3
— Elena? — Diz me chamando a atenção.
— Me desculpe o atraso. — Falou ofegante. — Poderia usar seu banheiro? — Ela assente.
“Talvez estivesse na hora de voltar para polícia, nunca mais me senti tão viva como a pouco, talvez esteja ficando velha também.”
Ainda ofegante eu respiro na frente do espelho olhando meu rosto cansado, mas contente.
Pegando minha bolsa sobre a pia, eu procuro meus comprimidos de tratamento, e ao passar as mãos sobre eles encontro meu maço de cigarros. Era mais um dos meus anestésicos em meus dias de surto.
Virando os comprimidos em minha boca e tomando um pouco da água da pia, eu respiro fundo mais uma vez e vou em direção a saída onde me sento em seguida sobre a poltrona.
— Parece feliz, quer me contar? — Ela cruza suas pernas a minha espera.
— Acho que estou pronta. Pronta para entrar para polícia. Beto me mostrou um caso e eu fiquei curiosa, ainda não tinham bem um culpado, mas eu sabia de alguma maneira que não era quem eles pensavam.
— E então?
— Então eu copiei os arquivos durante a madrugada e os observei no caminho da escola da minha filha, vi algo estranho e fui tirar minhas conclusões. Peguei o endereço da cena do crime e fui atrás de novas provas, não havia nada, mas quando estava indo embora vi o lixo ser coletado e corri atrás dele, felizmente eu tive sorte e tudo bateu como eu imaginava.
— E o que você imaginava?
— Que a mãe havia matado o próprio filho. Encontrei o veneno que foi usado como arma do crime e DNA. Tudo o que precisavam para ligá-la ao crime.
— Você tem talento Elena, e também loucura, muita loucura nessa sua cabecinha. — Ela gargalha. As vezes penso que ela me imagina como uma filha, como sua segunda filha. — E os seus pesadelo, eles tem sumido? Precisa de mais medicamentos?
— Já não tenho tantos.
X
— Mamãe o que é isso? — Perguntou enquanto eu observava a receita sobre minhas mãos. Passando minha visão por cima do pulso onde observo rapidamente minha pulseira, eu olho nos olhos de Isabel e pego em suas mãos.
Havia aceitado fazer um favor para a Sra.Mim. Iríamos passar no trabalho de Beto e entregar para Xu Yang sua receita.
Respirando forte, eu me lembro dos medicamentos sobre a pequena folha.
“sedativo e anti-histamínico” Remédios para dormir e “ losartana” para ansiedade.
Respirando fundo eu passo sobre a porta com Isabel, e sem espera ela solta minha mão correndo para os braços de Liu Yang.
— Cada dia mais linda. — Diz ela sem jeito fazendo os sinais.
— Madrinha, hoje a mamãe me levou para ver os patinhos, eles eram muitos, tinha de todas as cores! — Contou aumentando o tom de voz.
— Todas as cores? — Ela confirma com a cabeça. — Tinha rosa?
— Não, rosa não madrinha, mas tinha branco e preto… e… mamãe quais eram as outras cores?
— Que tal você vir comigo até minha sala? Lá tem soda, quem sabe não ajuda você a se lembrar? — Liu se levanta olhando para mim a espera do meu consentimento, após isso pega sobre a mão de Isabel e vai a caminho do corredor.
Caminhando até o balcão, eu encontro Ma Lin, talvez, ou provavelmente estava cobrindo a recepcionista por falta de trabalho.
— Ma Lin. — Digo chamando sua atenção e a fazendo tirar os fones.
— Oi, veio ver o Beto?
— Não. Sabe me dizer se Xu Yang está?
— Ele sempre está. Dorme aqui quase sempre, as vezes fica difícil entrar naquela sala, se eu fosse você usava uma máscara e uma proteção contra seu mal humor.
Concordo seguindo em direção ao corredor. Passando em frente as salas, eu vejo que Xu Yang não está na sua, e que Ma Lin tinha razão, o cheiro era insuportável. Tinha meia para todos os lados, um sofá cheio de roupas e drogas. Fechando a porta eu continuo caminhando até que paro em frente a porta do chefe Liu Xiansheng. Também estava vazia.
Continuei, e por fim parei na sala de registros onde ouvi algo caindo, por um momento ignorei e recuei até ouvir algo se debater.
Abrindo a porta dei de cara com o senhor Liu, estava pendurado com uma corda no pescoço que o mesmo havia amarrado no ar condicionado. Correndo em sua direção eu procuro algo para ajudá-lo enquanto chamo por alguém.
Angustiada abro minha bolsa jogando tudo sobre ela no chão e quando finalmente encontrou meu espelho uso a ponta de meu salto para quebrá-lo e corro com um de seus pedaços até a corta e começo a cerrá-la.
Quando finalmente alguém chegou o corpo de Liu Xiansheng caiu sobre o chão e mais uma vez me coloquei de joelhos, agora para trazê-lo o ar sobre os pulmões.
Fazendo respiração boca a boca e massagem cardíaca o vejo finalmente volta, e sem pensar duas vezes dou um tapa sobre o rosto do mesmo.
— Elena! — Disse Beto me chamando a atenção enquanto se preparava para corre em minha direção. Observando os cortes sobre minha mão, ele procura algo para enrolada, mas eu o paro.
— Não é nada. — Assistindo Liu se sentando ao meu lado eu tomo um susto quando ele grita ordenando que todos saíssem da sala.
— Não me ouviram.
Deixando que os outros se retirassem até mesmo Beto, eu permaneço e coloco as coisas sobre minha bolsa. Sentindo a respiração do senhor ao meu lado bater em minha nuca, eu me viro lentamente para ele.
— Não sou sua funcionária. Além do mais mé deve um espelho novo, a é um obrigada também. — Após isso o vi se levantar como se nada tivesse acontecido e ir a caminho da porta. — Não sei o motivo pelo qual fez isso, mas talvez devesse tentar se abrir com alguém.
— Não preciso dos seus concelhos. — Finalizou abrindo a porta e se retirando.
— Claro que não, mas de educação tá faltando.
Me colocando de pé, eu caminho em direção a saída e para a minha surpresa encontro Xu Yang passando. Correndo em sua direção eu o chamo pelo nome o fazendo parar contra sua vontade.
— A senhora Mim me pediu que lhe desse isso. — Lhe ergo o papel. O pegando de minhas mãos, ele sorrir amassando o mesmo e o jogando sobre o chão.
— Essas porcarias não servem para nada.
— Mamãe? — Me viro para mesma a vendo de mãos dadas com Beto. — Está dodói.
— Está tudo bem meu amor. — Digo pegando o papel sobre o chão e o colocando no balcão. — Vamos embora? — Ela assente. — Se despesa deles. — Após isso eu também fiz o mesmo e caminhei em direção a saída.
— Elena! — Me virei encarando Ma Lin. — Eu falo com ele. — Diz dando uma piscada e pegando o papel sobre as mãos.
XX
Relaxando meu corpo na cerâmica da banheira gelada, eu fecho meus olhos enquanto sinto as ondas da água passar por meu corpo. Isabel adorava brincar com as bolas de sabão, passava metade do seu tempo no banho assim.
Passados alguns minutos eu começo a me mexer sobre a banheira, estava já incomodada e rapidamente abri meus olhos e para minha surpresa vi algo, ou alguém se afastar da porta entre aberta. Afastando Isabel de meu corpo e a pedindo para ficar quietinha, eu me enrolo em uma das toalhas e caminho abrindo a porta lentamente. Atravessando com cuidado o corredor eu dou de cara com Hu wang pegando uma cerveja na geladeira.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto com a voz firme.
— Ah! Oi Elena. Eu, eu não te vi ai.
— O que ta fazendo aqui? — Pergunto novamente com meus olhos fixos no dele. Levando a cerveja até a boca e alisando lentamente seus fios escuros de cabelo ele caminha até o sofá colocando a lata sobre a mesa e indo até o video game.
— Beto disse para nos encontrarmos aqui depois do expediente. — Suspiro revirando os olhos.
— Mamãe. — Rapidamente me viro a observando enrolada sobre sua toalha. — Está tudo bem? — Assento a levando para o banheiro novamente.
XXX
Antes mesmo que desse a hora de Isabel se deitar, eu a tirei do meio de Beto e Hu wang, não estava gostando da maneira como ele a olhava, sentia algo estranho, eu tinha certeza de que ele havia nos visto dentro do banheiro. Não acho que seja paranóia minha, não é como das outras vezes, não é o mesmo olhar que das outras vezes.
— Mamãe, por favor, só mais um pouquinho. — Pediu pesando o corpo sobre meus braços.
— Tem algo de errado Elena? — Sem olhar para ele eu me retiro do meio dos dois, mas sinto quando um deles segura o pé de Isabel.
— Amanhã é final de semana amor, você sempre deixou ela acordada até tarde nesses dias. Deixe ela aqui. Quando Wang for eu a coloco para dormir. — Disse se levantando para pegá-la sobre o colo, mas eu me afastei empurrando seu peito para longe.
— Não preciso de sua ajuda, fique com ele.
— Elena! — Disse meu nome com o tom de voz mais alto.
— Eu mando aqui Beto, e nela também. Antes da sua palavra vem a minha, ela vem comigo.
— Eu coloco comida dentro dessa casa, eu pago suas contas! — Fechando meus olhos e cerrando com força meus dentes, eu luto para me manter em controle. — Amor me desculpa, eu… — Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa eu caminho em direção ao quarto fechando a porta rapidamente.
pedindo que Isabel coloque sua roupa de dormir, eu apoio minha cabeça sobre a porta e relaxo lentamente, por fim me sento sobre a cama cobrindo minha filha.
— Não quero que fique nunca mais daquela maneira com o Hu wang. — Ela franze as sobrancelhas. — Não quero que fique sozinha com ele, nem que corra para ele. Você me ouviu?
— Mas, mamãe…
— Você me ouviu?! — Pergunto em um tom mais alto. A vendo assentir positivamente eu relaxo meus ombros. — Quer que eu conte uma história? — Digo com a voz calma, porém ela balança sua cabeça dizendo não. Sem olhar para mim ela tira seu aparelho auditivo e o coloca sobre a escrivaninha ao lado, segundos depois puxa o lençol até seu pescoço e desliga o abajur sem que me diga “boa noite, mamãe.”
Saindo do quarto de Isabel eu tento recuar quando Beto chama por mim, mas meu ego fala mais alto, ainda mais ao ouvi-lo trancar a porta.
— Eu quero a chave. Quero que pegue a chave dele… a partir de hoje ele só entra quando você estiver.
— O que está acontecendo? Porque está agindo assim? Ele fez algo? — Fechando meus olhos ao sentir o toque dele sobre meu braço eu respiro fundo e puxo o mesmo ao encontro do meu corpo fazendo a mão de Beto recuar.
— Só pegue a maldita chave. E não se preocupe, assim que eu tiver alta da psicóloga você não precisará mais se preocupar em colocar comida em casa, e tão pouco em pagar minhas contas.
— Elena… — O interrompo.
— Não foi eu quem escolheu ficar presa aqui. Sou uma boa investigadora, não preciso de uma agência, trabalharei como detetive autônoma.
— Elena, você sabe que eu não quis dizer aquilo.
— E eu nunca quis uma filha, não era minha vontade ficar presa dentro de uma casa cuidando de uma criança!
— Elena. — Vejo ele contrair o maxilar e engolir a seco enquanto olhava para trás de meu corpo. Olhando por cima de meu ombro eu me encontro sem reação e paralisada aos olhos de Isabel. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e aquele maldito aparelho auditivo estava sobre seu ouvido.
— Isabel. — Falei antes de vê-la correr após minha aproximação.