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Quatro

Encontrei a porta de Perrie aberta e invadi sua paz, vendo meu irmão estudar em sua escrivaninha de frente a pequena janela no canto do local. Segui até o divã no lado oposto me jogando ali com fúria.

— Vocês brigaram de novo? — ele perguntou sem me olhar e eu apenas respirei fundo. Meus pés bateram contra o encosto do objeto demonstrando inquietação e meu irmão logo se virou para mim, me analisando melhor. Então suspirou quando me entendeu. — Ele te contou.

— Então você já sabia.

— Na verdade, esperava que essa conversa fosse acontecer uma hora. Ainda mais por seu aniversário estar próximo.

Soltei outro suspiro ao me lembrar que dali dois meses, completaria meus 17 anos e ainda não havia nem conseguido um marido, enquanto todas as jovens já tinham seu primeiro filho.

— Não se preocupe, ainda posso deixar que viva palpitando em tudo como sonha — tentou tranquilizar-me, mas eu sabia que seria um enorme desafio para ele. Como era para nosso pai.

Tamborilei o indicador em meu queixo, procurando uma forma de fugir das obrigações femininas. Nada me vinha em mente, por só ter o apoio de meu pai e Perrie. Uma verdadeira tragédia para qualquer plano que tivesse. Eu seria sabotada e rebaixada de qualquer forma.

— Poderíamos nos casar — disse por fim, quando a ideia cantou em minha cabeça. Só então percebi o impacto daquelas palavras e que meu irmão ouvira com clareza, pois seu rosto havia ficado tão pálido quanto a folha em sua mesa. — Desculpe-me, em minha cabeça parecia a melhor saída.

Finalizei vendo o príncipe rir em seguida, desconcertado. Ele suspirou levemente, alisou as pernas e se levantou para caminhar pelo quarto.

— Porque o desdém pelo casamento?

— Não é desdém — sentei-me no divã observando seu ambiente, ainda perdida em pensamentos estratégicos. — Eu só não quero ser domada como uma égua — conclui, deixando outro suspiro forte escapar de mim. — Acho injusto que você possa ser rei e Phill, por exemplo, possa fazer o que quiser tendo apenas dez anos. Enquanto Néfler, eu, Brienne e Cármen temos que nos rebaixar tanto… Somos a maioria e ainda assim, perdemos.

— E o que você queria ser, minha irmã? — Perrie sentou-se ao meu lado para segurar minha mão e massageá-la, olhando em meus olhos com interesse. Sua pergunta martelou em minha cabeça, enquanto tentei vasculha-la para obter uma resposta concreta. No entanto, nada vinha até mim no momento, só havia um desejo real ali.

— Apenas livre — disse por fim. — Quero fazer as contas das verbas, escrever livros ou dizer exatamente o que penso.

— Isso você já faz…

— Mas quero fazer sem ser contrariada. Não quero ser vista como uma piada. — Suspirei tomando coragem para desabafar mais, mesmo que ele fosse o único que tentaria entender, como sempre fazia. — Quero ser mais! Melhor do que um homem pode ser.

— Isso é interessante e juro a você que farei o possível para que as futuras mulheres possam ter mais liberdade, porém isso pode demorar e talvez você nem consiga ver se der certo. — Lamentei por suas palavras, mas pensei nas garotas das épocas futuras e me senti grata por meu irmão já pensar daquela forma antes de ter o trono. Implorei que sua inocência ainda existisse depois que sua cabeça recebesse a coroa. Me senti mais aliviada ao falar com ele sobre aquilo e consegui até respirar sem engasgar com o nojo que sentia do mundo em que vivia. — Espero que seu nome seja dito sempre que elas se lembrarem do que terão.

Ele finalizou, me fazendo sorrir o mais, orgulhosa possível.

— Você será um bom rei. — Ele também sorriu para mim e me levantei ajeitando minhas vestes. — E eu, uma péssima influência aos meus sobrinhos.

Disse de maneira descontraída e deixei que meu irmão se divertisse com minhas palavras, saindo de seu quarto para não mais atrapalhá-lo.

A semana se passou rapidamente, meu pai tentou afastar Tadaki de mim da melhor maneira. Deixou que minhas irmãs, abarrotassem os dias do imperador com atividades diversas que os tiravam do castelo na maior parte do tempo. Sempre com a enorme companhia de damas e cavalheiros para a segurança de todos. Isso poderia ajudar uma das duas e provavelmente já deveria fazer efeito sobre ele. Se minhas irmãs fossem astuciosas como nossa mais velha, ele já deveria estar confuso.

Algumas vezes, os vi caminhar pelos corredores. O que me levava a esgueirar pelos cantos para não ser vista. Eu estava evitando qualquer aproximação e o único local que não poderia fugir, era o jantar, mas à mesa todos se portavam silenciosos enquanto assuntos diversos eram mencionados em pequenos momentos, claro. No entanto, esses assuntos morriam rapidamente para que continuássemos a comer. Depois, cada um se dirigia aos seus afazeres noturnos para antes de dormir.

Na mesa sentavam-se meu pai e minha mãe em cada ponta. Eu, Perrie, depois Brienne de um lado. Cármen, Mariko, Tadaki e Sasato do outro. Tudo muito bem arquitetado por meu pai para manter-me longe do imperador, pois assim seria difícil ocorrer cochichos e chamadas para passeios comigo. Para dificultar ainda mais, eu sempre me apressava para sair primeiro, pois assim não precisaria fazer sala ao homem e nem ser convidada para algo.

Porém, um dia, ele fez questão de me acompanhar pelo corredor até a porta do meu quarto.

— Eu realmente não me incomodo de ir só… — tentei esquivar, mas ele deu seu costumeiro quase sorriso dizendo:

— Faço questão.

Durante todo o caminho, mantivemos um silêncio terrível. Implorei que o destino não me desamparasse, pois seria a hora perfeita de me chamar para passear. Por sorte, nenhuma palavra foi dita até a porta do meu quarto, onde ele segurou meus dedos colocando a pequena folha dobrada e depois partiu sem me dar um olhar ou uma palavra desconfortável.

Demorei um tempo no corredor do quarto, tentando entender o que havia acontecido. Porém, logo entrei para ler seu bilhete.

Querida Norman;

Por que tenho a impressão de ser ignorado?

Seu pai tem me deixado bastante ocupado com suas irmãs e parece ser um meio de me afastar de você, por um motivo do qual quero muito saber.

Estaria fugindo de mim?

Tadaki Amino.

Naquele instante, não soube o que pensar. O imperador havia se incomodado com a minha ausência mesmo depois da forma como lhe dirigi a palavra em sua chegada. Talvez sua irmã tenha engrandecido-me para ele ao ponto de deixá-lo com vontade de me conhecer. Ainda assim, eu acreditava que depois de uma semana conhecendo minhas irmãs, ele já teria um rumo ou tomado uma decisão. Torcia para apenas estar intrigado com minha ausência e não interessado em algo. Na verdade, ele não poderia estar. Se tivesse conversado com duas pessoas daquele lugar, saberia de minha fama e correria de mim como todos. Então, talvez apenas tenha uma pequena impressão errada sobre as atitudes de meu pai e me senti culpada de fazê-lo chegar àquela conclusão sobre o rei.

Pensei se deveria responder pessoalmente, ou por um bilhete como ele havia feito. Pensei também se realmente era necessário, respondê-lo.

“Eu seria obrigada? Era falta de educação com o imperador? Aquilo implicaria em algo?”

Respirei fundo tentando não perder todos os sentidos. Coloquei em minha mente que não era nada de mais e que talvez fosse bom manter tudo como estava, pelo menos até que ele fosse embora.

Se eu conseguisse manter a distância segura que tentei durante uma semana, tudo ficaria bem. Ao menos eu esperava que ficasse.

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