Regra número 5
O rosto pálido de Dylan estava totalmente tranquilo ainda que eu me sentisse constrangida com o rumo da nossa conversa. Enquanto nele existia um olhar estranho se misturando ao carinho e temor em mim existia dúvidas e receios. A reação dele me fazia corar ainda mais e toda à tensão ao nosso redor me deixava sem graça.
Eu queria poder acertar minha cabeça em algum lugar para talvez esquecer o que havia dito, julguei que seria maravilhoso ter uma amnésia para nunca mais me lembrar desses momentos constrangedores que tinham mania de ocorrer em minha vida.
Suspirei.
— Desculpa, eu estou sendo inconveniente demais. — Falei por fim ao pensar em como a mente era complicada. Afinal eu não parecia estar lúcida naquele instante e muito menos racional.
Mesmo assim eu pensei que devia começar a medir o que dizer para alguém. Pois meu jeito de confessar ou dizer o que pensava sem parar dois segundos, me deixavam naquela situação.
Dylan pigarreou e endireitou seu corpo terminando de encher o prato com comida.
— Tudo bem, eu estou pensando em como posso me explicar sobre isso. — Dei um meio sorriso erguendo as mãos no ar como se dissesse que aquilo não era preciso, ele pareceu não levar aquilo em consideração.
Observei o homem colocar o único prato que segurava na mesa e o copo cheio de suco que ele também estava carregando e eu nem notei. Fiquei com água na boca só de ver o liquido amarelo e os cubos de gelo na superfície. — Venha comer.
Disse o professor me recordando que ainda não tínhamos comido de fato. Me levantei do meu balcão onde havia me escorado para esconder a vergonha e caminhei lentamente em sua direção.
Cada passo que eu dava fazia minha cabeça latejar como se algo estivesse sendo chocado contra ela, mas isso não me impediu de dominar à distância entre nós e me sentei à mesa.
Havia uma toalha branca rendada cobrindo o vidro, Dylan deve tê-la pego na gaveta, pois me lembro de ter deixado a mesma sem nada após terminar de limpar a casa.
O prato em frente aos meus olhos tinha pedaços de peito de frango assado e a salada verde e vermelha dando vida. Algo com uma cara muito boa.
Olhei sorridente para Dylan que se sentou na cadeira próxima de mim após amarrar suas madeixas em um coque alto.
— Parece delicioso — comentei vendo-o sorrir fraco.
— Espero que o gosto esteja à altura da aparência, pois dei o meu melhor. Então, coma. Você precisa de proteínas. — Ele disse, me jogando uma piscadela. O professor respirou um pouco tentando encontrar as palavras do nosso assunto anterior, por fim retornou a falar. — Falando sobre seu ponto. Isso não me ocorreu antes. Eu não havia pensado em consequências muito drásticas, pois não estava atrás de colegiais. Embora Nathally seja uma estudante, ela é adulta e você também, mas vendo pelo lado acadêmico… É como correr perigo, mas um perigo bom.
Devorei uns pedaços do frango enquanto o ouvia. Pensei lentamente em sua posição e cheguei à conclusão que eu nunca havia passado por um perigo bom, nem mesmo por algo perigoso. Então aquilo não esclareceu nada para mim de fato, ainda que fosse compreensível.
Olhei-o de maneira confusa e ele soltou uma risadinha. Beberiquei o suco.
— Ainda parece errado.
— É. Parece. Eu não saberia explicar isso à alguém.
— Mas você é professor — rimos juntos e ele olhou em volta em busca de algo, bufou quando nada encontrou.
— Olha, você já fez algo errado, perigoso e que era bom para você ao mesmo tempo? — neguei. Minha família era muito unida, não havia nada que eu fizesse sem o auxílio deles. Então sempre que iria fazer algo pedia um conselho. Não fosse por essas atitudes maduras eu jamais teria saído de casa. — Sério? Nadinha? Você é a filha perfeita?
— Não diria perfeita, apenas gosto de seguir regras — Dylan parecia perplexo e isso era até um pouco divertido. Ele piscou várias vezes colocando minha fala em algum lugar de seu subconsciente, até continuar a falar.
— Acho que não posso explicar para você como funciona o lado de alguém que se relaciona com alguém mais velho e muito menos sobre alunos e professor juntos. O jeito seria perguntar a Nathally. — Fiz uma careta, pois ela seria a última pessoa que eu falaria na terra. Dylan riu. — E sua amiga?
— Tenho vergonha de perguntar a ela. Ela é uma pervertida. Vai achar que estou querendo pegar você. — Mordi o tomate e bebi mais um pouco do suco tentando desviar aquela hipótese.
— Confesso que no começo a impressão foi essa. — corei ao ouvir aquilo e ele riu. — Você faz muitas perguntas.
— N-Não, eu só sou curiosa, gosto de perguntar, mesmo que seja algo bobo como um beijo ou qualquer outra coisa. — Me senti tola ao relatar aquilo, mesmo sendo a minha verdade.
— Bom, então a melhor forma de saber é vivenciando isso.
Engasguei, senti o tomate travar em minha garganta e o líquido rasgá-la como se eu tivesse ingerindo uma grande quantidade de refrigerante. As tosses vieram, seguidas uma da outra sem me deixar respirar, isso fez Dylan levantar as pressas para correr em minha direção e dar tapinhas em minhas costas para o meu alívio. Demorou um pouco até que eu voltasse ao normal e conseguisse respirar novamente.
— Calma mocinha, assim vai ter um infarto. Eu estou brincando. — Soltei alguns pigarros com esse comentário e bebi um pouco mais de suco para me recompor. — Camila, você tem medo?
— Medo? — gaguejei. Aquela era uma pergunta boa, se eu soubesse me decifrar.
— De se apaixonar — tossi mais umas duas vezes e ingeri todo o líquido do copo.
— Por você? — Ele assentiu. Dylan arrumou seus cabelos depois de deixá-los se soltar e colocou uma mão no encosto da minha cadeira.
A outra mão ele colocou na mesa próxima da minha. Isso me fez girar o corpo para sua direção, enquanto ele aproximava seu rosto do meu sussurrando.
— Aposto que consigo te deixar de pernas bambas.
O hálito de cacau, menta e morango, roçaram em minhas narinas, fazendo. Molhei meus próprios lábios olhando fixamente nos esmeraldas dele.
— Pro.. professor…
— Você fica tão sexy me chamando assim.
— Dylan…
— Droga. Você é sexy me chamando de qualquer coisa. — Minhas bochechas esquentaram ainda mais e um fervor percorreu cada centímetro do meu corpo. Eu me senti totalmente entorpecida e envolvida pelo hálito bom do moreno.
Não conseguia tirar meus olhos dos seus.
Seus dedos da mão direita afastaram a mecha do meu cabelo que caiu na frente de meu rosto, levando-a para trás de minha orelha, enquanto um misto de êxtase e loucura dançavam em meu estômago. Era uma sensação muito boa e medonha também. Acreditei que aquele era o perigo bom.
— Não quero ser invasivo, mas quero beijá-la outra vez — ele confessou dando-me mais calafrios, porém esses eram deliciosos. — Eu ainda me lembro da maciez de sua boca e estou querendo senti-la novamente. Posso?
“Não… Sim… Talvez…”
Minha mente repetiu algumas vezes essas três palavrinhas, mas eu realmente queria sentir o beijo de Dylan novamente. Eu me recordei do dia que ele me livrou de alguns encrenqueiros com aquele toque e me recordei também do quão doce tinha sido aquele beijo. Era por isso que eu queria sentí-lo novamente.
Deixei então que as sensações em mim falassem por si só e isso me levou a assentir. O olhar do meu professor se tornou confiante e delicado, faziam suas esmeraldas cintilaram dando mais desejo em meu interior.
Percebi o quão bonito Dylan era e isso me levou à entender que eu o estava desejando, ainda que não o conhecesse profundamente.
Vi que ele já tinha se aproximado o suficiente para soprar em mim e meus olhos se fecharam. Deixei as mãos caírem sobre meu colo e apertei o tecido de minha saia. A mão de Dylan que ainda estava em minha orelha deslizou pelos meus cabelos até meu pescoço e o calor de seus lábios chegaram aos meus. Senti seus dentes pressionarem meu lábio inferior fazendo meu corpo estremecer. Eu poderia me derreter de tão mole que me sentia.
— Dylan… — minha voz saiu rouca, eu parecia um gato ronronando e pude sentir seu largo sorriso. — Não me machuca.
Pedi vendo-o me olhar profundamente. Ele se deteve por um instante tentando entender o significado do meu pedido e isso me fez apertar os lábios.
— Alguém já machucou você? Seus sentimentos? — Eu afirmei lentamente e vi os olhos dele vibrarem com uma certa raiva. Dylan fechou seus olhos brevemente, balançou à cabeça e se aproximou mais um pouco abrindo seus esmeraldas para me mostrar à calmaria restaurada em seus orbes. Soltei um gemido quando senti um puxão leve no meu lábio inferior. — Eu posso fazer muita besteira na minha vida, Camila. Mas quando quero algo, só desisto disso se não merecer ter e eu quero muito merecer ter você.
Aquelas palavras me derrubaram e me deixei levar de uma vez por todas. Senti à boca dele quente em contato com à minha quando Dylan finalmente me beijou. Um beijo calmo e cheio de desejo.
Recordei-me do beijo de Josh. De como seu contato era bom no início, mas Dylan beijava muito melhor. Com mais delicadeza e cordialidade que me faziam sentir-me confiante.
Seus lábios conduziam os meus paciente e cheios de carinho enquanto sua mão apoiava minha nuca para que não nos separássemos. Só puxavamos o ar entre os puxões de lábios e isso era delicioso. Abri caminho para sua língua penetrar minha boca e molhá-la com seu gosto de cacau. Apoiei meus dedos nos ombros do professor e ele envolveu sua outra mão em minha cintura, sem separar nossos lábios, sem parar de dançar nossas línguas uma na outra.
Fui erguida do chão quando tudo se tornou mais intenso e envolvi Dylan em um abraço enquanto ele me segurava no ar. O professor caminhou durante o beijo, até que eu sentisse a parede da pilastra no meio da sala. Seu corpo sustentou o meu no ar e seus lábios atacavam os meus com mais fevor.
Nós separamos segundos depois e olhei para o homem em minha frente sorrindo nervosamento. Me perguntei se ele já havia imaginado aquela cena alguma vez. Se ela já tivesse treinado, como me beijaria, pois aquele beijo era perfeito.
Ninguém havia me dado um beijo tão bom. Eu queria mais e os olhos dele me diziam saber daquilo, então Dylan voltou a tocar nossos lábios deslizando suas mãos por minhas pernas me fazendo fechá-las em volta de seus quadris, naquele momento nos beijávamos loucamente como se não quiséssemos nos soltar nunca mais dali. Meu coração palpitava feito o de um coelho. Forte e dez vezes mais rápido que o normal.
O ar foi preciso minutos depois e finalmente pude ver bem o rosto do professor. Lindo, terno, aparentemente apaixonado.
Estávamos ofegantes e mesmo assim recebi vários selinhos antes que ele me colocasse no chão. Dylan continuou pressionando meu corpo contra a pilastra. Com uma mão em minha cintura e a outra apoiada na parede. Sua testa estava colada na minha, minhas mãos segurando seu rosto e nossos olhares estavam fixos um no outro. Tinha algo a mais ali, não era apenas a resposta de uma pergunta. Aquilo não foi apenas um perigo bom.
— Suas perguntas estão respondidas agora? — assenti e acariciei a face avermelhada dele, que fechou os olhos sentindo o toque dos meus dedos enquanto ofegava. — Que bom. Agora tenho que guardar essa sensação pelo resto da vida em minha mente.
— Sensação? — Sussurrei quase inaudível.
— O gosto do proibido — corei, ela abriu os olhos e mexeu em meu cabelo como se me fizesse carinho. — Mesmo que não queira nada comigo, eu pude te tocar para saber o que estava acontecendo comigo. Obrigada por deixar.
— Dylan — dei uma pausa para recuperar um pouco mais de ar. — Isso foi muito bom.
Seus olhos brilharam e eu pude ver um lindo sorriso surgir em sua face. Eu me sentia viva tocando Dylan daquela forma, parecia tão certo e tão bom, mesmo sendo tão errado.
— Fico feliz que tenha gostado — seus lábios sopraram em minha orelha me fazendo arrepiar novamente. — Você tem gosto de nozes e frango assado e eu amo nozes.
— Professor… — seus esmeraldas encontraram os meus castanhos. — Me beija de novo.
— De novo? — Recebi um selinho e afirmei fazendo uma cara inocente para o homem em minha frente. — Não faz isso eu te beijo novamente, com prazer.
Mordi o lábio sorrindo e ele pressionou meu corpo contra a parede outra vez me fazendo abraçá-lo. Fui embalada em seu gosto de cacau e conclui que aquela era uma aula gostosa. A melhor que eu já tive e eu queria ficar ali para sempre.