uma caligrafia que eu não reconhecia, fazendo vídeos de mim fazendo coisas que eu nem podia imaginar, que dirá lembrar… Não posso viver assim,” ele resumiu, a voz endurecendo. “Aquele demônio fez de mim um assassino, um maldito monstro! Tentei ver um padre, conseguir um exorcismo – nada funcionou. Ele nem deixa que eu me mate. Se você entende o que há de errado comigo, mate-me agora. Você vai salvar vidas se fizer isso, acredite em mim.”

Olhos azuis encararam Elise intensamente por baixo de um desordenado cabelo preto. Era difícil dizer como ele realmente se parecia debaixo da sujeira e imundice já que ele vinha vivendo nas ruas por um tempo. Ele parecia estar na casa dos trinta, mas o que devia ter sido um físico atlético e atraente, agora estava curvado com culpa, medo e desespero.

Matá-lo seria um ato de misericórdia, Elise refletiu. Não seria difícil fazer. Humanos eram tão frágeis; um tapa de seu pulso quebraria seu pescoço antes mesmo de ele perceber que ela se moveu. Afinal de contas, ela já tinha matado antes, e por razões menos nobres do que essa.

Ela tinha quase decidido fazê-lo quando o rosto de Mencheres apareceu em sua mente. Será que ela estava se tornando um daqueles vampiros que se esqueciam o que era ser humano? O quão precioso eram aqueles anos porque eles eram tão curtos?

“Qual o seu nome?” ela perguntou, se levantando.

A esperança em seu rosto enquanto ela se aproximava era de partir o coração. “Blake Turner. Você vai... vai deixar meu corpo onde pode ser encontrado? Ainda tenho família que deve querer saber o que aconteceu comigo…”

“Blake Turner,” Elise disse lentamente. “Não vou te matar. Vou te ajudar.”

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