Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

QUATRO

— Então amar é deixar livre? - Ele me pergunta.

— É o melhor jeito de amar, doutor.

— Por quê?

— Deixá-las livres e vê-las voltar sempre me dá uma sensação boa. Como se elas sentissem o mesmo por mim e voltassem sempre pra me dizer que estão comigo.

— E se elas não voltassem?

— Não as amaria menos, se é o que está pensando.

— Mas mudaria o foco?

— Não sei, doutor. As amo tanto que nada mudaria se elas não viessem sempre até mim.

— Correria atrás delas?

— Você fala como se fosse algo ruim. Mas sim, eu correria. Não perseguiria. Apenas estaria lá para vê-las voando, ver seus diferentes tamanhos e cores e registrar todas.

— E se estivéssemos falando de pessoas ao invés de borboletas?

— Borboletas não trocam você por outra pessoa, não magoam, não traem...

— Estamos falando de amor.

— Quer dizer que eu não amo o Edu porque quero que fiquemos juntos para sempre?

— É você quem está dizendo.

Largo o pincel e caminho em sua direção.

— Como entrou na minha mente? - Ele ri, mas a pergunta foi séria.

— Eu não fiz nada. Nem estamos em uma consulta.

— Mas mesmo assim o senhor quer que eu pense que não amo o Eduardo.

— Eu não vou mexer com a sua cabeça, Júlia. E esqueçamos a formalidade agora, ok? - Ele tira o jaleco. — Somos apenas dois amigos conversando, que tal?

— E podemos ser amigos, doutor? - Me viro e continuo pintando.

— Por que não poderíamos?

— Porque eu sou uma psicopata e o senhor um médico.

— Você não é uma psicopata e eu não sou um senhor.

Sorrio, mas não respondo. Algum tempo depois largo o pincel e admiro minha tela.

— Quer ver? - Pergunto ao doutor. Ele para de frente para a tela.

— É linda. Onde a viu?

— Eu não a vi. Eu a criei. - Aponto para asa esquerda da borboleta, onde tons de azul colorem. — Estas são as cores dos olhos do Eduardo. - Aponto para a asa direita, tons de verde e mel a tornam única. — Estes são os olhos da Maria Eduarda.

— O que você sente ao olhar pra esta borboleta? - Ele pergunta.

— Que ela precisa voar.

— E o que isso significa?

Me viro para olhar em seus olhos. Estamos perto demais, mas isto não é ruim.

— Sua sessão deu certo, doutor. Posso ter começado a enxergar algo.

— Isso não foi uma sessão, Júlia.

— Claro que não. Foi apenas uma "conversa de amigos". - Me aproximo um pouco mais.

— Está na hora de voltar a seu quarto. - Ele engole em seco e se afasta.

— Era minha intenção, antes de me perder neste hospício e vir parar aqui com o senhor.

— Venha. - Ele segura em meu cotovelo de leve. — Eu mostro o caminho.

Ele pega seu jaleco e saímos da sala, deixando o quadro para trás. Caminhamos para o caminho oposto que eu estava fazendo. Deixo escapar uma risada.

— O que foi? - Ele pergunta.

— Meu uni-duni-tê não funcionou. - Ele mantém uma expressão confusa. — Deixa pra lá.

Algum tempo depois, chegamos a porta do meu quarto.

— Obrigada por me mostrar o caminho.

— Amanhã temos nossa consulta, não esqueça.

— Fique tranquilo, doutor. Se eu esquecer, alguém se lembrará por mim.

— Então tenha uma boa noite, Júlia.

— Boa noite, doutor.

Sorrimos um para o outro e eu entro no meu quarto. Tomo um banho e, assim que me visto, alguém bate à porta.

— Com licença, senhorita. O Doutor Tyler solicitou que trouxéssemos uma refeição.

Anuo e ela deposita a bandeja com frutas, pães e um suco em minha mesa. Agradeço a ela, que sai rapidamente. Fico feliz que há alguém que esteja realmente preocupado comigo, que se importou até em mandar alguma comida pra mim.

Não sei que horas nos veremos amanhã, mas até que sinto alguma ansiedade nisso. Doutor Tyler tem sido meu primeiro amigo em muito tempo.

_____

— Bom dia, menina. - Agatha abre as cortinas e o sol bate bem nos meus olhos. — Desculpa. - Ela pede, fechando um pouco. Sorrio para ela.

— Não se preocupe. - Ela trás uma bandeja com meu café-da-manhã. — Qual meu itinerário de hoje, Agatha?

— Hoje seria a consulta com o Doutor Tyler, mas...

— Seria? - Meu sorriso some.

— Ele teve alguns imprevistos e remarcou para amanhã bem cedo. - Cruzo os braços e afasto a bandeja. Perdi o apetite. — Mas, liguei para seus pais e avisei que teríamos um tempo livre hoje e eles estão super animados para te ver.

— Só meus pais?

— Só a visita deles é liberada, Júlia. Entenda.

Sem responder, me levanto e vou tomar um banho. Me arrumo e tento não parecer tão decepcionada.

Mas, veja como são as coisas, ele marca a consulta, diz para eu não esquecer e remarca. Mui amigo!

Meus pais chegam e faço o possível para tranquiliza-los sobre meu estado. Mas é inevitável perguntar sobre o Eduardo.

— Ele continua aqui nos Estados Unidos. Mas a Maria Eduarda voltou para casa.

— Ele precisa de mim mais do que nunca. Vocês precisam me tirar daqui para que eu o ajude.

— Eduardo está bem. Se preocupe em melhorar, filha. - Meu pai diz.

— Vocês não querem entender. Eu estou bem. Só quero ter certeza de que o Eduardo também está.

— A princípio você não pode receber visitas. Mas, logo que for permitido, faremos o que pudermos para trazê-lo. - Mamãe me tranquiliza.

Eles tentam mudar de assunto. E eu sigo a conversa no ritmo imposto.

Mas a minha cabeça está lá, em Eduardo. Se eu não sou mais um obstáculo, por que eles não estão juntos?

Eduardo se tocou de que ele me ama e voltará para mim, por vontade própria. Como uma borboleta livre, que apenas voltará pra quem ama.

Como uma borboleta livre, que apenas voltará pra quem ama.

*****

Oi gente,

Estava doida pra mostrar esse lado da Júlia. Lembrem-se que ela ainda está em "tratamento".

Deixem as estrelinhas e adicionem as listas de leituras.

Amo vocês.

Beijos, S. ?

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.