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Capítulo 3

Meia hora antes...

- Quem é o senhor? – A mulher o indaga sentando-se na cadeira de metal frente a ele.

- A pergunta aqui não é quem eu sou e sim quem você é, não é mesmo Nicole Scherer. – O homem a sua frente a encara com sarcasmo.

Os seus olhos arregalados, Nicole engole em seco. Como ele sabia quem era ela, já que o seu nome dado no ato da sua prisão foi dado como Nicole Amanda Belguer.

- Co-como... – Ela balbucia incrédula.

- Como eu sei?! Acho que deve se lembrar de Leonardo Schelperd.

As sobrancelhas arqueadas, mostram o ar de curiosidade no desenrolar daquela história que muito lhe interessou. Danilo, sempre gostou de desafios e agora parecia estar frente a um bem peculiar.

Mas não esperava ver tamanha reação de raiva e rancor vindo daquela detenta que é irmã biológica da sua cliente. Assim é o que ele espera.

- Esse maldito que nos abandonou a própria sorte ainda está vivo?

As palavras proferidas por ela têm um Q de amargor e ressentimento. O que Nicole não sabe, é que o seu padrasto é um mafioso que foi pego numa emboscada onde a sua mãe ficou meses em coma e ele sumiu do mapa para protege-las.

Quando ele retornou a casa onde eles moravam, soube por uma vizinha o que havia acontecido. A sua adorável esposa, não resistiu e veio a óbito meses depois do atentado que sofreram e a máfia rival, levou a sua garotinha vendendo-a para uma família que mesmo com todo o caos entre eles, fora muito amada e bem criada se tornando uma renomada médica. Já a sua enteada a quem ele sempre teve como uma filha, vagou pelas ruas de Ontário tentando encontrar a irmã e acabou caindo nas garras do cafetão que a fez se tornar uma prostituta.

Danilo sabia de tudo e como é o filho de um dos aliados de Leonardo, concordou em defender Helena por questões óbvias da aliança na máfia, mas também por se encantar pela médica quando uma vez fora atendido por ela numa emergência anos atrás.

O que ele não esperava, era que descobriria o paradeiro da enteada dele a quem procurou por anos. Quando soube o que havia acontecido com ela, ficou desolado e sentiu-se culpado por ser um mafioso poderoso e a vida das mulheres da sua vida terem se tornado um caos.

Por sorte, Helena não se lembrava de quase nada da sua vida, já que fora levada para longe quando tinha apenas 2 anos. Já Nicole, tinha 13 quando se tornou uma moradora de rua e depois garota de programa.

- Ele está vivo. Não precisa ter ódio dele, já que ele sempre as procurou.

Um sorriso de escárnio, Nicole solta. É fácil falar isso agora para ela, se não foi eles que sofreram tudo o que ela sofreu. O que a alivia, é que a sua irmã não tenha passado por nada do que ela passou quando mais jovem, mas infelizmente, ela sofre agora por um erro que cometeram para incriminá-la.

- E porque só agora ele resolveu dar as caras?

- Porque ele descobriu onde estão e o que se tornaram. Logo sairão desse lugar, mas preciso que convença Helena já que o caso dela quero o quanto antes que ela saia daqui.

- E como farei isso gênio, já que durante esse ano que ela está aqui atormentei ela e só parei quando descobri que éramos irmãs, hãn?!

- Pelo pouco que conheço da sua irmã, ela não irá concordar. Aí você se aproxima, fala algo, não sei, dá o seu jeito. Depois que tirar ela daqui, eu farei a sua defesa também.

Nicole acha tudo aquilo tentador, mas fica desconfiada. Ela é macaca velha no quesito papo furado. Se inclinando sobre o ferro frio daquela mesa, ela o encara olhando fundo nos seus olhos tentando descobrir algo.

- Porque quer tanto que ela saia logo daqui e o que me garante que você vai fazer tudo o que está dizendo?

A porta da sala se abre e uma figura que ela não esperava ver, caminhava na sua direção apoiado numa bengala. Os anos de amargura e solidão acabavam ali ao ver a sua menina uma mulher feita e em breve veria a sua doce garotinha e a sua neta Júlia.

- Eu garanto, minha menina.

Os olhos de Nicole se enchem de lágrimas. Ela não acredita que aquele homem não esqueceu delas e estava bem ali, na frente dela com um sorriso tenro e os braços abertos para abraça-la.

Por um tempo, ela até pensou que ele havia sumido com a sua irmã a largado à própria sorte, mas agora vendo-o com uma cicatriz no rosto e andando com o apoio de uma bengala, ela sentiu o seu coração doer.

Ela corre na sua direção e o abraça chorando.

- Pai.

Afagando os cabelos da sua menina, ele também derrama algumas lágrimas. Olhando para o seu aliado e afilhado, ele movimenta os seus lábios em um obrigado. O mesmo lhe acena de volta com a cabeça.

- Eu estou aqui minha pequena. Nunca abandonei vocês. Agora, iremos ficar juntos para sempre.

Nicole sorri e não sente mais a menor vontade de soltá-lo. Mas era preciso se sentarem e antes que o carcereiro visse, tinham que manter a distância.

Após estarem calmos, Leonardo conta tudo o que descobriu e sabe sobre o caso dela e da sua filha Helena. Ambas foram incriminadas injustamente. O caso de Helena já tinham tudo em mãos, mas o de Nicole, ainda precisavam encontrar o cafetão que a incriminou.

Com tudo acertado, ela voltou para a cela antes que Helena viesse até o encontro do advogado e estragasse tudo. Ainda não era o momento dela ver o seu pai.

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Atualmente após a conversa com Nicole...

Durante o caminho ao encontro da carcereira, Helena sente algo estranho no seu peito. Ela sente um aperto após conversar com Nicole como se a sensação de afastamento fosse algo que elas já sofreram juntas.

Espantando essa sensação, ela se aproxima da carcereira Rebeca. A que mesmo carrancuda, sempre fora legal com ela. Como a sua filha não possuía um celular, a sua babá que ainda era a mesma, é quem acabou se tornando um meio de comunicação entre elas e Rebeca, algumas vezes a ajudava a se comunicar com ela sem pedir nada em troca.

- Rebeca, preciso falar com o diretor. – Ela fala ofegante com um sorriso largo.

Suspirando, Rebeca assente.

- E ele disse que você viria querendo falar com ele. Vamos, eu te levo lá.

Helena dá uns pulinhos sorrindo e segue a frente de Rebeca para a sala do diretor que já esperava que ela aparecesse.

Como esperado, Helena conversou com o diretor que já sabia que ela tomaria a decisão de falar com Danilo e tratou logo de ligar para ele.

Já sabendo que se tratava da sua doce Helena, Danilo a avisou que em dois dias lhe traria um retorno positivo sobre o seu caso e a mesma se mostrou esperançosa. Agora veria a sua filha e o seu marido.

Mas, ela por amar a sua irmã Rúbia, também queria vê-la. Ao retornar para a sua cela, ela encontra Nicole num canto da cela pensativa. Ela sente algo estranho ao vê-la daquele jeito e resolve se aproximar.

- O que foi Nicole, está assim por medo da pessoa que mais implicou nessa cela não esteja mais aqui, saudades antecipadas? – Em um tom zombeteiro, ela debocha.

Percebendo que não a animou, ela refaz a sua postura e com uma voz mais triste, lhe faz uma pergunta com seriedade.

- O que aconteceu?

Olhando-a de soslaio, Nicole dá um sorriso fraco.

- Nada. Estava a pensar na minha mãe.

Ouvindo-a falar melancólica, Helena sentiu um aperto no peito e uma imensa vontade de chorar. Ela nem sabia o porquê, mas acabou não conseguindo segurar e derramou algumas lágrimas por seu belo rosto.

Helena nunca soube ser adotada, sempre achou que os seus pais Matheus e Pérola fossem seus pais biológicos, já que nunca falaram nada a respeito e nunca a mesma suspeitou de nada.

Como eles são muito idosos e não moram no Canadá desde a sua prisão por sua mãe ter adoecido severamente, ela sabia que não poderia contar com eles indo visita-la. Mas o que ela não sabe é que eles foram ameaçados e coagidos por uma pessoa que ela ainda não conhece que sabe que eles não a adotaram legalmente.

Pérola jamais aceitaria perder o amor da sua filha mesmo que significasse dela sumir com o seu marido para a Argentina.

Vendo-a enxugando as lágrimas que teimavam em cair, Nicole abraça a sua irmã sem se importar que ela a empurre ou a questione depois.

Para a sua surpresa, ela retribui o seu abraço. Para ela aquilo foi uma das maiores bênçãos que poderia ter, um abraço de tantos anos guardado e sendo dado de forma obscura. Sem entender o que aquele abraço significava, Helena sentiu-se bem e acolhida como nunca fora antes. Nem mesmo quando abraçava a sua irmã Rúbia, ela não sentiu-se assim.

Ali, era o elo sanguíneo que clamava mais alto.

Se dando conta de que as duas se abraçaram, Helena recobra a sua consciência e se afasta dando um sorriso amarelo e desconcertada.

- Me desculpa, eu... – Ela é interrompida.

- Não se preocupe pequena lebre, está tudo bem. Eu que agradeço por me dar esse abraço.

Helena se afasta cabisbaixa. Ela está confusa. Há quase um ano, que essa mulher vive a atormentar o seu juízo e alguns meses antes dela provavelmente estar tendo a sua tão sonhada liberdade, ela está parecendo um anjo e agora com esses mistos de sentimentos, a deixaram assim, com a mente em confusão.

- Tudo bem, não se preocupe. Eu apenas me senti mal por vê-la assim.

- Ok, deixa para lá. E aí conseguiu falar com o bonitão? – Ela desconversa, pois, sabe que irá pôr tudo a perder se continuarem assim.

O que mais Nicole quer, é que a sua irmã não se sinta constrangida e nem incrédula quando souber a verdade. Ela sabe que isso irá acontecer, mas não quer que seja numa cela na prisão.

Animada, Helena senta-se ao seu lado e começa a contar para agora sua amiga, que em alguns dias o seu advogado já lhe trará notícias positivas sobre o seu caso.

Nicole sabia que isso iria acontecer, já que Danilo e Leonardo, garantiram que ela estaria livre e depois faltaria ela, só que o seu caso era mais complicado pois, precisava da presença do crápula do Diego Noves, o cafetão que a incriminou. Pelo menos por hora, ela ficava feliz por sua irmã, com um ano estar saindo daquele inferno e voltando a ter a sua vida novamente, pelo menos é o que ela pensa, mas nenhuma das duas imagina o que ainda está por vir.

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