5
VOLTANDO AO PONTO.
(…)
— Tenho que desligar, Bel.
— Espera! Eu… posso te fazer uma pergunta?
— Claro!
— Como você e a Ângela se conheceram? — Ele faz um incômodo silêncio do outro lado da linha, depois puxou a respiração.
— Você tem certeza que quer falar sobre isso?
— Eu preciso saber, Alex. Eu quero entender o que realmente aconteceu.
— Tudo bem! Eu estava me divertindo em um clube de piscina com alguns amigos, estava bebendo e jogando frescobol, em algum momento tive que correr parar ir pegar a bola que saiu do nosso controle e Ângela esbarrou em mim. — Fecho os meus olhos. A ordinária usava a tática do esbarrão com todos os idiotas! Pensei revoltado. — Então, depois de um bom papo e de trocarmos telefonemas e e-mails, começamos a ter encontros esporádicos. Até que ela inventou uma viagem de última e acabou o nosso namoro.
— Tá, tá, tá! O resto eu já sei! — ralho irritado.
— Você está bem? — Trabalho a minha respiração, tentando não explodir com ele.
— Preciso ir, Alex. Você tem suas coisas para fazer, não é?
— Bel… eu… só me envolvi com ela porque parecia ser uma pessoa legal, mas quando a vi em seus braços na casa dos nossos pais, não tive dúvidas de que ela era…
__ Não, Alex! Não diga nada, por favor!
(…)
Já faz três meses que a coloquei para fora da minha vida, mas infelizmente para a porra do meu coração não. É como se estivesse impregnada no meu ser. Mesmo após tantos dias, ainda penso nessa mulher com frequência e droga, às vezes chego a pensar se não deveria lhe dar uma nova chance, ou de conversarmos e quem sabe, entender o porquê dela ter feito tudo aquilo? Pensar nessa conversa que tive com meu irmão não ajudou muito a me acalmar, pelo contrário, só serviu para me mostrar que o melhor é mantê-la bem longe de mim. Mas, o que fazer com esse coração traiçoeiro que insiste em querê-la? A campainha do meu apartamento toca, tirando-me dos meus mais dolorosos devaneios. Respiro de forma audível e me levanto do sofá sem paciência, deixando o copo vazio sobre a mesa de centro. Abro a porta e encaro o jovem entregador com algumas correspondências nas mãos.
— Obrigado! — falo para o rapaz sem muita cordialidade, ele se retira no mesmo instante e enquanto fecho a porta com o pé, folheio alguns envelopes. Entre eles, encontro um em especial. É dourado e está atado com um laço delicado de fita vermelho. Na frente, tem duas letras negras impressas, A &A. Sem tirar os olhos do pequeno envelope, deixo as outras correspondências na mesinha de centro e curioso, desmancho o laço, abrindo o envelope logo em seguida. Não chego a ler o texto porque o meu celular começa a tocar e bufo contrariado ao ver que é o Alex, porém o tendo no mesmo instante.
— Fala, mano!
— Já recebeu o meu convite? — Uno as sobrancelhas em confusão.
— Convite, do que está falando?
— Vou me casar, Bel! — Ele fala com uma empolgação que deveria me alegrar, mas não é o caso. Quer dizer, eu realmente estou feliz por ele, pelo menos um de nós dois será feliz realmente nessa vida, porém, não posso negar que estou arrasado por dentro e posso até dizer que tenho um pouco de inveja da sua sorte. Que merda você está dizendo Alberto? Repreendo-me no mesmo instante. — Bel, você está aí? — Forço um sorriso, mesmo sabendo que ele não pode me ver.
— Cara, eu estou muito feliz por você e por Amanda! — Escuto o som da sua risada baixa e animada.
— Então, eu quero você aqui ao meu lado, no altar, Bel. — Sorrio ainda mais, pois, sempre tivemos este sonho de ser o padrinho um do outro e não será por conta de uma vaca, vadia que o deixarei na mão.
— E eu estarei lá para te abraçar, meu irmão! Quando será? — Ponho animação em minha voz.
— Dezenove de setembro.
— Uau, por que tanta pressa? — esbouço a minha surpresa. — Chegarei uma semana antes do casório, a final, quero curtir a sua vida de solteiro um pouquinho. — Ele rir.
— Ótimo! Ficarei te esperando. Tenho uma reunião agora, mano, a gente se fala.
— Vai lá, cara! — Encerro a ligação e solto o celular em cima do sofá. Caminho até uma das enormes janelas e olho para a grande Paris por alguns instantes. Por incrível que pareça, ainda mantenho um sorriso no rosto, o primeiro desde que Ângela destruiu a minha vida. É, acho que já está na hora de voltar ao ponto de partida. É hora de voltar para casa, Bel! Penso e determinado, vou até o meu quarto e começo a arrumar as minhas malas de qualquer. Agora tenho um bom motivo para voltar para retornar. Duas horas depois, estou no aeroporto de Paris aguardando o meu voo e esse não demora muito, pois, logo é anunciado e dirijo-me ao portão de embarque.
****
— Alberto?! — Alex se surpreende ao me ver em sua porta logo pela manhã, porém, me puxa para um abraço apertado. — Cacete, cara! Porque não me avisou, eu teria ido te buscar.
— E perder essa cara de espanto que acabou de fazer? — Ele gargalha e volta a me abraçar.
— Amanda, vem ver quem está aqui! — Ele grita e Amanda aparece, saindo da cozinha.
— Oh, meu Deus, Alberto! — Ela quase grita, abrindo os seus braços para mim. Ergo a baixinho do chão, a abraçando e rodopiando no meio da sala. Minha cunhada grita e gargalha animada, me fazendo rir também. Contudo, ao ver Alzira no em pé no espaldar de uma porta larga, meus olhos se enchem de lágrimas. Ponho Amanda de volta no chão e engulo em seco. Como uma criança, ansiosa pelos seus braços, ando com passos largos em sua direção e a abraço, como se abraçasse a minha própria mãe.
— Oh, meu filho, que saudades! — Ela sussurra com a voz embargada.
— Também senti a sua falta! — sibilo em um fio de voz. Droga, não seguros as lágrimas que prendi por meses. Elas se rompem como uma represa e Alzira me aperta em seus braços como se eu ainda fosse o seu garotinho, e de alguma forma quisesse me colocar em seu colo, e assim, me consolar.
— Eu te amo tanto, Alberto! — Volta a sussurrar.
— Eu também te amo! Você é a minha segunda mãe. — Respiro fundo, me afastando e Alzira seca algumas lágrimas em meu rosto.
— Como você está, meu querido? — pergunta baixo demais. Forço um sorriso para ela e beijo demoradamente a palma da sua mão.
— Eu estou bem! — Sorrio e confesso que pela primeira vez essa pergunta não me aflige.
— Acredite, vai melhorar ainda mais. — Faço sim, com a cabeça.
— Assim espero! — Ela sorri em meio às lágrimas.
— Sim, tudo vai melhorar para você, meu filho, eu sinto isso bem aqui. — Aponta para o seu coração e volto a abraçá-la. Deus sabe o quanto gostaria de poder acreditar nessas palavras, de ter essa mesma certeza que sente dentro de si.
— Bom, vamos deixar essa chuva de melancolia passar, porque o café da manhã já está pronto e nos espera na mesa. Vamos? — Amanda retruca com sua animação de sempre e nos convida a mesa. Contagiados com a sua alegria, vamos todos para sala de jantar e com Alex sendo o Alex de sempre, encontramos de tudo um pouco na mesa. Nisso ele com certeza puxou ao nosso pai, que gostava de uma mesa extravagantemente farta, sortida de tudo o que se podia imaginar. Alzira se senta ao meu lado e segura a minha mão, deixando um beijo carinhoso nela. Retribuo o seu carinho, beijando-lhe a testa.