Capítulo 3 Vamos terminar

— Tudo bem sem o soverte. — Cristiano pensou que disse coisa errada e disse puxando minha manga.

— Não faz mal. Pode comer o que quiser. — Abanei a cabeça diante dos olhos brilhantes dele.

Logo que entramos no shopping, nos deparamos com Luna e Miguel.

— Você... Você já tem filho? — Luna tapou a boca, fingindo surpreendida.

Eu queria mesmo que ela doasse seus olhos inúteis. Era possível eu, uma recém-graduada, ter um filho de uns 10 anos?

— Olá, senhora. Chamo-me Cristiano. É Aurora que me adote. Sou irmão mais novo dela. — Cristiano se apresentou.

— Muito bem, Aurora, vejo que essa família já não é suficiente para acomodar você! — Ouvindo “irmão mais novo”, Miguel pregou os olhos cheios de ódio em mim.

— Você diz que tem doença né? Está bem energética fazendo compras aqui e ainda diz que... — Por motivo de Luna, porém, ele passou a dizer com desdém logo em seguida.

— Afaste-se. — Eu o interrompei, sem querer que Cristiano soubesse que estava doente.

Mas o tiro saiu pela culatra.

Já no próximo segundo, um bocado de sangue jorrou da minha boca. Vi que Miguel caminhou para mim antes de me desmaiar e por fim, caí nos braços de Cristiano.

Quando abri os olhos de novo, estava acima o teto do hospital. Mas, de repente, um tapa de Miguel me deixou congelada antes mesmo que eu voltasse aos sentidos.

— Aurora, ainda não fingiu o suficiente? Você morrerá sem nos enganar e enjoar? — disse Miguel cheio de repulsa.

— Não pode bater na minha irmã! — Cristiano afastou Miguel e me defendeu.

— Cristiano, venha — disse eu.

Cristiano recuou para se aproximar de mim, com um olhar alerta em Miguel e Luna.

Diante deste menino e meu irmão de sangue, cujo rosto era bem semelhante ao meu, meu coração doeu ainda mais do que meu rosto. Ele era também médico. Acaso não conseguiu enxergar que eu estava moribunda?

— Fora! — Esgotei toda minha energia, mas a voz apenas alcançou pessoas na enfermaria.

— Aurora?! Que louca é você! — disse Miguel, que estava abanando o soco para mim.

— Miguel. — Ele não me chamou de irmã há muito tempo e eu tampouco o tratei dessa forma.

— A nossa irmandade termina hoje. Sou criminosa, canalha e golpista. Sou nojenta e morrerei feia. — Mesma dizendo isso, minhas lágrimas caíram de forma descontrolada.

Cresci com ele. Apesar de ser muito travesso, deixou sua ternura rara para mim. 

— Aurora, vou proteger você pelo resto da vida! Ninguém pode intimidar nem machucar você! — ele me tinha dito isso em uma moto, sorrindo.

Mas hoje, quem me machucou mais foi ele. Eu nunca pensei que meu irmão de sangue chegaria a essa etapa.

— Humm, é bom saber isso. Felizmente, Luna é simpática e sempre...

— Então, vamos cortar os laços — falei diertamente, sem esperar que ele terminasse a frase.

— O quê? Diga mais uma vez! — Miguel repentinamente mudou de cara.

— Digo que vamos cortar os laços. Você não mais terá uma irmã nojenta e não mais será meu irmão. Não preciso vocês como minha família. — Anunciei.

— Bom, Aurora, foi você que disse isso! — disse Miguel com os dentes cerrados.

— Aurora, está doente? — Cristiano tocou minha testa com sua mãozinha.

— Não, apenas comi coisa errada e me recupero em poucos dias. Quero ainda ver você admitido por uma universidade. Volte primeiro para fazer o trabalho de casa, tá bom? — Abanei a cabeça.

— Por que não cuida nada de sua saúde? Se não aceita o tratamento nem faz cuidado pessoal, sua vida ficará cada vez mais curta. — Vítor soltou um suspiro depois que Cristiano foi embora.

— Aceito o tratamento. Posso fazer quimioterapia já amanhã. — Dei uma olhada na placa no peito dele, que era estagiário. Não era à toa que dizia muito todas as vezes.

Eu pensava antes que poderia me dar uma cerimônia ideal de morte. E agora perdendo o dinheiro de venda online, morrer careca não parecia tão ruim.

...

Anderson veio à noite também com ravióli de canja de galinha, meu favorito.

— O médico disse que você está bem. Volte para casa. Se não, sua família ficará preocupada — disse ele.