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4

Como havia previsto, tudo na empresa está uma loucura. Os acionistas não param de ligar, alguns associados já chegaram para a reunião com o novo CEO e Alex está uma pilha de nervos e muito desatento também. Preparo a sala de reuniões e peço para Mag, que prepare um café para ser servido durante a reunião. Separo algumas pastas com os documentos necessários para Alex levar a pauta e caminho para a sua sala. Bato na porta de leve e entro no escritório logo em seguida. Alex parece distante e sinto que algo o incomoda. Ele para o que está fazendo e me olha com as pastas nas mãos.

— A reunião começa em alguns minutos. — aviso com o meu melhor tom profissional. — Trouxe os documentos para dá uma olhadinha antes de ir.

— E se eu não conseguir? — fala nervoso. Abro-lhe um sorriso encorajador.

— Se Alberto escolheu você, é porque sabe que é capaz, Alex. — Ele puxa a respiração e pega os papéis em sua mesa e juntos seguimos para a reunião.

Mesmo estando uma pilha de nervos, surpreendemente, Alex ministrou a reunião com a destreza de um presidente e no final, ele riu da sua capacidade e inteligência.

O resto do dia não tive muito o que fazer, pois, meu chefe interino ficou horas trancado em sua sala e aproveitei o meu tempo para estudar meu curso de inglês online.

Quero ser uma das melhores assistentes que o grupo Village já teve. Como dizia o meu pai: Você tem que fazê-los ver que é insubstituível, que precisam de você!

E falando nele, tenho poucas lembranças do meu pai. Me lembro de algumas brincadeiras, de alguns poucos conselhos, de passeios, mas tudo muito vago. Muita coisa se perdeu naquele maldito acidente que o tirou de mim e virou o meu mundo infantil de cabeça para baixo.

Olho o meu relógio de pulso e bufo baixinho. Já são pouco mais das cinco da tarde, mais um pouquinho e é hora de ir para casa. Confesso que não fico muito animada com isso. Hoje Sil está de folga e com certeza dormirá na casa do Alisson, seu ficante de longa data e não gosto de ficar sozinha naquele apartamento.

— Val, estou de saída. Acho que deveria ir também. — Alex avisa saindo da sala.

— Certo, Alex. Envio para o seu e-mail o resultado da contabilidade que a equipe me mandou.

— Faça isso. Darei uma olhada em casa. — Assinto e ele sai. Assim que as portas do elevador se fecham, começo a arrumar as minhas coisas para sair da empresa.

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Por incrível que pareça, as semanas passaram tranquilas na empresa. Alex Village, apesar de ser muito jovem é bastante perspicaz e persuasivo, assim como seu irmão.

Seguindo a orientação de Alberto, o rapaz alavancou com as exportações no Canadá, China e Alemanha.

Daqui a alguns dias ele se casará e acredito que por esse motivo, anda transpirando tanta felicidade por todos os seus poros. Houve um tempo que eu sonhava com príncipes encantados. Quando o meu pai era vivo e eu via em seus olhos e da minha mãe a felicidade plena, o amor verdadeiro. Lembro-me que quando tinha meus doze anos, cheguei a me apaixonar por Cristian, um garoto de quinze anos, do oitavo ano. Ele era o garoto mais bonito da escola. Às vezes me pegava sonhando em me casar com ele e que teríamos lindos filhos, mas todos os meus sonhos morreram quando eu fiz quinze anos.

Entro na empresa e como de costume, agilizo algumas coisas para o nosso dia de trabalho. Abro minha gaveta para guardar as minhas coisas e vejo um envelope dourado, atado com delicadas fitas de seda vermelha e duas iniciais gravadas com letras pretas bem desenhadas A&A. Abro o envelope delicado e percebo que se trata do convite de casamento de Alex e Amanda.

Suspiro. Não sei se irei a esse casamento. Não sei se consigo.

Consternada, guardo o envelope na minha bolsa e só então percebo um bilhete em papel branco escrito a mão.

Para Valquíria.

Val, não irei a empresa hoje. É minha despedida de solteiro. Você pode por favor cancelar a agenda de hoje? E se não tiver nada para fazer, pode ir para casa.

Alexander Village.

PS. Esse é o seu convite, quero vê-la em meu casamento.

Ir para casa não é uma boa opção. Penso, me acomodando em minha cadeira e olho a agenda do dia. Desanimo quando vejo não haver muito o que fazer. Apenas alguns contratos e uma reunião. Consigo fazer isso. Penso determinada. Quando Albert e Alex precisaram ir para Michigan dei conta direitinho por duas semanas inteiras da empresa.

Depois do almoço, resolvo tirar meu horário de descanso, abro a tela do computador e começo a ler alguns contratos, mas logo os meus olhos começam a arder e pesam, e vencida pelo cansaço, adormeço.

(…)

— Onde está a sua mãe, bonitinha? — Viro-me em um rompante, para o homem em pé na porta da sala. Engulo em seco e lhe respondo num fio de voz.

— Ela não está. — Ele sorri maliciosamente, entra e fecha a porta. Na sequência, dá um passo em minha direção, e imediatamente recuo um passo pata traz.

— Onde ela está? — pergunta. Rique tem suas mãos no bolso da calça jeans suja e desbotada.

— Eu não sei. — Ele fica sério e me olha da cabeça aos pés. O observo passar a língua nos seus lábios ressecados e dá mais um passo à frente. Automaticamente recuo mais um passo.

— Está com medo de mi, bonitinha? — Abre mais um sorriso nojento.

— Não — minto, pois, estou apavorada.

— Então vem aqui — pede. O meu sangue gela em minhas veias no instante que se senta na ponta do sofá e estende uma mão para mim.

— É melhor você voltar depois, minha mãe saiu, e ela… — Tudo acontece rápido demais. Rique me segura pelos braços e me joga com violência no velho sofá da sala. Desesperada, começo a gritar e a bater nele, mas ele é mais forte que eu.

— Não! Não! Por favor!

(…)

— Val? Val, acorda! — Sinto Alguém balançar o meu corpo e abro os olhos, encontrando os olhos escuros de Alberto. — Você está bem? — Ele pergunta em um sussurro. Por mais que eu quisesse, não consegui conter as lágrimas e em soluços, faço sim, para ele. — Droga, vem cá! — pede com suavidade na voz e inesperadamente Alberto me puxa para seus braços. E não sei o porquê, mas me senti segura neles. Ele me aperta e acaricia as minhas costas, me acalentando por um curto espaço de tempo. Depois, se afasta e olha em meu rosto. Seu polegar se arrasta lentamente pela pele molhada, enxugando as minhas lágrimas. — Você teve um pesadelo — diz o óbvio. Engulo em seco, pois, não quero falar sobre isso com ele.

— Tenho que ir — falo de repente, cortando nosso contato visual e pego a minha bolsa em cima da minha mesa. Saio apressada para o elevador. Alberto parece estático com a minha reação, pois, ele não diz nada e nem se mexe do seu lugar. Não me importa, ele viu o que lutei durante anos para esconder das pessoas e eu não tenho condições psicológicas para encará-lo agora, tão pouco para dar-lhe uma desculpa plausível para o que acabou de assistir.

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