Panico
Sophia POV
As horas se passaram muito rapidamente, entre uma jogada e outra eu olhava as informações de Perseu e anotava junto ao tablet e também me segurava para não gritar. Houveram muitos críticos, tanto positivos quanto negativos e a galera se divertiu, mas como eu já esperava, a galera me traiu e meu personagem acabou morto. Hiperion me fez algumas perguntas sobre regras e sobre a história dos personagens, mas nada que atrapalhasse o jogo.
Era interessante ver um homem como aquele interessado em algo assim, mas bem, convenhamos, existem muitas pessoas com dinheiro e poderosas que jogavam, atores e atrizes de Hollywood.
“Vocês sabem né que a próxima campanha é a minha e que vai ser Cthulhu!” Avisei.
“Er… Acho que a gente tem que ir dormir. Tchau!” Vic
Todos os outros concordaram e então saíram da chamada, revirei os olhos e soltei um riso baixo.
“Realmente, isso é muito divertido. Vocês realmente entram nos personagens.”
“Bom, essa é a intenção.” Coloquei o laptop na outra poltrona e me ergui e senti minha cabeça latejar. “Hum… Comida.” Peguei a barrinha de chocolate no bolso e mordi.
Olhei para a máquina, ainda falta uma hora para terminar a sessão de hemodiálise.
“Como tudo parece sem problemas, vou descer e pegar alguma coisa para comer, vou pedir para a enfermeira de plantão vir aqui ficar com ele.”
“Também estou com fome, tem algo de bom na cafeteria?”
“Olha, é madrugada, não tem muita coisa não, mas é melhor que nada.”
“Hum… Hum…”
"Ahahaha! Acabei de imaginar você com um saco de batata da onda com uma latinha de coca cola. Definitivamente, não combina, mas é engraçado.”
"Concordo." O vi se levantar, indo até a porta e abrindo. “Talvez eu devesse pedir para entregarem.”
“Só se for para você, eu estou de boa.” Andei para fora do quarto.
Conforme me afastava do quarto sentia meu corpo ficar mais pesado, uma sensação dentro do peito, apertando e contorcendo meu coração, ao mesmo tempo em que sentia como se pequenas agulhas estivessem perfurando meu cérebro. Eu deveria me curvar de dor, não é mesmo? Reclamar disso é normal, mas se é algo que eu sou, é acostumada com a dor, ela é minha amiga inseparável.
Fechei os olhos e respirei fundo, levando a mão esquerda aos olhos, colocando as pontas dos dedos sobre a pálpebra e apertando de leve.
“Hum… Realmente, preciso comer alguma coisa. Odeio enxaqueca.”
Falei mais para mim mesma que para Hiperion.
“Você está bem?” Escutei a pergunta em tom preocupado.
“Crise de enxaqueca. Normal, tenho desde criança e quando fico muito tempo sem comer costuma piorar.”
Respirei fundo algumas vezes e voltei a abrir os olhos.
“Só tomar um ibuprofeno e comer alguma coisa que em meia hora passa.”
Entrei no elevador e apertei para o andar do refeitório 3, que era o mais perto do andar em que estávamos.
“Entendi, mas costuma acontecer sempre?”
“Antes era mais frequente e mais forte, já tive muito sangramento de nariz por causa disso. A gente se acostuma, não é algo que vá me matar.”
“Você fala com tanta naturalidade sobre isso, que parece que todo mundo faz igual.”
“Quando se tem uma doença crônica é melhor acostumar, não é minha cara ficar reclamando de coisas que não posso acabar. Já fiz alguns tratamentos para isso, hoje a dor é suportável, chata, mas suportável. Além do mais tem uma vantagem bem legal, eu não tenho ressaca, não importa o quanto eu beba, no dia seguinte sempre acordo de boa, sem ressaca.”
“Você não parece do tipo que gosta de beber muito.”
“Gosto de beber bebidas destiladas e variações, caipirinha, tequila, whisky, hi-fi, vodka com morango, saque, e por aí vai… Mas como tomo remédio controlado não é sempre que bebo, mas sempre é legal jogar bebada. “
“Você e meu filho se dariam bem nesse quesito, ele também não gosta de bebidas fermentadas.”
“Tirando vinho, eu amo vinho. Vinho é bom.”
“Ele só gosta mesmo de bebidas destiladas.”
“Entendi, meus amigos preferem cervejas e vinhos.”
Toda essa conversa acontecia enquanto caminhávamos até o refeitório. O lugar estava quase vazio, havia algumas pessoas que faziam o turno da noite ali e que estavam em horário de janta. Cumprimentei todo mundo e fui até a lanchonete, havia até uma grande opção para se escolher.
“Um sanduíche de frango desfiado, um suco de maracujá com leite e uma barrinha de chocolate.”
Fiz meu pedido, vi que Hiperion havia pegado dois sanduíches de carne e vitamina. Caminhei até o caixa e fiz o pagamento, sentei em uma das mesas e esperei pelo chefe da família Horoux. Quanto mais tempo eu passava com ele, mais relaxada eu ficava, porque realmente ele parecia não ser como os outros de posições parecidas que eu já encontrei.
Conversamos sobre mais algumas coisas e então voltamos para o quarto, faltava ainda mais meia hora para terminar o procedimento com Perseu, aproveitei o momento para me atualizar sobre os outros pacientes e sobre a equipe de enfermeiros que estavam sobre a minha gestão.
Eram muitos relatórios para ler, preencher, assinar e pedir revisão, aprovar ou negar. Não era um dos melhores momentos do meu trabalho, mas era algo que precisava ser feito, quando escutei o som do bip do despertador, deixei o tablet de lado. Avisei o medico de plantão e esperei por ele antes de desligar a maquina e fazer as outras coisas.
Não demorou muito e Daniel entrou no quarto.
“Boa noite, senhor Hiperion. Sophia, espero que esteja bem.”
“Boa noite, Doutor Daniel.”
“Boa noite, Dan, e estou sim, obrigada.”
Daniel é um homem de 1,83 de altura, tem uns 75 quilos, costuma malhar quando tem tempo, cabelos loiros curtos, olhos marrom escuros que combinavam com a pele mais bronzeada.
“Mesmo faltando um pouco de sangue deu tudo certo.”
Daniel comentou se aproximando da maquina e começamos a fazer o procedimento de desligar e remover os acessos do corpo de Perseu.
“Ao que tudo indica quase toda a prata saiu junto com o sangue velho. Não vejo motivos do seu filho não acordar em breve.”
Retirei uma pequena ampola do sangue de Perseu e coloquei no coletor.
“Vamos mandar fazer os exames no sangue dele, mas pelos resultados dos dados que foram coletados ao longo da noite já se percebe uma boa recuperação.”
Senti meu coração se aquecer com as palavras do médico, não que eu já não tivesse visto a evolução de Perseu, mas escutar outra pessoa falando foi diferente. Era quase como sse tivessem tirando um peso de cima de mim. Eu estava torcendo tanto para voltar a minha rotina normal que ficar cuidando dessa família era um peso?
“Fico feliz em escutar isso!” Hiperion comentou enquanto abraçava o médico, mas seus olhos também estavam em mim.
“O Richard deve chegar em cinco minutos para te substituir, Soph.” Daniel me informou
“Obrigada.” Agradeci e fiz uma breve reverência com a cabeça para Hiperion. “Bom, até amanhã então.” Falei e sai do quarto, sem dar chances para que o homem falasse algo.
Caminhei para a saida daquele andar e quando estava chegando perto do elevador vi Richard se aproximando.
“Hey, Soph, boa noite garota, tu precisa ir descansar. Está com cara de quem morreu e esqueceu de deitar.” Richard brincou.
“Concordo, preciso de um bom sono mesmo. Até amanhã, cuida de tudo heim!” Respondi
“Tchau!”
Entrei no elevador, desci no andar térreo e fui para a parte dos funcionários, cheguei no meu armário e me encostei um pouco, quanto mais eu me afastava mais meu peito ficava pesado, podia sentir a falta de ar aumentando aos poucos e minha boca ficar seca, meu corpo tensionando, era quase como um ataque de pânico, mas diferente.
É como se eu não pudesse ficar longe, cada parte do meu corpo gritava para eu voltar e continuar naquele quarto, como se o tempo em que passei lá ignorando o cheiro intoxicante dele tivesse sido jogado em mim e agora me esmagava.
Podia escutar meu coração bater muito rapidamente, a pressão sanguínea no meu ouvido me fazia escutá-lo, enquanto minha mente é invadida por imagens que não tenho controle, são rápidas e me deixam tontas, mas todas envolvem estar nos braços de Perseu.
Forcei meu corpo a se movimentar para além de apertar meu peito, tentando abrir meu armário, percebendo que derrubei varias coisas enquanto tentava pegar dentro de minha bolsa meu remédio, eu precisava voltar a realidade, voltar a mim e sair desse transe que me consome.
Não sei o que aconteceu, só sei que senti um gosto amargo e forte em minha boca e acho que é o remédio, a dor em minha cabeça não me deixa ver direito além de sombras, além do mais meu corpo retesado não consegue registrar o conforto de algo.
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“Soph…” Consigo escutar ao longe alguém me chamando.
Finalmente consigo começar a sair desta espiral de emoções e sentidos, a impressão que tenho é que estou nadando contra uma correnteza.
“Arg…” Solto um gemido baixo, sentindo meu corpo começar a relaxar.
"Ufa! Ela já está voltando.”
Começo a abrir meus olhos e a fechar, tentando focar a minha visão, respirando fundo várias vezes, meus sentidos estão voltando aos poucos.
“Ainda bem que eu trabalho em um hospital.”
Consigo falar em voz baixa, meu tom de voz está rouca e minha boca está seca.
"Água…"
Estou sentada no chão com a cabeça encostada contra o armário do vestiário, a minha frente consigo identificar três vultos, um usando um jaleco de enfermagem, um usando jaleco médico e outro roupa social. Consigo sentir um cheiro suave, mas que não consigo identificar ainda.
Uma garrafa de água me é entregue aberta, levo a boca, fechando os olhos novamente, tomo apenas dois goles curtos, apenas para molhar a boca e as cordas vocais. Respiro fundo algumas vezes.
“Eu vou ficar bem.”
Minha voz está mais firme e consigo sentir que minha cabeça está girando menos e por isso abro os olhos novamente. Agora consigo ver que tem a minha frente uma enfermeira de cabelos pretos, olhos verdes escuros e pele escura, ela está ajoelhada na minha frente, segurando minhas mãos, fazendo massagem nelas, sua expressão é de preocupação e alivio. Um pouco mais atrás do lado esquerdo o Doutor Daniel, ele está com os cabelos soltos que vão até os ombros, um porte físico com menos músculos, seus olhos são de um tom negro profundo, uma expressão irritada, mas não irritada comigo. Do lado direito encontro Aquiles Lykaios, usando uma roupa esporte social, o cheiro de musgo de carvalho, misturado com flor de laranjeira e ao fundo um sândalo vinha dele.
Nossos olhos finalmente se cruzaram e foi como se o resto do mundo tivesse desaparecido, eles eram de um tom cinza escuro com listras cinzas claras e havia dois círculos ao redor, eram os olhos mais lindos que eu já havia visto.
Aquiles tem uma postura relaxada, mas seus olhos mostram um conflito que não sei identificar, pelo menos não olhando, mas consigo sentir que ele quer me proteger, que está aliviado por eu ter voltado,que está se segurando para não passar por cima do médico e da enfermeira para me pegar e me envolver em seus braços e agora eu anseio que ele faça isso.
Quero gritar para me deixarem ir com esse homem que parece um semi deus e mesmo que o pedido não tenha saído dos meus lábios, eu percebi que ele sabia o que eu estava pensando, esse desejo que queima e começa a me consumir. Consigo sentir meus seios ficarem mais sensíveis enquanto uma onda de calor começa a se espalhar para baixo, chegando a barriga e descendo até encontrar o centro do meu corpo. Involuntariamente aperto minhas pernas, querendo sentir algo para aliviar aquela pressão que se forma, fazendo minhas paredes internas pulsarem.
Não é um prazer construído aos poucos, ao contrário, era primal, selvagem, irracional.Sei apenas que quanto mais tempo continuo olhando para Aquiles, mais meu corpo pede e implora para que eu o toque, para ser tocada. Meu corpo não se importa se Aquiles simplesmente me jogar no chão e se enterrar dentro de mim aqui e agora, na verdade é o que ele quer.
Um grunhido alto ecoa dos lábios perfeitos de Aquiles, enquanto seus olhos se tornam mais escuros, mudando levemente de tom, parecem brilhar agora em tom prateado e por um segundo imaginei que ele iria me pegar do chão e me levar com ele, mas vi seu corpo girar e ele sair do vestuário.
Essa movimentação foi como um balde de água gelada em mim e o sentimento de rejeição se apossou tão rápido quanto o prazer que havia sentido antes. Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando limpar meus pensamentos, me controlar, voltar à realidade.
“Sophia, é melhor você ir deitar.” Escutei Daniel falando comigo.”Podemos te levar até o quarto de descanso ou então posso pedir um Uber para você ir para casa. Você precisa descansar, esses turnos extras só estão piorando sua situação.”
“Obrigada, Dan. Eu vou descansar sim.”
Sorri fracamente para ele, toda essa situação havia drenado minhas energias. Eu queria minha casa agora, deitar em minha cama e dormir por vários dias se possível, mas senti meu estômago revirando sabendo que Joshua estava lá me esperando.
“Mas não acho que vou conseguir ir para casa agora.”
“Tudo bem, entendo.” Daniel estendeu a mão para mim.
Peguei ela e com a ajuda da enfermeira consegui ficar de pé, respirei fundo, sentindo minha cabeça girar.
“Desculpa Soph, mas vai ser mais rápido.”
Escutei as palavras de Daniel e logo depois sinto que sou levantada e estou nos braços dele, posso sentir a ânsia e a tontura tomar conta, mas tento controlá-las.
“Obrigada.” É a única palavra que consigo dizer.
“Sem problemas.”
Não demorou muito para chegarmos em um dos quartos e senti o colchão macio contra mim.